28/03/2024 - Edição 540

Brasil

Pesquisa mostra que 54% dos brasileiros veem aumento da corrupção

Publicado em 26/09/2019 12:00 -

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Um estudo realizado pela ONG Transparência Internacional aponta que 54% dos brasileiros acreditam que a corrupção aumentou nos últimos doze meses. Entre os países avaliados na pesquisa, no entanto, a população brasileira é uma das que mais acredita que um cidadão comum pode fazer diferença no combate à prática.

A pesquisa "Barômetro Global da Corrupção", que avaliou a opinião e experiência de cidadãos de 18 países da América Latina e Caribe, destaca que, no Brasil, o levantamento foi realizado durante os primeiros meses da administração do presidente Jair Bolsonaro – entre janeiro e março –, quando ainda era muito cedo para avaliar quaisquer novas medidas adotadas pelo novo governo.

"No entanto, no início de 2019, as pessoas tinham expectativas muito altas para o desempenho de Bolsonaro, com base em sua plataforma de campanha e, principalmente, sua retórica", afirma o estudo. A organização frisa, porém, que algumas atitudes do governo podem minar ainda mais a confiança dos cidadãos em relação à capacidade do novo presidente de impedir a corrupção.

"Bolsonaro tentou aumentar o escopo de informações confidenciais para reduzir a transparência e não deu muita atenção às acusações de corrupção contra membros de seu gabinete", destaca o estudo.

O levantamento mostrou ainda 82% dos brasileiros dizem que podem fazer a diferença na luta contra a corrupção, o que faz do Brasil um dos países onde a população mais crê que relatar a corrupção pode levar a mudanças. O país perde somente para Bahamas (85%) e Costa Rica (84%). Já 90% dos brasileiros avaliam que a corrupção no âmbito governamental é um grande problema. A nação na primeira colocação é Peru (96%) e, na última posição, Barbados (53%).

Em comparação com o levantamento anterior, realizado em 2017, os brasileiros acreditam que o governo está fazendo um trabalho melhor no combate à corrupção: antes, 35% achavam que este era bom, e agora são 48%. Os que classificavam as ações como ruim caíram de 56% para 46% e os que não sabiam caíram de 9% para 6%.

Por outro lado, cresceu a porcentagem de entrevistados entre as pesquisas realizadas em 2017 e 2019 que acham que existe corrupção em certas categorias: presidente (de 52% para 57%), membros do Congresso (de 57% para 63%), oficiais do governo (de 24% para 54%), polícia (de 31% para 38%), juízes e magistrados (de 21% para 34%) e executivos (de 35% para 50%).

No Brasil, entre os entrevistados, 11% tiveram que pagar suborno em serviços públicos como escolas e hospitais. Outros 20% afirmaram que já foram vítimas ou conhecem alguma vítima de extorsão sexual, ou seja, quando o sexo é a forma de pagamento da propina. Esse tipo de extorsão é uma das formas mais significativas de corrupção baseada em gênero. Algumas mulheres foram forçadas a oferecer favores sexuais para receber serviços públicos, incluindo saúde e educação.

A pesquisa diz ainda que 40% dos brasileiros já receberam algum tipo de oferta para vender seu voto em alguma eleição nos últimos cinco anos. Neste quesito, o Brasil perde somente para México (50%) e República Dominicana (46%). Além disso, mais de três em quatro brasileiros acreditam que fake news são disseminadas com frequência ou muita frequência.

Na América Latina, corrupção diminuiu só para 16%

Os resultados gerais da pesquisa na América Latina e Caribe mostram que 53% dos entrevistados dizem que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses. Somente 16% acreditam que ela diminuiu. Além disso, apenas 39% dos cidadãos avaliam que o seu governo fazendo um bom trabalho na luta contra a corrupção, enquanto mais da metade (57%) acha que ele não está fazendo um bom trabalho.

A Transparência Internacional constatou ainda que mais de uma, a cada cinco pessoas que tiveram acesso a serviços públicos, como água e eletricidade, pagou propina no ano anterior. Isso corresponde a aproximadamente 56 milhões de cidadãos nos 18 países da pesquisa.

O estudo revelou também que a corrupção afeta mais as pessoas vulneráveis: as mulheres são mais propensas a pagar propina por assistência médica e educação em escolas públicas. Além disso, o relatório afirma que um em cinco cidadãos sofreu extorsão sexual ao usar serviços públicos ou conhece alguém que sofreu.

O estudo mostra que foi oferecido suborno a um entre cada quatro cidadãos em troca de votos nos últimos cinco anos. Mas, apesar do medo de retaliação, a pesquisa mostrou que os cidadãos podem fazer a diferença: 77% acreditam que pessoas comuns podem fazer a diferença na luta contra a corrupção.

A décima edição da pesquisa "Barômetro Global da Corrupção" foi realizada entre janeiro e março de 2019 com mais de 17 mil cidadãos – com mais de 18 anos de idade – em 18 países da América Latina e do Caribe. 

Medo

A pesquisa mostrou, ainda, que os brasileiros estão com medo de denunciar casos de corrupção por temer represália e acreditar que pouco será feito: 74% temem denunciar atos corruptos por medo de sofrerem consequências negativas. Para Guilherme France, coordenador de pesquisa do Centro de Conhecimento Anticorrupção da Transparência Internacional, um dos impedimentos para a denúncia é a falta de legislação de proteção ao denunciante.

Há regra específica para delator — alguém que fez parte do esquema — ou para acordos de leniência, quando envolvem empresas.

“O denunciante de irregularidade é uma pessoa de fora, que viu alguma irregularidade sendo cometida, algum suborno sendo pago, alguma fraude em uma licitação, uma compra de votos. Essa pessoa no Brasil não tem ainda um arcabouço que lhe confira proteção contra eventual represália”, destaca.

France ressalta ainda que o índice de pessoas que acreditam que algo vai ser feito a partir dessa denúncia é pequeno, o que a desencoraja.

“A pessoa não tem coragem de denunciar porque não tem confiança nas instituições. E por outro lado, não tem garantia de que não haverá represália. Há medo de demissão, se tornar alvo de algum tipo de perseguição ou ameaça contra a própria vida.”


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