28/03/2024 - Edição 540

Entrevista

Um papo com Ricardo Coimbra

Publicado em 19/02/2020 12:00 -

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Um breve perfil profissional. Como você começou, por onde passou e onde está agora.

Faço quadrinho, cartum e charge desde moleque, mas foi na faculdade que comecei a fazer umas coisas pra jornal de DCE, de sindicato, revistas alternativas. Em 2009 comecei a publicar na Internet e daí pra frente comecei a ser chamado pra publicar como colaborador eventual em alguns jornais e revistas. Publiquei algumas coisas na Trip, no estadão e hoje publico com regularidade na Folha de S. Paulo.

Se inspirou em algum chargista?

Sim, com certeza, vários. Na adolescência já queria ser cartunista, já curtia MAD, Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Crumb. Sempre fui fã da turma Laerte, Glauco, Angeli, Adão e depois, já na era das redes sociais, passei a me inspirar muito no Allan Sieber, no Arnaldo Branco e André Dahmer.

Qual o papel da charge em um jornalismo preocupado com a construção de uma sociedade mais plural?

Eu não sei se a charge tem esse papel todo no jornalismo. A charge especificamente, que é necessariamente política, acho que funciona mais como um comentário sobre a pauta jornalística, mas não a substitui. Confesso que me incomoda um pouco essa ideia de responsabilidade sobre o humor. Vejo muito cartunista que desenha achando que charge derruba governo.

A charge é uma ferramenta carregada de “posicionamentos” que levam o leitor a refletir sobre determinado tema. Concorda com esta afirmação?

Como falei na resposta anterior, apesar de entender que a charge trabalha muito com a questão de posicionamentos políticos e concordar com você que ela possa ajudar a refletir, não acho que ela substitua a leitura e aprofundamento sobre um tema.

Como o “mito” da imparcialidade se coloca para a charge? É possível ser “imparcial” diante do fascismo, do totalitarismo, do preconceito por exemplo?

Se nem o jornalismo dito sério é imparcial, imagina a charge, que é uma elaboração artística e subjetiva sobre os temas de política. Eu acho que toda charge carrega um posicionamento, não precisa nem estar necessariamente diante de fascismo, totalitarismo e preconceito. Só acho que ter posicionamento não é se render à superficialidade da conveniência político-partidária do momento. O posicionamento da charge é político mas não necessariamente partidário. Eu acho que a charge deve ser contra o poder, seja lá qual for sua linha ideológica. Porque poder é poder. Charge a favor de governo não é charge, é propaganda.

Qual o papel das redes sociais na disseminação da charge?

Eu acho que a dinâmica das redes sociais, esse algoritmo que favorece a polêmica, sobretudo política, favorece muito a disseminação das charges. Acho que o espírito da charge, em certa medida, muito próximo dos memes. Hoje noto que a estrutura de muitos memes é uma espécie de comentário político, uma espécie de charge. Outro dia vi um pessoal mais jovem se referindo a uma charge do Aroeira que estava circulando nas redes como um "meme interessante".


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