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Comportamento

“Efeito vovó”: a proximidade é um fator importante no tamanho das famílias

Publicado em 01/10/2019 12:00 -

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A espécie humana é uma das poucas que, junto com as orcas e as baleias-pilotos, as mulheres deixam de ser férteis após aproximadamente 45 anos de idade. Como o maior objetivo de qualquer organismo vivo é espalhar seus genes, a evolução da menopausa em mulheres confunde cientistas.

Mas e se a menopausa na realidade favorecesse a colaboração entre gerações? A hipótese do "efeito vovó" sugere que mulheres na menopausa ainda podem aumentar a pegada genética, apesar de não mais reproduzirem. Elas fazem isso ao ajudar seus filhos a terem famílias maiores.

Vamos fazer os cálculos: pais e filhos compartilham 50% dos genes, avós e netos, 25%. Isso significa que um aumento em dois netos seria quase o mesmo que ter mais um filho.

Dados históricos populacionais são valiosos para estudar a hipótese das avós, porque eventos de vida detalhados são registrados ao longo de várias gerações, e as relações familiares são bem documentadas. O impacto positivo da presença de uma avó viva na família de seus filhos foi recentemente mostrado em um estudo de populações pré-industriais no Québec, Canadá, chamando a atenção para mecanismos que podem explicar a evolução da menopausa.

Vida difícil na Nouvelle France

Minha equipe de pesquisa, que inclui o estudante de pós-doutorado Sacha Engelhardt, da Universidade de Sherbrooke, usou o registro de população de ancestrais de canadenses-franceses de 1608 a 1799, cuidadosamente elaborado por estudiosos de demografia. A Igreja Católica manteve registros meticulosos de nascimentos, casamentos e mortes, registrando um quadro único desta população relativamente isolada.

As famílias eram muito grandes, com uma média de oito crianças por família, e algumas mulheres tiveram até 20 filhos. Destes, muitos morreriam antes do primeiro aniversário. Em alguns anos, a mortalidade infantil chegou a mais de 30%.

É interessante ponderar os fatores que podem ir contra essa estatística assustadora, especialmente olhando para o papel benéfico que membros da família — neste caso, as avós — podem ter em seus parentes. O desafio não era somente ter muitos filhos, mas também garantir que poderiam chegar à maturidade sexual e se tornar pais. Um pouco de ajuda definitivamente poderia fazer diferença.

Uma avó viva leva a mais netos

Ter uma avó materna viva aumentou o número de filhos da mulher em cerca de 20%. Também teve um impacto positivo no número de netos que sobreviveram até os 15 anos. Quando uma avó estava viva, a idade da mulher na primeira reprodução tender a ser menor, aumentando as oportunidades reprodutivas.

Resultados semelhantes foram relatados em outras populações pré-industriais. Famílias finlandesas criadas quando as avós estavam vivas eram maiores do que quando estavam mortas. Na comunidade alemã Krummhorn, a presença de avós maternas diminuiu a mortalidade de netos com entre seis e 12 meses.

Ter uma avó por perto para dar uma mão parece ter um impacto significativo na sobrevivência de crianças e tamanho de famílias. Mas registros da igreja, por mais meticulosos que sejam feitos, não têm indicativos sobre o envolvimento da avó materna na criação dos netos. No fim das contas, a avó pode estar viva, mas não ajudar as filhas.

Avós por perto

Emboras aprender mais sobre a natureza interativa de relações familiares neste momento seja o trabalho de historiadores e estudiosos de demografia explorando arquivos de família, a proximidade geográfica pode ser usada como um sinal da probabilidade de uma avó ajudar na criação. O efeito vovó deveria ficar mais forte na medida em que as avós vivem mais perto das filhas. Québec é uma província grande com clima difícil, e viajar centenas de quilômetros para ajudar membros da família teria sido difícil em 1700.

A distância, portanto, estabelece um limite para o "efeito vovó". Embora avós de fato aumentem o sucesso reprodutivo das filhas quando moram perto umas das outras, houve ao menos uma criança a menos quando a avó estava viva, mas morava a 200 quilômetros ou mais da filha.

Outro estudo conduzido com uma população finlandesa também descobriu alguns limites para o "efeito vovó". Ele revelou que a presença de avós maternas aumenta a sobrevivência de netos, mas o efeito diminui, e até tem impacto negativo no tamanho da família, quando os avós estão mais velhos.

Futuros da menopausa

A população francesa-canadense tem uma árvore genealógica conhecida com mais de séculos. Os próximos passos serão conduzir análises genéticas para examinar como traços relacionados a ter famílias grandes são passados de uma geração para a outra.

A evolução da menopausa é complexa, e esses estudos nos ajudam a entender como pressões seletivas do passado podem ter ajudado a moldar os traços que que expressamos hoje.

Patrick Bergeron – Professor da Universidade de Bishop, no Canadá. Texto originalmente publicado no site The Conversation.


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