26/04/2024 - Edição 540

True Colors

Breves palavras

Publicado em 22/08/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

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A esta altura do campeonato, você já devem saber da polêmica na qual o comediante e ator Paulo Gustavo está imerso. Em entrevista recente ao jornal O Dia, Gustavo foi questionado sobre a sexualidade. Com resposta evasiva, ele acabou deixando bem claro quem realmente é: disse ser contra “levantar bandeira” e que era contra as paradas.

“Eu não teria problema em falar se sou gay ou se sou hétero. Mas acho que ficar levantando bandeira para esse assunto é que gera o preconceito. Eu sou contra a Parada Gay, acho que não tem que ter isso. Não existe Parada Hétero. Acho que, com isso, a gente fica só valorizando os idiotas. Os que são preconceituosos devem ser ignorados, simplesmente”.

Posteriormente, por conta da repercussão, ele acrescentou: “Vira uma rave no meio da rua, com assaltos, brigas, um monte de gente se beijando e eu não curto”.

Darling, pleeeeeease! Chega, né, gente?! Coisa mais chata! Quando a gente acha que está chegando perto de uma mudança vem um mané e faz tudo retroceder! Haja paciência!

Mas vamos lá, prometo que são poucas considerações a fazer. A primeira, sendo bem direto, é que é muito, mas muuuuito fácil um homossexual rico, encastelado, com uma carreira de sucesso consolidada e que tem mínimas chances de sentir a homofobia na pele dizer que é contra levantar bandeira.

É muito difícil respeitar, até mesmo dar um bom dia indiferente num elevador, a quem acha que é a militância LGBT que gera a LGBTfobia.

Quero ver se fosse uma bicha da periferia, preta, pobre, fugindo de seus agressores.

Quero ver se fosse desconsiderado a uma promoção no emprego por ser “pintoso demais”.

Quero ver se fosse expulso de casa pelos próprios pais por não ser hétero ou cisgênero.

Quero ver se fantasiar-se de mulher – e ganhar muito dinheiro com isso – não fosse atualmente visto como uma coisa aceitável.

A segunda é que é muito difícil respeitar, até mesmo dar um bom dia indiferente num elevador, a quem acha que é a militância LGBT que gera a LGBTfobia (homofobia, bifobia, lesbofobia e transfobia).

A terceira coisa a falar é que ser contra a parada gay porque “não existe parada hétero” é a prova de que não podemos admirar qualquer pessoa que nos faça rir. Primeiro, tem parada hétero SIM, tá, meu bem?! Felizmente, é um fiasco, porém, um poço de ódio, como dá para perceber com poucas leituras. E a propósito, qual a necessidade de heterossexuais fazerem parada se são eles que mandam no pedaço, se é a condição deles que normatiza como a vida de todo mundo tem que ser? É tão difícil assim ser hétero?

Portanto, as paradas LGBT (não é parada gay porque somos uma comunidade e buscamos direitos para todos os que lutam pela diversidade: não só gays, mas lésbicas, transexuais, travestis e bissexuais) são nada mais que a reação dos grupos que têm seus direitos fundamentais vilipendiados. São uma forma legítima de manifestação que não surgiu por acaso, seria legal ler um pouco sobre Stonewall e Harvey Milk.

Vamos falar a verdade? Dizer que é contra as paradas da diversidade porque elas viraram “rave com gente se beijando”, nada mais é que o discurso higienista e classista de quem quer uma parada gay só de gente “bonita” e de quem é contra LGBTs que não rechaçam os padrões da heteronormatividade: a bicha pintosa, a fancha machuda, a travesti poderosa que dá close de travesti, enfim…

Aliás, essa é uma das razões apontadas para o declínio de público da Parada LGBT de São Paulo – está tão popular que só tem gente feia e pobre. Acredita? Temos mais essa manga para chupar: os gays classistas, racistas e egodistônicos que se acham menos gays que as outras para frequentar nossa parada.

Mas voltando ao assunto, nem todo mundo pode (ou quer) ser branco, rico e frequentador da Zona Sul do Rio de Janeiro como Paulo Gustavo – que pelo que eu entendi, se classifica quase como um não-gay (risos).

As paradas LGBT são a reação dos grupos que têm seus direitos fundamentais vilipendiados. São uma forma legítima de manifestação que não surgiu por acaso.

Resumo da ópera: a declaração do ator nada mais é que o discurso de quem ainda tem medo de ofender a mãe com a própria natureza e que por isso se sente no direito de dizer como os outros devem se comportar e como as coisas devem acontecer.

Se uma parada LGBT é cheia de plumas e paetês, não é à toa. É porque isso faz parte da cultura que produzimos, é o reflexo daquilo que vivenciamos, de sexualidades exercidas e praticadas, mas que infelizmente algumas pessoas se acham superiores demais para consumi-la. É verdade que as paradas da diversidade precisam se politizar mais. Concordo, não é só a festa. Precisamos ser mais conscientes do sentimento de comunidade para assim buscarmos nossos direitos. Porém, as paradas TAMBÉM são festa, ok?

Resumir nossa manifestação à curtição, bebida, brigas e sexo em público é demais, é nos reduzir ao conceito de demérito moral. Não estamos precisando disso. Claro, sexo em público não é ok, é contra a lei, e realmente acontece em algumas paradas LGBT. Mas não é exclusividade nossa. Aliás, é muito mais comum numa outra grande festa muito mais antiga chamada CARNAVAL, que por sinal é heterossexual é cristã. Quer dizer…

Acho muito lamentável que um artista tão talentoso e numa situação tão privilegiada, como Paulo Gustavo, ainda compartilhe destas opiniões rasas, frágeis e levianas. O desserviço que ele presta a nossa luta é grande, e por isso mesmo ele merece lidar com todas as críticas, com todas as sanções cabíveis. Abrindo a boca para vomitar insegurança, egodistonia e indiferença à causa LGBT é um crime contra nossa comunidade, é como sujar as mãos com o sangue das centenas de LGBT assassinados todo ano somente aqui no Brasil.

Ninguém é obrigado a militar. Eu realmente acho que isso é uma opção. Mas por favor, que respeitem a nossa luta. É o mínimo, o básico que se pode fazer.

É de nascença ou é opção?

Tem muita coisa feita pelos meninos do “Põe na Roda” que me deixa incomodado, sobretudo, a forma como travestis, transexuais e lésbicas são colocadas à margens das esquetes.

Sim, eu acho que militante LGBT de verdade precisa entender as opressões e, por isso mesmo, coloca o G no final do babado.

Mas enfim, o fato é que desta vez eles acertaram muito, com um vídeo super educativo e provocador da epifanias: afinal, a gente nasce gay ou opta por ser gay? Solta o play e tire suas conclusões.

Onde estão os ursos?

A websérie mais famosa da comunidade ursina está de volta em sua terceira temporada: como sempre, repleta de mistérios, risadas e torsos peludos nus. Nesta reestreia, mais uma aventura envolve os protagonistas Hot Todd (Ian Parks), Reggie (Rick Copp), Wood (Joe Dietl) e Nelson (Ben Zook) na caçada por um serial killer de… Ursos!

A temporada, que estreou no último dia 11, terá 22 capítulos, assim como as anteriores. Lembrando que desta vez você já assiste os episódios com legendas em português. Acima você pode conferir o teaser do que já está rolando, mas clicando AQUI você já assiste gratuitamente aos novos episódios.

Bom bom bom!

Um slogan é um slogan e isso fica cada vez mais claro quando assisto a qualquer propaganda daquele site de vendas Bom Negócio (bom bom bom…). A ideia do “desapega”, elaborada pela agência NBS (a mesma responsável pelas campanhas de empresinhas como Coca Cola, Petrobras e Oi), é maravilhosa. Não satisfeitos, os publicitários ainda acharam legal colocar pessoas famosas com seus bordões. Daí não tem jeito, a coisa “pega” de verdade e vira sucesso. A bola da vez é a artista trans Rogéria, que com seu “libera a moita capivara” conquista nossos corações. Se você incrivelmente ainda não assistiu, solta o play acima!

Para dançar!

Há algumas semanas postei a maravilhosa mixtape com sucessos da Disco Music  que Las Bibas From Vizcaya fizeram? Como prometido, aqui está a parte II, mais conceitual, com mais um pouco do “crème de la crème” da Disco Music. Em tempo: quem quiser conferir outras mixtapes do projeto produzido pelo Dj George M, basta clicar AQUI.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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