28/03/2024 - Edição 540

True Colors

#PartiuIlha

Publicado em 19/09/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

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O Pastor Sérgio Nogueira (PSB-MS), vereador na cidade de Dourados (MS), é um cara para lá de engraçado. Em resposta a uma série de ações anti-homofobia promovidas pela prefeitura daquela cidade, o vereador apontou uma sugestão muito jocosa, digamos assim: enviar homossexuais a uma ilha deserta por 50 anos. O objetivo do pastor é provar que durante esse tempo cairia por terra (e água, e sombra e água fresca) a ideia de que núcleos familiares com base homoafetiva não se sustentam, por não permitir a perpetuação da espécie.

Vamos deixar o absurdo preconceito de lado do supracitado pastor (poxa, uma ilha deserta? Não pode ter nem um resort? uma barraquinha de bons drinks?) e vamos a questões mais práticas. Sim, acreditem: nós queremos ir para uma ilha. Podemos ir para Manhattan, Fernando de Noronha, Floripa, mas não acharíamos ruim irmos para qualquer ilha grega, Ilhas Canárias, ilhas do pacífico, até as desertas, vai… Enfim, merecemos essas férias.

Na ilha, mesmo a deserta, construiríamos nossas casas, praças, ruas, lojas. Ninguém nos atenderia mal por não ser heterossexuais ou transgêneros.  Nos banheiros públicos, mulheres trans poderiam sem problemas frequentar os banheiros femininos – estas também seriam inseridas dignamente na sociedade. Casais LGBT andar de mãos dadas seria comum, ninguém ia apanhar ou ser golpeado com lâmpada florescente na cara. Teríamos um hino nacional (voto por La Isla Bonita, da Madonna), o idioma oficial seria o pajubá: na ilha, não haveria dinheiro, mas aqué.

O clima quente da ilha faria com que abandonássemos essa cafonice de usar muitas roupas. Andaríamos desnudos, ou quase desnudos, só com o básico (acho sunga e biquini muito apropriado). Finalmente nossos impostos seriam efetivamente aplicados na redução da desigualdade social, da discriminação de gênero e de orientação social. Jean Wyllys seria eleito nosso presidente. Todo happy hour ia ter gogo boys e shows de drag queens.

Na ilha, ninguém daria só pinta. Daria MANCHAS. Desmunhecar, bater cabelo, colocar peito, fazer drag, requebrar o bundão ou coisas do tipo não seriam razão para discriminação. Uma família não necessariamente atenderia o ultrapassado modelo nuclear. Minha amiga lésbica me convidaria para ser o pai do filho dela. Sim, surpreendentemente, só é preciso um óvulo e um espermatozóide para haver fecundação. A biologia estaria ao nosso lado, pois dispensa beijos na boca, namoro, carinho, amizade, casamento e até mesmo sexo. Nosso filho pode até nascer por meio de uma caneta Bic diretamente na dita cuja, a lá Glória Trevi.

Por estarmos todos inseridos na sociedade, poderíamos educar nossos filhos para a diversidade, as escolas não aceitariam bullying de nenhum tipo. Não haveria influência da igreja para nos fazer sentir culpa por exercermos nossas identidades. Os programas de combate às DSTs e HIV finalmente seriam universalizados e as pessoas que convivem com a síndrome seriam respeitadas. Pessoas trans poderia fazer suas cirurgias sem ter que esperar 20 anos. O moralismo arcaico cairia por terra. Deus finalmente estaria ao nosso lado, a ilha seria um paraíso na Terra, pois deixaríamos tudo de ruim que a heteronormatividade embute na nossa educação.

Infelizmente o pastor não sabe, mas o fato é que, aos poucos, quando nossos filhos crescessem, começaríamos a ver os primeiros heterossexuais da Ilha, isso porque a homossexualidade não é algo aprendido, mas que nasce com a gente, tal qual a heterossexualidade. Logo, logo, teríamos uma sociedade onde héteros, gays, lésbicas, bissexuais, cis e transgêneros conviveriam em paz e bem, pois a ilha seria um lugar de amor, igualdade, respeito, tolerância e união, tudo o que o continente, onde pessoas como o referido pastor habitam, não é.

#PartiuIlha
Para entender
Para descontrair

Oscar na parada

O fofíssimo “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, filme de Daniel Ribeiro, foi a escolha do Ministério da Cultura para representar o país na disputa por uma das cinco vagas de indicados a “Melhor filme em língua estrangeira”, na premiação do Oscar 2015.

O anúncio foi feito na última quinta-feira (18), pela ministra da Cultura Marta Suplicy. O filme concorreu com outros 18 títulos e venceu, segundo a ministra, por ter uma “linguagem universal, com uma história que poderia acontecer em qualquer lugar do mundo”. Segundo a ministra, o filme promove uma mensagem positiva por tratar da homossexualidade com imensa delicadeza.

Cá pra nós, eu preferiria que Tatuagem ou Praia do Futuro fossem os indicados. Mas o vencedor é tão fofo que não dá nem para fazer cara feia. Estamos na torcida!

Tio Dráuzio <3

Que Dráuzio Varela é um cara legal a gente já sabe. No filme Carandiru, baseado no livro dele, é possível ver como o médico tratava bem os detentos e detentas da comunidade LGBT. Não suficiente, ele resolveu lançar um vídeo mostrando que na verdade ele é um ídolo. Solta o play!

The Drag Brasil

Depois de Conchita Wurst no festival Eurovision (e façamos justiça, Courtney Act no Australian Idol), estava na vez do Brasil ter sua experiência LGBT no The Voice. Deena Love é a bola da vez, encantou com sua voz e fez os três técnicos a quererem em seus times. Ela, que de boba não tem nada, escolheu o Lulu Santos. Agora resta-nos torcer pela fofa no programa.

PS: Não conseguimos colocar o link do vídeo da audição por motivos de “a Globo não deixa”. Se você se contenta com o áudio, clique no player acima. Se não, clique

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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