24/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Chacota internacional

Publicado em 15/04/2020 12:00 - Victor Barone

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Enquanto por aqui nos dividimos entre aqueles que creem na ciência e no bom senso e os que preferem seguir o misticismo, o fundamentalismo religioso e o constructo da realidade criado pelas bolhas de redes sociais, lá fora a imagem do Brasil derrete. Nos últimos dias, uma avalanche de reportagens publicadas nos maiores jornais do mundo apontam a distopia brasileira diante da pandemia do covid-19. O presidente Jair Bolsonaro tem sido alvo de chacota, críticas consistentes e perplexidade, e comparado a escória dos dirigentes mundiais.

“Enquanto a maior parte do mundo tem tomado medidas drásticas para combater a disseminação do coronavírus, quatro líderes se destacam por suas contínuas negações da ameaça que a pandemia representa”, escreveu o Financial Times, um dos jornais de negócios mais influentes do mundo.

Fazem companhia ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro na forma de lidar com o combate ao novo coronavírus o presidente, há mais de 20 anos, da Bielorrússia, Alexander Lukashenko; o líder autocrático do Turcomenistão, Gurbanguly Berdymukhamedov; e o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega.

Os quatro líderes compõem o que o professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel chamou de “The Ostrich Alliance”, ou Aliança de Avestruz, em tradução livre. Trata-se de uma referência ao mito de que o pássaro enterra a cabeça na areia quando se depara com o perigo.

O periódico alerta que, além dos riscos para a saúde de suas populações, o negacionismo dos chefes de Estado traz consigo riscos políticos. “Enquanto a dissidência na Nicarágua está borbulhando, no Brasil multidões participam de protestos batendo em panelas e gritando “Bolsonaro assassino!” pelas janelas”, diz o jornal.

O texto destaca as divergências de Bolsonaro com as medidas de isolamento social recomendadas pelas autoridades de saúde do seu próprio governo e sublinha algumas das falas do presidente, como quando chamou a epidemia de “histeria”.

Também critica as saídas do presidente às ruas, ocasiões em que cumprimentou diversas pessoas, entre elas idosos, e causou aglomerações.

O Financial Times também lembra que Bolsonaro fez eco ao presidente americano, Donald Trump, ao minimizar o coronavírus e ao defender o uso da hidroxicloroquina como uma possível cura para a doença.

O líder da Bielorrússia já disse que que será possível derrotar a covid-19 com pensamento positivo e chegou a negar os números de mortos registrados no país do leste europeu. A Bielorrússia é o único país europeu que ainda mantém as partidas oficiais de futebol acontecendo. Alexander Lukashenko chamou a pandemia global de “psicose” e se recusou a adotar medidas de distanciamento social. Outra semelhança com o líder brasileiro é a preocupação com a economia. Segundo Lukashenko, as medidas de lockdown quebrariam o país.

Por sua vez, o ditador da Nicarágua manteve escolas, comércios e mercados abertos e se referiu à pandemia como “um sinal de Deus”. A ausência de Ortega, por mais de um mês, em plena crise global gerou suspeitas de que ele estaria doente, em quarentena, ou mesmo de que haveria morrido. Em pronunciamento televisionado, ele não mencionou medidas específicas para combate ao vírus e apenas reforçou práticas de higiene pessoal, como lavar as mãos.

Por fim, o presidente do Turcomenistão afirma ter inventado um método caseiro para manter a contagem de casos do Covid-19 do país em zero: queimando a erva yuzarlik. Autoridades têm fumigado a fumaça da erva duas vezes ao dia em edifícios, mercados escolas e até mesmo cemitérios, mesmo sem evidência científica. O país asiático continua insistindo que não há nenhum infectado por covid-19 em seu território. Por várias semanas, o governo e a imprensa local evitaram fazer menção ao coronavírus pelo nome. A Radio Azatlyk, financiada pelos EUA, informou que a polícia prendeu cidadãos por discutir a pandemia nas ruas.

O jornal americano Washington Post também dedicou um espaço em seu editorial do último dia 14 para analisar a ação de líderes mundiais que subestimam a gravidade do coronavírus. O presidente Jair Bolsonaro foi o destaque da publicação. O presidente brasileiro foi classificado como o caso mais grave de má conduta na crise, “de longe”.  O conselho editorial do jornal termina fazendo um apelo. O texto afirma que presidente americano Donald Trump faria um grande favor se telefonasse a Bolsonaro e o pedisse para seguir os seus passos depois que Trump diminuiu sua a retórica de minimizar a pandemia e começou a apoiar os esforços de contenção da doença, momento a partir do qual os Estados Unidos começaram a ter um desempenho melhor no combate à pandemia, segundo o jornal.

O la Repubblica, jornal diário italiano, chama Bolsonaro de “o último cético” e afirma que ele ficou isolado entre os chefes de Estado nas posições adotadas para enfrentamento ao vírus. O diário também destaca as aglomerações provocadas pelo presidente brasileiro nos últimos dias e as dissonâncias entre Bolsonaro e os governadores.

Um dos mais respeitados jornais do mundo, O Le Monde, da França, destacou uma frase de Bolsonaro contrária às medidas de contenção: “Alguns vão morrer? Sim claro. Sinto muito, mas isso é a vida. Você não pode parar uma fábrica de automóveis porque há mortes nas estradas todos os anos”. O periódico francês cita nas atitudes do brasileiro um viés eleitoral. “Ao retomar esse discurso populista, muitas vezes insensato, Jair Bolsonaro certamente consegue remobilizar sua base eleitoral, de base conspiratória”, diz a matéria publicada em 4 de abril.

Na Inglaterra, o The Guardian destacou os ataques de Bolsonaro à mídia e a queda de popularidade do presidente, com protestos registrados em várias cidades do país. Para a BBC, “enquanto o mundo tenta desesperadamente combater a pandemia de coronavírus, o presidente do Brasil está fazendo o possível para minimizá-la”. A rede britânica salienta as divergências entre Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e afirma que o líder brasileiro está frustrado porque foi eleito com a promessa de melhorar a economia, o que foi barrado pelo avanço da covid-19. “O Sr. Bolsonaro está determinado a fazer essa pandemia política, culpando seus adversários por tentarem destruir o país.”

Publicações econômicas como The Economist, Forbes e Wall Street Journal destacam o descaso do presidente brasileiro e o foco nas questões econômicas. O The Economist afirma que Bolsonaro “toca violino” enquanto a pandemia cresce e se refere ao presidente como BolsoNero. Para a Forbes ,Bolsonaro emulou o presidente americano Donald Trump no início da epidemia, mas acabou não seguindo seus passos nas últimas semanas. A revista de negócios afirma que a base de apoio do brasileiro está encolhendo e irá reduzir ainda mais se ele der as respostas erradas ao coronavírus. Na mesma direção, o Wall Street Journal critica o foco excessivo de Bolsonaro na retomada da economia frente à uma doença mortal.

Para o The Sydney Morning Herald, principal e mais antigo jornal australiano, Bolsonaro faz aposta de vida e morte com coronavírus. Mesmo com a disseminação da doença no país, o brasileiro não dá sinais de hesitação e faz cálculo político ao adotar postura cada vez mais desafiadora. “Bolsonaro pode ter concluído que, quando enfrentar a reeleição em dois anos e meio, a economia importará mais para a maioria dos brasileiros do que o número de mortes por coronavírus. Ao rotular a ameaça de vírus como exagerada e reduzir as quarentenas e paralisações dos governadores a medidas desnecessárias, ele pode estar se preparando para culpar os outros por qualquer recessão que possa acontecer”, diz o texto, que cita analistas políticos brasileiros.

A Al Jazeera, emissora de televisão mais importante do mundo árabe, reproduziu entrevista com a deputada federal Tabata Amaral, que afirmou que Bolsonaro está colocando “vidas em perigo” no maior país da América Latina. A rede destaca as referências de Bolsonaro ao vírus, que utilizou termos como “gripezinha” e “histeria”.

Veja abaixo um compilado das publicações:

La Repubblica (Itália)
“Coronavírus, verdadeiro ou falso? Bolsonaro, o último cético: ‘Apenas uma gripezinha’”

Le Monde (França)
“Coronavírus: no Brasil, Bolsonaro se isola cada vez mais da gestão da crise da saúde”

El País (Espanha)
“A atitude temerária e irresponsável do líder do maior país da América do Sul ameaça causar inúmeras mortes”

The Guardian (Inglaterra)
“Jair Bolsonaro diz que crise de coronavírus é um truque da mídia”

BBC (Inglaterra)
“Enquanto o mundo tenta desesperadamente combater a pandemia de coronavírus, o presidente do Brasil está fazendo o possível para desacreditá-la”

Deutsche Welle (Alemanha)
“O presidente de um país não pode confrontar a ciência”

Observador (Portugal)
“Bolsonaro volta a subestimar pandemia: ‘O brasileiro tem que ser estudado, ele não pega nada’”

Aftonbladet (Suécia)
“Bolsonaro questiona números de mortes”

Wall Street Journal (Estados Unidos)
“‘Voltem ao trabalho': Bolsonaro descarta riscos mortais do coronavírus no Brasil”

Forbes (Estados Unidos)
“Em Coronavírus versus Brasil, Bolsonaro fica quase sozinho”

New York Times (Estados Unidos) 
“Bolsonaro, isolado e desafiador, descarta ameaça de coronavírus ao Brasil”

Washington Post (Estados Unidos) 
“Bolsonaro pode ser o líder mais cético do coronavírus no mundo”

The Japan Times (Japão)
“Jair Bolsonaro isolado e enfraquecido pela negação de coronavírus”

Asahi Shimbun (Japão)
“Pelo menos um líder mundial seguiu as alegações de Trump de promover o uso das drogas. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, elogiou repetidamente os benefícios da hidroxicloroquina e da azitromicina”

Times of India (Índia)
“Presidente do Brasil tira selfies e aplaude manifestantes apesar de riscos da pandemia”

Al Jazeera English (Emirados Árabes Unidos)
“COVID-19: Bolsonaro está colocando 'vidas em perigo'”

The Sydney Morning Herald (Austrália)
“Bolsonaro joga com a vida e a morte em meio a pandemia”

TIME
“O presidente do Brasil ainda insiste que o coronavírus é um exagero. Governadores revidam”

Detik (Indonésia)
“Além de subestimar o risco, Bolsonaro também deu um mau exemplo, aparecendo na multidão várias vezes com seus simpatizantes. Ele também não concordou com a política de 'bloqueio' que muitos governadores adotaram”

Zing News (Vietnã)
“No contexto da pandemia imprevisível do Covid-19, o presidente brasileiro costuma fazer declarações subjetivas. Em 29 de março, ele anunciou que gostaria de dar continuidade às atividades econômicas do país e se opõe à medida dos governadores para impedir a propagação da doença, dizendo que é natural que alguém morra pelo vírus”

TROGLODITA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) afirmou, em entrevista ao The Guardian, publicada na sexta-feira (17), que o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ) está liderando os brasileiros “para o matadouro” com seu tratamento criminalmente irresponsável no combate ao coronavírus. Lula disse que, ao minar o distanciamento social e demitir o próprio ministro da Saúde, o líder “troglodita” do Brasil arrisca repetir as cenas devastadoras que acontecem no Equador, onde famílias tiveram que despejar cadáveres de seus entes queridos nas ruas.

MAIS EDUCAÇÃO, MAIS CONSCIÊNCIA

Pesquisa Fórum, realizada pela Offerwise com supervisão técnica de Wilson Molinari e realizada dos dias 8 a 11 de abril com 956 entrevistados, revelou que 39% dos brasileiros consideram a atuação de Jair Bolsonaro na crise do coronavírus como ótima ou boa.  A maioria das pessoas de alguns segmentos específicos, no entanto, considera a forma como o presidente vem lidando com a pandemia como ruim ou péssima.  É o que acontece entre os mais escolarizados. Os dados mostram que, quanto maior o nível de escolaridade, pior a avaliação de como Jair Bolsonaro vem agindo com a crise da Covid-19.

Entre aqueles que possuem apenas o Ensino Fundamental completo, 40% consideram a atuação do presidente como ótima ou boa, enquanto 27% acham que é regular e 28% avaliam a gestão Bolsonaro na crise como ruim ou péssima. A avaliação positiva se mantém igual entre aqueles que possuem o Ensino Médio completo (40%), mas a percepção negativa aumenta entre esse público: 34% considera a postura de Bolsonaro como ruim ou péssima, enquanto 24% avalia como regular. Já entre as pessoas com Ensino Superior completo a avaliação de ruim e péssimo da gestão de Jair Bolsonaro dispara: 46%. Neste segmento, avaliam positivamente a atuação do presidente 37% dos entrevistados. 17% consideram essa atuação como regular.

A Pesquisa Fórum revela que os homens são os que melhor avaliam a conduta do presidente Jair Bolsonaro diante da crise do coronavírus. A maioria das mulheres, porém, tem uma percepção negativa da postura de Bolsonaro. Entre os homens, 43% consideram a atuação do presidente ótima ou boa, 22% regular e 32% ruim ou péssima. Já entre as mulheres o cenário muda: 36% avaliam a postura do ex-capitão como ótima ou boa, 24% como regular e, a maioria, 39%, ruim ou péssima.

Assim como os mais escolarizados e as mulheres, os jovens estão entre aqueles que pior avaliam a forma como Jair Bolsonaro vem atuando na crise do coronavírus. Os mais velhos, por outro lado, são os que melhor avaliam o presidente. Na faixa entre 16 e 24 anos de idade, a porcentagem da avaliação ruim e péssima de Bolsonaro frente à pandemia chega a 40%. 32% consideram a gestão boa ou ótima e 22%, regular. Porcentagem parecida com a registrada entre os entrevistados que possuem idade entre 25 e 34 anos: 33% consideram a atuação do presidente ótima ou boa, 24% regular e, a maioria, 38%, ruim ou péssima. O cenário só muda de maneira mais significativa entre os mais velhos. Os entrevistados que possuem de 35 a 44 anos se dividem entre 35% que consideram a gestão de Jair Bolsonaro com o coronavírus como boa ou ótima, 27% que consideram regular e 35% que avaliam como ruim ou péssima. Entre 45 a 59 anos, a avaliação ótima e boa do presidente soma 40%, regular, 27% e 35% consideram ruim e péssima. Já entre os que têm 60 anos ou mais a avaliação positiva é maior: 52%. 14% deste público considera a conduta de Jair Bolsonaro na crise regular e 32% ruim ou péssima.

Entre aqueles que responderam qual sua ocupação principal, a pior avaliação da conduta de Jair Bolsonaro diante da crise do coronavírus é dos funcionários públicos. Entre este segmento, apenas 20% avaliam a atuação de Bolsonaro como boa ou ótima, 22% como regular e, a maioria, 55%, como ruim ou péssima. Já a melhor avaliação de como o presidente vem enfrentando a crise da Covid-19 está entre os aposentados. 52% consideram essa atuação ótima ou boa, 12% regular e 33% ruim ou péssima.

MAIA X BOLSONARO

Como diria Jair, alguma coisa subiu à cabeça de Bolsonaro. Deve ter subido pela escada, pois os raciocínios do presidente têm um fôlego cada vez mais curto. Depois de empurrar Henrique Mandetta para fora do ringue, Bolsonaro achou que seria uma boa ideia comprar briga com Rodrigo Maia.

Bolsonaro irritou-se com o projeto da Câmara sobre o socorro financeiro da União aos Estados e municípios. A irritação tem justa causa. Mas a melhor maneira de resolver o problema é com saliva, não com os punhos. O diabo é que o único diálogo que o capitão admite é aquele em que ele manda o interlocutor calar a boca.

Num instante em que os ministros Paulo Guedes (Economia) e Luiz Eduardo Ramos (Coordenação Política) negociavam no Senado um texto alternativo ao que foi aprovado na Câmara, Bolsonaro trocou de passatempo. Não podendo mais socar Mandetta, esmurrou Maia.

Faltou enxergar a diferença entre Mandetta e Maia. No Executivo, o presidente acha uma coisa e, se o ministro discorda, ele manda para o olho da rua. No Congresso, os prepostos do mesmo presidente vão às reuniões, expõem os pontos de vista do governo e são contraditados.

Por Josias de Souza

No Planalto, manda quem pode. Nos plenários da Câmara e do Senado, manda quem tem mais votos. O projeto que obriga o governo a cobrir por seis meses as perdas de arrecadação tributária de Estados e municípios passou na Câmara por 431 votos a 70. O governo tenta reduzir a conta e impor contrapartidas a governadores e prefeitos. Se houver mudança no Senado, o texto retornará à Câmara, que dará a palavra final. Quer dizer: se insistir na troca de socos, o presidente, ultraminoritário, levará uma segunda surra. Dizer que Rodrigo Maia tem uma atuação "péssima", empurra o Brasil "para o caos" e tenta usurpar os poderes do presidente da República serve para animar a milícia bolsonarista nas redes sociais. Mas não resolve o problema. Ao contrário, magnifica a encrenca.

Deixando o tom moderado de lado, Maia afirma que o ministro Paulo Guedes está distribuindo informação falsa à sociedade. E emenda, num ataque frontal: “Ele não é sério. Se fosse sério, não tentaria misturar a cabeça das pessoas”. O deputado também critica o presidente da República, que estaria empenhado em segurar a ajuda financeira a governadores como forma de enfraquecê-los, especialmente aqueles que podem disputar com ele o Planalto em 2022.

Sobre a atuação de Bolsonaro diante da pandemia do covid-19, Maia foi direto em entrevista à Veja: “O presidente minimiza o problema, o que pode ter consequências enormes num país continental como o Brasil. Outro dia, ele disse numa live que teríamos menos mortes com o novo coronavírus do que com a H1N1, o que, em poucas semanas, foi desmentido pelos dados oficiais. O presidente segue a linha daqueles que, em outros países, entenderam que o custo do não isolamento era menor que o custo do isolamento. A diferença é que a maioria dos governantes que seguiram esse caminho já recuou. A postura de Bolsonaro de minimizar a pandemia levou a equipe econômica a demorar muito tempo para se convencer de que o impacto seria grande. Essa postura também provoca conflitos.”

MANDETTA

Mandetta de bobo só tem a língua presa… Sai por cima da carne seca, com um cacife eleitoral de dar inveja. O Democratas, seu partido, planeja um futuro com projeção nacional para ele. Por isso, ele não deve aceitar nem o convite feito pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, nem o aceno do governador de São Paulo, João Doria, para integrar suas equipes. Na entrevista exclusiva à Veja, Mandetta desconversou a pretensão de ser candidato ao governo de Mato Grosso do Sul em 2022 e disse que precisa ganhar seu pão pois ‘tem filhos na faculdade e uma netinha’.

SEUS PAIS OU SEUS FILHOS?

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, já sugeriu, em um vídeo de 2019, que pode ser preciso escolher entre a vida de um idoso e a de um adolescente, em nome da sustentabilidade financeira do sistema de saúde público. O vídeo foi publicado pelo canal no Instituto Oncoguia, na ocasião do 9º Fórum Nacional de Políticas em Oncologia, realizado em abril do ano passado. Na ocasião, Teich discute “a complexidade do sistema de saúde brasileiro”.

WEINTRAUBISSES

O vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF), a abertura de um inquérito contra o ministro da Educação, Abraham Weintraub, por crime de racismo. O ministro publicou em suas redes sociais um texto e uma imagem debochando da China. A representação foi protocolada pelo Psol e por um grupo de cidadãos anônimos. O relator da matéria é o ministro Celso de Mello.

Veja a representação contra Weintraub na íntegra

BOLSONARO DOENTE?

Após receber pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI), a Presidência da República classificou como "sigilosos" os exames que Jair Bolsonaro fez para detectar se tinha sido infectado pela covid-19. O pedido foi feito pela reportagem do Uol no dia 23 de março. No começo do mês passado, o presidente viajou para os Estados Unidos com sua comitiva. No grupo, ao menos 25 pessoas foram infectadas pelo coronavírus. Bolsonaro, por sua vez, nega que tenha sido infectado porém, se recusa a mostrar o resultado dos exames que teriam dado negativo.

A Secretaria Especial de Comunicação Social da Secretaria de Governo da Presidência da República (Secom) negou o pedido baseada na legislação que regula o acesso a informações pública (Lei 12.527/2011), conforme mostrou a reportagem do portal. "As informações individualizadas sobre o assunto dizem respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas", disse a Secom.  As dúvidas sobre o verdadeiro resultado do exame de Bolsonaro aumentaram depois que o Hospital das Forças Armadas (HFA), onde o presidente fez os exames, omitiu dois nomes da lista de contaminados. A unidade foi obrigada a revelar a lista após decisão da juíza da 4ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Raquel Soares Chiarelli.

Aliás, “violação ao direito à informação” é a base da acusação feita por parlamentares e juristas para sustentar sua denúncia do governo federal à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Os governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e do Pará, Helder Barbalho, anunciaram ontem que foram infectados pelo novo coronavírus. Witzel vem desenvolvendo sintomas da covid-19 desde sexta-feira, como febre, dor de garganta e perda de olfato. Barbalho disse ser assintomático. Ele fez três exames depois que membros da sua equipe foram diagnosticados com a doença. Ambos aproveitaram a ocasião para reforçar o pedido para a população ficar em casa.

PUXA-SAQUISMO

No livro "Você é o Máximo – A História do Puxa-saquismo", Richard Stengel, ex-editor da revista Time, anota que o romano Plutarco foi a primeira pessoa a escrever um tratado anti-puxa-sacos. Nele, receitou um antídoto para os donos dos sacos: "Mude suas ideias abruptamente e observe se o bajulador o seguirá."

Jair Bolsonaro já mudou de opinião sobre o Onyx Lorenzoni várias vezes. Quando o nomeou para a chefia da Casa Civil, imaginou que pudesse acumular a articulação política com a coordenação de governo. Desde então, vem rebaixando o auxiliar de forma humilhante. E Onyx puxa-lhe cada vez mais o saco.

Onyx perdeu a atribuição de articulador político do Planalto. A coordenação de governo foi sendo lipoaspirada até desaparecer. Sem serventia na Casa Civil, foi rebaixado para a pasta da Cidadania. E nunca deixou de exercer o puxa-saquismo em tempo integral.

Nesta terça-feira, Onyx se esmerou. Na entrevista interministerial sobre a crise do coronavírus, exaltou "a maneira corajosa" como Bolsonaro, o "comandante da nossa nação", defende o equilíbrio entre o problema da saúde e a sobrevivência econômica.

Onyx tornou-se um tipo sui generis de bajulador. Capricha tanto que acaba sendo vítima de sua própria habilidade. Puxa o saco com tamanha sinceridade que Bolsonaro, o elogiado, acredita tão piamente nas suas hipotéticas qualidades que considera desnecessário recompensar Onyx por reconhecer méritos evidentes.

Por Josias de Souza

FAKE

Os advogados do inventário da ex-primeira-dama Marisa Letícia entregaram na quarta-feira (15) extrato bancário com as aplicações da ex-primeira-dama, que somam R$ 26 mil em certificados de depósito bancários (CDBs). O documento foi apresentado em resposta a um pedido do juiz da 1ª Vara da Família e das Sucessões Carlos Henrique André Lisboa, responsável pelo inventário da ex-primeira-dama, que questionou a defesa sobre papéis que indicavam patrimônio de R$ 256,6 milhões em CDBs. Segundo a defesa o valor milionário é fruto de um erro de interpretação dos dados. Os advogados Cristiano Zanin, Maria de Lourdes Lopes e Rodrigo Gabrinha dizem que tentou-se atribuir a dona Marisa um patrimônio imaginário de R$ 256 milhões, resultado da multiplicação do número de CDBs pelo valor nominal de determinadas debêntures. Segundo eles, tal atribuição é “incompatível com a realidade e com as informações disponíveis nestes autos”. Ainda segundo a defesa, todos os bens e investimentos que pertenciam à falecida e que devem ser partilhados e perfazem a quantia total de R$ 1.458.535,49. Os dados foram explorados politicamente por aliados do presidente Jair Bolsonaro, entre eles Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e a secretária especial de Cultura, Regina Duarte. No último dia 10, as redes bolsonaristas divulgaram que a ex-primeira-dama teria deixado uma fortuna de R$ 256,6 milhões em CDBs. A informação tem como origem notícia veiculada pela Rádio Jovem Pan sobre o pedido do juiz da 1ª Vara da Família e das Sucessões Carlos Henrique André Lisboa, responsável pelo inventário da ex-primeira-dama, que morreu em 2017.

Leia a íntegra do documento.            

REI DO FAKE

O deputado federal e ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS) é o parlamentar que mais difundiu desinformação sobre o novo coronavírus no Twitter desde que a pandemia chegou ao Brasil, segundo levantamento do Radar Aos Fatos.  Assim como Bolsonaro, Terra também é crítico às medidas de isolamento social, orientação recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e defende o uso da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus, mesmo sem eficácia científica reconhecida.

A análise considerou os 1.500 tweets sobre o assunto com mais interações (ou seja, retweets e curtidas) publicados por deputados e senadores entre 20 de fevereiro e 8 de abril. No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período.

Terra foi responsável por 38 desses posts (23,9%) e 522.485 dessas interações (32,9%). Vale lembrar que o Twitter aplicou uma sanção a um post de Terra que contrariava as orientações sanitárias, na qual ele dizia que a quarentena aumenta o número de casos do coronavírus.

O deputado afirmou, por meio de sua assessoria, que "desinformacão é informação que a mídia não gosta ou não concorda." Chama atenção a politização da discussão, com 19 dos 22 parlamentares que publicaram tweets com desinformação sendo da base do governo Bolsonaro (de partidos como PSL, PSC, Republicanos, Podemos, PSD e MDB). Veja abaixo a distribuição:

Osmar Terra não teve vida fácil na reunião da comissão do Congresso que trata das estratégias de combate ao coronavírus. Durante uma tensa discussão, o deputado tirou do sério a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) e levou às lágrimas a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), ligada ao ministro Mandetta. O tema era a situação da pessoa com deficiência, mas Terra não resistiu e voltou a atacar a estratégia da Saúde de combate à pandemia.

Terra chamou de “apóstolos da quarentena” os defensores do isolamento. Disse que o “sacrifício imposto à população está sendo inútil” e ainda afirmou que a pandemia está “em regressão no Brasil inteiro”. Para ele, há um “terror na população”, um “cenário apocalíptico” e que todo mundo acha que “mundo irá acabar amanhã”, quando, na visão dele, o número de mortes no Brasil será bem menor do que as estimativa e projeções.

Presente na videoconferência, a senadora tucana Mara Gabrilli não conseguiu ignorar as provocações do deputado. “Osmar, chega! Isso é genocídio o que você está provocando. Muito grave o que você está fazendo”.

Na sequência, a deputada Zanotto desabafou, chorando: “Mil óbitos são tão importantes como se fossem 200.000. Não podemos minimizar essa situação”.

O trecho com a reação da deputada está no vídeo abaixo, a partir de 3:37:30.

No vídeo, a senadora Mara Gabrilli também reage a Terra. Ela não aparece na imagem.

GENTE DE BEM 1

O ex-PM e fundador do AlfaCon Concursos, Evandro Guedes, durante live realizada no último dia 9, confessou vários crimes de violência e abuso de autoridade, além de cometer ao menos outro de racismo. Evandro conta, em sua aula, o prazer que tinha em ser policial e dar porrada nos outros…. entre outras barbaridades.

GENTE DE BEM 2

O empresário bolsonarista Paulo Kogos, uma das principais figuras do ato contra as medidas de isolamento que aconteceu na Avenida Paulista do último dia 12, gravou um vídeo esta semana para se desculpar com o governador João Doria (PSDB) e sua família. Kogos foi uma das pessoas que ajudou a segurar o caixão falso durante o ato que levava o nome e imagem do tucano, também associado ao nazismo e ao comunismo.

O empresário, que se autointitula como um “ativista político da antipolítica” e é conhecido como “meme ambulante” nas redes sociais, é filho do ginecologista Waldemar e da dermatologista Ligia Kogos, a “rainha do Botox”. Ligia possui entre seus clientes mais famosos Marcela Temer, Beth Szafir e Amaury Jr.

No vídeo, o bolsonarista anuncia uma “retratação” à família Doria e diz que houve um “mal entendido” sobre o significado dos caixões no ato do último domingo. De acordo com ele, a intenção era realizar uma “oposição política” ao isolamento horizontal através de um “enterro ideológico, inspirado em um meme dos dançarinos do caixão”.

Em entrevista à revista Veja, um dia depois da manifestação, Kogos voltou a chamar Doria de “neonazista” por defender o monitoramento da população por geolocalização durante a pandemia. “Ele é um neonazista no tocante ao totalitarismo e ao desprezo pelas liberdades civis”, disse. “A coisa que mais me irritou nisso tudo foi proibir as missas”, continuou.

Na entrevista, Kogos diz ainda que a teoria da terra plana é uma “invenção da esquerda” com o intuito de atacar a direita. “Essa tese é tão absurda que só pode ser estratégia da esquerda, que paga influenciadores que se dizem terraplanistas com o intuito de atacar a direita”, disse.

Com a repercussão da manifestação, o empresário passou a se queixar de ataques. Ainda de acordo com a Veja, ele teria sido expulso do Club Athletico Paulistano, o mais elitista do Brasil, onde título e transferência saem por 500 mil reais – algo que o bolsonarista nega.

Contudo, Kogos de fato foi expulso do Twitter. A rede social cancelou seu perfil por julgar impróprio o conteúdo de suas postagens. “Basta que a pessoa seja de direita, conservadora, cristã ou simplesmente defenda o livre mercado, a pessoa se torna vítima de um massacre de reputação”, explica ele, em entrevista à revista.

GENTE DE BEM 3

Em fala a investidores do mercado financeiro (leia aqui), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tirou de contexto dados de um gráfico elaborado por economistas do Centro de Pesquisas de Política Econômica para defender a tese de que o isolamento social irá aprofundar a recessão. Na lógica fria de Campos Neto, quanto mais rápido vierem novos casos e mortes por covid-19, melhor para a economia. Mais importante é que a indústria continue produzindo e vendendo. Ainda que isso cause o colapso de hospitais e do sistema de saúde pública, forçando médicos e escolher quem atender e quem deixar morrer, é um preço razoável a pagar em nome do lucro. A fala do presidente do BC embute uma desonestidade intelectual. O gráfico usado por ele consta da introdução do livro “Mitigating the covid economic crisis: act fast and do whatever it takes” – “Reduzindo a crise econômica da covid: agir rápido e fazer todo o possível”, em tradução livre.

FRASES DA SEMANA

“O Estado tem de ser forte. Não é maior, menor, mínimo. O Estado tem de ser forte o suficiente para dar políticas públicas nas áreas de saúde, educação e proteção social”. (Maria Alice Setubal, educadora e uma das herdeiras do Banco Itaú)

“O Brasil, quero deixar bem claro, não merece o que Rodrigo Maia está fazendo. O Brasil não merece a atuação dele na Câmara. Não é o Parlamento, é a atuação dele. Rodrigo Maia, péssima a sua atuação.” (Jair Bolsonaro, para desviar a atenção sobre a saída de Mandetta do governo) 

“60 dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né?” (Mandetta, ainda ministro)  

“O problema é que você entra por uma porta e quando sai você leva um coice. Essa é relação que o governo tem tido com os políticos do Congresso Nacional desde que assumiu o poder.”(Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados) 

“Estamos avaliando os números e, se a gente continuar numa evolução significativa, não vamos ter outra alternativa a não ser colocar todo mundo em quarentena e aumentar as medidas restritivas”. (Wilson Lima, governador do Amazonas, para quem a ficha começa finalmente a cair) 

“Eu espero uma fala única, uma fala unificada. Porque isso leva ao brasileiro uma dubiedade; ele não sabe se ele escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem ele escuta“. (Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, sem mais paciência para aturar Jair Bolsonaro) 

“O bloqueio total é uma medida muito amarga e esperamos não ter que adotar essa medida em nenhum local do Brasil. E para isso é fundamental que o distanciamento social não seja relaxado”. (Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde) 

“Mesmo para seus próprios padrões, a violação de Bolsonaro de seu dever principal de proteger vidas foi longe demais. Grande parte do governo o trata como um parente difícil que mostra sinais de insanidade”. (The Economist, revista inglesa de notícias e assuntos internacionais) 

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e Radar

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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