28/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O colapso já está aí

Publicado em 05/06/2019 12:00 - Victor Barone

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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, declarou num par de entrevistas que "está faltando uma agenda para o Brasil." Atribuiu ao governo a responsabilidade por apresentar essa agenda. E afirmou que sem ela o país está caminhando muito rapidamente para um cenário de "colapso social." O mundo do Poder, do qual Rodrigo Maia faz parte, ainda não notou. Mas para o pedaço mais pobre do Brasil o colapso social já chegou.

Num instante em que todas as atenções estão voltadas para a reforma da Previdência, Rodrigo Maia reconhece em voz alta o que muitos apenas sussurram: a mexida no sistema previdenciário, essencial para atenuar o cenário de ruína fiscal, não produzirá sozinha o milagre da prosperidade. "A reforma previdenciária por si só não vai resolver nada", chegou a dizer Maia. Para evitar o colapso "o governo vai ter que ir muito além."

O presidente da Câmara menciona como pré-condição para o sucesso disso que ele chamou de "agenda para o Brasil" a celebração de uma aliança política. Sem mencionar o nome de Jair Bolsonaro, avesso a composições, Maia declarou: "Quem quer mudar o Brasil tem que ter a capacidade de compreender que só com um arco de aliança você consegue aprovar as emendas constitucionais que podem tirar o Brasil da linha do colapso social."

Parece incrível, mas o governo do capitão entrou no sexto mês e a política continua rodando como parafuso espanado. A conversa não muda. A única coisa que se altera é o tamanho do buraco. Os mais de 13 milhões de desempregados, os estudantes obrigados a conviver com um ministro que brinca de ator de musical, os doentes que definham em macas nos corredores dos hospitais públicos… Esses brasileiros já foram apresentados ao colapso social.

Por Josias de Souza

Já começam a se escutar alarmes sobre a possibilidade de que Jair Bolsonaro não termine seu mandato. Não só porque ele aparece sem um projeto de país concreto, mas também porque o pouco já realizado é alvo de duras críticas até por parte de muitos que o elegeram e hoje não o fariam, conforme mostram todas as pesquisas em que, apesar dos 57 milhões de votos conquistados nas urnas, seu apoio desvanece. Recente pesquisa da Atlas Político mostrou que apenas 28% dos entrevistados consideravam sua gestão boa ou ótima, contra 36,2% que a veem como ruim ou péssima. Entre os que o apoiam estão um exército de radicais que desejaria devolver o Brasil aos tempos do pior obscurantismo, com uma política apoiada em messianismos alucinados, com suas preocupações fálicas e uma mórbida obsessão pelas armas.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse ao jornal O Globo que o Brasil “caminha para um colapso social” com o novo Governo, que ainda não soube apresentar um projeto para fazer frente às graves crises que o afligem e que poderia levá-lo a uma catástrofe econômica se em vez de apoiar as reformas urgentes acabar boicotando-as para favorecer propostas milagrosas e às vezes até patéticas.

Preocupa à sociedade democrática um presidente que parece alheio às reformas enquanto se perde em fantasia messiânicas, como quando afirma que ainda “não nasceu para ser presidente”, pois foi algo que Deus lhe impôs. E assim repete, às vezes chorando diante das câmeras de televisão, enquanto levanta a camisa e mostra as cicatrizes do atentado que sofreu durante a campanha eleitoral. Deus, segundo ele, está ao seu lado e o escolheu como um novo Messias.

Junto a esse messianismo profético, o presidente continua tão obcecado em armar os brasileiros que seu primeiro decreto foi para ampliar a posse de armas e seu porte para toda a sociedade, decreto contra o qual acabam de se manifestar 73% dos brasileiros, segundo a última pesquisa de Ibope. Multiplicar as armas nas mãos das pessoas deve parecer melhor para o país que multiplicar o pão nas mãos dos ainda milhões de pobres e as possibilidades para os jovens de um ensino que os prepare para se realizarem em liberdade e criatividade. E sem absurdas receitas de escolas sem partido, de alunos espiões e denunciantes de seus professores e o pavor de que nelas se possa falar de sexo, que é como proibir falar da vida.

Há uma história que revela o absurdo de uma presidência em seus temores relacionados com o sexo. Em abril passado, saindo do Ministério da Educação, coração do futuro nacional, o presidente confiou a um grupo de jornalistas uma de suas maiores preocupações no momento. Sobre o drama da educação no país? Não. “Temos por ano mil amputações de pênis por falta de água e sabão”, contou-lhes, e acrescentou: ”Quando se chega a este ponto, a gente vê que estamos no fundo do poço”. Essa preocupação com a higiene masculina e as proporções de suas genitálias perturba tanto o presidente que poderia ter criado uma crise diplomática com o Japão, ao dizer que naquele país “tudo é pequeno”, referindo-se ao órgão masculino. A obsessão do presidente por tudo o que é fálico está preocupando até os psicólogos e psicanalistas, como Contardo Calligaris, que na Folha de S.Paulo, analisando estas obsessões fálicas do presidente, afirmou: “Não se pode entender uma posição repressora contra os outros, seja qual for, a não ser como um modo da pessoa reprimir e lutar com a sua própria dificuldade”.

O presidente continua confundindo as redes sociais com a realidade viva do país e parece ter aterrissado de outra galáxia, sem entender que o Brasil é uma nação que importa no mundo e que já aceitou a modernidade faz muito tempo. E, pior ainda, está destruindo no exterior, com sua incapacidade de governar e suas obsessões de caráter messiânico e psiquiátrico, a imagem positiva e até invejável até ontem atrelada a este país, coração econômico do continente e cadinho de mil experiências culturais que estão sendo pisoteadas.

ELES GOSTAM DE POBRE

O presidente Jair Bolsonaro polemizou ao dizer que deve vetar a emenda que reintroduz o direito de despachar gratuitamente bagagem de até 23kg em voos domésticos e internacionais, previsto na Medida Provisória (MP) 863/2018. Ao ressaltar que o destaque posto no texto no Congresso foi proposto pelo PT, Bolsonaro declarou que não vetaria apenas por ser uma proposta petista, mas associou a gratuidade ao partido. "Eles gostam de pobre. (Para eles) quanto mais pobre melhor", afirmou, durante a transmissão semanal ao vivo, em sua página no Facebook.

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) rebateu o Jair Bolsonaro, após o presidente dizer em tom de crítica que o Partido dos Trabalhadores só gostar de pobres.

ABRAM O OLHO

O petismo e Jair Bolsonaro finalmente estão juntos numa mesma causa. Ambos se esforçam para desmoralizar o movimento que levou estudantes às ruas enrolados na bandeira da Educação. Bolsonaro grudou na rapaziada a pecha de "idiotas úteis". E o petismo, como que decidido a provar que o capitão tem razão, defende que os manifestantes incluam na sua pauta de reivindicações o "Lula livre." "Lula e Educação são inseparáveis", declarou a deputada Gleisi Hoffmann, num ato em defesa do presidiário petista. "Essa moçada está indo às ruas pelo legado que Lula deixou nesse país", acrescentou Gleisi, que preside o PT federal. Paulo Okamotto, o faz-tudo de Lula, ecoou Gleisi: "A campanha do Lula Livre, que no nosso caso é mostrar o julgamento injusto que ele teve, se junta à pauta da educação." Misturar a defesa da libertação de Lula com a causa educaciomal seria algo tão adequado quanto torcer por um time na arquibancada da torcida do principal rival.

MESSIAS

Com o desemprego a pino, a recessão na espreita, a Educação em frangalhos, o Congresso convulsionado, o país dividido… com tudo isso, Jair Bolsonaro conserva o otimismo. Numa entrevista para argentino ver, o capitão disse para o jornal La Nación algo que vem repetindo com uma insistência própria dos que têm fé: "Eu tenho uma missão de Deus, vejo dessa maneira. Foi um milagre estar vivo e outro milagre ter ganho as eleições. Deus também tem me ajudado muito na escolha dos meus ministros." A qualidade do ministério indica que Deus, embora ainda seja onipresente e onipotente, já não é full time. Mas o que importa é que Ele está no meio de nós. E Bolsonaro se dispõe a ajudá-lo. No momento, está empenhado em pacificar o país: "Sim, estou fazendo esforços. Não estou atacando nem buscando a divisão." A coisa poderia estar melhor. "Mas há gente que não gosta de mim mesmo sem me conhecer."

SEM CENSURA

A notícia do levantamento censurado da Fiocruz sobre o consumo de drogas saiu em abril no Intercept, teve uma bela repercussão entre o pessoal da saúde e ganhou contornos gigantescos depois que Osmar Terra, ministro da Cidadania, disse não confiar nas pesquisas da instituição. Naquela primeira reportagem, o Intercept adiantou alguns resultados, como mostramos aqui na news: não há uma epidemia de crack no país, o consumo de maconha e cocaína não é tão grande e o maior problema era o álcool.

Na sexta à noite, o site decidiu publicar na íntegra o estudo, que foi feito com 16 mil entrevistas em 351 cidades.  Além dos dados divulgados inicialmente, outro chama a atenção: o consumo de opiáceos. Segundo o levantamento, 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso de algum de forma ilegal (ou seja, excluindo-se os remédios para dor prescritos por médicos). Isso dá 2,9% da população. Quando considerados apenas os últimos 12 meses, foram 2,1 milhões de pessoas (1,4% da população). 

Não se compara aos EUA, onde há uma epidemia em curso. Só que esses medicamentos são altamente viciantes e, como temos acompanhado por aqui, naquele país tudo indica que a epidemia começou com o uso lícito, prescrito, desses medicamentos. Depois, muitos usuários chegam até a migrar para drogas mais baratas e fáceis de encontrar, como a heroína

“O último boom de opioide nos EUA começou de 2013 para cá, ou seja, não dá para esperar cinco anos para fazer outro levantamento sobre uso de drogas, como se dá no Brasil”, alerta a psiquiatra Nicola Worcman, no Globo

O uso de opioides se mostrou muito maior do que de crack (que foi experimentado por 0,9% da população ao longo da vida e 0,3% nos últimos 12 meses).  Mas esses dados sobre crack, ainda que relevantes, devem ser observados com cautela. Isso porque o levantamento foi feito por entrevistas em domicílio, enquanto a maior parte dos usuários está em situação de rua. 

Em tempo: as comunidades terapêuticas foram abordadas pelo programa Greg News na sexta passada. O foco é na relação entre as CTs e os políticos. O ex-senador Magno Malta mantém há 30 anos uma CT que promete “curar” usuários de drogas com chá de capim-cidreira, por exemplo.

FOGO CRUZADO

Segundo Jair Bolsonaro, a missão mais difícil da Presidência da República é lidar com o Congresso. “As propostas que você quer apresentar e como elas podem ser interpretadas pelo Parlamento”, disse em entrevista exclusiva à Veja. E deu como exemplo a proposta de mudanças na Carteira Nacional de Habilitação que chega nas próximas semanas ao Congresso. Segundo o presidente, as mudanças vão ao encontro das demandas dos caminhoneiros. “De vez em quando aparece aí o fantasma da paralisação que mexeu com a economia do Brasil. O que a gente tem de fazer para antecipar problemas? Por que não aumentar o limite na carteira para 40, 50 pontos? Alguns vão criticar: ‘Pô, o cara aí quer relaxar na questão do trânsito’. Mas eu fiz isso. Chamei o Tarcísio (de Freitas, ministro da Infraestrutura) e disse ‘não quero mais saber de novos pardais’. Isso, às vezes, é mal interpretado. Por outro lado, você vai ganhando a simpatia da população e ela acaba entendendo que você quer fazer a coisa certa.” As mudanças, que também incluem dobrar o tempo de validade da habilitação de cinco para dez anos, são criticadas por especialistas que temem mais acidentes no trânsito.

Do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também em entrevista exclusiva, mas para O Globo: “Acho que está faltando uma agenda para o Brasil. A Previdência não é uma agenda, é uma reforma racional e necessária para equilibrar as contas públicas. Ela não resolve qualidade na educação, médico no hospital, produtividade no setor público ou privado, crescimento econômico ou desemprego. O que precisamos é uma agenda para o Brasil. Previdência é uma necessidade. Agenda para o Brasil a gente ainda não viu formatada de forma ampla, completa, por esse governo.”

E o Estadão lançou um monitor que permite que os projetos enviados pelo governo ao Congresso sejam acompanhados.

POPULAÇÃO É CONTRA

Pesquisa do Ibope sobre a flexibilização da posse e do porte de armas concluiu que a maior parte dos brasileiros (61%) são contra o afrouxamento de regras para a posse. Um número maior ainda (73%) é contra a ampliação do porte de armas. Quem puxa essa média para cima são as mulheres. No caso da flexibilização da posse, 71% delas são contra – enquanto metade dos homens é favorável. No caso do porte, ambos os sexos são contra, mas a rejeição delas chega à casa dos 80%.

HOMENAGEM ESTRANHA

O jornal Correio Popular, de Campinas (SP), informa na tarde deste domingo (2) que o funkeiro Tales Volpi, conhecido como MC Reaça, foi encontrado morto na tarde deste sábado (1º) próximo à Rodovia Dom Pedro I, que faz a ligação entre o Vale do Paraíba e a Região Metropolitana de Campinas. Segundo o jornal, a polícia suspeita que ele cometeu suicídio após espancar uma suposta amante entre a madrugada e o início da tarde de sábado na cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo. A vítima está internada em estado grave em um hospital local. O presidente prestou homenagem ao funkeiro. “Tales Volpi, conhecido como Mc Reaça, nos deixou no dia de ontem. Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos”, escreveu o presidente em sua conta no Twitter.

PRESIDENTE FALASTRÃO

O presidente Jair Bolsonaro pode entrar para a história como o mais falante da história. Isso é bom? Depende do que tem a dizer. Mas antes, a principal questão é saber se Bolsonaro realmente tem um plano de governo para executar no País, essa é a opinião da colunista Eliane Cantanhêde em artigo no Estadão. Durante a semana, o presidente deu várias declarações baseadas em seus achismos. “Assim, as manchetes são ocupadas, de um lado, pela economia patinando e o desemprego assolando e, de outro, pelas falas de Bolsonaro sobre suas crenças, seus desabafos e seus ‘foras’. Aparentemente, o presidente gosta de todo o foco nele, não no governo e nas soluções para o País”, analisou.

ABANDONANDO O BARCO

Levantamento feito pelo Ideia Big Data mostra que o descolamento do bolsonarismo tem sido mais significativo em parte expressiva do eleitorado que votou no então candidato do PSL apenas no segundo turno da eleição presidencial de 2018. Essa parcela de eleitores, em tese, aderiu a Bolsonaro como saída para evitar a volta do PT ao poder. Segundo a pesquisa da Ideia Big Data, a maior parte dos eleitores que optaram por Bolsonaro e hoje rejeita o governo é formada por mulheres com idade entre 25 e 40 anos, integrantes das classes B e C, não evangélicas e que vivem em cidades com mais de 200 mil habitantes nas regiões Norte e Nordeste. Eles votaram no presidente apenas no segundo turno e representam cerca de 10% dos 18% que Bolsonaro perdeu desde a posse, conforme a série mensal de pesquisas do Ideia Big Data.

NEM AS CRIANÇAS ESCAPAM

O projeto de lei entregue ontem por Bolsonaro ao Congresso não se restringe à Carteira Nacional de Habilitação, mas altera várias regras de fiscalização no trânsito. Por enquanto, o ponto mais chocante é a eliminação da multa para o motorista que transportar criança sem cadeirinha, infração considerada gravíssima pelo atual Código de Trânsito. No lugar da punição no bolso, o condutor ganharia uma advertência por escrito, o que é considerado inócuo por especialistas.

“A gente passa de cinco para dez anos a validade da carteira de motorista. Passa de 20 para 40 os pontos para perder a carteira de motorista. Entre outras coisas, também nós tiramos do Detran a exclusividade nas clínicas para emitir o atestado de saúde para carteira de motorista. Qualquer médico pode conceder isso daí”, afirmou Bolsonaro durante a cerimônia na Câmara. O PL também acaba com a exigência do exame toxicológico para motoristas profissionais.

Segundo o procurador Paulo Douglas, integrante do Ministério Público do Trabalho e coautor da ação que deu origem à Lei do Descanso dos Caminhoneiros, o PL é um retrocesso imenso e deve ser contestadojudicialmente caso seja aprovado. 

SUMINDO COM AS EVIDÊNCIAS

Era uma vez, um portal com informações sobre drogas no Brasil. Há 16 anos no ar, era o único banco de dados oficial sobre o assunto. Até que um “belo” dia, ele foi transferido do Ministério da Justiça para o Ministério da Cidadania, comandado por Osmar Terra… Bom, o resto da história é fácil de adivinhar. Ontem, O Globo descobriu que o portal está fora do ar desde 8 de janeiro. A assessoria da pasta desconversou e disse que ele está sedo “migrado e atualizado”, sem maiores detalhes.

Em outro endereço, o Portal Aberta, lançado em 2016 como ferramenta de formação para profissionais da área, aconteceu o sumiço dos levantamentos nacionais sobre o uso de drogas feitos pela Fiocruz em 2001 e 2005. 

CONFERÊNCIA

Luiz Henrique Mandetta gravou um vídeo “provocando” os gestores estaduais a organizarem conferências de saúde e levar boas propostas para a etapa nacional, que acontece no início de agosto em Brasília. Em um governo tão contrário à participação social, não deixa de ser uma boa notícia.

LULA NO SEMIABERTO?

A subprocuradora-geral da República Aurea Maria Etelvina Nogueira Lustosa Pierre enviou parecer no qual argumenta que o ex-presidente Lula já tem direito a progressão de pena para o regime semiaberto. Como mostra o Blog do Fausto, a redução de pena para 8 anos e 10 meses decidida pelo STJ permitiu que o petista possa migrar para o semiaberto. O parecer se deu em análise a embargos movidos pela defesa do ex-presidente contra a sentença da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça.

Durante entrevista para os sites Diário do Centro do Mundo (DCM) e Tutaméia, na sede da superintendência das Polícia Federal em Curitiba, Lula foi questionado por Joaquim de Carvalho, do DCM, sobre a possibilidade de usar tornozeleira eletrônica, no caso de deixar a prisão. “Posso dizer para você uma coisa do fundo do meu coração? Talvez os meus advogados nem gostem do que eu vou falar, talvez alguns companheiros meus não gostem do que eu vou falar: tornozeleira é para ladrão e para pombo correio. Eu não sou nem ladrão e nem pombo correio. Vamos deixar claro”, disse Lula.

NO MUNDO DA LUA

Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o ministro Sérgio Moro (Justiça) exaltou seu currículo à frente das investigações da Operação Lava Jato ao ser questionado sobre investigações de casos de corrupção na Argentina e no Brasil: “Mas, pelo menos desde 2012, o quadro começou a ser modificado. Temos muitas autoridades públicas, e mesmo pessoas que pagaram subornos, que foram julgadas, condenadas e estão cumprindo pena. Pessoas política e economicamente muito poderosas. Eu acho que não é mais correto afirmar no Brasil que a impunidade da grande corrupção é a regra. Isso mudou. Antes se dizia que a impunidade era a regra. Mas ainda é algo que deve ser consolidado, aprofundado”, disse ele.

AMEAÇA

Depois do manifesto em defesa do meio ambiente, nesta terça-feira, 4, foi a vez de Fernando Haddad, Aloizio Mercadante, Cristovam Buarque, Renato Janine Ribeiro, José Goldemberg e Murilo Hingel, ex-ministros da Educação, emitirem um documento conjunto em que dizem ter “grande preocupação” com as políticas no governo de Jair Bolsonaro. Para eles, a atual administração apresenta a área como uma “ameaça”. Eles disseram ainda que vão constituir o Observatório da Educação Brasileira. “Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça”, diz o texto.

Os ex-ministros afirmam que em nenhuma área se conseguiu um acordo nacional “tão forte” quanto na educação, mas que o governo Bolsonaro deixa isso de lado. Eles propõem ainda a construção de uma “ampla frente em defesa da educação”. “Nós, neste momento, estamos constituindo o Observatório da Educação Brasileira dos ex-ministros da Educação, que se coloca à disposição para dialogar com a comunidade acadêmica e científica, sociedade e entidades representativas da educação, com parlamentares e gestores, sempre na perspectiva de aprimorar a qualidade da política educacional”, diz o manifesto.

SEM PRIORIDADE

Presidente da Comissão Especial da reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PR-AM), não poupou críticas às prioridades estabelecidas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). Pelo Twitter, Ramos disse que Bolsonaro “não tem noção de prioridade e do que é importante para o País”.  O comentário do deputado se deve à ida do presidente à Câmara para entregar a Rodrigo Maia o texto de projeto de lei que altera regras relacionadas à Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Enquanto estamos num Seminário sobre Reforma da Previdência ele está vindo pra Câmara apresentar PL que trata de aumentar pontos na carteira de maus motoristas”, comentou Ramos.

ENQUADRADO

Foi só o relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP), esboçar dúvidas quanto à conveniência de manter Estados e municípios em seu parecer que o governador João Doria Jr. tratou de colocá-lo debaixo de sua asa e pressionar pela manutenção do dispositivo no texto. A entrevista no Palácio dos Bandeirantes em que Moreira foi colocado ao lado dos governadores de seu partido na segunda-feira foi vista na Câmara como sinal de que o relator foi enquadrado.

GREVE GERAL

A expectativa da s centrais sindicais para a greve geral marcada para o próximo dia 14 é de levar às ruas ao menos a mesma quantidade de pessoas que aderiram à de abril de 2017, contra as reformas da Previdência e trabalhista de Michel Temer. Os sindicalistas atuam para atrair trabalhadores da área de transportes —metroviários e ferroviários, por exemplo. Qualquer ato com a adesão dessas categorias surte forte impacto, especialmente nas grandes cidades, segundo o Painel da Folha.

DECRETUDO

Desde que chegou à Presidência, Jair Bolsonaro demonstrou aquilo que chama como “o poder da caneta” em 157 oportunidades. Ele é o segundo presidente que mais editou decretos desde a promulgação da Constituição de 1988. Só perde para o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que editou 486 decretos nos primeiros 150 dias de governo. Algumas medidas, no entanto, têm sofrido contestações. Só na Câmara, há 117 pedidos para sustar 20 dos decretos.

Sem uma base sólida no Congresso, Bolsonaro tem adotado o expediente em alguns casos para acelerar a implantação do seu projeto político e cumprir promessas de campanha. É o caso do decreto que ampliou o porte de armas no País. “No limite, o decreto, sendo ato do Executivo, não passa pelo crivo do Congresso Nacional. Assim, o uso exagerado de decretos pode significar – e parece ser o caso de Bolsonaro – dificuldades no diálogo e na negociação política com deputados e senadores”, opina o pesquisador em sociologia, Rodrigo Augusto Prando.

FOGO NO CABARÉ

Terminou com uma troca de acusações entre o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), e a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), uma sessão conjunta de deputados e senadores na Câmara. Os parlamentares reuniram-se para votar 23 vetos presidenciais que trancavam a pauta do Congresso para a análise do PLN 4/2019, por meio do qual o governo solicita crédito extra para não infringir a chamada regra de ouro.

O QUE DIZ O NOVO ATLAS DA VIOLÊNCIA

Atlas da Violência 2019, divulgado ontem pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com dados de 2017, mostra o maior número de homicídios da década: 65.602, sendo 72% por armas de fogo. Mais da metade (35.783) dos mortos eram jovens com entre 15 e 29 anos, e 75% eram negros. E, se a taxa de mortes está crescendo ano a ano, isso não acontece por igual: entre 2007 e 2017, o assassinato de negros cresceu 33%, enquanto a de não negros subiu 3,3%.  

Há outras desigualdades. Embora a taxa nacional de homicídios esteja subindo, há uma tendência de redução em vários estados: ela aconteceu em 15 deles. Porém, os 12 onde houve aumento, ele foi muito intenso, puxando os números nacionais para cima. O estado com o maior número de homicídios foi Roraima, seguido pelo Rio Grande do Norte, Acre, Ceará e Goiás. Em último lugar na lista está São Paulo. O Rio, um astro dos programas televisivos sobre violência, está na metade inferior, em 19º lugar. 

Como nos anos anteriores, a maior parte dos mortos são homens, mas o número de mulheres assassinadas também atingiu recorde: foram 4.939 (das quais 66% eram negras). Embora o aumento geral não tenha sido grande (1,7% em relação ao ano anterior), o número de mulheres que foram mortas dentro de casa cresceu alarmantes 17%, enquanto, do lado de fora, caíram 3,3%. Em casa, um quarto dos assassinatos foram por armas de fogo. Para a socióloga Wânia Pasinato, especialista em violência de gênero contra as mulheres, o resultado não surpreende, pois desde 2014 “assistimos à redução dos orçamentos para políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres e ao desmantelamento dos equipamentos públicos de atendimento a mulheres em situação de violência doméstica”. 

Pela primeira vez, o Atlas traz um balanço sobre a população LGBT. Foram 193 homicídios denunciados em 2017, contra 85 em 2016. Como os registros não informam orientação sexual, esse dado é baseado nas denúncias. Houve ainda 5.930 casos de violência contra homo ou bissexuais, e em 60% foram mulheres sofrendo agressão de homens. 

DAQUI PRA FRENTE

Não dá para prever o futuro, mas dá para olhar o passado com sensatez. Segundo o Altas, o número de homicídios crescia 5,44% ao ano nos 14 anos anteriores ao Estatuto do Desarmamento. Nos 14 anos posteriores, caiu para 0,85%. Os primeiros resultados da flexibilização do porte e da posse de armas, que parecem bem óbvios, vão ser mensurados no Atlas de 2021. 

Mas o presidente do Ipea, Carlos Von Doellinger, parece ser da turma que acredita mais em convicções do que em provas: “Discordo de maneira enfática do que o estudo apresenta em relação ao efeito das armas de fogo sobre a criminalidade em geral. Há uma defesa do Estatuto do Desarmamento, porém, na minha posição pessoal, por uma questão de princípio, me incomoda a impossibilidade de o cidadão ter uma arma para a defesa da sua integridade física, de sua família e do seu patrimônio”, disse, durante o lançamento do Altas. 

TRAPALHADAS

Na avaliação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o governo de Jair Bolsonaro comete diariamente “trapalhadas” na articulação. “O governo comete, todos os dias, algum tipo de trapalhada na coordenação política, na gestão e na relação política”, disse em entrevista ao programa Central GloboNews, na noite de quarta-feira, 5. “É muito desencontro ao mesmo tempo, em uma mesma semana”, ponderou. Alcolumbre disse que, na visão dele, se a reforma da Previdência for ser aprovada, será porque há parlamentares que “acreditam que é um caminho para gerar riquezas para transformar o Brasil”, e não por mérito da articulação política do governo.

Alcolumbre também demonstrou não estar muito satisfeito com os ataques bolsonaristas contra a classe política, em especial contra parlamentares do Centrão. Na avaliação do presidente do Senado, usuários de redes sociais estão criminalizando a política, “agredindo” a democracia. “Esse modelo que o presidente implantou de não se aproximar da política não está dando certo. Ele foi eleito com esse discurso que ia mudar e ia ser diferente, mas acabou a eleição. Ele precisa se aproximar da política”, enfatizou.

CAVALO PARAGUAIO

Em sua coluna no Estadão nesta quinta-feira, William Waack constata que a crítica constante ao “sistema” feita por Jair Bolsonaro, intercalada, sem nenhuma tática visível, apenas ao sabor dos fatos cotidianos, a sinalizações de que o presidente vai aceitar as regras do jogo e se pautar por elas, levam a uma dificuldade de se prever quando e se seu governo dará a “arrancada” necessária para o País começar a sair da crise.

“Jair Bolsonaro pode achar que essa raiva lhe favorece no ímpeto declarado de romper o nó político. Por ele entendido até aqui na acepção mais reduzida, a do “toma lá, da cá”. Conscientemente ou não, é formidável o dilema no qual o presidente se colocou: respeitar e ao mesmo tempo desprezar as regras do “sistema” político – que está falido na sua acepção mais ampla. Se ele acha que o dilema tem saída, ainda não deixou exatamente claro com quais meios, além dos apelos à sua base fiel. Nesta semana, quando atravessou a Esplanada e foi ao Congresso, foi falar de pontos na carteira de motorista”, escreve.

VALOR DO CAIXÃO

Até mesmo aliados de Jair Bolsonaro utilizam a tribuna durante sessão do Congresso para reclamar da mudanças nas regras de trânsito propostas pelo presidente da República. Um dos discursos mais contundentes foi da deputada Christiane Yared (PL-PR). Seu filho foi morto há 10 anos pelo ex-deputado estadual Carli Filho em um acidente de trânsito. “Quanto custa uma cadeirinha? Eu não sei o valor de uma cadeirinha, mas sei o valor de um terreno no cemitério. Eu sei quanto custa um caixão, eu paguei o caixão do meu filho. Eu sei quanto custa choro, flores”, disse. Yared faz parte da base do governo Bolsonaro na Câmara. “Faço um apelo ao presidente, que eu represento, eu sou base de governo. Senhor presidente, olhe pelas famílias desse País”, pediu.

DE PORRE

O senador Renan Calheiros voltou a disparar contra Jair Bolsonaro. Para o emedebista, que não faz questão de afagar o governo desde que perdeu a eleição para presidência do Senado devido a movimentações do governo, as recentes medidas defendidas pelo Executivo fazem parecer que o Brasil “está bêbado”. “Governo libera armas; dá ordem para matar; afrouxa código de trânsito e exame toxicológico; extermina o futuro na Educação e no Meio Ambiente; amplia o desemprego, a desesperança e cobra a conta dos mais pobres. De fora para dentro, parece que o País está bêbado”, disse.

MINISTRO FUJÃO

O ministro Ricardo Salles foi vaiado no Senado, na manhã desta quinta-feira (6), ao participar de sessão especial em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, celebrado ontem, 5 de junho. Além das vaias, foi chamado de "fujão", ao sair do plenário da Casa antes do término do evento. "A democracia é assim. Cada um reage da maneira que quiser", afirmou ao deixar o local cercado de assessores, sem mais nenhum comentário sobre as cobranças que ouviu antes de seu pronunciamento.

SANEAMENTO

Na segunda-feira, a medida provisória que incentivava a privatização do saneamento no Brasil perdeu a validade ao não ser votada pelo Congresso no prazo. Eis que o senador Tasso Jereissati entra em cena e consegue, em 48 horas, aprovar um PL com o mesmo objetivo no plenário do Senado. O texto segue agora para a Câmara. E uma não-surpresa: o texto saiu bem do jeito que as empresas privadas queriam, como escreve João Peres no Intercept. O jornalista, que vem acompanhando a situação n’O Joio e o Trigo, detalha longamente a história e ressalta que, com a privatização, essas companhias vão poder ficar com os serviços lucrativos, deixando pra lá os que dão prejuízo. E estes últimos ficarão ainda piores, pois vão perder os subsídios. Mas o mais interessante é ver como foi o lobby pra que as coisas chegassem a esse ponto. Spoiler: tem muita porta giratória na jogada. 

RESISTÊNCIA

Quatro servidores do IBGE em posições de chefia entregaram seus cargos em protesto contra os cortes no questionário do Censo 2020. “O mais importante núcleo técnico ligado ao Censo Demográfico acaba de anunciar um pedido coletivo de exoneração por compreender que o processo vem sendo conduzido de forma inadequada, em desatenção às evidências técnicas sistematizadas em estudos sólidos apresentados à direção do IBGE”, justifica a nota.

SUMIDO

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), que reassumiu a Presidência interina na quinta-feira (6) durante a viagem de Jair Bolsonaro à Argentina, voltou a conceder entrevista e lançou logo uma provocação ao filho 02 do presidente, Carlos Bolsonaro (PSL/RJ), que silenciou nos últimos tempos após uma série de ataques contra o general no front dos doutrinados de Olavo de Carvalho. “O Carlos sumiu”, disse Mourão em entrevista a Guilherme Amado, da revista Época, após insinuar que alguém deu um “cala-boca” nos olavistas depois que o guru passou a atacar o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército. “Alguém chegou para essa turma (os olavistas) e disse: “Chega”. Acho que o próprio presidente pode ter feito isso”, afirmou.

Solto, Mourão ainda fez críticas ao também olavista Ernesto Araújo, ministro de Relações Exteriores, respondendo de maneira afirmativa quando indagado se o secretário-geral do Itamaraty, Otávio Brandelli, tem sido um moderador frente à falta de rumo do titular da pasta. “Sim. O Brandelli é respeitado como força de moderação no Itamaraty”, disse Mourão, minimizando o papel de um outro olavista nas Relações Exteriores, o assessor especial da Presidência, Filipe Martins. “O Filipe fica falando no ouvido do presidente. O negócio dele é no Twitter”.

AMEAÇA

Líder caiapó Raoni Metuktiri, um dos principais nomes internacionais em defesa da Amazônia, o governo Jair Bolsonaro é "uma ameaça" a todos os povos indígenas. "Os povos indígenas estão preocupados. Acreditam que Bolsonaro pode acabar com nosso povo", disse Raoni. "Não aceitamos a violação dos direitos indígenas e dos territórios indígenas. Essa gestão é contra o povo indígena", completou

Para o líder caiapó Raoni Metuktiri, um dos principais nomes internacionais em defesa da Amazônia, o governo Jair Bolsonaro é "uma ameaça" a todos os povos indígenas. "Os povos indígenas estão preocupados. Acreditam que Bolsonaro pode acabar com nosso povo. Queremos falar, mostrar para o governo essa pressão que sofremos de madeireiros e garimpeiros. Precisam respeitar nossos direitos", disse Raoni, que no mês passado foi recebido pelo Papa Francisco, no Vaticano, e também pelo presidente da França, Emmanuel Macron.

"Queremos dialogar com o governo, mostrar a ele que nós, indígenas, não aceitamos o que Bolsonaro pensa sobre nós, não aceitamos a violação dos direitos indígenas e dos territórios indígenas. Essa gestão é contra o povo indígena", disse Raoni em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

O líder indígena também criticou duramente a paralisação das demarcações de terras indígenas e os projetos do governo que permitem a abertura das reservas para a exploração comercial, o que é proibido pela legislação atual. "Agricultura não é coisa para ser feita em terra indígena. O que precisa é respeitar a terra, apenas isso", disse.

CONCLOMO, CANCLOMO

Em discurso oficial na quinta-feira (6) ao lado do presidente argentino Maurício Macri, Jair Bolsonaro soltou mais uma pérola. Ao tentar passar mensagem de agradecimento, o presidente brasileiro se enrolou com o verbo “conclamar”. “Essa passagem por aqui, como já era de se esperar, está sendo simplesmente excepcional. E eu ‘conclomo’… ‘canclomo’… conclamo ao povo argentino que Deus abençoe a todos eles”, disse em discurso oficial após encontro com Macri. A declaração virou piada nas redes sociais:

 

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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