19/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Furacão 2019

Publicado em 04/04/2019 12:00 - Rodrigo Amém

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O encontro do Guedes com Deputados na CCJ, na última quarta-feira, marcou oficialmente o fim da lua de mel entre congresso e governo. A relação, que muitos juraram que duraria mais tempo na fase do "só love, só love", terminou em tiro, porrada e bomba. Guedes chegou botando banca, mandando beijinho para a filhinha e pra vovó, mas encontrou a oposição com o esquema todo armado, esperando ele chegar, pra balançar o seu coreto.

Horas depois, ficou claro que a defesa da reforma da Previdência estava ficando atoladinha: Os Deputados jogando os braços para trás, balançando o pescoço no suíngue da batida de um debate muito louco.

Muitos culparam o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, por não ter pedido revisão da lista de inscrições e ter deixado o Ministro sozinho no meio da torcida adversária. Mas o Major é só mais um "Silva" que a estrela não brilha. O presidente da CCJ, Felipe Francischini também teve responsabilidade por não blindar melhor o Ministro do seu partido.

A verdade é que Guedes chegou no baile glamuroso, mas sem estar preparado, absoluto. Não levou uma estratégia estruturada para martelar o martelão e explicar a diferença entre Previdência e capitalização: uma anda bonita, a outra elegante?

Diante da falta de base do governo, de capacidade argumentativa do Ministro, a oposição não perdou: Passou cerol na mão e deu muita pressão. O Deputado Zeca Dirceu puxou uma inusitada referência ao funk dos anos 90 e, glamuroso, cruzou os braços no ombrinho e desceu o nível bem devagarinho, chamando o Guedes de Tchutchuca.

Aí foi que o barraco desabou e o decoro se perdeu. Começaram a rolar os proibidões no bate-boca entre os ilustres Deputados. "Um tapinha eu vou te dar", teria dito o mais exaltado defensor governista. O Ministro foi embora enraivecido. "Me leva…", teria dito ao seu motorista.

Acabado o baile, é hora de pensar sobre o arrastão que tomou a reunião no CCJ. Foi constrangedor e educativo como todo de revelação da verdade costuma ser. Ficamos atônitos com a falta de preparo do Ministro, da base governista, da oposição lacradora e datada. Guedes parecia ter entrado na sala por engano. Os supostos Deputados da base davam a impressão de ter aparecido para filar o "coffebreak". E a oposição se esforçava para tentar emplacar um outro vídeo viral, como o da Tabata Amaral esculachando o Vélez.

Mas o que aprendemos de mais surpreendente foi sobre a índole do nosso Ministro da Economia. Depois de seis horas de intenso pancadão e sem refresco da incompetente base aliada, depois de ouvir que era malvado, amigo de banqueiro, sem coração, corrupto e mal intencionado, o que tirou o cara do sério foi ser chamado de "mulher".

A Tchutchuca da música é uma garota que namora um sujeito chamado Tigrão, cujo outro hobbie é soltar pipa. Não há nada de desabonador na letra do funk sobre a personalidade de Tchutchuca. Gosta de dançar, parece bem resolvida e liberada sexualmente. É só o que se sabe dela. E, no entanto, esta foi a provocação que tirou um Ministro da República do sério.

Por que Guedes, ao ser chamado de Tchuchuca, perde a linha, como as popozudas? É porque ofende a autoridade do Ministro ser equiparado a uma mulher? Por ela ser sexualmente ativa e, na cabeça do tiozão de Chicago, isso implica em perversão ou promiscuidade? Ou é o fato da personagem em questão ser parte de uma cultura popular que ele considera inferior, a ponto de qualquer referência ser humilhante para alguém de sua honorabilíssima estirpe?

Seja qual for a resposta, a verdade é que Guedes não vai mais descer para o baile. Se e como a reforma da Previdência for aprovada passa agora a depender do Bonde do Rodrigo Maia. Ele e seus parças já estão ensaiando seus passinhos.

Enquanto isso, a chuva cai lá fora. O povo olha da janela e chora, implorando pra vida melhorar.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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