25/04/2024 - Edição 540

Brasil

CFM não recomenda, mas autoriza hidroxicloroquina para covid-19

Publicado em 24/04/2020 12:00 -

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Após uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira (23) no Palácio do Planalto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou não haver comprovação da eficácia do uso da hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com covid-19, mas liberou os médicos para receitarem a substância em três situações específicas.

O anúncio foi feito pelo presidente do CFM, Mauro Luiz Britto Ribeiro, após o encontro, do qual também participou o ministro da Saúde, Nelson Teich. Ribeiro entregou às autoridades um parecer do CFM sobre a administração do medicamento em pessoas com covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, ressaltando que o CFM não recomenda o medicamento para o tratamento da doença.

"O Conselho Federal de Medicina não recomenda o uso da hidroxicloroquina. O que estamos fazendo é dando ao médico brasileiro o direito de, junto com seu paciente, em decisão compartilhada com seu paciente, utilizar essa droga. Uma autorização. Não é recomendação", disse Ribeiro.

Ele também sublinhou que o CFM é contra o uso da substância em caráter preventivo. "Não existe qualquer indicação do uso preventivo da hidroxicloroquina em relação à covid-19. Isso é consenso em qualquer literatura do mundo, e essa é a postura também do Conselho Federal de Medicina."

Ribeiro afirmou não existe nenhuma "evidência científica forte" que sustente o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 e que o uso só foi liberado em razão da pandemia e frisando que, em outras situações, a entidade "muito provavelmente" não autorizaria o medicamento.

A primeira situação em que o CFM autorizou que médicos ministrem a droga, mediante autorização dos parentes, é nos chamados "casos compassivos", quando o doente está em estado crítico, em terapia intensiva e já está fora de possibilidade terapêutica.

Outro caso em que a droga pode ser usada pelo médico com autorização do paciente e de familiares é quando o infectado chega com sintomas ao hospital, em momento de replicação viral.

A terceira situação é quando o paciente tem sintomas leves, parecidos com o da gripe comum, desde que o médico tenha descartado se tratar de uma gripe normal, dengue, ou H1N1 e que a decisão seja compartilhada com o paciente.

A cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina são utilizadas, entre outras doenças, no tratamento da malária. O presidente Jair Bolsonaro é um defensor do uso das substâncias contra o novo coronavírus, embora não haja comprovação científica da eficácia em casos de covid-19. O tema foi um dos motivos de divergência que levou à demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Estudos recentes, embora de amplitude limitada e não conclusivos, sugerem que a cloroquina e a hidroxicloroquina têm baixa eficácia em pacientes de covid-19 e pode até elevar o risco de morte em decorrência da doença.

Estudo associa hidroxicloroquina a maior risco de morte por Covid-19

Um estudo conduzido pelo Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos ligou o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19 a uma maior taxa de mortalidade. Uma versão prévia da pesquisa foi compartilhara pelos especialistas no medRxiv, no último dia 16.

No início de março, Donald Trump informou que o departamento de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) tinha aprovado testes com os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina para tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus. Em testes iniciais, a droga, normalmente utilizada para tratar malária, se mostrou eficaz.

Entretanto, em testes recentes realizados na China e na França a eficácia do medicamento foi colocada em xeque. Agora o novo estudo sugere que, ao invés de ajudar na melhora dos infectados por Covid-19, o uso da hidroxicloroquina pode resultar no contrário: uma piora considerável do quadro.

O estudo acompanhou 368 homens infectados pelo novo coronavírus: 97 receberam hidroxicloroquina, 113 receberam hidroxicloroquina em combinação com o antibiótico azitromicina, e 158 não receberam hidroxicloroquina. Segundo os pesquisadores, as taxas de mortalidade nos grupos tratados com o medicamento foram notavelmente piores em relação às do grupo que não recebeu a droga.

De acordo com a pesquisa, mais de 27% dos pacientes tratados com hidroxicloroquina e 22% dos pacientes tratados com a terapia combinada morreram. Já a taxa de mortalidade do grupo que não foi tratado com a droga foi bem menor: 11,4%.

"Uma associação de aumento da mortalidade geral foi identificada em pacientes tratados apenas com hidroxicloroquina", escreveram os autores do estudo. "Esses achados destacam a importância de aguardar os resultados de pesquisas prospectivas, randomizadas e controladas em andamento antes da ampla adoção desses medicamentos."

Estudo brasileiro

Um estudo conduzido por médicos brasileiros que testava a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 foi cancelado na semana passada. De acordo com uma versão prévia do artigo, publicado no medRxiv, eles optaram por cancelar os testes quando perceberam que um quarto dos pacientes testados desenvolveram problemas no ritmo cardíaco.

O estudo brasileiro, que acontecia em Manaus, planejava analisar como 440 pacientes com a Covid-19 reagiam a duas doses de hidroxicloroquina. Entretanto, o agravamento dos quadros e o aumento da taxa de mortalidade levou os pesquisadores a cancelarem a pesquisa após a realização dos testes em 81 pacientes.


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