29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

O que vocês esperavam

Publicado em 27/03/2019 12:00 - Rodrigo Amém

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Claro que o Ministério da Educação está à deriva, na mão de incompetentes com uma agenda de bravatas moralistas. O ministro, indicado do youtuber astrólogo que acredita que cigarro não faz mal (declaradamente considerado o maior pensador do governo), Ricardo Veléz Rodríguez, tem a experiência de gerir duas ou três faculdades Tabajaras. No minuto que foi confrontado por alguém com um mínimo de conhecimento sobre pedagogia e educação (no caso, a jovem deputada Tabata Amaral), foi reconduzido ao ridículo de onde veio.

Não existe um plano de governo voltado para a educação. Nunca existiu. Não seria Veléz quem o produziria. O que há é um conjunto de iniciativas sucupirescas: cantar o hino, aprender a marchar, xeretar o Enem em busca de conteúdo "esquerdista". Esse sempre foi o projeto de educação deste governo.

É óbvio que o alegórico Ministro da Justiça Sérgio Moro apresentou um pacote anticrime que é "copia e cola", nas palavras do presidente da Câmara Rodrigo Maia, do pacote de autoria de Alexandre Moraes, do STF. Moro é conhecido nos meios jurídicos por ser vaidoso, ambicioso, mas não necessariamente um baluarte do conhecimento jurídico. É justamente por isso que ele foi convidado a fazer parte deste governo. E é justamente por isso que aceitou. Em qualquer outra conjuntura, os projetos de carreira de Moro esbarrariam nas suas próprias deficiências técnicas. Para chegar aonde quer, ele tinha que surfar essa onda anti-técnica, anti-intelectual e anti-científica. Moro precisava ser visto como o mais vistoso entre os modorrentos para desatolar da comarca de Curitiba. Esse sempre foi o projeto dele. E do governo.

É claro que Bolsonaro ordenou que se comemorasse a ditadura militar. O que mais esperavam que ele fizesse? Discutisse a reforma da Previdência? Pacotes de estímulo econômico? O sonho dele sempre for ser um presidente meio Miss, e deixar o Guedes fazer o trabalho sujo de… pensar e tocar o governo.

Bolsonaro topou a proposta de meia dúzia de empresários que precisavam de poder para pagar menos impostos e encargos trabalhistas. Esse é o plano de governo do cara. Ele fica ali falando suas bobagens, a galera das sombras faz o que tem que fazer. Bolsonaro só aparece no fim, com a caneta Bic, para oficializar o bote.

Apesar dos 30 anos de mamata, Jair não é um bom articulador, pensador, ou mesmo negociador. Em outras palavras, ele é um péssimo político. A última vez que Bolsonaro se dedicou a planejar uma ação, lhe custou 15 dias de cadeia num quartel. Curiosamente, foi esse o imbróglio que lhe deu visibilidade para ser eleito vereador. De lá para cá, Bolsonaro aprendeu só uma coisa: discurso polêmico aumentava sua exposição midiática e, como consequência, seu eleitorado.

Certamente acabou a lorota de combate à corrupção. Ou você acha que Sarney, ACM, Maluf e companhia ficaram ricos durante o governo do PT? Existe uma oligarquia que enriqueceu destruindo o país sob as benesses do governo militar. Esses, por suas conexões com a galera mui honesta do clube do coturno, permanecerão intocáveis. O problema é que eles não estão sós. Eles têm filhos, netos, afilhados. E estes estão todos na ativa, prontos para apoiar a reforma da Previdência.

É evidente que o eleitor do Bolsonaro não se arrependeu. Ele está recebendo exatamente o que pediu: desmantelamento da rede de bem-estar social e memes toscos. A questão sempre foi aplacar esse ressentimento anti-intelectual e anti-globalista.

Arrependimento? Nenhum! Eu olho em volta e tudo que eu vejo é uma máquina bem azeitada em velocidade de cruzeiro. A máquina é um carro-bomba? Sem dúvida. Mas era exatamente o que vocês esperavam.  

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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