20/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Goebbels caiu, mas ELE continua governando

Publicado em 16/01/2020 12:00 - Victor Barone

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O secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, foi exonerado do cargo. Ele provocou uma onda de indignação após copiar frases de um discurso nazista em um pronunciamento oficial da pasta. Sua exoneração, no entanto, não apaga a vergonha e a irresponsabilidade de um Governo que sustenta, promove e apoia ações de extrema direita e que ainda têm, entre seus principais membros e “teóricos”, gente que relativiza o fascismo e promove desinformação sobre o tema.

Alvim, copiou uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. O vídeo foi divulgado para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, projeto no valor total de mais de R$ 20 milhões.   

O que disse Goebbels: Segundo o livro "Goebbels: a Biography", de Peter Longerich, o líder nazista afirmou: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada" 

O que disse Roberto Alvim: Nó vídeo divulgado pela Secretaria Especial da Cultura, ele afirma: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", discursou Alvim no vídeo postado nas redes sociais.

Além do trecho copiado do discurso de Goebbels, outra referência ao regime de Adolf Hitler é a trilha sonora do pronunciamento: a ópera "Lohengrin", de Richard Wagner. O compositor alemão era celebrado pelo líder nazista e teve grande influência em sua formação ideológica.

Após a indignação de parte da sociedade civil, ele usou suas redes sociais para falar sobre o assunto e classificou as semelhanças de seu discurso com o de Goebbels como uma "coincidência retórica" mas defendeu que "a frase em si é perfeita".

No seu delirante discurso sobre o que considera o "renascimento da arte" no Brasil, Alvim não se limitou a plagiar espantosamente Goebbels, o gênio do mal da propaganda hitlerista. Num tom triunfalista medonho, traz à tona vários outros elementos que, há 90 anos, constituíram, no que toca à cultura, o nascimento do fascismo europeu e de sua forma germânica, o nazismo.   

A ideia, ventilada por ele, de que o povo precisa ser salvo de uma "cultura doente" (primeiro sintoma, ele diz, de uma doença social) ecoa claramente a noção nazista da "arte degenerada", a ser expurgada. Parecido com o afã purificador que, em Berlim, incluiu até uma exposição de pinturas de grandes mestres modernos destinada a fomentar, no grande público, o horror a tudo que respirasse liberdade, crítica, transgressão, pluralidade.

A noção dos "mitos fundantes" nacionais, mencionados por Alvim (como se não tivessem sido jamais visitados por nossas artes, no país de Oswald, de Mário e da Tropicália), em muito lembra os ideais evocados pelo Führer, de uma Alemanha calcada em raízes pátrias profundas, carreadas por uma linhagem que remontaria à Antiguidade Clássica.

Na versão brasileira, contudo, Alvim acrescenta ingredientes do teofascismo, tendência política emergente tanto no fundamentalismo islâmico quanto na onda neopentecostal. Ele o faz ao vincular seu projeto de "arte da nova década" não só à família, mas à fé cristã da imensa maioria do povo brasileiro: Alvim crê numa pretensa revolução dos já proverbiais homens de bem contra o mal, esse alvo móvel representado por tudo o que foge à bitola equestre dos luminares das trevas que conduzem o Brasil à Nova Idade Média.

Um escritor, nas redes, ao referir-se ao secretário, comenta que a cultura brasileira jamais será a preconizada por "este palhaço". O problema é que a ascensão dos fascismos é sempre precedida pela impressão de que se trata de um bando de pândegos. É justamente dessa incredulidade que o monstro se vale para fixar suas garras na jugular do cidadão incauto.

Por isso o discurso de Alvim, que em outra conjuntura mereceria o lixo dos fundos da História, é uma peça que deve ser ouvida, transcrita e estudada, como sintoma de um evento maior que precisa ser debatido com urgência e intensidade proporcional à agressão que representa. Toda atenção é pouca.

Creiam: no fundo musical do discurso não são as Bachianas Brasileiras, mas a abertura de Lohengrin, ópera de Richard Wagner.

Por Arnaldo Bloch

Toma-se todo o cuidado para evitar comparar comportamentos do governo Jair Bolsonaro com práticas adotadas pelo regime nazista de Adolf Hitler. Jornalistas e historiadores, por mais que cocem as mãos diante de fatos e processos similares, sabem que há um abismo intransponível de distância entre ambos.

Existe até um nome para o uso dessa comparação: "Reductio ad Hitlerum", ou seja, a redução de uma argumentação a Hitler e os nazistas. Como há poucas coisas tão ruins na história da humanidade como esse, comparar alguém a ele é tentar desqualificar pura e simplesmente quando faltam argumentos. Por isso, é visto como uma falácia.

A expressão do filósofo político Leo Strauss tem uso tão frequente em debates que o advogado norte-americano Mike Godwin criou uma "lei" sarcástica para isso: "à medida que uma discussão on-line se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%".

Mas, Alvim legitimou comparações que se evitava fazer com o governo federal quanto aos seus surtos autoritários e fascistas. Pior: também copiou a estética de Goebbels, a aparência, as palavras escolhidas, o tom de voz, a trilha sonora. O plágio foi primeiro notado pelo site Jornalistas Livres.

Após visitar o Memorial do Holocausto, em Israel, em abril, Jair Bolsonaro afirmou que o nazismo foi um movimento de esquerda. Alinhava-se ao seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e ao guru de ambos, Olavo de Carvalho, mas batia de frente com a posição expressa por pesquisas do próprio Memorial, pelo governo da Alemanha (que viu o nazismo nascer) e pela esmagadora maioria dos historiadores em todo o mundo, que tratam do assunto praticamente como consenso.

Aliás, em 2018, a Embaixada da Alemanha em Brasília foi chamada de comunista nas redes sociais por ela ter postado um vídeo explicando que o nazismo é um movimento de extrema-direita. Se não bastasse isso, nossos conterrâneos foram além, tentando explicar aos alemães que eles não entendiam muito bem do tema.

Roberto Alvim pode até se justificar, dizendo que isso não passou de uma "performance" artística para causar incômodo, a fim de reduzir o estrago. Isso se tiver coragem de assumir o que fez. Ele prestou, contudo, dois favores. Primeiro, devolveu o nazismo ao seu lugar de direito, ou seja, junto a governos de extrema-direita. E ajudou o governo a sair do armário. Já que um alto funcionário de Bolsonaro abraça a ética e a estética nazista, a população do Brasil e do mundo pode chamar o governo por aquilo que alguns de seus membros almejam que ele seja.

Existe método na pressa com que Olavo de Carvalho procurou se dissociar de Roberto Alvim, um pupilo e defensor ardoroso de suas ideias alçado por Jair Bolsonaro a secretário nacional de Cultura. Em sua conta no Facebook, o ideólogo insinua que Alvim estaria maluco, depois que o seguidor postou nas redes da secretaria um vídeo longo em que exalta o caráter “nacional” da cultura e cita textualmente trechos de um discurso do nazista Joseph Goebbels ao lançar um prêmio de fomento cultural.

Outro seguidor de Olavo, o cineasta Josias Teófilo, foi pelo mesmo caminho ao pedir a demissão de Alvim e insinuar que ele estaria descompensado por problemas pessoais.

Acontece que não adianta chamar Alvim de maluco: sua política foi endossada pelo presidente Jair Bolsonaro em live no mesmíssimo dia em que ele postou o vídeo de inspiração nazista. Portanto, se for jogar o olavista agora rifado ao mar, Bolsonaro terá de explicar por que se perfilou ao lado dele e chancelou um prêmio que anuncia, de cara, que só vai contemplar obras culturais e artísticas que tenham o viés preferido pelos detentores do poder.

Ao levar para o seu lado o ex-secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, para a live semanal nas redes sociais em que faz sua comunicação direta com os seguidores, Jair Bolsonaro endossou não só as linhas gerais do tal Prêmio Nacional de Cultura como os “valores” defendidos por ele no vídeo em que copia textualmente um trecho de um discurso de Joseph Goebbels para explicar quais são eles.

Por Vera Magalhães

FALANDO EM FASCISTA…

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, utilizou sua conta no Twitter para lamentar a morte e homenagear o coronel Antônio Alexandrino Correia Lima,  combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a 2ª Guerra Mundial, que morreu aos 101 anos no último dia 3. O militar da reserva era cearense e participou de combates contra tropas nazi-fascistas na Itália. Após a homenagem do ministro, a neta do militar respondeu Moro dizendo que seu avô não aprovava o ex-juiz. “Meu avô, seu juizeco fascista, abominava você!!!”

No seu post, Moro escreveu: “Meus respeitos igualmente. A história da FEB é infelizmente insuficientemente valorizada no Brasil. Isso é algo que tem que mudar. Não podemos esquecer o esforço brasileiro contra o nazi-fascismo e os sacrifícios dos combatentes. Por favor, mais livros e filmes sobre isso, no mínimo”.

Em outra resposta, Renata Gomes postou uma foto de seu avô nas últimas eleições segurando uma placa apoiando o candidato do PT, Fernando Haddad, que ficou em 2º lugar na corrida presidencial.

O IMPRECIONANTE WEINTRAUB

impressionante não é o ministro da Educação ter escrito "imprecionante". Tampouco grafar paralisar com "z". Ou chamar o escritor tcheco Kafka de kafta, o prato árabe. Isso poderia passar para a história como folclore político caso ele fosse competente, preparado e mentalmente equilibrado para conduzir a educação brasileira diante de seus desafios. Mas não é.

Também não é um bufão, apesar dos vídeos dançando com guarda-chuvas. Os bobos da corte faziam rir, enquanto Abraham Weintraub é violento. Em agosto, por exemplo, curtiu uma postagem com ameaças de violência física a estudantes, com imagens de tacos de baseball cobertos com arame farpado. E, não raro, os bobos tinham a liberdade de criticar reis e rainhas e falar a verdade sobre o reino em suas performances. Já Weintraub não ousa dizer o que Bolsonaro não quer ouvir.

Pois se o presidente é o pet de Donald Trump, Weintraub é o pet do presidente.

Impressionante ou "imprecionante" é Jair Bolsonaro ter mantido a cadeira de ministro da Educação vazia por mais de um ano, colocando pessoas despreparadas, nocivas para o país, como prepostos que desperdiçaram nosso tempo. Substituiu a busca pela melhoria da educação básica e superior e pelo aumento da produtividade da força de trabalho por debates que interessam ao passado, não ao futuro.

Como já disse aqui, se ele tivesse indicado um profissional, seja de direita ou de esquerda, a tarefa estaria em curso e, neste momento, haveria discordância de linhas a serem adotadas, como em qualquer discussão democrática, mas não ojeriza e desalento.

Melhor seria se Bolsonaro tivesse repatriado Olavo de Carvalho, guru ideológico de sua família, para ocupar o cargo diretamente. Correríamos o risco da implantação do terraplanismo? Sim, mas, ao menos, a fonte desse "projeto" poderia defendê-lo sem intermediários à sociedade brasileira, que poderia abraçá-lo ou refutá-lo.

O Brasil conta com uma formação precária dos docentes e com alunos que saem do Ensino Médio analfabetos funcionais. Assiste a roubo, ausência e baixa qualidade da merenda escolar. Paga baixos salários aos professores e não fornece estrutura suficiente em todas as escolas. Mantém um teto orçamentário, aprovado no governo passado, que restringe novos investimentos em uma área que ainda está distante de um mínimo aceitável.

Mas repito o que sempre escrevo aqui: a sensação, de acordo com as preocupações do governo, é de que o problema da Educação passa pela presença de ilustrações de pipius e xaninhas em cartilhas voltadas a explicar a adolescentes cuidados de saúde com o próprio corpo. Ou a presença de conteúdo didático destinado a combater a violência contra mulheres, homossexuais e transexuais. Ou ainda um suposta doutrinação gayzista-globalista-político-partidária por militantes comunistas travestidos de professores, que pregam o fim da família e da propriedade privada e distribuem mamadeiras de piroca aos alunos.

Combater fantasmas serve para transformar algo insignificante em um inimigo terrível. Anima, dessa forma, a batalha da extrema direita, aliada de primeira hora do presidente, cujo engajamento é peça-chave para um governo que pretende manter a campanha eleitoral acesa até o seu último dia.

Cada erro de Weintraub, mesmo os intencionais (é possível que as falhas sejam propositais para criar polêmica), dos banais aos estruturais, devem ser debitados de Bolsonaro. É ele que terá que prestar contas com as novas gerações quando o futuro ficar mais distante.

Por Josias de Souza

O que é um fenômeno? Um ministro inepto não é um fenômeno. O ministério da Educação não é um fenômeno. Um presidente sem freios não é um fenômeno. Fenômeno é um ministro como Abraham Weintraub, incapaz de todo, ser mantido na pasta da Educação por um presidente como Jair Bolsonaro, capaz de tudo.

Não fica bem pensar mal de Weintraub e usar luvas de renda para falar de Bolsonaro. Ao veicular nas redes sociais um novo vídeo estrelado por seu ministro, o presidente reforçou a sensação de que o grande problema do MEC não é o comandante da pasta, mas o chefe dele.

No vídeo trombeteado por Bolsonaro, o ministro sustenta sua tese predileta. A tese de que a administração pública é um ninho de esquerdistas. Atribui a hipotética anomalia ao viés ideológico dos concursos públicos. Citou como exemplo um teste da Agência Brasileira de Inteligência.

"Entre na internet e veja como foi o último concurso público da Abin. Se você ver, é um concurso que tem praticamente nada de matemática e está lá falando governo estado-unidense. Então você, na seleção, já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos, como é o Enem."

Cada ideologia tem a inquisição que merece. Mas o ministro precisa explicar em que sílaba se esconde o esquerdismo nos meandros do termo estado-unidense, um inofensivo sinônimo de americano. Do contrário, esmagará os calos do general Augusto Heleno, superior hierárquico da Abin -com a ajuda do capitão.

Um chefe que se cerca de ministros tantãs imagina garantir, por contraste, uma aparência de sensato. Mas Bolsonaro exagera no MEC. Ali, o capitão é reincidente. Antes Weintraub, nomeara Vélez Rodrigues, uma piada colombiana. No alvorecer do segundo ano de governo, já não é mais possível terceirizar todas as culpas.

Ao endossar reiteradamente a esquizofrenia de Weintraub, Bolsonaro não deixa margem para qualquer tipo de dúvida. O fiasco da Educação tem as digitais do presidente da República. Pior do que a patrulha ideológica só mesmo a picaretagem ideológica.

Por Josias de Souza

É desconcertante a notícia, revelada pelo Estado, de que o Ministério da Educação (MEC) estuda descartar 2,9 milhões de livros didáticos, comprados por meio do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e que nunca foram utilizados. Adquiridos para serem entregues a alunos de escolas públicas municipais e estaduais, esses livros correm o risco de serem destruídos sob a alegação de que estariam desatualizados e de que o custo de armazenamento seria alto demais. Vinculado ao MEC, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) alertou no ano passado para a necessidade de reduzir o estoque no depósito alugado dos Correios, em Cajamar (SP).

Se o descarte for de fato a medida mais adequada – por exemplo, se os livros estão realmente desatualizados, não fazendo sentido guardá-los para os anos seguintes –, a sua compra provavelmente terá sido um verdadeiro escândalo de má gestão do dinheiro público, a merecer rigorosa apuração. Recursos públicos que deveriam ter sido destinados à educação, ou seja, que deveriam ter contribuído para um melhor aprendizado dos alunos foram duplamente desperdiçados, seja pela compra de livros que nunca foram utilizados, seja pelo investimento em armazenamento de algo que não teve nenhuma serventia. Há exemplares que estão armazenados há 15 anos.

Se todo recurso público precisa ser acompanhado de perto, para avaliar se chegou ao destino devido e se produziu o resultado esperado, ainda mais rigoroso deve ser o controle em relação a recursos públicos destinados à educação. Não cabe o mínimo descuido em área absolutamente relevante para o desenvolvimento econômico e social do País. Com a educação pública no atual patamar, é um acinte desperdiçar recursos que, não fossem o descaso e a má gestão, poderiam ter contribuído para uma melhor educação e um melhor futuro das novas gerações.

Se o descarte de quase 3 milhões de livros didáticos for realmente a solução mais razoável – estranhos tempos com tão estranhas soluções –, além de uma rigorosa apuração dos responsáveis por esse desperdício de dinheiro público, será necessário assegurar que nunca mais aquisições de livros tão mal feitas voltem a ocorrer. É preciso aprender com essa experiência, revendo os procedimentos e controles que desembocaram em tão má gestão da coisa pública.

Mas até o momento não há evidência de que a destruição dos 2,9 milhões de livros didáticos seja de fato a melhor solução. Falta informação segura e sobram dúvidas sobre o material armazenado. Descartar, sob essas circunstâncias, toda essa quantidade de livros – estima-se um custo médio de R$ 7 por exemplar, o que representaria um montante de R$ 20,3 milhões – seria ainda mais escandaloso.

O próprio FNDE, que alertou para a necessidade de reduzir o estoque de livros didáticos, reconhece não saber a quantidade total de exemplares armazenados. O órgão sugere, assim, montar uma comissão para levantar o número exato de livros e a validade desse material. Há aqui um ponto relevante. Dinheiro público foi gasto para comprar livros didáticos, mas o MEC não sabe o que tem no seu estoque de livros. No mínimo, tem-se uma gestão ineficiente.

Se o governo não sabe a quantidade de livros de que dispõe, muito provavelmente também não sabe o conteúdo desses livros. Supor que estão desatualizados simplesmente pelo transcorrer do tempo é uma atitude temerária. Segundo o Estado apurou, nesses 2,9 milhões de livros ainda embalados, há exemplares de todas as disciplinas e de todas as séries do ensino fundamental e do ensino médio. Ora, as leis da física, da matemática e da química não sofreram especiais alterações desde 2005. Destruir livros que tratam dessas matérias seria, portanto, um caro absurdo.

Seja qual for o melhor encaminhamento a ser dado ao estoque de livros didáticos, fica evidente a necessidade de aprimorar a gestão pública dos gastos com a educação. Livros não são descartáveis. Dinheiro público não é descartável. O futuro dos jovens que estudam na rede pública não é descartável.

Editorial do Estadão

LOBO COMENDO LOBO

Jair Bolsonaro lembra um cano furado. Assim como o cano furado esbanja água num esguicho perdulário, Bolsonaro esbanja ofensa. Ainda não se deu conta de que as ofensas têm alcance extremamente longo. Um dia acabam alcançando seus autores ou pessoas do seu convívio.

No penúltimo jorro, transmitido online, o capitão associou a gordura humana à mentira. Fez isso para ofender a deputada e ex-amiga Joice Hasselmann. Mas acabou fornecendo material para que o primogênito Flávio Bolsonaro, investigado por peculato e lavagem de dinheiro, seja frito na própria gordura.

Bolsonaro irritou-se com Joice e também com o deputado Kim Kataguiri. Os dois haviam criticado o capitão por ter empurrado para dentro do Orçamento de 2020 um fundão de R$ 2 bilhões para financiar as eleições para prefeito e vereador.

O presidente referiu-se a Kim como um "pitoco sem-vergonha". E chamou Joice de "fofucha". Estufando o peito como uma segunda barriga, acrescentou frases como essa: "Se estivesse fazendo coisa boa, eu acho que a primeira estaria mais magra". Ou essa: "Acho que mentir engorda, mentir engorda".

Tomado ao pé da letra, Bolsonaro deixa em situação precária o seu primogênito. Diferentemente do Zero Dois Carlos e do Zero três Eduardo, ambos esbeltos, o Zero Um Flávio trava com a balança um relacionamento litigioso. Submetido à regra do pai, o primeiro-filho está em apuros.

Aos olhos de Jair Bolsonaro, o primogênito Flávio não empregou fantasmas no gabinete, não promoveu rachadinhas, e não lavou dinheiro. Só mentiu um pouco.

Por Josias de Souza

Em 2019, Jair Bolsonaro proferiu mais declarações falsas ou distorcidas em entrevistas do que em outros meios, como publicações nas redes sociais, aponta levantamento feito a partir das falas checadas e compiladas por Aos Fatos no contador de declarações do presidente. Nas conversas com jornalistas, o presidente errou 225 vezes; em publicações no Twitter e no Facebook (à exceção das transmissões ao vivo), foram 79.

ASSÉDIO

Um deputado estadual usou sua página no Facebook para defender o assédio sexual durante o Carnaval e, nos comentários, assediou mulheres que criticaram a sua publicação. Jessé Lopes, 37 anos, é um dos seis deputados estaduais do PSL (Partido Social Liberal), antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, na ALESC (Assembleia Legislativa de Santa Catarina). Em sua biografia nas redes sociais, Jessé se declara “pai de família, dentista, conservador, faixa preta de Jiu-jitsu e marrom de Karatê”. No último dia 11, Jessé Lopes criticou a distribuição de tatuagens temporárias com a frase “não é não”, uma campanha contra o assédio sexual no Carnaval. “Não sejamos hipócritas! Quem, seja homem ou mulher, não gosta de ser ‘assediado(a)’? Massageia o ego, mesmo que não se tenha interesse na pessoa que tomou a atitude”, diz o deputado no texto.

O deputado ainda afirma no texto que as mulheres já conquistaram “mais direitos que os homens” e que as pautas feministas visam atos extremistas de tirar direitos. Ele cita um exemplo: “O direito da mulher poder ser ‘assediada’ (ser paquerada, procurada, elogiada…). Parece até inveja de mulheres frustradas por não serem assediadas nem em frente a uma construção civil”.

Toda mulher, para o parlamentar, sabe lidar com assédio. Ele afirma que está criticando apenas o assédio no sentido de “dar em cima”, não atos agressivos, pois “crime não se previne e nem se combate com tatuagens”. Jessé finaliza o texto pedindo que as pessoas não colaborem com “este movimento segregador” e que “não usem essa tatuagem ineficiente”,

Na postagem do último do último dia 12 o parlamentar alega que “feministas pelo Brasil contra a família patriarcal tentam ganhar a opinião pública ‘defendendo’ as mulheres do estupro, do feminicídio e do assédio dos ‘machos escrotos'

O deputado ainda disse que irão distribuir em Santa Catarina, “apenas para as mulheres”, adesivos de “não é não” com o “intuito de confundir as pessoas entre o limite do que é assédio e do que é um simples ‘dar em cima’. ele completa a frase dizendo que “logo logo, ser homem será crime”.

Com a repercussão das duas postagens, muitas mulheres criticaram o deputado, que respondeu com mais assédio. “Falta de decoro parlamentar”, dizia um eleitor. “Eu só consigo sentir muito por todas as pessoas que foram assediadas e leram esse texto. Queria que isso fosse uma sátira apenas”, respondeu uma jovem à publicação de Jessé. Na sequência, o deputado pegou uma foto dela, escreveu “Nesta foto, não parece que você está muito preocupada com assédio” e completou “Inclusive, você é muito bonita. Parabéns”.

SALÁRIO MÍNIMO E SUICÍDIO

vem dos EUA um estudo que se debruçou sobre a correlação entre suicídios e o aumento do valor mínimo pago por hora de trabalho. Os pesquisadores analisaram dados de pessoas entre 18 e 64 anos no período que vai de 1990 a 2015. Descobriram que houve 478 mudanças nesse valor mínimo ao longo dos anos (por lá, ao contrário do Brasil, os estados podem ter leis diferentes sobre isso). E, de acordo com a pesquisa, cada dólar aumentado esteve associado a uma diminuição entre 3,5% e 6% nas taxas de suicídio entre adultos com escolaridade até o ensino médio. Essas variações não afetaram o grupo com maior escolaridade. Comparando os dois grupos, fica patente a influência da educação sobre a saúde: 399.206 pessoas com até o ensino médio tiraram a própria vida, enquanto o número de suicídios entre quem tem mais escolaridade foi de 140.176 no período estudado.

SAÚDE MENTAL PRECÁRIA

Estresse pós-traumático, depressão, ansiedade: esses problemas têm se tornado comuns entre os trabalhadores que fazem a moderação do conteúdo compartilhado através de redes sociais. São eles os responsáveis por tirar de circulação postagens que envolvem temas como apologia ao terrorismo, pedofilia, assassinato e estupro, dentre outros. Além da carga emocional de terem que lidar todos os dias com essa gama de assuntos, os trabalhadores que trabalham para gigantes da tecnologia como Facebook e Google relatam que são submetidos a condições de trabalho que agravam a situação, como monitoramento constante por parte dos superiores, restrições para uso do banheiro, pressão para o cumprimento de metas e falta de apoio psicológico. 

É o que mostram uma série de reportagens do site The Verge, que traz relatos de moderadores de conteúdo nos Estados Unidos, e também um documentário chamado ‘The Cleaners’, que relata o quadro precário de saúde mental dos trabalhadores que exercem essa função em países asiáticos. Há relatos inclusive de um trabalhador que cometeu suicídio após procurar ajuda psicológica e pedir à empresa transferência para outros setores, sem sucesso, bem como de um trabalhador nos EUA que passou a levar uma arma para a empresa com medo de que ex-funcionários voltassem para se vingar da demissão. Esses e outros casos são relatados por uma matéria do Nexo, que conta como trabalhadores brasileiros vêm relatando o mesmo tipo de problema identificado entre profissionais nos EUA e Ásia. 

EMPREENDER?

O Fantástico, da TV Globo, exibiu no último dia 12 jovens trabalhadores que utilizam aplicativos de celular e as redes sociais para driblar a onda do desemprego. Segundo a reportagem, são 5,9 milhões de empreendedores formais e informais que usaram a tecnologia em seus negócios em 2019. Foram mostrados uma artesã e um maquiador que utilizam aplicativos de mensagens para se relacionar com seus clientes, e também um jovem desempregado que procura bicos como bartender.

A artesã já trabalhou como operadora de telemarketing e auxiliar de produção. Desde pequena, se vira vendendo de “gelinho” a panos de prato. Hoje, ela produz em casa bolsas e outros artefatos de tecido, e diz que a internet ajudou a alavancar as vendas. O maquiador já trabalhou em banco e numa corretora financeira, em Brasília. Agora, em São Paulo, diz que, sem a internet, teria que estar vinculado a um “espaço físico” para trabalhar. O jovem desempregado tem a carteira de trabalho ainda em branco, e diz que não está fácil para conseguir uma vaga formal.

“No Brasil, país com quase 12 milhões de desempregados, muito trabalhador está se reinventando com talento e um telefone na mão”, disse o apresentador Tadeu Schmidt, na abertura da reportagem.  A “glamourização” do trabalho informal, que atinge 38,6 milhões de pessoas no Brasil – cerca de 41% da população – foi criticada pelas redes sociais. O próprio apresentador leu mensagem de um telespectador que denunciou o tom adotado pela reportagem:

O constrangimento causado ao apresentador também foi tema de comentários:

MÍDIA DE DIREITA E BOLSONARO

Em editorial, o jornal O Estado de S.Paulo criticou a falta de “rumo definido” de Jair Bolsonaro à frente do governo, classificado como perdido pela publicação da família Mesquita, que serve de porta-voz ao sistema financeiro e ao empresariado paulista.

“No início de seu segundo ano, o governo de Jair Bolsonaro dá claros sinais de estar sem rumo definido. A cada semana surgem novas medidas e ações, absolutamente pontuais e sem um objetivo comum”, diz o texto, que diz ainda que Bolsonaro está tirando “eficácia da ação estatal”. “Essa falta de coordenação provoca atritos e tensões absolutamente desnecessários entre órgãos do governo”.

O jornal critica diretamente duas medidas recentes de Bolsonaro: a de conceder subsídios nas contas de luz de templos religiosos e da redução, para colocar fim em um futuro próximo, ao Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT).

“Como era previsível, a equipe econômica manifestou resistência à proposta do subsídio na conta de luz para as igrejas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, sempre defendeu a necessidade de reduzir esse tipo de benefício”, diz o jornal, sempre saindo na defesa das políticas neoliberais de Paulo Guedes, tentando descolar o ministro do governo.

Segundo o Estadão, “são abundantes os sintomas de que o governo está perdido”. “Mas há reformas a serem feitas, e este é o caminho óbvio que o País deve seguir. Há um país a ser governado. Basta querer fazê-lo”, sentencia o jornalão.

Leia a íntegra do editorial do Estadão

NO MUNDO DA LUA

Em sua conta no Twitter, o ministro da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações, o astronauta Marcos Pontes, fez propaganda mentirosa sobre a inauguração da estação brasileira na Antártica. De acordo com ele, obra foi fruto do governo de Jair Bolsonaro. No entanto, a estação já estava em seus retoques finais quando o ex-capitão assumiu.

“Inauguração Nova Estação Antártica Comandante Ferraz. Um grande projeto do Governo Jair Bolsonaro, através da parceria entre a Marinha do Brasil, responsável pela estrutura e operações, e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, responsável pelas pesquisas”, escreveu o astronauta.

No entanto, sua publicação foi alvo de críticas por parte da repórter Sônia Bridi, da TV Globo. Ela fez uma reportagem especial ao “Fantástico”, em fevereiro de 2019, sobre a estação brasileira.

“Ministro, quando Bolsonaro assumiu, em janeiro do ano passado, a estação estava nos retoques finais. Veja a reportagem que fiz lá em fevereiro de 2018. Assista no Globoplay“, disse.

Na reportagem do Fantástico, Bridi diz que a estação já está em sua fase de acabamento e diz que a obra custou R$ 360 milhões de reais. Em fevereiro de 2012, um incêndio onde ficavam os geradores de energia havia destruído a base anterior, além de ter provocado a morte de dois militares.

ESTÃO COM VERTIGEM

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), inspirado por mais uma teoria da conspiração contra a esquerda, foi às redes sociais para acusar o Oscar de ser esquerdista e contribuir com a dominação da “cultura e educação” através da indicação do “Democracia em Vertigem“, filme da brasileira Petra Costa, como melhor documentário.

Eduardo também compartilhou em sua publicação o tuíte do olavista Leandro Ruschel, que igualmente disparou inúmeras críticas ao Oscar pela indicação do filme de Petra Costa. “Um documentário sobre o impeachment da anta que não apresenta essa imagem é simplesmente uma fraude”, escreveu, referindo-se ao protesto na Avenida Paulista em março de 2016 a favor do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo, general Augusto Heleno, também foi às redes para criticar a indicação. Em tom irônico, o ministro de Jair Bolsonaro escreveu: “Que orgulho ver um filme nacional indicado para o Oscar, em 3 categorias: terror, comédia e ficção. A estrela da farsa levou o Brasil, em cinco anos, ao fundo do poço. Deu uma aula de gestão desastrosa, incompetência e insolvência financeira. Forte candidata à estatueta”.

MENTIROSO

O presidente Jair Bolsonaro fez uma postagem no Twitter para enaltecer a transparência em seu governo. Disse que tem orientado seus ministros, a começar da CGU, a Controladoria Geral da União, que divulguem todos os dados que fortaleçam a transparência e o combate à corrupção. “Por esse motivo, publicamos, em dados abertos, a remuneração dos servidores aposentados e pagamentos aos pensionistas do Poder Executivo”, escreveu o presidente.

Em resposta, Bolsonaro foi desmentido pela agência Fiquem Sabendo, especializada justamente na divulgação de dados de interesse público a partir da Lei de Acesso à Informação. “O presidente afirma nas redes que ele teria determinado abertura dos os dados de remuneração de pensionistas “em defesa do interesse público”. Os dados só foram publicados por decisão do TCU – após o órgão acatar denúncia feita pelo FS há 3 anos”, informou a agência.

O Fiquem Sabendo lembra que, pelo contrário, o governo recorreu da decisão, o que atrasou a divulgação dos dados. “Pelo contrário, o atual governo tentou barrar a divulgação dos dados, apresentando recursos que atrasaram a decisão final do TCU. Em setembro, o tribunal acatou os nossos argumentos por unanimidade e deu 60 dias para que o governo publicasse os dados”, informa.

Por Vera Magalhães

GOVERNO PREPARA CAMPANHA

E a abstinência vai virar mesmo programa do governo Bolsonaro – e com participação do Ministério da Saúde (MS). A ideia original veio da Pasta das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos que discute agora com o MEC e com o MS o conteúdo de uma campanha publicitária para desestimular adolescentes e jovens de transarem. O governo planeja a veiculação em fevereiro, durante a semana nacional de prevenção da gravidez na adolescência. As peças vão abordar as consequências do início da vida sexual e a importância “do afeto e do carinho”, de acordo com a Folha. O Ministério da Saúde foi procurado pelo jornal, mas resolveu não comentar o assunto. 

TEREZA ESCRACHADA

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, esteve no campus da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba (SP), onde funciona a Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ), voltada aos cursos de ciências agrárias, sociais aplicadas e ambientais. A ministra foi convidada pela direção da ESALQ para ser paraninfa das oito turmas de formandos do ano de 2019, que somam mais de 200 estudantes. Nara Perobelli, formanda da 15ª turma de Bacharelado em Gestão Ambiental, durante o encontro, fez leitura de texto em defesa da agroecologia. A estudante terminou a leitura do texto citando a agrônoma pioneira da agroecologia, Ana Maria Primavesi, que faleceu no dia 5 deste mês, e que defendeu durante sua vida um sistema agrário que produza alimentos saudáveis ao mesmo tempo em que cuida da terra.

MAIS HOMOFOBIA

Após o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) fazer duas publicações sem legendas, em datas diferentes, de fotos do ator Thammy Miranda junto a sua família, o filho da cantora Gretchen cobrou explicações do filho do presidente Jair Bolsonaro. Nas postagens feitas no Twitter, Thammy aparece ao lado na mulher Andressa e Brito de Miranda, e o filho recém-nascido, Bento.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Thammy Miranda (@thammymiranda) em

Thammy, que é transexual, disse querer saber se o vereador compartilhou as fotos como forma de homenagem ou por preconceito. Neste começo de ano com águas tranquilas para o governo, pode estar aí a primeira polêmica gratuita causada pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro. “Você postou como uma forma de preconceito ou como forma de homenagem? Se for como uma forma de homenagem eu quero vir aqui de novo e agradecer a você. Porque se for uma forma de preconceito, (e você disser:) ‘ah, queria que zoar mesmo, porque o Twitter é meu’… Aí eu queria te processar. Como não quero ser injusto e não vou ser, eu quero cobrar um posicionamento seu”, disse o ator em vídeo publicado no Instagram. Após Carlos publicar a primeira foto, a cantora Gretchen ameaçou processar o vereador. “Vc realmente não tem um pingo de senso nem noção de onde pisa. Se ele não te processar, processo eu q sou mãe dele. Bossal (sic).”, comentou a mãe.

CUIDADO COM O BRASIL

O Departamento de Estado dos Estados Unidos emitiu nesta um alerta de segurança de nível 2 para o Brasil, numa escala de 1 a 4, para os turistas norte-americanos. O 1 significa “pratique atenções normais”; o 2, “pratique atenções redobradas (exercise increased caution)”; o 3, “reconsidere viagem”; e o 4, “não viaje”. O governo dos EUA pede para que seus cidadãos não visitem favelas em qualquer horário em razão de crimes nem cidades-satélites de Brasília, como Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá, além de pedir que eles não viajem às regiões de fronteira, como Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Paraguai.

O órgão descreve o Brasil como um local de crimes violentos, como assassinatos, roubo armado e saidinhas (de carro), em áreas urbanas tanto à noite quanto de dia. Afirma que o crime organizado está espalhado pelo País. “Assaltos são comuns. O governo dos EUA desencoraja o uso de transporte público, ônibus municipais em todas as partes do Brasil em razão de elevado risco de roubo e assalto em qualquer hora do dia, especialmente à noite”, acrescenta.

Equipe BR Político

DESPREPARADO

Em um encontro com empresários em São Paulo, já na reta final da campanha presidencial, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, teria aproveitado um intervalo da reunião, na qual o então candidato Jair Bolsonaro estava presente, para falar ao telefone. Sem saber que estava sendo gravado, Heleno disse: “O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”.

A informação consta no livro “Tormenta – O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”, da jornalista Thaís Oyama. General Heleno é mencionado em diversos trechos do livro, como na ocasião em que aconselhou o presidente sobre evitar a demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro.

Episódio teria acontecido quando, ao saber que Moro havia criticado a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, sobre o Coaf,  Bolsonaro teria tomado a decisão de demitir o ex-juiz. No entanto, general Heleno teria convencido Bolsonaro a manter Moro no governo.

Segundo a jornalista, Bolsonaro ficou enfurecido com Moro por ter pedido a Toffoli que reconsiderasse a decisão sobre paralisar as investigações do Coaf. Na época, a medida do ministro protegia diretamente o senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro, investigado por corrupção em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

No entanto, no fim de agosto, decido em demitir seu ministro da Justiça, Bolsonaro foi convencido por Augusto Heleno de que não era uma boa ideia. “Se demitir o Moro, o seu governo acaba”, disse o general ao presidente.

MORO CHORÃO

Em entrevista à Revista Fórum, Wadih Damous, um dos advogados que atua na defesa do ex-presidente Lula, e Paulo Pimenta (PT), deputado federal, comentaram sobre o choro do ministro da Justiça, Sergio Moro, ao saber que seria demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. Para ambos, cena revela a reação do ex-juiz ao descobrir que seu “projeto de poder” estava indo “por ralo abaixo”.

“Bolsonaro quando contratou o Moro queria um advogado, um jagunço para cuidar dos interesses dos milicianos e Bolsonaro estava fazendo ‘corpo mole’ para defender o Queiroz”, comentou Pimenta. “Moro então passou a agir como advogado da família. Isso mostra aquilo que a gente sempre disse. O Moro sempre teve um projeto perverso de poder. Que esse fato colabore para que as pessoas tenham a noção de que Lula nunca teve direito a um julgamento justo, para a construção desse projeto de poder”.

“Sergio Moro sempre atuou com parcialidade”, concordou Wadih Damous. “Moro representa isso, quando ele começa a chorar, nessa cena patética, ele vê a possibilidade de seu projeto de poder ir por ralo abaixo”, disse. “A Justiça hoje é extermamente politizada, e muitas das questões levadas a ela são decididas politicamente, e não juridicamente, sobretudo os processos que envolvem o ex-presidente Lula”.

A história do choro do ex-juiz foi revelada por um deputado do PSL para uma fonte do editor da Fórum, Renato Rovai, no ano passado. A mesma fonte disse que nesta conversa, após discretamente enxugar os olhos, Moro pediu uma segunda chance e disse que se o presidente lhe permitisse, mudaria o comportamento.

ACABOU A MAMATA

O chefe da Secretária de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Fábio Wajngarten, recebe dinheiro de empresas contratadas pela própria secretaria, por meio de uma empresa da qual é sócio. Mesmo após assumir o cargo no Planalto, o publicitário continua como principal sócio da FW Comunicação e Marketing, que tem contratos com pelo menos cinco empresas que recebem verbas do governo. A legislação proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões, prática conhecida como conflito de interesses. Caso o benefício indevido seja comprovado, o ato se caracterizaria como improbidade administrativa, que pode levar à demissão do cargo. A Secom é responsável por definir a destinação da verba de propaganda do Planalto, além de ditar regras para as contas dos demais órgãos federais. Só no ano passado, a secretaria gastou R$ 197 milhões em campanhas.

Descobriu-se que Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, flerta com o inaceitável. Jair Bolsonaro reagiu ao inadmissível como se operasse em duas velocidades. Ao hesitar em afastar seu secretário de Comunicação, o presidente revelou-se intelectualmente lento. Mantendo-o por mais tempo na função, reforçará a suspeita de que é um político eticamente ligeiro. As duas velocidades de Bolsonaro são insultuosas. A lentidão intelectual afeta a própria autoridade do presidente, pois fica no ar a sensação de que o derretimento moral do Zero Um Flávio Bolsonaro fez da anormalidade um outro nome para normal no governo do capitão. A ligeireza moral transforma de sólido em gasoso o discurso ético de Bolsonaro. Ele prometera na campanha honrar os eleitores que lhe deram votos no pressuposto de que saciaria a fome de limpeza que pairava sobre as urnas.

Se quisesse ser levado a sério, Bolsonaro mandaria o secretário Fabio Wajngarten para o olho da rua. Impossível manter no Planalto um auxiliar que mantém um pé em cada lado do balcão e não enxerga o conflito de interesses na imagem do espelho. O diabo é que há descalabros demais ao redor do presidente— o filho acusado de peculato e lavagem de dinheiro, o ministro do Meio Ambiente condenado por improbidade, o ministro do Turismo denunciado por cultivar um laranjal em Minas Gerais, o líder no Senado enrolado na Lava Jato, isso e aquilo… Em privado Bolsonaro declara-se chateado com o chefe da Secom e com o noticiário. Deveria aborrecer-se consigo mesmo. Do contrário, não conseguirá notar que uma característica inusitada dos cultores da falta de ética se observa no governo. Os malfeitores estão sempre em outros ambientes —principalmente nas redações de jornal.

Por Josias de Souza

A fritura do chefe da Secom tende a ser demorada, pois Bolsonaro não costuma afastar quem briga com seus hipotéticos inimigos. Nesta quinta-feira, o presidente deu de ombros para as revelações da Folha: "Se foi ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele", disse o presidente ao anunciar, na saída do Alvorada, que Wajngarten será mantido no cargo.

"Essa imprensa que aqui está me olhando", declarou o presidente. "Comecem a produzir verdades, porque só a verdade pode nos libertar." Magnânimo, emendou: "Não tomarei nenhuma medida para censurá-la, mas tomem vergonha na cara." O contrário do antigovernismo primário é um pró-governismo inocente, que aceita todas as presunções de Jair Bolsonaro a seu próprio respeito.  Em matéria de ética, isso inclui concordar com a tese segundo a qual o capitão veio ao mundo para desempenhar uma missão que, por ser divina, é inquestionável. Bolsonaro considera-se beneficiário de dois "milagres". Num, sobreviveu à facada. Noutro, foi eleito presidente do Brasil. Por isso, acha que foi "escolhido por Deus".

Todo líder político cultiva a fantasia da excepcionalidade. Bolsonaro inclui-se no grupo dos que exageram. Evocando o versículo do Evangelho de João —"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"—, o capitão imagina que seu destino evangelizador o dispensa de dar explicações. Não é o cinismo de Bolsonaro que assusta. O cinismo pelo menos é uma estratégia compreensível para um presidente que se diz amigo do Queiroz e está rodeado de filhos, ministros e auxiliares encrencados com a lei. O que espanta é perceber que Bolsonaro fala como se acreditasse de verdade que sua missão sublime lhe dá o direito de atentar contra a inteligência alheia.

Desprezadas a lógica e os fatos, sobram o cinismo e a licença dada por Bolsonaro a si mesmo para tratar os brasileiros como bobos. "A nossa imprensa tem medo da verdade", bateu Bolsonaro. "Deturpam o tempo todo. E quando não conseguem deturpar, mentem descaradamente!" Bolsonaro passara o dia sob os efeitos da notícia que revelara a dupla militância do secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten.

Acuado, Bolsonaro mandara uma repórter da Folha, jornal que havia veiculado a reportagem, calar a boca. Espremido sobre os contratos da firma de Wajngarten, o presidente partiu para a grosseria: "Tá falando da sua mãe". E a repórter: "Não, estou falando do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten." No fundo, ao sonegar explicações à imprensa, Bolsonaro pede aos brasileiros que façam como ele, se fingindo de imbecis pelo bem da pátria.

Bolsonaro foi alertado para a evidência de que Wajngarten tornou-se um caso clássico de conflito de interesses. Mas não convém colocar em risco a tranquilidade do governo por algo tão supérfluo como a verdade. Não seria o primeiro sacrifício, apenas mais uma história mal contada em meio a tantas outras: o amigo Queiroz e as cifras repassadas à primeira-dama Michelle, os filhos sob investigação, os ministros enrolados… De resto, um povo que por 13 anos foi espoliado pelo lulopetismo e seus comparsas já tem prática no papel de bobo. Bolsonaro raciocina com seus botões: Um embuste a mais, um embuste a menos…

Por Josias de Souza

MUITO VENENO NA MESA

De cada cinco agrotóxicos liberados no Brasil pelo governo Bolsonaro em 2019, um é considerado extremamente tóxico pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cento e dez novos venenos aprovados no ano passado receberam essa classificação – a mais alta da escala que mede o perigo desses produtos para a saúde humana. É o que aponta levantamento publicado no Por Trás do Alimento, parceria entre Agência Pública Repórter Brasil.

Os números, que já são chocantes, na verdade poderiam ser bem piores. Isso porque, em julho, a Anvisa mudou seu marco regulatório para classificação do risco toxicológico oferecido pelos agrotóxicos, tornando mais difíceis os critérios para um produto ser considerado extremamente tóxico. Resultado: até setembro, sob as regras anteriores, 101 dos 353 venenos liberados pelo governo foram classificados pela Anvisa como extremamente tóxicos, ou 28% do total. Daí em diante, com as novas regras, de 150 agrotóxicos aprovados para comercialização no país, apenas nove receberam essa classificação, ou 9%.

E os agrotóxicos que já estavam sendo comercializados também tiveram sua classificação alterada. Antes das mudanças, 800 dos 2,3 mil produtos liberados no país eram considerados extremamente tóxicos. Agora são apenas 43. O glifosato – herbicida mais consumido do país – foi um dos que teve a classificação de toxicidade reduzida: nenhum produto à base desse ingrediente ativo é hoje considerado extremamente tóxico. Antes, eram 24 os produtos que recebiam essa classificação. 

Para piorar, 2019 foi o ano em que mais se aprovou a liberação de agrotóxicos no país: em 12 meses, foram registrados 503 novos produtos, 53 a mais do que no ano anterior. Um recorde, mesmo se for considerado que a primeira liberação, publicada em Diário Oficial no dia 10 de janeiro de 2019, continha produtos liberados ainda no governo Temer, que detinha o recorde de liberações até então, com 450. Essa “honra” é hoje do governo de Jair Bolsonaro. 

TIRO, PORRADA E BOMBA

O homem forte da Venezuela, Nicolás Maduro disse que as forças armadas estão prontas para "arrebentar os dentes" de Brasil e Colômbia em caso de agressão militar. "Elevamos a capacidade de defesa da pátria. Conheço os planos imperiais, conheço em detalhes os planos da oligarquia colombiana e de Jair Bolsonaro", disse o ditador em discurso na Assembleia Nacional Constituinte, composta apenas por chavistas, sem explicar quais seriam esses planos contra seu regime. "Se eles se atreverem, vamos arrebentar seus dentes para que aprendam a respeitar a Força Armada Nacional Bolivariana e o povo de (Simón) Bolívar", emendou.

Maduro também acusou Brasil e Colômbia de estarem por trás de "ações de espionagem e roubo de segredos militares" e voltou a dizer, sem provas, que os dois países se envolveram no ataque a uma base no sul da Venezuela no fim de dezembro. "Um grupo de terroristas, mercenários, desertores, traidores apoiados, financiado e amparado pelos governos de Jair Bolsonaro do Brasil e Iván Duque da Colômbia assaltaram um quartel no estado Bolívar", acusou. Veja abaixo o vídeo do discurso postado por Maduro no Twitter.

O ANORMAL

Em mais um de seus discursos inflamados ideologicamente, o presidente Jair Bolsonaro pregou que as pessoas de esquerda não podem ser tratadas como normais. O ex-capitão ainda diz que “pede a Deus” que a esquerda não volte ao poder. “Não dê chance para essa esquerda. Eles não merecem ser tratados como se fossem pessoas normais, como se quisessem o bem do Brasil, isso é mentira”, afirmou o presidente em discurso no Palácio do Planalto durante evento com migrantes da Venezuela.

O presidente ainda apelou para Deus. “Temos outro país aqui no Brasil. […] Peço a Deus que continue abençoando o nosso Brasil, abra a mente de quem está do lado da esquerda. Essa maldita esquerda que não deu certo em lugar nenhum e que quer que ela volte ao poder. Agradeço a Deus pelo milagre da eleição”, disse o ex-capitão.

Bolsonaro aproveitou para criticar o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e condenar os massivos protestos que tomam o Chile há meses contra o neoliberalismo e em defesa de uma nova Constituição. “Não podemos em 2022 chegar na situação que chegou a Argentina no corrente ano ou como está o Chile, que etá caminhando para o caos, o socialismo”, declarou.

FRASES DA SEMANA

“Exemplo de país entregue às corporações, e declina paulatinamente para o caos da ingovernabilidade””, – secretário da Previdência Rogério Marinho, após o governo da França suspender o aumento da idade mínima para aposentadoria.

“Foi um comportamento de risco. O que uma pessoa vai fazer numa praia deserta das 19h às 23h, quando ocorreu estupro? Vai fazer o quê? Ela assumiu o risco“, – Palavras de Eurico Filho Silva Costa, Comandante da 15ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar). Ele preferiu culpar a vítima, uma moça de Teresina que caminhava na praia com o namorada quando foi abordada por dois criminosos. 

“A polarização já existe. O meu desejo por meio da arte e gerar empatia e entendimento.” (Petra Costa, diretora de Democracia em Vertigem, filme indicado para disputar o Oscar de melhor documentário de 2020)  

“Para quem gosta do que o urubu come, é um bom filme”. (Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, sobre Democracia em Vertigem, o filme que ele não viu e que disputa o Oscar de melhor documentário) 

“A pressa com que Justiça Federal ou o Ministério Público me acham não é a mesma pressa com que procuram o Queiroz, os milicianos ou quem mandou matar a Marielle”. (Lula, solto, mas não livre)  

“Não queira estar no meu lugar. Sabia que ia ser difícil, mas temos aqui uma prova viva que devemos lutar pelos nossos filhos. (…) Minha vida acabou. Praticamente acabou depois das eleições. Não estou reclamando.” (Jair Bolsonaro)

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblçat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e Radar

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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