18/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Aprenda a controlar o tempo que você fica no celular

Publicado em 29/01/2019 12:00 -

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Era para ser apenas uma conferida no relógio, para saber as horas. De repente, você nota que está rolando telas no celular há horas. Aconteceu comigo e provavelmente já aconteceu com você. O celular se tornou algo tão onipresente que esquecemos que um dia, não faz muito tempo, fomos capazes de viver sem ele. Considerado o primeiro smartphone de fato, o iPhone foi lançado há meros 12 anos, em um não muito longínquo 2007. De lá para cá, os celulares se transformaram em tijolinhos multifunção, capazes de receber mensagens, fornecer mapas e nos distrair com facilidade.

Na mesma velocidade em que cresce a adoção do smartphone — tipo escolhido por metade dos 5 bilhões de proprietários de celular do mundo — aumenta também o tempo que reservamos a esses aparelhinhos, especialmente entre os brasileiros. Pesquisas relatam que em 2012 os usuários no país dedicavam em média duas horas por dia às telinhas. Apenas quatro anos depois, o tempo investido nos celulares já era mais que o dobro, somando quase cinco horas diárias, bem mais que as três horas por dia dos chineses, as duas e meia dos norte-americanos ou as pouco mais de duas dos britânicos e sul-coreanos.

O que fazemos durante esse “meio expediente” digital? Em geral, segundo dados da empresa de consultoria Kantar, trocamos mensagens, navegamos pela web, tiramos fotos e rolamos por feeds de redes sociais.

No entanto, não é só a vontade ou necessidade de nos conectarmos uns aos outros que nos leva a dar tanta atenção aos celulares. Segundo Tristan Harris, ex-filósofo de produtos do Google e cocriador do Center for Humane Technology (centro por uma tecnologia humana), os aplicativos são criados de forma a capturar nossos olhares, conquistar a nossa atenção e nos manter conectados pelo maior tempo possível. Especialista em como a tecnologia ataca as nossas vulnerabilidades psicológicas, Harris tinha (e ainda tem) tantas críticas à falta de ética no design de produtos digitais que decidiu criar a Time Well Spent (Tempo Bem Investido, em tradução livre), iniciativa para ajudar as pessoas a equilibrarem o uso de tecnologia, especialmente de smartphones.

Para ele, a manipulação e persuasão dos usuários não só tira deles a autonomia de colocar a atenção no que realmente querem ou de se dedicar à vida que gostariam de viver como também interfere na forma como eles conversam, na democracia e na sua habilidade de ter relacionamentos satisfatórios.

Essas interferências podem se materializar de diferentes maneiras. Dora Sampaio Góes, psicóloga especialista em dependências tecnológicas, ressalta que a qualidade do sono é um impacto muito frequente. Uma das razões para que isso aconteça é a exposição à luz azul das telas eletrônicas, que afeta a produção de melatonina, hormônio responsável pela regulação do sono. “A agitação mental que os usuários têm ao interagir com o celular antes de dormir também colabora para os quadros de insônia”, complementa.

Góes está acostumada a ver situações extremas nos atendimentos que faz no Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde ela ampara viciados em tecnologia. “As experiências de prazer ou alívio com o uso de celular são tão intensas que funcionam como uma espécie de Prozac virtual”, compara ela, lembrando que há casos em que se faz necessário acompanhamento psicológico e, eventualmente, psiquiátrico.

Diante de tantas críticas e efeitos colaterais dos seus produtos, as corporações se viram pressionadas e passaram a anunciar novas campanhas e funcionalidades que auxiliam no controle do uso de tela. Criador do Facebook, Mark Zuckerberg pegou emprestado o título da iniciativa de Harris para defender um uso mais saudável das redes sociais da empresa. No Brasil, a operadora de telefonia Vivo tem convidado seus clientes a ponderar sobre o tempo dedicado aos celulares com o posicionamento “Tem Hora pra Tudo”, enquanto a websérie Reconectados, produzida pela Samsung, provoca a audiência a respeito de alguns maus hábitos desenvolvidos com o uso do celular. Mas será que isso vai ser suficiente para nos ajudar a repensar nossa relação com a tecnologia?


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