23/04/2024 - Edição 540

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Trump não descarta intervenção militar na Venezuela e quer apoio do Brasil para destituir Maduro

Publicado em 20/03/2019 12:00 -

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela para destituir o presidente Nicolás Maduro. Ele disse considerar o Brasil um parceiro estratégico para o restabelecimento da democracia no país sul-americano e que nenhuma hipótese está descartada.

“Eu sei exatamente o que quero que aconteça na Venezuela. Nós temos opções diferentes sobre a Venezuela, vamos conversar sobre elas. Todas as opções estão sobre a mesa. É uma vergonha o que está acontecendo na Venezuela, toda a crise e fome, vamos falar sobre isso em profundidade”, disse Trump ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no Salão Oval da Casa Branca.

Os dois presidentes tiveram um encontro reservado por cerca de 20 minutos. Em seguida, falaram à imprensa. A situação política e econômica da Venezuela voltou a ser assunto na coletiva.

“Pedimos aos militares da Venezuela que parem de apoiar Maduro, que não é mais do que uma marionete de Cuba. O ocaso do socialismo chegou no nosso hemisfério ocidental e no nosso país também”, reiterou Trump.

Bolsonaro destacou o esforço do Brasil para destituir Maduro e a atuação do país no envio de alimentos e outros produtos de primeira necessidade aos venezuelanos por meio da fronteira com Roraima. Ele preferiu não detalhar em que pé estão as negociações com Trump, tampouco descartar um possível apoio a uma intervenção militar no país vizinho.

“Tem certas questões que se você divulgar deixam de ser estratégicas. Assim sendo, essas questões que se foram discutidas, se já não foram, não podem ser discutidas”, disse o presidente ao ser questionado se uma intervenção militar havia sido discutida entre os dois. “Se por ventura, vieram à mesa, certas medidas não podem ser tornadas públicas”, acrescentou o brasileiro. A cúpula das Forças Armadas no Brasil, inclusive o vice-presidente, general Hamilton Mourão, é contra uma intervenção militar na Venezuela.

Trump afirmou que pretende indicar o Brasil como aliado extra da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou até mesmo da própria Otan. "Discutimos a possibilidade de o Brasil entrar como um grande aliado extra Otan. Há pouco permitimos que alimentos fossem alocados em Boa Vista, capital de Roraima, por parte dos americanos para que a ajuda humanitária se fizesse presente na Venezuela. No momento estamos nesse ponto", disse Bolsonaro.

Forças Armadas entram em alerta

O tom adotado nos EUA pelo presidente Jair Bolsonaro acerca do apoio a uma eventual ação militar contra a Venezuela fez soar alarmes entre oficiais generais da ativa do Exército.

Eles temem que o presidente tenha se comprometido a ajudar os Estados Unidos na missão de derrubar Nicolás Maduro, e consideram que isso seria um ponto de ruptura no apoio da cúpula ao governo.

Em seus grupos de WhatsApp, militares trocaram impressões sobre as falas de Bolsonaro sobre Venezuela durante sua visita oficial a convite do colega Donald Trump. O presidente não descartou ações militares, falou que não poderia detalhar conversas, enfim, deixou a possibilidade no ar.

A versão de que o Brasil poderia ofertar auxílio logístico a alguma operação americana circulou nos celulares dos militares, tendo sido publicada como uma possibilidade pelo site G1. Segundo dois generais ouvidos pelo jo0rnal Folha de SP a hipótese é hoje inaceitável pela maioria da cúpula da defesa brasileira.

Eles conjecturaram que, nos momentos em que esteve sozinho com Trump, apenas acompanhado pelo filho e deputado federal Eduardo, Bolsonaro pode ter sido mais assertivo com o americano. Um dos oficiais, simpático ao presidente desde sua candidatura, comparou a hipótese com a promessa que Bolsonaro fez de abrir uma base americana no Brasil — descartada assim que levantou voo.

Outro oficial afirma que se tal ideia fosse adiante, seria inevitável a reavaliação do apoio generalizado que o presidente tem entre os altos estratos das Forças, o Exército de onde Bolsonaro é oriundo especificamente.

Ele ressalta que o presidente foi aos EUA acompanhado pelo seu mais próximo conselheiro militar, o general da reserva Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e pelo porta-voz Otávio do Rêgo Barros, um general da ativa em ascensão dentro do Exército.

Em outros momentos, os dois moderaram palavras de Bolsonaro, como no episódio em que ele disse que a democracia só existe porque os militares assim o querem. Mas o oficial também não descarta uma real mudança de posição em relação à Venezuela, ainda que seja para pressionar Maduro, o que pode ter repercussões imprevisíveis.

Mesmo entre militares americanos, ouvidos pela imprensa local, há sérias dúvidas sobre a exequibilidade de intervir na Venezuela sem causar uma tragédia humanitária ainda maior do que a existente. Opções de ações de forças especiais contra o ditador são ventiladas de tempos em tempos também.

Se a orientação brasileira mudar, terá sido uma vitória do grupo que se diz discípulo do escritor Olavo de Carvalho no governo e no entorno de Bolsonaro, no caso das relações exteriores o chanceler Ernesto Araújo, Eduardo e o assessor internacional do Planalto Filipe Martins.

A ala já se antagonizou publicamente com o vice-presidente, o general Hamilton Mourão, que foi adido militar na Venezuela e é um dos mais vocais membros do governo contrários a qualquer saída que não seja diplomática para a crise de representatividade no país vizinho. Heleno também já se manifestou contra intervenção.

O Brasil elevou sua pressão sobre Maduro desde o começo do ano, reconhecendo Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional, como o chefe de Estado interino do país, assim como fizeram os Estados Unidos.

Apologia da Guerra

O governo venezuelano acusou Trump e Bolsonaro de fazerem "apologia da guerra". Segundo Caracas, a fala dos dois presidentes são perigosas e ameaçam a paz e a segurança internacional.  

"É grotesco ver dois chefes de Estado com grandes responsabilidades internacionais fazendo apologia da guerra sem qualquer cerimônia, em flagrante violação da Carta das Nações Unidas", disse o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em nota.

"Nenhuma aliança neofascista vai conseguir derrubar a vontade independente e soberana do povo venezuelano e nem terá sucesso ao semear estratégias de ódio e belicistas entre os países do continente", diz o texto. 


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