29/03/2024 - Edição 540

Comportamento

Internet completa 50 anos. Do espaço aos celulares, entenda a História

Publicado em 29/10/2019 12:00 -

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A internet está em festa. O último dia 29 marcou o 50º aniversário da rede, que nasceu num laboratório da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e hoje conecta mais de metade da população mundial.

Mas a história da rede mundial de computadores começa um pouco antes, com a corrida tecnológica da Guerra Fria, e tem outros marcos que consolidaram a internet como a conhecemos.

1957: os soviéticos vão ao espaço

EUA respondem criando a ARPA, Agência de Projetos de Pesquisa Avançada

Curiosamente, os socialistas soviéticos tiveram papel central para o nascimento da internet. Não em participação em pesquisas, ou instalação de redes, mas enviando o primeiro satélite artificial para o espaço, o Sputnik.

No dia 4 de outubro de 1957, a esfera brilhante de apenas 58 centímetros de diâmetro, com quatro antenas externas, rompeu a fronteira da órbita baixa do planeta, dando início à corrida espacial que marcou a Guerra Fria.

O feito assombrou os americanos. A percepção entre as autoridades e a população era que o país estava ficando para trás. Logo em janeiro de 1958, os EUA deram a resposta, lançando seu primeiro satélite, o Explorer 1.

Ainda pressionado, o presidente americano à época, Dwight Eisenhower, autorizou no mês seguinte a criação da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (Arpa, na sigla em inglês, hoje Darpa), ligada ao Departamento de Defesa. Em julho, a Nasa foi criada.

1961: Surgem as bases teóricas

Conceito de comutação de pacotes opera até hoje na rede

Durante o doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), o cientista da computação americano Leonard Kleinrock apresentou sua tese sobre a aplicação da teoria das filas na comutação de mensagens, uma forma de organizar o tráfego de mensagens numa rede de comunicação. Suas ideias foram apresentadas em 1961 e consolidadas em livro publicado em 1964.

Paralelamente, o engenheiro polonês-americano Paul Baran, que trabalhava na RAND Corporation, desenvolveu um projeto de comunicação projetado para sobreviver a um ataque nuclear soviético. Em vez de linhas diretas e centralizadas, que poderiam ser destruídas, Baran pensou na comunicação distribuída por nós, com redundâncias. Caso uma parte da rede fosse destruída, a comunicação continuaria operando.

Para que o sistema funcionasse, Baran propôs que as mensagens deveriam ser divididas em blocos, para que os dados trafegassem mais rápido pelas redes, circulando por diferentes caminhos, até serem reunidos no destinatário.

No Reino Unido, o galês Donald Davies, do Laboratório Nacional de Física, pensou num conceito similar, proposto em 1965, mas nomeando os blocos de Baran como pacotes. Nascia a teoria da comutação de pacotes, base da internet até os dias de hoje.

O curioso é que sem acesso a uma rede de comunicações como a internet, as três pesquisas se desenvolveram paralelamente, sem que os cientistas envolvidos soubessem dos trabalhos uns dos outros.

1963: A ideia de ‘rede intergalática’

Na Arpa, Joseph Licklider sugere uma rede global de computadores

Enquanto as teorias para o funcionamento de redes de computadores avançavam rapidamente, suas aplicações eram pensadas localmente, sobretudo para a defesa nacional. A ideia de uma rede global surgiu de Joseph Carl Robnett Licklider, que foi o primeiro diretor do Escritório de Técnicas de Processamento de Informação (IPTO, na sigla em inglês) da Arpa.

Em 1963, o psicólogo e cientista da computação americano escreveu uma série de memorandos descrevendo o conceito de “Rede de Computadores Intergalática”.

Visionário, Licklider imaginou um conjunto de computadores interconectados em todo o mundo, como “um bem comum eletrônico aberto a todos”, como a internet que temos hoje. As suas ideias, distribuídas a colegas “membros e afiliados da Rede de Computadores Intergalática”, previa que ela se tornaria “o meio principal e essencial de interação de informações para governos, instituições, corporações e indivíduos”.

Suas ideias contagiaram outros pesquisadores. Em 1965, Lawrence Roberts e Thomas Merrill conseguiram financiamento da Arpa para experimentos sobre redes cooperativas para o compartilhamento de tempo em computadores.

O resultado foi a criação da primeira rede de longa distância, conhecidas pela sigla WAN, conectando um computador em Massachusetts a outro, na Califórnia. O sistema confirmou o modelo de comutação de pacotes como o mais promissor para a comunicação entre computadores.

Em 1967, Roberts foi convocado pelo então diretor do IPTO, Robert Taylor, para dar início ao projeto Arpanet.

1969: A internet é 'ligada'

Primeira conexão é estabelecida e os primeiros pacotes são trocados

Após o lançamento do projeto, os cientistas se debruçaram sobre os hardwares e a arquitetura da rede. Um dos componentes principais era chamado Interface Message Processor (IMP), algo como os atuais roteadores, com a função de desmembrar as mensagens em pacotes para serem enviados pela rede.

Por seu trabalho na teoria da comutação de pacotes, Kleinrock foi escolhido para receber o primeiro IMP, em setembro de 1969, instalado em seu laboratório da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (Ucla). O segundo foi instalado no Stanford Research Institute (SRI).

No mês seguinte, no dia 29 de outubro, a primeira conexão foi estabelecida entre os dois computadores, com a troca da primeira mensagem. Na Ucla, Kleinrock e o estudante Charley Kline teclaram a palavra "Login", que seria recebida pelo computador em Stanford. Mas após teclarem o "L" e o "O", o sistema caiu.Rapidamente, a conexão foi restabelecida e a Arpanet foi criada.

1972: A invenção do e-mail

Ferramenta transforma a Arpanet num canal de comunicação

A rede foi pensada com o propósito de compartilhamento do tempo dos computadores universitários, para que pesquisadores pudessem acessar essas máquinas remotamente. Uma ferramenta de produtividade, mas Ray Tomlinson, funcionário da Bolt Beranek and Newman, desenvolveu um protocolo e o software para a troca de mensagens, transformando a Arpanet num canal de comunicação.

Também neste ano foi criado o Network Information Center, dirigido pela cientista da informação Elizabeth Feinler. O órgão, baseado no SRI, se tornou responsável por atribuir nomes aos endereços na Arpanet. Seu grupo foi responsável pela criação dos domínios de topo: .com, .edu, .gov, .mil, .org e .net. Em 1998, essa atribuição foi transferida para a Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números.

1974: Surge o termo 'Internet'

Vint Cerf e Robert Kahn criam o protocolo TCP/IP

Os pesquisadores Vint Cerf e Robert Kahn publicaram um artigo descrevendo protocolos para a comutação de pacotes entre nós de uma rede, conhecidos como TCP/IP (Transmission Control Protocol, ou Protocolo de Controle de Transmissão; e Internet Protocol, ou Protocolo de Internet). Após vários testes, eles se tornaram padrão na Arpanet em 1983, substituindo o Network Control Program usado até então.

Além de criar o protocolo padrão da rede mundial de computadores, Cerf e Kahn cunharam o termo internet, como uma abreviação para “internetworking”. A partir de então, o termo internet passou a ser usado para definir redes que faziam uso do protocolo, incluindo a Arpanet.

1989: Enfim, a World Wide Web

Aplicação criada por Tim Berners-Lee se torna a face pública da internet

A World Wide Web se tornou tão presente na internet que muitos a tratam como sinônimo da rede. Na verdade, a World Wide Web, mais conhecida pela sigla "www" que precede os endereços web, é uma das aplicações da internet, como o e-mail.

Ela foi criada em 1989 pelo pesquisador do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) Tim Berners-Lee, como um modelo para o compartilhamento de informações no centro de pesquisas, com URLs (Uniform Resource Locators) e hipertextos, que podem ser acessados com um navegador.

1991: A internet abre as portas

Lei promulgada nos EUA abre a rede para o uso comercial

Nascida com fins científicos e financiamento militar, a Arpanet — sucedida pela NSFNet e, por fim, chamada genericamente como internet — só ultrapassou a barreira acadêmica em 1991, com a promulgação da lei de computação de alta performance nos EUA, uma iniciativa do então senador Al Gore, que ocuparia a vice-presidência do governo de Bill Clinton.

Apresentada como uma janela para o mundo, a internet comercial arrebanha novos usuários rapidamente, dando início à corrida pelos endereços .com, que culminariam na crise da bolha da internet.

A nova legislação abriu a rede para a exploração comercial, dando início a uma corrida pelos primeiros endereços .com. A America Online, por exemplo, passou de um pequeno fórum para donos de computadores Commodore a maior provedora de acesso à internet no mundo. No ano 2000, a AOL se fundiu com a Time Warner, num negócio de US$ 164 bilhões.

1999: A Web 2.0 e a revolução social

O usuário como produtor, não apenas consumidor de informações

No início, a World Wide Web era basicamente um repositório de informações, com páginas estáticas construídas por empresas, mas com o tempo ela começou a dar espaço para a participação dos leitores, característica que ficou conhecida como Web 2.0. O termo foi cunhado pela pesquisadora Darcy DiNucci em 1999, ao prever os impactos da internet nas relações públicas.

A lógica da Web 2.0 era permitir a interação e colaboração dos internautas de forma ativa, substituindo a passividade reinante até então. Isso abriu caminho para uma revolução que vivemos até hoje, com o surgimento de plataformas para blogs, de compartilhamento de vídeos e fotografias (como o YouTube e o Flickr), a Wikipédia e as redes sociais.

2007: A era da mobilidade

Lançamento do iPhone marca início do acesso à rede por dispositivos móveis

Os celulares que acessavam a internet já existiam no mercado há alguns anos, mas foi o lançamento do iPhone, em 2007, que definiu um novo padrão para os smartphones, dando início à era da mobilidade. Com tela sensível ao toque e navegador web, o aparelho facilitou o acesso à internet por dispositivos móveis, sendo copiado por concorrentes.

A navegação simplificada num produto mais acessível que os computadores abriu a internet a uma parcela da população que estava fora da rede por questões financeiras. Em 2007, existiam no mundo 1,3 bilhão de internautas, ou 20% da população mundial, segundo o Internet World Stats. Neste ano são 4,5 bilhões as pessoas conectadas, 58,8% da população. 


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