19/04/2024 - Edição 540

True Colors

Tempos de trevas virão…

Publicado em 10/10/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

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O resultado do primeiro turno das eleições foi daqueles que abrem possibilidade para muitas reflexões. A primeira delas, uma possível unificação da comunidade LGBT em torno das ideologias partidárias do PSOL, o partido que mais destacou as lutas das minorias em sinergia com novas e justas políticas econômicas de distribuição de renda. Luciana Genro, que atingiu o 4º lugar na disputa, saiu consolidada como uma grande defensora LGBT e provavelmente terá mais chances nas próximas eleições, principalmente se almejar cargos legislativos.

Jean Wyllys, correligionário de Genro no Rio de Janeiro, também foi eleito ao cargos de deputados federal, com número de votos expressivos. Outra grande defensora da causa LGBT que se reelegeu foi Erika Kokay (PT-DF), dentre vários outras pessoas. Mas infelizmente, serão “Davis contra centenas de Golias” que também conquistaram suas cadeiras no poder legislativo. Eduardo Suplicy (PT-SP) foi derrotado por José Serra (PSDB-SP) no Senado. Bolsonaro foi o deputado federail mais votado pelo Rio de Janeiro, com mais de 450 mil votos. Marco Feliciano foi o terceiro deputado Federal mais votado de SP, com quase 400 mil votos. A bancada evangélica teve um aumento de 16% – o país não via um Congresso Nacional tão conservador desde em 1964, ano do Golpe Militar.

Isso sem falar em aberrações políticas como Levy Fidelix e Pastor Everaldo, e também da indecisa e confusa Marina Silva. Sem falar nas alianças de Aécio Neves e Dilma Roussef com grupos conservadores. Um caos social oriundo de debates rasos e superficiais que é visível nas trocas de ofensas virtuais, nas redes sociais, que polarizam os defensores dos presidenciáveis que disputam o segundo turno, Dilma e Aécio.

Os eleitos no primeiro turno destas eleições, na verdade, são o reflexo de uma voz que cresce cada vez mais no país. Amparados por um conservadorismo e moral distorcidos, embasados em ideias controversas das igrejas neopentecostais e nos discursos de ódio disseminados aos quatro cantos, um novo grupo cada vez mais se sedimenta como o símbolo do retrocesso social. São pessoas que defendem pena de morte, redução de maioridade penal, meritocracia excludente e concentração de renda. São pessoas que não sabem pensar coletivamente, mas que depois reclamam da vida trancafiadas em seus carros blindados resmungando da falta de segurança.

Fortalecidos, eles tentam reverter os caminhos que o Brasil já percorreu na mão do desenvolvimento. E aqui não estou defendendo ou me referindo à partido A ou B, situação ou oposição, mas estou falando de voz. Logo hoje, quando vemos mais e mais jovens cada vez mais cedo fora do armário, quando vemos a comunidade T em uníssono exigindo respeito e dignidade. Logo agora quando é possível falar sobre comunidade LGBT em alto e bom tom sem a necessidade de “manter a discrição” ou sem medo de ser visto com maus olhos. Uma força estranha está aí, preparada e fortificada para impedir nossa visibilidade. Serão tempos de trevas.

Mas dizem que com uma derrota há a possibilidade de um movimento social se fortalecer. Caso Dilma – a opção “menos pior” para a presidência – não seja reeleita, caso nossa derrota no Congresso seja esmagadora, caso o conservadorismo se institucionalize no país, é interessante acreditar e agir para que nos próximos anos aproveitaremos cada minuto para pensar, repensar e desenvolver uma estratégia de fortalecimento. É para levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Que o sentimento de comunidade se fortifique, que a omissão não nos atinja e que nossa voz não se cale diante do que está por vir. Fé em Deus (o verdadeiro, e para quem acredita) e pé na tábua.

Parada da Diversidade

É oficial! XIII Parada da Cidadania LGBT de Campo Grande agora tem data, horário e local marcados! Acontece no próximo dia 25 de outubro, a partir das 15h, com concentração na praça Ari Coelho. Como sempre, todas as pessoas estão convidadas para participar, independente de idade, origem, gênero, raça, classe social e orientação sexual, pois o evento é também a Parada da Diversidade.

A XIII Parada da Cidadania LGBT de Campo Grande tem como bandeiras o combate contra a homolesbotransfobia e a garantia dos direitos fundamentais das pessoas LGBT. É uma realização da Associação de Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS) em parceria com o Forum LGBT de Mato Grosso do Sul e de outros movimentos sociais e entidades.

Caminhada pela Diversidade

A Rede Apolo, grupo que integra homens gays e bissexuais de Campo Grande, está promovendo uma ação de visibilidade durante a próxima “Volta das Nações”, que acontece neste domingo.

Com o tema “Liberdade e Combate ao Preconceito”, a iniciativa consiste em um bloco que reunirá pessoas LGBT e qualquer um que seja a favor da diversidade e contra a homolesbotransfobia.

O objetivo do bloco é promover a visibilidade da causa LGBT e promover sua integração com outros segmentos sociais. De acordo com a organização, alguns voluntários farão o percurso da caminhada (7km) caracterizados como pessoas que sofreram violência homolesbotransfóbica. A Rede Apolo também contará com um stand onde serão distribuídos materiais educativos e informações sobre a rede e suas iniciativas.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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