19/04/2024 - Edição 540

Brasil

Mulheres, estudantes e sindicatos vão às ruas contra escalada autoritária

Publicado em 05/03/2020 12:00 -

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Atos de rua que já vinham sendo organizados por grupos de mulheres, organizações estudantis e centrais sindicais para o mês de março foram ampliados para incorporar uma resposta à manifestação que mira o Congresso endossada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Líderes dos atos de oposição ao governo se mobilizaram para discutir a reação à convocação dos bolsonaristas, agendada para o próximo dia 15. No último dia 25, Bolsonaro estimulou a iniciativa de seus apoiadores ao encaminhar a amigos um vídeo em apoio ao protesto. De acordo com especialistas, o presidente feriu a Constituição Federal e cometeu crime de responsabilidade ao incitar ataques as instituições.  

Três grandes atos vinham sendo preparados por opositores para março: um no dia 8, por ocasião do Dia Internacional da Mulher; outro no dia 14, quando se completam dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL); e outro no dia 18, em defesa da educação.

Porta-vozes confirmaram que os motes iniciais ganharão agora a companhia de bandeiras como a defesa da ordem democrática e da Constituição, em contraposição a pautas autoritárias levantadas por parte dos grupos apoiadores do ato do dia 15 —como fechamento do Congresso e pedido de intervenção militar.

Os eventos, que são propagados por meio de redes sociais e devem ocorrer em vários estados, são organizados por entidades da sociedade civil, movimentos feministas, entidades sindicais e pela UNE (União Nacional dos Estudantes), com o apoio de partidos de esquerda como PSOL, PT e PC do B.

Jornalistas

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) está mobilizando os profissionais que fazem a cobertura do Planalto e do Congresso Nacional para um protesto na Esplanada dos Ministérios em defesa do jornalismo e da democracia e em repúdio aos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro. O ato está marcado para o dia 18 de março.

Veja o vídeo de convocação para o ato:

Na manifestação, os jornalistas pretendem repetir o ato histórico feito por fotógrafos que cobriam o Palácio do Planalto (onde despacha o presidente da República) em 1984. Em protesto contra o tratamento dispensado pelo presidente da época, general João Figueiredo, cruzaram os braços e abaixaram as câmeras, dando origem à imagem histórica destacada acima.

"Os ataques do Bolsonaro contra a imprensa infelizmente nos fazem recordar muito a esse momento da ditadura militar em que tinha um enorme desrespeito e censura com os jornalistas e a imprensa. É necessário relembrar esse momento, não só o que acontecia, mas também a resposta dos jornalistas à isso", esclareceu Juliana César Nunes, diretora do Sindicato.

Juliana explica que o sindicato e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que endossa o protesto, atendem a uma reclamação dos profissionais da área, que são frequentemente alvos de ofensas e de ironias de Jair Bolsonaro ao exercerem o ofício. Segundo ela, "a categoria está muito indignada com o desrespeito que vem ocorrendo". A data escolhida tem como objetivo coincidir com o dia escolhido por vários movimentos de oposição para se manifestar "em defesa dos serviços públicos, da educação e dos direitos".

União?

A convocação das marchas bolsonaristas de 15 de março levou os presidentes dos partidos de oposição (PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede) a sentarem juntos pela primeira vez este ano, dia 3, em Brasília. Ao acertarem a reunião, na qual estreou o recém criado Unidade Popular, socialista, o impeachment era uma ideia acalentada, no embalo de juristas a apontar crime de responsabilidade de Jair Bolsonaro por incentivar protestos anti-Congresso. A reunião jogou água fria na ideia.

Avaliou-se que não há condições de cassar Bolsonaro hoje. Ele tem seguidores fanáticos, milícias digitais, apoio do poder econômico a sua agenda neoliberal e as Forças Armadas, mesmo que elas dissimulem. Mais: diante de um impeachment, o ex-capitão falaria em revanchismo de derrotados e que a classe política não o deixa governar, combustível para mobilizar seus fiéis nas ruas. “A conjuntura está muito complexa”, diz a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).

Complexa inclusive na oposição. Na reunião, realizada na sede do PSB, levantou-se a hipótese de organizar-se um ato contra Bolsonaro com a presença das estrelas oposicionistas: Lula (PT), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Flavio Dino (PCdoB). Missão tão difícil que ficou acertado que o plano não seria divulgado. Primeiro era preciso sondar a disposição dos líderes.

Será possível juntar Lula e Ciro no mesmo palanque? O pedetista tornou-se antipetista e não cansa de criticar o partido e o ex-presidente. E Dino, governador do Maranhão, topa? Ele tem conversado com o global Luciano Huck, potencial presidenciável da direita tradicional na eleição de 2022.

Na reunião, a deputada Jandira Feghali, do PCdoB do Rio, umas das líderes da oposição, defendeu que o campo progressista martele mais suas propostas, em vez de apenas criticar a o governo. “Precisamos de uma mensagem unificada que seja popular, como (a prorrogação d)o Fundeb e a reforma tributária progressiva (apresentada em outubro de 2019 pelo grupo)“, diz.

A portas fechadas, ela defendeu dialogar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM do Rio, para que ele manifeste de que lado, afinal, está. Maia tem sintonia com o neoliberalismo do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas resiste às propostas reacionárias de Bolsonaro em outros temas. Manterá a ambiguidade, marca da direita tradicional ante Bolsonaro? Presidenciável dessa direita, Huck critica a desigualdade, mas acha “correta” a política econômica de Guedes.

Maia dá pistas animadoras à oposição. Incentiva uma reforma tributária sabotada por empresários bolsonaristas. Após o Brasil conhecer o resultado pífio do PIB no primeiro ano de Paulo Guedes no cargo, 1,1% em 2019, comentou: “Os investimentos públicos são muito importantes”, e “o setor privado sozinho não vai resolver os problemas”.


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