25/04/2024 - Edição 540

True Colors

Etnografia bear

Publicado em 17/10/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

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A comunidade bear surgiu como um movimento de resistência à ditadura do gay depilado e com corpo escultural. Bears eram a antítese deste modelo e por isso mesmo eram comparados a ursos (bear, em inglês), tanto por ostentarem o estilo rústico e masculino como pelo corpo comumente robusto e peludo.

Embora a ditadura da beleza esteja ameaçando esta subcultura (já há quem desconsidere bear quem seja gordo, por exemplo – risos!), ela ainda resiste em muitas comunidades mundo a fora. Quem registrou com maestria este grupo foi o fotógrafo estadunidense Alan Charlesworth, que acompanhou o dia a dia de “ursos” em uma viagem pelos Estados Unidos . As fotos do ensaio são magistrais, uma verdadeira etnografia. Não deixe de conferir! (NSFW)

Terceiro gênero

A Alemanha tornou-se o primeiro país europeu a instituir o registro de nascimento “em aberto” para crianças hermafroditas, que nascem com os dois tipos de genital. A partir de novembro, as famílias que se enquadrarem nesta condição terão a possibilidade de registrar os filhos com sexo indefinido, de forma que, posteriormente, a pessoa poderá alterar o registro de acordo com a identidade de gênero não-compulsória.

Até então, em casos de nascituros hermafroditas, os pais eram obrigados a optar entre os gêneros feminino e masculino. Com a nova medida, também há espaço para um terceiro gênero, que é quando a pessoa hermafrodita quiser se manter com “sexo indefinido” aos olhos da lei.

A medida pioneira, no entanto, abre um grande debate sobre a necessidade de uma reforma que relativize a necessidade de rótulos com base no gênero, uma tendência que pode ser, futuramente, mimetizada por outras nações e que certamente ajuda a descontrair tanto o essencialismo biológico em relação ao gênero quanto a norma binária que rege estas discussões, na atualidade. Certamente, é um progresso. Vamos ver no que vai dar.

Academia de Drags está no ar

Estreou no último dia 13 de outubro o primeiro episódio da websérie (na verdade, um relaity show veiculado online) Academia de Drags, chefiado pela drag queen brasileira Silvetty Montilla. O cast reúne oito drag queens iniciantes que se apresentam Brasil a fora (uma delas, Yasmin Carraroh, é de Mato Grosso do Sul!), mas a maioria de São Paulo. O primeiro episódio, que teve mais de 75 mil visualizações até o fechamento da coluna, mostra que há muito boa intenção na produção. Mas a verdade é que Academia de Drags é uma pena por si.

Sim, o projeto de Montilla poderia ser muita coisa, mas infelizmente optou pelo caminho mais fácil. Limita-se a uma reprodução cafona e low cost de Rupaul’s Drag Race. É justamente nisso onde está o problema: com tantas linguagens e modelos disponíveis, com a possibilidade (e liberdade) de se criar um produto novo, mais brasileiro e menos pasteurizado, Academia de Drags cai no ridículo de repetir Rupaul no descaramento. Até o quadro “Glitter, em busca de um sonho”, da TV Diário (Ceará) conseguiu ser mais envolvente.

Infelizmente, sem conseguir nem sequer se aproximar da qualidade do original, os espectadores apenas se deparam com uma tentativa meia boca de fazer algo consolidado achando que teriam o mesmo sucesso. Comandar uma produção com baixíssimo orçamento é complicado e, pelo visto, pensar em algo diferente sai caro. É lamentável achar que quem assiste a Rupaul’s Drag Race (praticamente o “futebol” das bees) se contentaria com a webséria.

Mas vamos dar o benefício da dúvida e acreditar que a partir dos próximos episódios a coisa pode melhorar. Silvetty Montilla tem talento e é ótima no improviso. Possivelmente, com a repercussão das críticas do episódio de estreia, quem sabe a segunda temporada melhores na qualidade, não é? Boa sorte.

Para assistir: todos os episódios são liberados às segundas-feiras e podem ser vistos no canal da Academia de Drags no Youtube, mas colocamos o primeiro episódio logo acima. 🙂

Para curtir: na fanpage do programa, é possível conferir os bastidores e ser avisado de novos episódios, além de saber prévias dos episódios ainda não exibidos.

Parada da Diversidade

Relembrando: a XIII Parada da Cidadania LGBT de Campo Grande agora tem data, horário e local marcados! Acontece no próximo dia 25 de outubro, a partir das 15h, com concentração na praça Ari Coelho. Como sempre, todas as pessoas estão convidadas para participar, independente de idade, origem, gênero, raça, classe social e orientação sexual, pois o evento é também a Parada da Diversidade.

A XIII Parada da Cidadania LGBT de Campo Grande tem como bandeiras o combate contra a homolesbotransfobia e a garantia dos direitos fundamentais das pessoas LGBT. É uma realização da Associação de Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS) em parceria com o Forum LGBT de Mato Grosso do Sul e de outros movimentos sociais e entidades.

Confiram o evento oficial no Facebook AQUI.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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