18/04/2024 - Edição 540

Brasil

Cama sem lençol e cirurgia à luz de vela

Publicado em 10/05/2019 12:00 -

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Os hospitais brasileiros estão superlotados e falta quase tudo: de roupas de cama a gerador de energia em centro cirúrgico. A conclusão é da primeira pesquisa do gênero produzida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), que visitou 506 hospitais públicos nas cinco regiões do Brasil.

O estudo, divulgado hoje, percorreu salas de cirurgia, unidades de internação e enfermarias dessas unidades de saúde. "O resultado é assustador", afirmou o responsável pela pesquisa, o vice-presidente do Conselho, Emmanuel Fortes. "Os hospitais estão lotados e falta até relógio na parede."

De acordo com o levantamento, 53% das 131 unidades de internação estavam superlotadas, 21% dos leitos não tinham grades de proteção, 26% não dispunham de biombos ou cortinas para separar um leito do outro e 63% dos leitos não tinham sequer lençóis.

“É uma agressão à condição humana. É uma demonstração de descaso e abandono”, afirma, Emmanuel.

Em casos extremos, o risco de infecção hospitalar é evidente. "Em 3% das salas cirúrgicas não havia nem local para os médicos lavarem as mãos antes da cirurgia", diz Fortes.

Considerando apenas as poucas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) –68 em 506 hospitais–, os pesquisadores não encontraram monitor cardíaco em 41% delas. Cerca de 54% das unidades não dispunham de equipamento para transportar o paciente para fazer exames, 35% não ofereciam ressonância magnética e 21% das macas não contavam com suporte para oxigênio.

Fortes conta que uma das maiores surpresas foi descobrir que há casos de médicos que operaram "à luz de velas".

“Todo centro cirúrgico precisa de gerador com bateria para garantir energia elétrica se ela faltar durante uma cirurgia, mas em 33% dos casos isso não existe. Há relatos de improvisos: médicos operando com lanterna e à luz de velas”, diz o médico responsável pela pesquisa.

Superlotação

De acordo com o pesquisador, a lotação é mais grave no setor de emergência. "É preciso que abrir novos leitos hospitalares no Brasil. Desde 1990, perdemos 233 mil leitos. Hoje, temos 534 mil. Trata-se de negar acesso ao serviço de saúde", avalia.

Fortes diz que hospitais e gestores culpam o baixo orçamento pelas condições. Para ele, o que falta mesmo é gestão. "A gente sabe que tem serviços públicos bons e ruins. Alguns bem administrados oferecem assistência muito melhor."

Em nota, o Ministério da Saúde também culpou a má gestão ao afirmar que repassa recursos para custeio de serviços de média e alta complexidade aos fundos estaduais e municipais, "cabendo aos gestores locais a melhor gestão e distribuição desses recursos aos estabelecimentos de saúde vinculados ao Sistema Único de Saúde".


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