18/04/2024 - Edição 540

Auau Miau

Leishmaniose: o cão é vítima, não o vilão!

Publicado em 23/10/2014 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Se o exame sorológico realizado pela secretaria de saúde der positivo, quer dizer que meu cão tem mesmo leishmaniose?

Não necessariamente. O diagnóstico da Leishmaniose é complexo e envolve a realização de mais de um exame laboratorial associado ao exame clínico do animal feito por veterinário. Por isso é importante realizar ao menos outro exame como contra-prova. No exame sorológico há problemas de cruzamento com outras doenças. Até verminoses comuns e erliquiose podem dar um "positivo" no exame sorológico. Assim, seu cão pode ter apenas doença do carrapato ou vermes comuns e testar positivo para Leishmaniose! E, independentemente de reações com outras doenças, todos os exames têm uma margem de erro.

Mas que exame seria essa contra-prova?

O exame de contra-prova deve ser feito por métodos parasitológico (citologia) e molecular (PCR), com material coletado da medula óssea ou linfonodo do animal. Caso o resultado do exame sorológico feito pelo GDF dê positivo, converse com seu veterinário e peça a realização de um exame como contra-prova.

Se o exame sorológico do meu cão deu positivo, os agentes de saúde podem entrar em minha casa e levá-lo para matar?

NÃO. A Constituição Federal, que está acima de qualquer lei distrital e federal ou portaria, prevê que sua casa é inviolável. Ou seja, qualquer entrada não autorizada em sua casa requer ordem judicial. O Superior Tribunal de Justiça decidiu em uma Ação Civil Pública, proposta no Mato Grosso do Sul, que animais só podem ser mortos com o expresso consentimento do proprietário e após a realização de exame como prova e de contra-prova. Se algum agente de saúde o ameaçar, isso é abuso de poder. A decisão de sacrificar um animal é do proprietário, e algo muito sério.

O que eu posso fazer para meu cão não ser infectado?

VACINE seus cães – a vacina oferece de 80% a 95% de proteção, ou seja, a chance de um cão vacinado ser infectado pela doença é mínima. Existem estudos que dizem, inclusive, que mosquitos-palha (flebótomo) que picam cães vacinados podem perder a ação infectante (mais informações no nosso site). Portanto, a vacina também é um instrumento de combate à doença.Providencie coleiras que protegem os cães contra picadas de mosquitos (Scalibor) ou pour-ons repelentes (Advantage Max 3, Pulvex Pour-on).  A coleira, em particular, além de repelir o inseto, causa a morte daqueles que picam o cão, portanto, também é uma medida de combate a doença. A própria Organização Mundial de Saúde recomenda o uso dessas coleiras nos cães como medida para combater a doença.

Ouvi dizer que a vacina é ineficaz, deixa o animal soropositivo e que o Ministério da Saúde não a autorizou. Ao ser vacinado, o animal não se torna um transmissor da doença para o mosquito-palha?

Nenhum animal (ou humano) contrai uma doença ao ser vacinado! Ao contrário, a vacina é mais uma proteção. Ela estimula uma reação de defesa do organismo contra o agente causador da doença. A vacina contra a Leishmaniose oferece alto índice de proteção – 80% a 95 %. Para se ter uma ideia, a vacina anti-rábica canina distribuída pela campanha do GDF oferece até 40 % de proteção e a vacina humana contra poliomelite oferece entre 13 % e 50%.

Se o seu cão for vacinado, guarde os exames (negativos) feitos antes da vacina e o comprovante de vacinação.  Ao receber os agentes de saúde, mostre estes documentos. Isso mostra que você está tomando as precauções devidas para combater a doença.

O registro de vacinas de uso animal é realizado apenas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e não pelo Ministério da Saúde (MS). O que o MS não recomenda (ainda) é o uso da vacina canina como medida de controle da leishmaniose visceral humana.

O que a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz sobre o método de sacrifício de cães como forma de combater a Leishmaniose?

Ao contrário do que tem sido divulgado, a OMS e vários pesquisadores questionam a eficácia do sacrifício de animais como medida de combate à doença. Isso é visto claramente no DF, onde a doença, mesmo com a matança de centenas de animais na região do Grande Colorado.

A matança de cães é ineficaz, entre vários motivos, porque:

Vários outros animais (inclusive  humanos) também são reservatórios da doença para o mosquito;

O alarmismo causado ao se culpar os cães aumenta as taxas de abandono desses animais, aumentando, consequentemente, o número de cães errantes e imunodeprimidos que podem ser alvos da doença;

Pessoas que tem seus animais sacrificados, frequentemente levam outro animal para casa sob as mesmas condições de exposição à contaminação, principalmente filhotes ainda não imunizados.

Existe tratamento?

Sim. Vários médicos veterinários respeitados no país , como o Dr. Vítor Márcio Ribeiro da ANCLIVEPA de MG, o Dr André Fonseca, da Univerisdade do Mato Grosso do Sul, e o Dr Fábio Nogueira, da UNESP, têm obtido bons resultados no tratamento da Leishmaniose. O tratamento requer compromisso financeiro e de tempo do proprietário e nem todos os cães reagem da mesma forma. Mas muitos cães já foram tratados e voltaram a ser saudáveis. A jusrisprudência para o tratamento foi estabelecido em MG. Procure um veterinário que conheça a doença e saiba como proceder o tratamento.

Se um animal infectado é tratado, corre o risco de ser picado pelo mosquito e transmitir para outros cães?

Da mesma forma que pessoas infectadas e outros animais, sim, um mosquito pode picar um animal em tratamento e se infectar. Mas isso é evitável tomando-se as precauções já listadas. Por isso é importante que todos os cães – infectados ou não – usem repelentes para evitar a picadas de mosquitos e em todas as casas deve-se tomar medidas para eliminar focos do mosquito palha. Além disso, novos estudos indicam que animais assintomáticos não têm potencial infectante.

Se eu não tenho condições de tratar o animal ou se o tratamento não for indicado, o que posso fazer?

Honre o compromisso de cuidar dele e protegê-lo do sofrimento. Converse com seu veterinário para que uma eutanásia de fato seja realizada. Não deixe que seja levado, cheio de estresse e medo, junto com outros cães, pela “carrocinha”. Não temos a certeza de que a matança lá realizada seja de fato livre de estresse, indolor, precedida por anestésico e individual.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *