19/04/2024 - Edição 540

Comportamento

O namoro on-line sob análise da matemática

Publicado em 16/10/2014 12:00 -

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Em vez de perguntar já no primeiro encontro se seu pretendente quer ter filhos ou não, pergunte se ele gosta de filmes de terror e se já viajou para o exterior sozinho. Em três quartos dos casais "duradouros" formados pelo site americano de encontros OKCupid, as duas pessoas deram a mesma resposta a essas perguntas.

O cálculo é do matemático americano Christian Rudder, 39, um dos fundadores do OKCupid e autor de "Dataclysm: Who We Are (When We Think No One's Looking)", algo como "Dataclisma: Quem Somos Quando Pensamos que Ninguém está Olhando". No livro recém-lançado, ele analisa dados de usuários de redes sociais e do próprio site – Rudder estima que, só neste ano, 10 milhões de pessoas usarão o OKCupid – e faz revelações curiosas.

Além de descobrir que perguntas sobre o cotidiano ajudam mais na escolha do parceiro do que questões "sérias", Rudder afirma que fotos com flash fazem com que a pessoa aparente ser sete anos mais velha e que asiáticos sempre se descrevem com a frase "alto para um asiático".

Curiosidades à parte, o objetivo de Rudder é ambicioso. Ele defende uma ciência que desvende o comportamento a partir dos nossos rastros na internet, os dados conhecidos como "big data".

"Os dados das interações on-line têm um alcance mais amplo do que qualquer amostra de laboratório e são mais honestos do que qualquer pesquisa com questionários, porque as pessoas são mais sinceras na internet, agem livres de qualquer julgamento", disse Rudder.

Dilemas Éticos

Para o sociólogo Dario Caldas, consultor de tendências do Observatório de Sinais, as questões éticas ao lidar com o "big data" não estão claras. "Esses dados oferecem como possibilidade a identificação de padrões que seriam difíceis de serem obtidos de outra forma. Mas o acesso é restrito – quem tem ganhado com isso até agora são as empresas e os governos."

Por exemplo: recentemente, o Facebook esteve envolvido em polêmica por tentar manipular o humor de quase 700 mil usuários com posts negativos e positivos para um experimento sobre "contágio emocional". A chefe operacional da rede social se desculpou publicamente.

No caso de Rudder, muitas das estatísticas citadas no livro só foram obtidas porque ele tem total acesso a dados privados dos usuários. "Aceitamos fazer parte de experimentos quando entramos nesses sites. Ninguém lê, mas está nos termos de adesão. Abrimos mão de parte da nossa privacidade em troca de estar nas redes sociais", afirma Raquel Recuero, pesquisadora na área de redes sociais e professora da Universidade Católica de Pelotas.

Em páginas e aplicativos de namoro, os dados dos usuários são convertidos em algoritmos para facilitar a busca pelo parceiro.

Exigentes

Em suas análises, Rudder descobriu que as pessoas são mais exigentes em sites de relacionamento do que na vida off-line. Além de preferências pessoais, tendências gerais de comportamento ajudam a determinar o "par ideal".

"A maioria dos homens prefere mulheres mais novas, então os perfis já vêm configurados para exibir na busca mulheres mais jovens", afirma Gaël Deheneffe, diretor de produtos do site ParPerfeito.

Formação e o fato de a pessoa morar sozinha também são critérios importantes para os brasileiros.

De acordo com Deheneffe, a pré-seleção feita pelo site ajuda. "Se não diminuímos o universo de usuários, você não encontra ninguém. Os algoritmos estão aí para multiplicar os encontros."

Para a psicóloga Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, o mesmo algoritmo que pode ajudar a encontrar um parceiro pode afastar a pessoa ideal ao reduzir as possibilidades.

"Na vida real, eu poderia conhecer um japonês e ver que ele é superbom de papo, mas nesses sites pode nunca aparecer um japonês na lista porque eu não 'curti' nenhum e disse que quero um loiro de olhos azuis. Quem disse que sabemos o que queremos?"


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