19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Entre tapas, beijos e intrigas

Publicado em 25/04/2019 12:00 - Victor Barone

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A encrenca entre olavistas e militares no Governo Bolsonaro parece não ter prazo para terminar. Na semana que passou, a troca de gentilezas atingiu um patamar mais elevado. O apelo do presidente – que não se sabe se é, de fato, se foi sincero – por trégua foi solenemente ignorado por seu filho Carlos Bolsonaro e pelo duble de filósofo, o astrólogo Olavo de Carvalho. O alvo de ambos: o vice, Mourão.

Um vídeo em que Olavo dispara críticas a aliados de Bolsonaro, principalmente os militares, publicado dia 20 no canal oficial do presidente no Youtube foi apagado no dia seguinte devido a repercussão negativa (assista abaixo).

No vídeo, que teve mais de 100 mil visualizações, Carvalho diz que considera Bolsonaro um “mártir”. “Só de aguentar esses filhos da puta que têm em volta dele. Não dá, não dá.”

O escritor critica os “novos políticos”, pessoas que, segundo ele, decidiram se candidatar a cargos eletivos na esteira da popularidade de Bolsonaro e afirma que a solução do Brasil não é pela política, mas sim pela elevação da cultura.

“Dentro do governo é isso que vocês estão encontrando. É só intriga, é só sacanagem, egoismo, vaidade, é só isso que tem. Tem que levantar a cultura e esperar que um dia talvez surja uma classe política melhor, educada por nós”, diz.

Em seguida, Carvalho passa a reclamar de integrantes das Forças Armadas. “Qual foi a última contribuição das escolas militares para a alta cultural nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então foi só cabelo pintado e voz empostada. Cagada, cagada. Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas.”

“Os milicos têm que começar por confessar os seus erros antes de querer corrigir os erros dos outros. Essa é a lei de Cristo. Primeiro os teus pecados, depois os do vizinho. Mas no Brasil não, todo mundo é assim: ´somos os patriotas, os heróis, salvamos o Brasil do comunismo, nós isso, aquilo´. Tudo conversa mole. Quem salvou o Brasil do comunismo foram as lideranças civis em 1964”, continua Olavo.

Depois, o escritor ainda atrela aos militares o surgimento do PT.

Esta não é a primeira vez que Carvalho critica integrantes das Forças Armadas. Em declarações recentes e posts nas redes sociais, o escritor fez críticas contundentes ao vice-presidente Hamilton Mourão e ao ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz.

Hamenon

Depois de apagar de suas contas um vídeo de Olavo de Carvalho, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) diz que as críticas do escritor a militares "não contribuem" com o governo. "Suas recentes declarações [de Olavo de Carvalho] contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos em nosso projeto de governo", afirmou o presidente por meio de nota lida pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros. O porta-voz disse ainda que o presidente "tem convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil".

Boi de piranha

Olavo de Carvalho publicou uma reclamação contra o presidente da República na quarta (24). Ele agradeceu, em tom irônico, “a chance que o senhor me deu de ser o seu boi-de-piranha”, em referência ao primeiro posicionamento de Jair Bolsonaro, por meio de nota, contra os ataques do polemista que mora na Virgínia (EUA) ao vice Hamilton Mourão e aos militares do governo. No manifestação, o presidente afirmara que as declarações de Olavo “não contribuem” para o “projeto de governo”. Olavo acrescenta que o presidente deixa nas suas costas “pelo menos metade das pancadas que lhe eram dirigidas e em seguida sendo acusado de ter o comportamento divisionista que de fato é o do seu querido vice-presidente”.

Mão do chefe

Jair Bolsonaro estaria estimulando ataques de aliados contra o vice-presidente Hamilton Mourão, segundo o colunista de O Globo, Lauro Jardim. Em uma série de áudios obtidos pelo jornalista, Bolsonaro supostamente incentivaria um aliado que informou estar fazendo ataques contra Mourão nas redes sociais. Em outro áudio, o presidente indicaria que as divergências com o vice irão durar pelos próximos três anos, mas que “em 2022 haverá uma surpresinha”.

Governo autofágico

A constatação de que o tiroteio com o vice Hamilton Mourão não vai cessar preocupa dirigentes de siglas que tentam se aproximar do Planalto. Comandantes desses partidos dizem já não ter dúvidas de que os ataques de Carlos são não só avalizados como estimulados por Jair Bolsonaro. Eles avaliam que o presidente embarcou em teoria conspiratória e dá, em privado, razão à ofensiva protagonizada pelo filho. O desfecho da nova crise produzida pelo governo, afirmam, é imprevisível.

Queimou o filme

A guerra aberta contra o vice reacendeu críticas de dirigentes políticos ao presidente. Bolsonaro voltou a ser chamado de “despreparado”, e a esse adjetivo somaram-se outros, como “inconsequente”.

Pelas costas

Embora tenha mandado o porta-voz, Octavio Rêgo Barros, pedir “unicidade” ao governo, o próprio Jair Bolsonaro incentiva, nos bastidores, os ataques de aliados e familiares ao vice-presidente, Hamilton Mourão, e chegou a criticar abertamente o general em voo de Brasília ao Rio diante de quatro senadores e um deputado. O presidente fez as críticas no último dia 11, quando se deslocava para participar de almoço com líderes evangélicos. Listou todas as reclamações que, dias depois, pipocaram nas redes sociais do filho, Carlos Bolsonaro, como a agenda de Mourão nos Estados Unidos. “Esse tipo de comunicação por redes sociais não contribui em nada”, afirmou ao jornal o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos que estavam no “voo da queimação” com Bolsonaro.

Rastros

A peça foi postada por Carlos Bolsonaro às 10h40. Por volta das 23h, quando o filme havia virado notícia, o filho do presidente escreveu que iniciaria nova fase, “longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos”. “Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”, indagou.

Só Deus sabe

Os militares evitam repercutir as ofensas de Olavo de Carvalho publicamente, mas reconhecem que não sabem “onde ele quer chegar com esse tipo de coisa”.  “Com sua mente brilhante e festejada, ele nunca fez nada além de proselitismo. Continuamos aguardando o que [Olavo] vai produzir de concreto pelo Brasil”, disse um general.

Apertou sem querer

O fato de o canal do próprio presidente ter sido usado para veicular o filme foi poupado de críticas. O gesto foi relevado sob o discurso de que Bolsonaro nem sempre concorda com o que sai em suas contas. Recentemente, ele disse ter 100% de responsabilidade sobre o que é divulgado.

Perto do ponto sem retorno 

O uso de um canal do presidente para a divulgação de ataques de Olavo de Carvalho a militares –só no primeiro escalão há oito fardados– fez aliados moderados de Jair Bolsonaro no Congresso e no Planalto reconhecerem que as intervenções do guru chegaram a uma situação limite. Para eles, não há solução de curto prazo para a disputa entre olavistas e integrantes das Forças. Mas o tom é de apelo por pacificação e pragmatismo, sob risco de contaminação total da agenda do governo.

Ferro em seda

Os mais próximos de Bolsonaro evitam tomar lado na disputa, vista como especialmente delicada para o presidente por opor ministros muito leais, como os generais Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (GSI), e o filho Carlos Bolsonaro, que tem enviado recados a militares e afagos a Olavo desde a transição.

Incendiário 

Olavo de Carvalho divide o PSL. Os mais próximos ao escritor, se recolheram. Os críticos foram à forra. O líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO), o chamou de “Nero do Brasil”.

Faz parte do show 

A ala do governo ligada ao escritor diz que, além do receio de uma tutela excessiva dos militares, há preocupação com o que olavistas chamam de falta de traquejo político dos generais, que se esquivam de apontar “diferenças entre esquerda e direita”, tipo de discussão que agradaria à base de Bolsonaro.

Resposta

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, rebateu as críticas feitas à classe militar pelo escritor Olavo de Carvalho. Para o general da reserva, o ideólogo de direita não deveria comentar sobre assuntos que não conhece e se limitar à função de astrólogo. "Eu acho que ele deve se limitar à função que ele desempenha bem, que é de astrólogo. Ele pode continuar a prever as coisas, que ele é bom nisso", disse Mourão.

Réplica

O “guru” da família Bolsonaro não gostou do último comentário do vice-presidente e rebateu em sua página no Facebook. “O simples fato de interpretar como ‘críticas’ em vez de simples revisão histórica as coisas que tenho dito sobre o regime militar já mostra que o Mourão não alcança o patamar da verdade e falsidade, só o do amigo e inimigo. É um adolescente totalmente desqualificado para qualquer debate intelectual sério”, afirmou Olavo. “Apelar ao rótulo de ‘astrólogo’ é argumento digno do Bundadelli”, acrescentou o autoproclamado filósofo.

Modelo

“O Mourão deveria se limitar à única função que desempenha bem, de modelo”, provocou Olavo, afirmando que não tem nada a ver com o pedido de impeachment do vice, protocolado pelo deputado Marco Feliciano (Podemos-SP), vice-líder do governo.

Tudo, menos modelo

Bolsonaro e sua prole imaginaram que a companhia de Hamilton Mourão transformaria Jair Bolsonaro, por contraste, num estadista instantâneo. Deu-se o oposto. De tanto fabricar crises do nada, o capitão atribuiu ao mandato do general um conteúdo moderador, ampliando o tamanho da cadeira do vice. Mourão não hesita em assumir o papel de contraponto de Bolsonaro. A comparação do seu comportamento com a movimentação do titular fornece combustível para uma crise longeva. Os ministros fardados do governo observam a cena com apreensão.

Candidato ao trono

Jair Bolsonaro dança com Hamilton Mourão a coreografia da enganação. O capitão passou a enxergar no seu vice o comportamento de um candidato ao trono. Esforça-se cada vez menos para disfarçar sua convicção. O general atribui as balas perdidas que lhe chegam à insegurança do titular do mandato. Mas finge acreditar na tese segundo a qual o presidente não endossa os disparos feitos pelo filho Carlos Bolsonaro e pelo guru Olavo de Carvalho. A afirmação é do jornalista Josias de Souza.

Ídolo

Carlos Bolsonaro fez uma defesa enfática do guru da família. "Desprezar" as opiniões de Olavo, ele anotou, seria comportamento de quem estivesse "se lixando para os reais problemas do Brasil."

Departamento de mexericos

O governo tem mil inimigos, mas o pior deles é a intriga. Sob Jair Bolsonaro, o departamento do mexerico cresce como nenhum outro. É chefiado por Carlos Bolsonaro, que dá expediente em tempo integral nas redes sociais.

Guerra fria 

Carlos não está só. Outros familiares e pessoas próximas a Jair Bolsonaro defendem que o vice, Hamilton Mourão, seja mantido sob fogo alto. Alastrou-se na ala ideológica do bolsonarismo a tese de que o general se porta como opção a setores que desconfiam dos métodos e de parte da agenda do presidente. O vice não quer ampliar a tensão, mas aliados já demonstram incômodo. Amigos dizem que o que os Bolsonaro veem como conspiração é, na verdade, respeito pelo jogo democrático.

Ideia fixa

O grupo que defende o constrangimento como instrumento de controle dos passos de Mourão diz que o vice age de forma calculada quando faz reparos às falas de Bolsonaro ou de ministros ligados a Olavo de Carvalho. Para essa ala, ele tenta soar palatável ao eleitorado “caso haja alguma instabilidade”.

Espada e escudo

Presidentes e líderes de partidos assistem ao embate entre o filho e o vice de Bolsonaro à distância, mas assinalam que rusgas como essas aos quatro meses de governo são mau presságio. Mais: apostam que Carlos ecoa, na verdade, o que pensa o próprio pai e que age debaixo das asas dele.

Conduta de vice

Até aqui um apoiador menos ruidoso das críticas do irmão ao vice-presidente, Hamilton Mourão, Eduardo Bolsonaro explicitou as queixas em entrevista ao Estadão. “Poxa, o general Mourão chegou a curtir um post da (jornalista Rachel) Sheherazade em que ela mete o pau no Jair Bolsonaro. Isso daí não é conduta de vice”, afirmou. Para ele, o conselho de que as rusgas públicas atrapalham a discussão deveria ser dado também a Mourão, que faria críticas diárias a Jair Bolsonaro. Disse que a “função” de vice “não é dar opinião, ele já deu”. “Ele já apareceu neste tempo aí somado mais que José Alencar, Marco Maciel, Itamar Franco e o Temer, que eram vices. Então é o momento de todos nós fazermos uma reflexão.”

Pragmatismo x ideologia

Diante dos intermináveis capítulos da novela da disputa entre militares e olavetes por poder no governo Jair Bolsonaro, a BBC Brasil listou em reportagem os quatro principais assuntos que opuseram as duas alas desde o início da administração. Três deles dizem respeito à política externa: a relação entre Brasil e Estados Unidos, a transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, e a intervenção militar na Venezuela. O quarto foco de conflito foi a disputa por espaços no Ministério da Educação. A lista é didática por evidenciar que, em todos os casos, a posição dos militares se caracteriza pelo pragmatismo e a dos olavetes, pelo alto conteúdo ideológico, como forma de marcar a eterna guerra entre direita e esquerda, muitas vezes segundo conceitos importados pelos seguidores do “guru” da extrema-direita americana. Por Vera Magalhães

Rindo da nossa cara

O pastor evangélico e deputado federal bolsonarista, Otoni de Paula (PSC-RJ), cobrou no plenário da Câmara uma providência de Jair Bolsonaro sobre a “guerra aberta” entre seu filho Carlos Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão. “Estou vendo a esquerda rir da nossa cara. A esquerda comenta aqui dentro que nunca foi tão fácil ser oposição. O governo não tem base aqui dentro, porque não dialoga com ninguém. Meu maior medo é que o presidente Bolsonaro esteja preso ao mito que ele mesmo criou. Meu maior medo é que ele prefira ser mito ao invés de ser presidente”, destacou Otoni de Paula.

Sempre do lado do Carluxo

O porta-voz da Presidência da República, general Rêgo Barros, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro estará sempre ao lado do filho Carlos ao ser questionado sobre os ataques e ofensas do vereador contra o vice-presidente, Hamilton Mourão. Barros reproduziu, em declaração à imprensa, uma frase atribuída ao presidente sobre o rebento e uma série de elogios ao trabalho do filho. “É sangue do meu sangue”, teria dito Bolsonaro. “Carlos foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas, contra tudo e contra todos. O presidente enfatiza que estará sempre ao seu lado.” Ao falar sobre o vice-presidente, o porta-voz disse que ele terá o apreço de Bolsonaro. “É o subcomandante do governo, topou o desafio das eleições e terá a consideração e o apreço do presidente”, afirmou Barros.

Fábrica de memes

Carlos Bolsonaro postou nas redes sociais um vídeo no qual um "influenciador" digital achincalha Hamilton Mourão. Na peça, o vice-presidente da República foi comparado a uma "garotinha debutante", chamado de "general Conceição" e exposto numa fotomontagem em que aparece maquiado ao lado de Cauby Peixoto.

Irritado?

Dizer que Hamilton Mourão está irritado com Carlos Bolsonaro é pouco para traduzir a exasperação do vice com os ataques que recebe do filho do presidente. Nas palavras de um auxiliar do general, as "agressões" do Zero Dois já se tornaram uma "campanha". E só não viraram um "espetáculo sanguinário" porque Mourão "se segura para não entrar no Coliseu de Roma" em que se converteu o Twitter do Pitbull, como Jair Bolsonaro se refere ao filho.

Crocodilo

Carlos Bolsonaro não para. Na quinta (25) ele voltou a criticar Hamilton Mourão. “Esta cartinha está até bem elegante. O que se vê desde a época da transição é um ‘interesse’ ‘crocodilal’ em situações desnecessárias. Aos que pedem para eu parar, digo que se informar ou não é uma escolha e estamos todos no mesmo barco chamado Brasil, mas nos recuperando!”, escreveu Carlos no Twitter. A “cartinha” citada pelo filho do presidente é uma nota publicada no jornal Correio Braziliense, em 29 de novembro de 2018, em que o presidente do PRTB, Levy Fidélix, afirma que Mourão “pode intervir” onde achar que deve e, por ser vice-presidente eleito, “não precisa pedir licença” a ninguém.

Olavo volta à carga

Mesmo após ter sido repreendido pelo presidente, Olavo de Carvalho divulgou outro vídeo em que faz novas críticas à classe militar, sobretudo a "generais incultos e presunçosos". Na gravação, o ideólogo de direita afirmou que a sua análise sobre a atuação das Forças Armadas no regime militar (1964-1985) é uma "tese histórica absolutamente irrefutável" e ressaltou que nenhum egresso de academia militar tem mínima condição de contestá-la. "O que digo das Forças Armadas e da sua atuação no regime militar é uma tese histórica absolutamente irrefutável. Não podendo contestá-la, generais incultos e presunçosos tentam reduzi-la a uma conspiração jornalística contra suas augustas pessoas", disse. "Afirmo categoricamente: nenhum egresso de academia militar tem hoje a mais mínima condição de impugnar a minha análise ou sequer de apreender o alcance histórico do que estou dizendo. Esperneando histericamente contra a verdade histórica, só mostram o quanto é exíguo o seu horizonte de consciência e invencível a sua submissão aos critérios politiqueiros de julgamento", afirmou Olavo.

Medo

O escritor disse ainda que burocratas "fardados ou civis" não devem temê-lo, porque ele não pretende ocupar postos no governo e ter "o tipo de prestígio" deles. Ele ressaltou que jamais se rebaixou e não se rebaixará para disputar o que chamou de "supremo valor da existência" daqueles criticados por ele. "Moldada por vigaristas e analfabetos funcionais, ávidos de poder e de dinheiro, a opinião pública só entende todas as afirmações, especialmente as minhas, como tomadas de posição a favor deste ou daquele grupo. Mesmo as análises que faço de acontecimentos de mais de meio século atrás são reduzidas a fusquinhas e caras feias contra este ou aquele alto funcionário, como se eu estivesse disputando o seu cargo", afirmou.

Mourão pede para ‘virar a página’

Alvo de críticas do clã Bolsonaro e de seguidores do polemista Olavo de Carvalho, o general Hamilton Mourão, vice-presidente, respondeu que é preciso “virar a página” do conflito com o filho do presidente, Carlos Bolsonaro. “O que eu falei ontem? Quando um não quer, dois não brigam. Então esse assunto, vira página” disse ao chegar ao Palácio do Planalto após almoço, nesta quarta-feira, 24.

A bola é minha

Carlos Bolsonaro ficou tão bravo com a briga com Mourão que deixou o pai fora do Twitter, de castigo. É o pimpolho quem tem a senha de acesso do presidente ao Twitter dele, Bolsonaro.  É por isso que, Bolsonaro ficou três dias sem postar após a Páscoa. Carlos fez isso isso em retaliação ao pai por causa da discussão que os dois tiveram no domingo.  O clima na família Bolsonaro pesou. Ninguém conseguia contato com Carlos e o presidente chegou a cancelar um café da manhã que teria amanhã com jornalistas.  "Não tem clima", disse um interlocutor bem próximo a Jair Bolsonaro.  O presidente só voltou às redes sociais na noite de quarta-feira (24) para criticar a “perseguição infantil e sem sentido” que, segundo ele, “certos veículos de informação” promovem contra o 02. “Jamais vi uma perseguição tão infantil e sem sentido por parte de certos “veículos de informação” a uma pessoa constantemente mostrando este e outros exemplos banais. Ainda assim defendo a sagrada liberdade de imprensa e de expressão sempre acreditando no bom senso dos cidadãos (SIC)”, tuitou, ao compartilhar imagem de publicação do jornalista Guilherme Amado, da Época, de que o filho teria vetado acesso do pai às próprias redes sociais.

JUDEUS OU SIONISTAS?

A Confederação Israelita do Brasil vai processar o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) por causa de declarações dele sobre a relação da comunidade judaica com o presidente Jair Bolsonaro. Para a entidade, Ciro fez afirmação antissemita e generalizada ao comentar o assunto em entrevista ao site HuffPost Brasil. Na entrevista, o pedetista afirmou que Bolsonaro diz a grupos de interesse "o que eles querem ouvir". "Por exemplo, para os amigos dele aí, esses corruptos da comunidade judaica, que acham que, porque são da comunidade judaica, têm direito de ser corrupto. Corrupto, para mim, não interessa se é curdo ou cearense. Corrupto é corrupto, ladrão é ladrão. Ele disse para eles que ia transferir a embaixada do Brasil [para Jerusalém] a custo de grana para campanha. Depois chegou lá dizendo que não vai mais." A confederação, em resposta, afirmou que não vê o ex-presidenciável do PDT ligando outras minorias ou grupos à corrupção no Brasil e mencionou que ele já havia anteriormente relacionado o financiamento de campanha de Bolsonaro ao "sionismo radical".

BAIXARIA

Veja diálogos da sessão da CCJ que aprovou a Previdência…

“Cuidado, senhor presidente, que ele vai agredi-lo! Abaixe o dedo, Papai Smurf! Chame um médico! Chame um médico para o deputado Ivan Valente! (PSOL-SP)”, disse um deputado não identificado. “Puxa vida! Está na favela, é? É baixaria mesmo!”, completou Pastor Eurico (Patriota-PE)”.

Os diálogos acima, e outros como “chame um médico para a Maria do Rosário (PT-RS), que ela está abalada”, estão registrados nas notas taquigráficas da Câmara sobre a votação da reforma na CCJ, na terça (23).

Em outro trecho da sessão, o Delegado Éder Mauro (PSD-PA) discute com Gleisi Hoffamann (PT-PR). “Ter ouvido deputadas de esquerda, viúvas de Lula, dizerem que o Brasil está quebrado… Olha que satisfação ouvir de vocês que vocês quebraram o país, não só quebraram, mas roubaram este país. Você, Gleisi, é envolvida nas roubalheiras do país. Tu e teu marido roubaram este País”.

Gleisi rebateu. “Como eu fui citada aqui numa manifestação de ódio, quero só explicar para vocês, talvez eu tenha que desenhar, mas faz 3 anos que vocês tiraram a Dilma [Rousseff] e o PIB está estagnado. Sabe qual vai ser o pibinho de vocês? Ó, vai ser menos de 1% o pibinho de vocês, óó! (…) Então, podem fazer a manifestação que quiserem. Vocês têm que explicar para o povo por que a economia não cresceu depois que tiraram a Dilma. Foram vocês que prometeram.” Cacá Leão (PP – BA) interrompe: “Sr. presidente… Deveria ter adicional de insalubridade para ouvir esse tipo de pronunciamento aqui”. Houve risos.

‘Não subam à mesa’

Já prevendo confusões, o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), fez um pedido aos membros do colegiado logo na abertura dos trabalhos: que não repitam o ato de cercá-lo para tumultuar a sessão. “A CCJ é uma comissão respeitadíssima. Por favor, não subam à mesa.” Ao menos nessa sessão a campainha está funcionando.

APAGÃO

No Nexo, os pesquisadores Rogério Jerônimo Barbosa e José Szako explicam por que corremos o risco de ter um apagão estatístico no país, comentando o corte no orçamento (e provavelmente no questionário, nas entrevistas e nas contratações) do Censo. O anúncio do governo faz parte de um momento “em que resultados são substituídos por tuítes e pelo senso comum — e em que pesquisas correm o risco de serem dilaceradas ou não ocorrer”, escrevem.

A DITADURA, LOGO ALI

Agentes da Guarda Municipal de Ouro Preto, em Minas Gerais, destruíram uma homenagem à vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) no último dia 21. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram os guardas pisoteando um tapete de serragem em memória da ativista que estava exposto na rua como parte do tradicional encerramento da Semana Santa na cidade histórica. Moradores e turistas que presenciaram a ação questionaram os guardas e protestaram sob gritos de “Marielle Vive” e “Ei Bolsonaro, vai tomar…”. Em meio às críticas, a Guarda Civil rebateu, em nota, que “desenhos de cunho político” não têm relação com o intuito da confecção dos “tapetes devocionais”. “Informamos que a liberdade de expressão não é absoluta ainda mais quando outros direitos estão sendo afetados”, afirmou a corporação. “O recado já foi dado em 2018, em 2019 não foi diferente”, prosseguiu a nota.

NA PROVA

Um receio pouco usual entre os estudantes que se preparam para prestar a prova do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD): vai cair Olavo de Carvalho na prova já que o novo chanceler é fã do escritor? Segundo reportagem de O Globo, alunos que sonham em entrar no Instituto Rio Branco estão preocupados com possível conteúdo ideológico no teste. “Está todo mundo apreensivo. É normal que os governos promovam pequenos ajustes e inflexão. Agora, no governo Bolsonaro, a grande questão é que não existe uma diretriz bem definida sobre qual é a política externa do governo”, disse o cientista política e professor da FGV, Guilherme Casarões.

AFINAL, LULA VENCEU OU PERDEU NO STJ?

Como tudo que envolve Lula, a decisão de ontem da 5ª Turma do STJ ao agravo interposto em recurso especial contra a condenação no caso do triplex gerou comoção descabida nas redes sociais. Afinal, a redução da pena significou uma vitória para o ex-presidente? Na minha coluna de hoje, analiso vários aspectos que mostram que não. Análise de Ricardo Balthazar na Folha elenca mais um: embora a redução da pena dê a Lula a chance de deixar a prisão antes, a possibilidade de reverter o mérito da condenação vai ficando cada vez mais exígua. Quanto ao prazo para o petista saia da prisão, ainda há controvérsias. Embora ele complete um sexto da pena em setembro, o que poderia torná-lo habilitado a prisão domiciliar, há condicionantes. A Folha explica em reportagem.

Caso Atibaia pode complicar progressão da pena de Lula

Confirmada a redução da pena ao ex-presidente Lula para 8 anos e 10 meses de reclusão no processo do triplex do Guarujá, o petista deverá ainda cumprir mais 5 meses de pena. Como ele está preso desde 7 de abril, entre setembro e outubro de 2019, Lula terá cumprido 1/6 desta nova pena e poderá mudar para o regime semiaberto. Mas, em janeiro, ele foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão no caso do sítio de Atibaia. Caso o TRF-4 julgue a apelação e mantenha a pena de reclusão, a maior já imposta a Lula na Operação Lava Jato, ele poderia não deixar a prisão após a nova condenação em 2.ª instância. Na avaliação do advogado criminalista Davi Tangerino, se o entendimento do Supremo sobre prisão após condenação em segunda instância for mantido e Lula for condenado em 2.ª instância no processo do sítio de Atibaia, “a progressão fica inviável”. “Exceto se, neste meio tempo, o Supremo revisitar questão da 2.ª instância e diga, como é o voto proposto pelos ministros Gilmar (Mendes) e (Dias) Toffoli, para esperar pelo STJ.”

Gilmar: ‘STJ passou recado muito claro’

Na avaliação do ministro do STF, Gilmar Mendes, o STJ passou um recado muito claro às instâncias inferiores, durante o julgamento do caso do tríplex do Guarujá, que envolve o ex-presidente Lula. “(O STJ) Passa um recado muito claro para instâncias ordinárias dizendo: não vá ao sapateiro além do sapato, então moderem-se nos seus instintos condenatórios” afirmou. Diretamente de Lisboa, Gilmar também parabenizou o STJ pelo fato da corte não ter acompanhado a alegação da defesa de julgamento político. “Não é bom em um Estado Democrático de Direito ter julgamento político, julgamento sob pressão ou essas aplicações de penas superdimensionadas que passam a ideia de que está havendo uma prevenção, isso deixa de ser juiz natural”, considerou.

PARTIDO A JATO

Em Portugal, o ministro Gilmar Mendes descarregou sua artilharia contra membros da Operação Lava Jato e, em especial, contra o procurador Deltan Dallagnol, que foi alvo de abertura de um processo administrativo disciplinar pelo Plenário do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Para o ministro, o grupo de trabalho da Lava Jato se transformou em um partido político. “Mas por um vício – esses vícios comuns a nós – virou, na verdade, uma instituição, um partido político. Quase ganharam, vocês viram, uma fundação”, comentou nesta quarta-feira, 24, segundo o Estadão. Na avaliação de Gilmar, o fundo bilionário que seria criado a partir da multa de R$ 2,5 bilhões da Petrobrás em ações nos Estados Unidos seria usado para “brincar” e “fazer política”. “Era a brincadeira que Dallagnol teria para fazer política, talvez para fazer campanha e coisas do tipo”, insistiu. Ontem, durante discurso no VII Fórum Jurídico de Lisboa, Mendes disse que era preciso tomar cuidado com forças-tarefas que poderiam se transformar em milícias. Quando perguntado se estava se referindo à Lava Jato neste caso, disse que era a “coisas como o tipo”.

Processo

Por maioria, o plenário do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) votou pela abertura de um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta do procurador da República, Deltan Dallagnol, por críticas feitas ao STF em 2018. Antes do processo, o ministro Dias Toffoli havia pedido que o conselho abrisse uma reclamação disciplinar. O processo tem como base uma entrevista em que Dallagnol reclama da decisão da 2ª Turma do STF de enviar para a Justiça Federal e Eleitoral do DF depoimentos de delatores relacionados ao ex-presidente Lula. Ele afirmara que “o Supremo não está olhando para essa figura que está diante de nós. O Supremo está olhando para a figura que estava diante dele um ano atrás. Não afeta nossa competência, vai continuar aqui. Agora o que é triste ver é o fato de que o Supremo, mesmo já conhecendo o sistema e lembrar que a decisão foi 3 a 1. Os três mesmos de sempre do Supremo Tribunal Federal que tiram tudo de Curitiba e mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão sempre os habeas corpus, que estão sempre se tornando uma panelinha assim… que mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”.

Foi sem querer querendo…

Em resposta à abertura do processo administrativo disciplinar do Conselho Nacional do Ministério Público nesta terça, 23, o procurador da República Deltan Dallagnol afirmou pelo Twitter que não imputou “má-fé’ a ninguém ao dizer, em agosto de 2018, que integrantes da 2ª Turma do STF agiam como uma “panelinha” por “sempre” darem habeas corpus, passando a mensagem de “leniência a favor da corrupção”. Segundo ele, “foi crítica de autoridade pública, contra decisões de autoridades públicas”. Ele acrescenta que fez “ressalva expressa, na entrevista, no sentido de que não estava imputando má-fé a ninguém”.

ENQUANTO PT ESPERA POR LULA, MARINA E CIRO SE UNEM

Enquanto o PT espera eternamente por Lula, vai ganhando corpo aquilo que dissemos aqui ainda em outubro do ano passado: a união de uma oposição sem o PT, pilotada por Ciro Gomes e Marina Silva, que nesta terça fizeram um (interminável) debate sobre 100 dias do governo. Tem força para causar estrago no governo? Em votos no Congresso, não. E em termos de estrago de imagem, a oposição formal causa menos danos que alguns aliados e os próprios familiares de Jair Bolsonaro. Mas ao menos os dois mostram que não estão dispostos a se ausentar dos assuntos dos temas do País, como ocorre com o PT, que segue com o destino preso em Curitiba junto de Lula.

O DESGASTE DE ONYX

Quem é o culpado pelo atraso na tramitação da reforma da Previdência, que se eterniza na Comissão de Constituição e Justiça? Em sua coluna no Estadão nesta terça-feira, Eliane Cantanhêde deixa claro que o “culpado número 1” é o próprio presidente Jair Bolsonaro, mas que ele é poupado de críticas de aliados por uma certa reverência. Então, sobra para o “número 2”, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. “Com elegância e jeito, a turma do ministro Paulo Guedes já começa a se perguntar se Onyx não está “sobrecarregado” com tantas tarefas e tantas frentes no Executivo e no Congresso. Sem nenhuma elegância e jeito, o líder e delegado Waldir já também aponta o dedo e cobra resultados. Quanto a Rodrigo Maia? Bem… esse não tem muito a dizer de Onyx. Os dois já não se davam bem mesmo”, escreve ela.

IDEIAS ATRASADAS

Em entrevista à rádio CBN, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o presidente Jair Bolsonaro, a quem atribuiu " ideias muito atrasadas". Numa autocrítica sobre seu partido, FH disse ainda não ser favorável a uma "direitização" do PSDB. "Todo o mundo sabe que eu não votei no Bolsonaro, me opus ao Bolsonaro, acho que as ideias dele são muito atrasadas. O governo é muito diversificada, mas as ideias que eu vejo da família Bolsonaro (são atrasadas)", disse FH, que é contrário a qualquer possibilidade de o PSDB tomar um caminho político mais à direita: "Ele (Bolsonaro) tem uma visão que não coincide com a minha. O país tem muita gente pobre, tem que ter políticas sociais, ativas. Eu sou favorável ao mercado, sempre fui, mas você não pode fechar os olhos e achar que o mercado resolve tudo, porque não resolve. Não sou favorável à direitização do PSDB" disse Fernando Henrique, voltando a afirmar que não tem poder dentro do partido, apenas influência.

SINAL DOS TEMPOS

Segundo a coluna de Leandro Mazzini, no jornal O Dia, o teólogo Leonardo Boff teve uma palestra no Instituto Nacional do Câncer (Inca) cancelada por ter “posições de esquerda, não alinhadas ao governo Jair Bolsonaro”. O evento estava programado para o dia 30 de abril e era coordenado por Ana Cristina Pinho. Ontem, Boff recebeu um telefonema da direção do Inca lhe dizendo que a palestra estava adiada. À coluna, o Instituto afirmou que manterá o evento. No site, as inscrições foram suspensas.

NA LOTECA

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, admitiu ao jornal português Expresso seu desejo de ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Questionado sobre a possibilidade, respondeu que “seria como ganhar na loteria. Não é simples. O meu objetivo é apenas fazer o meu trabalho”. Segundo o ex-juiz da Lava Jato, o fato de ter deixado a magistratura para se acomodar no governo de Jair Bolsonaro “foi um peso”, já que ele não poderá voltar à carreira de juiz. “Havendo a oportunidade de convergência de agendas, neste caso específico, com o Presidente Jair Bolsonaro, resolvi aceitar o convite. E na verdade, deixar a magistratura é um peso. Não sei o que se passa em Portugal, mas no Brasil este é um caminho sem volta. Eu não poderei retornar à carreira da magistratura”, declarou em entrevista publicada nesta terça, 23.

Fazendo amigos

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, protagonizou um embate com o ex-primeiro ministro de Portugal José Sócrates, alvo da Operação Marquês, após criticá-lo durante o VII Fórum Jurídico, em Lisboa. Após a menção, Sócrates utilizou o site jurídico Migalhas para responder o ex-juíz que, em seguida, deu mais declarações em entrevista a uma TV portuguesa. “É famoso o exemplo envolvendo o antigo primeiro-ministro José Sócrates [na Operação Marquês], que, vendo à distância, percebe-se alguma dificuldade institucional para que esse processo caminhe num tempo razoável, assim como nós temos essa dificuldade institucional no Brasil", afirmou Moro no Fórum Jurídico. Sócrates não poupou palavras ao retrucar o ministro. “O que o Brasil está a viver é uma desonesta instrumentalização do seu sistema judicial ao serviço de um determinado e concreto interesse político. É o que acontece quando um ativista político atua disfarçado de juiz". Mencionou ainda várias situações da Operação Lava Jato, que foi comandada por Moro quando juiz em Curitiba, chegando a falar da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso na Superintendência da Polícia Federal desde 7 de abril do ano passado. Em entrevista à RecordTV Europa, Moro disse que não debate "com criminosos pela televisão" e que não faria mais comentários. "Em todo o lugar do mundo é difícil lidar com esses crimes de grande corrupção, envolvem pessoas poderosas. O sistema está preparado para [combater] outro tipo de criminalidade, mas todos os países precisam de avançar nessa área e enfrentar a grande corrupção”, completou.

TROCA DE COMANDO NA SAÚDE INDÍGENA

A fisioterapeuta e militar Sílvia Nobre Waiãpi, uma das poucas mulheres que fez parte da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro, vai assumir a Secretaria da Saúde Indígena (Sesai). O anúncio foi feito pela ministra da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, em um vídeo publicado em sua conta no Twitter nesta terça-feira, 23. Até o mês passado, a intenção do Ministério da Saúde era extinguir a Sesai. A ministra afirmou que Sílvia é “extremamente preparada” para assumir o cargo. No vídeo, Damares também mandou “um recado para aqueles que disseram que Bolsonaro ia perseguir índio no Brasil: o presidente da Funai é índio, a secretária nacional de Saúde indígena é índia, a ministra é mãe de índia”. Empolgada, a ministra encerra o vídeo parabenizando o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pela escolha.

ANALFABETISMO FUNCIONAL

O presidente Jair Bolsonaro solicitou à sua equipe de comunicação improvisar no pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na noite de quarta-feira (25), no qual agradeceu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pelo "comprometimento" na aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O presidente não gosta de fazer leitura no teleprompter, equipamento que exibe texto para ser lido diante das câmeras, e não lhe agrada o resultado quando não fala espontaneamente. Para ajudar o presidente, a equipe de televisão decidiu fazer uma alteração no teleprompter. O texto escrito todo em letras maiúsculas foi substituído por iniciais maiúsculas e as demais minúsculas para facilitar a compreensão das palavras.

Bolsonaro negou

 “O jornalismo de vocês está representando tudo que o Brasil não necessita atualmente! É lamentável, mas junto dos brasileiros colocaremos o Brasil em patamares muito melhores que deixados por governos anteriores e adorados por esta emissora! Boa noite!”, tuitou Bolsonaro, demonstrando irritação.

DISPUTA INTESTINA 

Funcionários relatam que o Ministério da Educação, comandado por Abraham Weintraub, proibiu o acesso de servidores externos ao restaurante que fica no bloco L da Esplanada. O público era composto na maioria por militares que ocupam os prédios vizinhos.

DAR SATISFAÇÃO

O ministro Mandetta pode ser convocado para dar explicações na Comissão da Saúde sobre a situação do Mais Médicos. A informação foi passada ao BR18 pelo líder do Podemos, José Nelto (GO). Ele disse que vai denunciar o “fracasso” de Mandetta na pasta: “Ele não conseguiu repor os médicos. Não está fazendo um bom trabalho”.

MOBILIZAÇÃO

Com a aprovação do relatório da reforma da Previdência pela CCJ, na noite de terça, 23, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) sugeriu uma “mobilização nas ruas” e um “apelo popular sobre cada deputado da situação”. Segundo o ex-presidenciável, “a única categoria que tem conseguido algum respeito do governo é a dos caminhoneiros” porque estão “lutando”. O pedetista elogiou também o trabalho da oposição: “apesar de nossas diferenças profundas, votou sem vacilar e unida”.

GILBERTO

O deputado Alexandre Frota (PSL-SP) perguntou ao ministro da Cidadania, Osmar Terra, se ele tomará alguma providência contra o ex-ministro e cantor Gilberto Gil, que, segundo ele, “tomou R$ 800 mil da lei (Rouanet) para um show bancado pela Nextel que não foi realizado”. Quem respondeu foi a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ): “O show foi realizado, há vídeo, há DVD. Eles gastaram R$ 784 mil e devolveram o que não usaram, R$ 16 mil. Faço questão de defender a lisura do grande artista Gilberto Gil”, disse ela, acompanhada de aplausos.

MAIS UM VEXAME

Jair Bolsonaro mandou cancelar a nova campanha publicitária do Banco do Brasil, e também demitir o diretor de marketing que a aprovou. O filme do BB, criado especialmente para celebrar a diversidade racial e sexual dos jovens brasileiros —um segmento cobiçadíssimo por qualquer instituição financeira – não mostra um “trisal”, um casal de três, como na propaganda recente de uma cadeia de lanchonetes, nem um par de lésbicas trocando um selinho ou dois homens vestindo rosa e embalando um bebê. Nada disso. A peça vetada mostra apenas gente “descolada”, esse termo que os publicitários adoram, mas inexiste na vida real. Tem até um senhor de barba branca. Nenhum deles está fazendo algo mais escandaloso do que dançar no meio da rua. Todos sozinhos, sem agarrar ninguém, nem dando pinta de suas orientações sexuais. 

MORALISMO BARATO

Na quinta-feira (25), o mandatário supremo da nação disse, durante um café da manhã com jornalistas, que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”. Ou seja, turismo sexual no Brasil pode, talkei? Contanto que seja sexo heterossexual.

SOB CONDIÇÕES

Uma carta assinada por 602 cientistas da União Europeia pede que o bloco condicione a importação de produtos brasileiros a três fatores: que sejam respeitados os direitos dos povos indígenas, que o rastreamento da origem dos produtos (no que diz respeito ao desmatamento e conflitos indígenas) seja aperfeiçoado e que tanto indígenas como comunidades locais definam os critérios para os produtos negociados. 

O texto diz que em 2017 a União Europeia comprou mais de três bilhões de euros em ferro do Brasil, “apesar dos perigosos padrões de segurança e do extenso desmatamento impulsionado pela mineração”, e que em 2011 a carne importada estava associada ao desmatamento de mais de mil quilômetros quadrados, ou “mais de 300 campos de futebol por dia”. A BBC lembra que a carta dá apenas recomendações, e acatá-las depende da Comissão Europeia. A reportagem conversou com alguns dos autores. “Criamos o texto acompanhando a evolução do novo governo brasileiro. Estávamos preocupados com as promessas de campanha, mas quando essas promessas passaram a ser concretizadas, com edição de decretos, decidimos que precisávamos fazer algo”, disse um deles. Já o Ministério do Meio Ambiente não respondeu.

FAZ SENTIDO

Em 2018, tristeza, raiva e medo foram as emoções que predominaram no mundo, segundo uma pesquisa da Gallup feita anualmente. Foram ouvidas 151 mil pessoas em 140 países.  

SEM FILOSOFIA

Enquanto os filhos – e ele próprio – são doutrinados pelo “filósofo” Olavo de Carvalho, Jair Bolsonaro (PSL) decretou pelo Twitter, o fim dos investimentos federais nas faculdades de Filosofia e Sociologia. Segundo ele, o ministro da Educação, Abraham Weintrab quer “descentralizar” investimento no ensino das duas áreas para “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”. Para Bolsonaro, os estudos de humanas não “respeitariam o dinheiro do contribuinte” e a educação deve servir para ensinar “leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa”.

Ah, tá...

Até dá para entender a estratégia. Ao desprezar as "humanas" Bolsonaro pode investir mais em veterinária para cuidar dos jumentos que ainda o apoiam.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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