29/03/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Suicídio de enfermeira no MS acende alerta à sobrecarga de trabalho

Publicado em 15/01/2019 12:00 -

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Presentes em hospitais, postos de saúde e clínicas, os profissionais da área de enfermagem são os responsáveis pelo contato direto e permanente com os pacientes. Porém, a carga e as condições precárias de trabalho no Brasil chamaram atenção no último dia 2 de janeiro, em razão da morte da enfermeira Janaína Silva e Souza, de 39 anos, em Campo Grande. Natural de Jataí, Goiás, a enfermeira foi encontrada morta e a suspeita é de que ela tenha se suicidado.

De acordo com o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Mato Grosso do Sul (Coren-MS), Sebastião Duarte, o ocorrido com Janaína não é um caso isolado. “A profissão lida com pacientes em situação de dor e sofrimento, de morte, e isso abala também o emocional do profissional. Motivo pelo qual a gente tem pedido carga horária mais justa”.

A diminuição da carga horária para 30 horas semanais é uma reivindicação antiga. O Projeto de Lei 2295/2000 está no Congresso desde 1999. Além disso, profissionais de enfermagem também lutam para estabelecer um piso salarial para a categoria.

Sobrecarga de trabalho

De acordo com Rosa Godoy, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), os profissionais de enfermagem ficam ao lado dos pacientes a maior parte do tempo, atentos às necessidades deles. No entanto, Rosa lamenta que a profissão não é valorizada, principalmente quando comparada à Medicina.

Godoy comenta também que, por conta da natureza de cuidado da profissão, os enfermeiros recebem uma grande e exaustiva carga de trabalho e uma remuneração incompatível com o esforço.

“Os profissionais em geral sabem a hora que entram, mas não sabem a hora que saem. Se o plantão tiver apertado e o colega seguinte atrasou, ou não veio por outra questão, não é incomum dobrar o plantão. Por conta também dos baixos salários, muitas vezes, para sobreviver, o profissional tem que ter dois ou três empregos”.

Embora o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) tenha a tarefa de estabelecer a quantidade mínima de profissionais por ambiente para equilibrar a carga de trabalho, o vice-presidente do Coren-SP, Claudio Silveira, afirma que as recomendações não são cumpridas pelas empresas e instituições.

“Ele [enfermeiro] se sente pressionado porque tem uma demanda a ser atendida, e pelo número insuficiente de profissionais ele não consegue, tem que correr mais, isso demanda mais esforço físico. Há um estresse psicológico muito grande pelas cobranças, e isso acaba atingindo o profissional de maneira muito contundente”.

Ele aponta também a pressão psicológica sofrida pelos profissionais para evitarem erros no atendimento, que podem ser fatais.

Mulheres que cuidam

Um dos reflexos dessas exigências é a grande quantidade de absenteísmo na área, que é quando o funcionário tira licença por motivos de saúde. O absenteísmo acima do recomendável, segundo ele, aumenta a sobrecarga de quem está no expediente, gerando um ciclo de adoecimento que, em muitos casos, leva à depressão e ao suicídio, como provavelmente o caso da enfermeira Janaína.

Outro fator a ser considerado quando se fala em sobrecarga de trabalho na enfermagem é o recorte social da profissão, composta em sua maioria pelo sexo feminino, explica Rosa.

“Em geral são mulheres, que também tem na sua carga de trabalho toda a responsabilidade pelo cuidado da família, pelos filhos, pessoas da família. Muitas vezes essas mulheres são chefes de família, então elas têm uma sobrecarga ainda maior do que se fosse considerar uma família com divisão igualitária das responsabilidades da casa”.

Teto de gastos

A falta de condições de trabalho e o congelamento dos investimentos na área de saúde por 20 anos, com a promulgação da Emenda Constitucional 95, em 2016, são outros fatores que contribuem para o problema do adoecimento, ressalta Sebastião Duarte. A rotina de estresse se agrava quando o profissional de enfermagem se depara com a falta de material e equipamentos no serviço de saúde.


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