19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O complexo de vira-lata ganha força com Bolsonaro

Publicado em 28/11/2018 12:00 - Victor Barone

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O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, se encontraram na quinta-feira (29). Pelo twitter, o presidente eleito classificou a reunião, um café da manhã em sua residência no Rio, como “muito producente”. Bolton, por sua vez, disse que o bate papo foi “muito produtivo”.


Ao receber o assessor do presidente Donald Trump, Bolsonaro resolveu dar uma de vira-lata – novamente: bateu continência pro gringo. Ele estava acompanhado de seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, do futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e do próximo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva.

Não foi a primeira vez que Bolsonaro deixa claro seu sentimento de submissão aos EUA. Em outubro de 2017, ele prestou continência para uma enorme bandeira dos EUA projetada no telão de um restaurante brasileiro em Deerfield Beach, no estado americano da Flórida. “A minha continência à bandeira americana”, disse Bolsonaro, virando-se na direção da bandeira dos EUA, antes de puxar o coro de seus seguidores, com o punho cerrado e erguido no ar: “USA! USA!”

Relação civil

A saudação, conhecida como prestar continência, é própria do meio militar. Bolsonaro é capitão reformado do Exército Brasileiro. Bolton, por sua vez, foi membro da Guarda Nacional em Maryland de 1970 a 1974. Em seguida, o americano foi membro da reserva do Exército, de 1974 a 1976. A relação entre eles, no entanto, é civil. Bolsonaro recebeu Bolton na condição de futuro chefe de Estado – ele assume em 1º de janeiro de 2019. Bolton, por sua vez, foi enviado pelo presidente americano, Donald Trump, para participar da cúpula do G20, em Buenos Aires, e fez escala no Rio para parabenizar Bolsonaro pessoalmente pela vitória nas eleições de 28 de outubro de 2018.

Continência militar

Como funciona a continência no meio militar O gesto de prestar continência é regulado no Brasil pelo Decreto nº 2.243, de 3 de junho de 1997. O documento cita a palavra continência 12 vezes, aplicada a situações específicas, como cerimônias comemorativas ou fúnebres das Forças Armadas. Não há referência a militares da reserva e reformados. Na ativa, o gesto parte de um militar subordinado para um militar de patente superior, que, por sua vez, pode corresponder com o mesmo gesto ou não. Já em relação a símbolos nacionais, como o hino ou a bandeira, todos os militares são obrigados a prestar continência. Como funciona a continência no meio civil

Continência civil?

O gesto não existe regularmente entre civis. Logo, não há disposição legal sobre ele. O que acontece no caso de Bolsonaro se encaixa no que o Centro de Comunicação Social do Exército classificou como “uso informal”. O órgão diz que é comum que militares da reserva e reformados façam a saudação “como um bom dia ou boa tarde, como um sinal de cordialidade e respeito”.

Qual o debate da continência no caso concreto

A questão, no caso de Bolsonaro, é se há ou não no gesto um sinal de submissão do presidente eleito do Brasil em relação ao enviado americano. O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), opositor de Bolsonaro, por exemplo, classificou o episódio como um “capachismo” e “genuflexão vergonhosa”. A crítica é que, por analogia com a prática militar, Bolsonaro estaria no papel de subordinado de Bolton por ter tomado a iniciativa de fazer o gesto e por não ter sido correspondido em seguida.

De boné

Na mesma semana em que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (leia as notas acima) resolver bater continência a um assessor de Donald Trump, um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, vestiu um boné com a inscrição “Trump 2020” ao cumprir agenda oficial em Washington. A inscrição mostra apoio a uma possível candidatura à reeleição de Trump no futuro, que não é sequer mencionada pelo republicano nos EUA.

KO nos states

Eduardo Bolsonaro – o do bonezinho (leia acima) – afirmou ter se reunido com assessores do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, e que estuda parcerias com os EUA para pesquisar crimes financeiros das "ditaduras venezuelana e cubana". Aí você procura, remexe e não descobre no texto quem são esses "assessores da Casa Branca". E menos ainda de quem são assessores. De Melanie? De Ivanka? De Trump? Ou são apenas assessores do assessor de Segurança Nacional de Trump, John Bolton (um cara à direita de Hitler)? Aí, você entra no site da Casa Branca, procura os nomes dos assessores de Bolton. Acha e, faute d´autre chose, telefona para o gabinete de cada um para saber se um tal Mister Bolsonaro esteve por lá. Mister who? Do outro lado da linha, secretários ou secretárias pensam que é trote. Você pede desculpas. Ah, sim, no final da matéria de segunda-feira, o deputado filho do homem faz declarações depois de uma reunião "no Departamento do Tesouro". Alô Sérgio Moro! Alô Carlos Guedes! Segurem o homem que ele está solto.

1) Eduardo Bolsonaro esteve em Washington, sim.

2) Eduardo Bolsonaro esteve no aniversário de Steve Bannon, ex-estrategista da campanha de Donald Trump, assessor informal da campanha do pai de Eduardo. Atualmente desempregado, conspirando contra as poucas democracias do planeta e investigado pelo FB por suas tramas com Moscou na campanha de 2016, que elegeu Trump.

3) Eduardo Bolsonaro teve encontros com dois senadores, Ted Cruz, de origem cubana, que acaba de ser eleito para o Texas e tem muito mais o quê fazer pela frente do que cuidar do Brasil e Marco Rubio, filho de cubanos, eleito pela Flórida (ou por Miami, para ser mais exato). Os dois não fazem parte do círculo de Trump e foram derrotados na convenção do Partido Republicano que escolheu Donald, o #playboydeperuca.

Nenhuma referência às conversas na Casa Branca.

Esse filho ainda vai perturbar muito. Merece ficar de castigo com a cara virada para a parede.

General mortal

A agência britânica Reuters produziu reportagem especial sobre a atuação do general e futuro ministro Augusto Heleno na invasão de uma favela no Haiti, em 2005. Levantou despachos diplomáticos dos EUA pouco antes da operação, dizendo que seu comando da missão da ONU “fracassou em estabelecer segurança e estabilidade”, e logo depois, questionando seu relatório: “22 mil tiros é muita munição para ter matado só seis pessoas”. O despacho diplomático fala em até 70 mortos.

O velho inimigo

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse ter determinado que seja feita uma análise sobre a Intentona Comunista, de 1935. O objetivo, segundo ele, é evitar derramamento de “sangue verde e amarelo”. Intentona Comunista foi a tentativa de derrubar Getúlio Vargas da presidência da República em novembro de 1935.


O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já se manifestou sobre a Intentona Comunista, em discurso na Câmara em 1995. Na ocasião, ele disse que os comunistas foram derrotados em 1935 e, depois, em 1960, década que se iniciou o regime militar. Bolsonaro ainda sugeriu que o movimento persistia por meio dos trabalhadores sem-terra. “Incansáveis, os agentes do satanismo marxista-leninista, mesmo privados de um de seus eixos de poder geopolítico, Moscou, continuam assanhadíssimos. Prova concreta disso são essas tropas, bem treinadas, municiadas, apetrechadas e muito mal disfarçadas, no movimento dos sem-terra”, disse na época.

Sem assombração

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), anunciou o General-de-Divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz, 66 anos, para Secretaria de Governo, que tem status de ministério.


Mesmo vindo de fora do universo político, o futuro ministro da Secretaria de Governo não acredita que a interlocução com o Congresso Nacional seja, nas palavras dele, uma assombração. Disse que assumirá o cargo sem preconceitos, recebendo parlamentares de qualquer legenda, independentemente da posição no espectro político. "Eu vou conversar com todo mundo. Todo mundo foi eleito, tem valor e é igual. Dar atenção é uma obrigação", disse. 

Saudades da caserna

Com a indicação do general de divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz para o cargo de ministro da Secretaria de Governo (leia a nota acima), chegam a cinco os militares em cargos de primeiro escalão na gestão de Jair Bolsonaro —ele próprio capitão reformado do Exército. 

Mais milico

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, não descartou a possibilidade de indicar mais militares para o cargo do primeiro escalão de seu governo. "É possível. Quando o PT escalava terrorista, ninguém falava nada", respondeu ao ser questionado sobre a possibilidade.

Patrocinado

Quatro cotas de patrocínio de R$ 20 mil cada uma foram colocadas à venda para interessados em divulgar sua marca em um almoço com o ex-juiz Sergio Moro. O evento foi organizado pela Harvard Law School Association do Brasil e celebrou os 200 anos do curso de direito da universidade. A entidade não divulgou quantas cotas foram vendidas.  O email oferecendo as cotas dizia que a associação de Harvard enviaria mensagem “para todos os ex-alunos com a logomarca da empresa patrocinadora, email este que o excelentíssimo presidente dos EUA Barack Obama também recebe”. Segundo a associação, nenhum convidado recebe cachê e o dinheiro obtido com patrocínio é usado para custear o almoço, que ocorreu no último dia 23, no antigo prédio da Bolsa do Rio.

Esquerda volver

A articulação para formar uma frente de esquerda sem o PT avançou na Câmara e também no Senado. Entre os deputados, as conversas entre PDT e PSB estão nos ajustes finais, e o PC do B, que ainda era dúvida, caminha para fechar com eles. No Senado, as tratativas se desenrolam entre PDT, PSB, PPS e Rede. Líderes desses partidos marcaram uma reunião dia 5 de dezembro, no apartamento de Katia Abreu (PDT-TO). Na ocasião, pretendem discutir os termos de um manifesto. Os idealizadores da frente dizem que não se trata de um movimento para a simples exclusão do PT, mas de criar um grupo que possa atuar de maneira independente do governo, sem que isso seja vinculado aos partidários de Lula, vistos como pontas de lança de uma oposição sistemática e acrítica.

Penetra

De fora das conversas para a formação de um bloco de esquerda na Câmara com PSB, PDT e PC do B (leia a nota acima), a direção do PT chamou dirigentes dos três partidos para um jantar na noite do dia 27. Os petistas pretendem frear o movimento que pode isolá-los. A direção do PC do B programou um encontro no fim de semana para discutir a formação do bloco com o PSB e o PDT. Há maioria para fechar acordo.

Maia pra lá

Jair Bolsonaro conseguiu o que parecia impossível: transformou Rodrigo Maia num deputado com viés de oposição. Três lances do futuro presidente da República deram conteúdo oposicionista ao projeto de Maia de se reeleger presidente da Câmara em fevereiro:

1) Num lance, Bolsonaro declarou publicamente que há outros bons candidatos à presidência da Câmara. Com isso, empurrou Rodrigo Maia para um voo solo.

2) Noutro lance, Bolsonaro alijou os partidos da composição do seu ministério. Em movimentos simultâneos, as legendas do centrão e os partidos adjacentes tomaram ojeriza por “outros candidatos”, renovando seus acertos políticos com Rodrigo Maia.

3) Num terceiro lance, o capitão ouviu em silêncio o filho Eduardo Bolsonaro, o “Zero Três”, declarar que o próximo presidente da Câmara precisa ter “um perfil-trator”, para patrolar a esquerda no plenário. Súbito, começaram a cair no colo de Rodrigo Maia votos do PCdoB, do PSB e até do PT.

Expurgo

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) insinuou que as empresas estatais sofrerão um expurgo após a posse do seu pai, Jair Bolsonaro, na Presidência da República. Numa mensagem curta veiculada no Twitter, ele sinalizou que serão enviados ao olho da rua funcionários que torceram o nariz para a candidatura presidencial de Bolsonaro. O ‘Zero Três’, como Eduardo é chamado pelo pai na intimidade, fez o comentário a propósito de reportagem veiculada pelo UOL. A notícia trouxe à luz dados enviados pelo Ministério do Planejamento à equipe de transição. Informou-se, por exemplo, que oito estatais acumularam desde 2013 prejuízos de R$ 38,7 bilhões.


Tá…

Segundo o Ministério da Saúde, quase 100% das vagas do novo edital do Mais Médicos haviam sido preenchidas. As inscrições seguem até 7 de dezembro. Resta saber se os profissionais brasileiros vão para os postos e, chegando lá, permanecerão neles atendendo a população com a mesma empatia dos cubanos. “A taxa de desistência de profissionais brasileiros tradicionalmente sempre foi muito alta. Muitos se inscrevem no programa, mas desistem antes de ocupar postos de trabalho ou depois de um tempo de atuação”, contou ao Estadão o presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, Mauro Junqueira.

Bate Cabeça

Em entrevista concedida ao Globo, o futuro ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu que o novo governo encaminhe ao Congresso proposta para um marco que regule a atuação dos médicos brasileiros. “Temos hoje um dos modelos de fiscalização do exercício profissional mais frágeis do mundo”, disse, comparando com Europa, Estados Unidos e Canadá. “No mundo inteiro, depois do término da escola, o médico volta em cinco anos para uma recertificação. No Brasil não existe nada”, observou. No mesmo dia Bolsonaro rejeitou a ideia: “Sou contra Revalida para médicos brasileiros, está ok? Ele [Mandetta] está sugerindo um Revalida até com uma certa periodicidade. Sou contra porque vai desaguar na mesma situação que acontece com a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Nós não podemos formar jovens no Brasil, cinco anos no caso da advocacia, e depois submetê-los a serem boys de luxo nos escritórios de advocacia”, disse a jornalistas na saída de evento da Escola de Educação Física do Exército, no Rio.

Batendo no SUS

O futuro ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta defendeu outras coisas na entrevista concedida ao Globo (leia a nota acima). Por exemplo, reinterpretou a Carta Magna para concluir que o SUS não deve ser universal: “Em 1988, escrevemos na Constituição: saúde é um direito de todos e dever do Estado. O Estado precisa decidir qual é seu papel. Não acredito que seja pôr médico em Ipanema, Leblon, no Eixo Monumental de Brasília, no centro de Salvador, mas nas áreas de exclusão social absoluta, onde há grandes vazios de assistência”.

Checagem

A Lupa, agência de checagem da revista Piauífoi atrás dos números citados pelo futuro ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, em entrevistas. Por exemplo: ele disse que até 2013, o país tinha 148 faculdade de Medicina, e saltou para 323 em 2016. Mas de acordo com os dados do Inep, os números corretos são respectivamente 190 e 234 (143 faculdades privadas e 91 públicas). Em relação à declaração que destacamos na newsletter de segunda, quando Mandetta afirma que os hospitais filantrópicos fazem mais com menos recursos do que os hospitais públicos, não houve checagem. O mais perto do tema é a verificação de frase dita em outra entrevista de que ao invés de responderem por 60% dos atendimentos feitos no SUS, as instituições filantrópicas responder por 53%, segundo o fórum que as representa.

Bolsonaro e o SUS

Enio Lourenço, na Carta Capital: “Três décadas depois da sua criação, o Sistema Único de Saúde entra na fase mais crucial da sua história. […] O embate com Cuba no caso do programa Mais Médicos e a escolha do deputado Luiz Henrique Mandetta para o Ministério da Saúde indicam, porém, um propósito de desmonte do SUS a partir de janeiro de 2019 […] A indicação do deputado para o segundo ministério com maior orçamento em 2019, 128 bilhões de reais, contou com o apoio da Frente Parlamentar da Saúde, de entidades da área médica e dos hospitais filantrópicos, como as Santas Casas”.

Operação adiada

Os médicos que cuidam da saúde de Bolsonaro decidiram adiar a realização da cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia, usada pelo presidente eleito desde que foi esfaqueado em Juiz de Fora. Exames realizados na sexta no Albert Einstein apontaram inflamação no local. A nova data é 20 de janeiro, bem depois da posse.

Chineses agressivos

Um navio atuneiro brasileiro, com cerca de 22 metros de comprimento e 10 tripulantes a bordo, foi atacado por um navio chinês que tem mais que o dobro do tamanho. Segundo o Sindicato da Indústria de Pesca do Rio Grande do Norte, o ataque aconteceu no final da manhã do último dia 22, a 420 milhas da costa brasileira (676 quilômetros), já em águas internacionais. Não há feridos. “Está acontecendo uma guerra no mar, uma guerra pelo atum”, disse Gabriel Calzavara, presidente do Sindpesca. Everton Padilha, dono do barco, disse que o Oceano Pesca I só não naufragou graças a uma proteção de poliuretano que serve como acondicionante térmico para manter os peixes frescos.

O brasileiro é um babaca

Um vídeo no YouTube em que André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho (suplente de Flávio Bolsonaro no Senado), disse ter mandado áudios no WhatsApp imitando Jair Bolsonaro, durante a campanha eleitoral, tem sido compartilhado e comentado por blogs e perfis que dizem que ele enganou eleitores. No vídeo, que faz parte da série de entrevistas Teste do Sofá, do canal do MBL (Movimento Brasil Livre), André Marinho conta a Kim Kataguiri (DEM-SP) e a Arthur do Val, o Mamãe Falei (DEM-SP), que, durante a campanha eleitoral, impressionou Flávio Bolsonaro e a equipe do PSL com sua capacidade de reproduzir o timbre e as idiossincrasias verbais do agora presidente eleito. Durante o período eleitoral, amigos passaram a lhe pedir que gravasse áudios, que foram enviados por WhatsApp para conhecidos.

Bate boca

Ivan Valente critica projeto Escola Sem Partido em comissão especial da Câmara. Em resposta, Marco Feliciano diz que o parlamentar está com "diarreia verbal" e ouve Glauber Rocha chamá-lo de "moleque" pelas declarações contra Valente.

Professores ameaçados

O deputado federal eleito Daniel Silveira (PSL) se meteu em mais uma polêmica. Depois de participar da destruição de uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL) ao lado do também deputado eleito pelo PSL Rodrigo Amorim, Silveira (na foto acima, de camisa amarela) gravou um vídeo em que ataca a diretora do Colégio Estadual Dom Pedro II, Andrea Nunes Constâncio. A escola fica em Petrópolis, na Região Serrana.

Em nome de Jesus

"Deus estará à frente em tudo o que ele fizer". A expectativa do vigilante Neuceliu de Jesus sobre a atuação do futuro ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) é compartilhada por outros fiéis da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília. Escolhido para o cargo pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, o pastor e advogado André Luiz Mendonça participou no último dia 25 de seu primeiro culto dominical desde que foi anunciado. "Com certeza [Deus orientará a função], dando sabedoria, paciência, entendimento e força nos momentos de tomada de decisões. E usando o conhecimento que ele nos deu", afirmou.

Indulto

Lembrando que um de seus principais compromissos de campanha foi "pegar pesado" contra a violência e criminalidade, Jair Bolsonaro mandou recado via twitter: "Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último." O aviso antecedeu a sessão do Supremo decidiria se mantém ou não a liminar do ministro Luís Roberto Barroso, que impediu Michel Temer de colocar em liberdade no fim do ano passado condenados por corrupção. Na extensa lista de possíveis beneficiados, há nomes famosos de presos da Lava Jato, como o de seu antigo aliado Eduardo Cunha.


Bedel

Renan Calheiros assumiu no Twitter o papel de bedel de Sergio Moro. Após ler notícia sobre a decisão do futuro ministro da Justiça de criar duas novas secretarias, Renan escreveu:

“…Vejo com preocupação matéria no UOL dizendo que Moro vai criar secretarias nacionais para delegados por MP (medida provisória) ou decreto regulamentador, sem conversar com o Legislativo. Decreto, só quando a MP vira lei. Decreto Regulamentador sem lei é Decreto-lei!”


Numa segunda mensagem, Renan anotou: “Só para lembrar, o Brasil, pelo Congresso Nacional, foi quem mais avançou no combate à corrupção e organizações criminosas.”


Na mesma entrevista em que apresentou os nomes de seus novos auxiliares e os ajustes no organograma de sua futura pasta, Moro contou aos jornalistas que havia telefonado para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Pediu ao deputado que retirasse da pauta de votações o mais recente “avanço” legislativo proposto por Renan Calheiros.

Fascismo

A pesquisadora brasileira Débora Diniz, que foi incluída no programa de proteção aos defensores dos direitos humanos depois de ameaças por conta da sua atuação pela descriminalização do aborto no Brasil, e teve que se mudar do país, deu entrevista ao Correio Braziliense: “A gente teve um momento em que a igualdade como valor passou a ser uma exigência da vida pública, fosse nas universidades com as cotas, fosse na existência de uma nova paisagem política com mulheres, com negros; fosse por mudarmos o vocabulário sobre como se referir aos grupos que são discriminados socialmente. A gente passou a falar em raça, em gênero. Então, o que nós tivemos foi a incorporação de um novo vocabulário político com algumas conquistas. Mas as gerações que viveram os privilégios ainda coexistem no tempo histórico. Esse período de trégua provocou uma perda de privilégio. Por que ele volta com tanta força? Porque nunca deixou de existir, nunca deixou de existir como ressentimento daqueles que perderam suas posições, e ele volta como uma onda mundial de países muito importantes economicamente, como os Estados Unidos. Volta em um bloco de países conservadores do Leste Europeu, mas volta também dentro de 30 anos de uma abertura democrática em que nós não conseguimos solucionar de uma maneira histórica o que foi o nosso período ditatorial.”

Jean ameaçado

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) recebeu comunicado da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) afirmando que concedeu a ele medidas cautelares exigindo que o Estado brasileiro zele por sua vida. O pedido foi feito por ele em outubro, com relatos de ameaças de morte. A CIDH considerou que o parlamentar se encontra em uma situação de gravidade e urgência, “posto que seus direitos à vida e à integridade pessoal estão em grave risco”. No documento, a CIDH diz que “valora” providências tomadas pelo Estado, mas que elas não seriam suficientes. Cita, por exemplo, que a Câmara dos Deputados cedeu carro blindado ao parlamentar, mas que a medida só teria continuidade se o próprio Wyllys pagasse por ele. “Com isso, a comunidade internacional lança um novo olhar sobre uma situação que vinha sendo ignorada ou minimizada por uns e estimulada por outros”, afirma Wyllys.

Carro blindado

O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) está tendo que usar recursos de sua cota parlamentar para pagar o aluguel de R$ 8 mil do carro blindado que passou a ter que usar há oito meses, depois da conclusão, endossada pela Câmara dos Deputados, de que corre risco de vida (leia a nota acima). A medida foi adotada pouco depois da morte da vereadora Marielle Franco, colega de Wyllys no PSOL. No começo, a Câmara bancava os custos. Depois eles foram repassados para o próprio parlamentar. Além disso, Wyllys é acompanhado permanentemente por uma escolta da polícia legislativa, em qualquer lugar que vá a trabalho. “Estou vivendo pela metade”, afirma ele, que evita compromissos que não sejam ligados à sua atividade parlamentar.

Vergonha alheia

O novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu em artigo o combate a adesão do país a “pautas abortistas e anticristãs”, ao “alarmismo climático” e a outros conceitos que ele relaciona ao marxismo. No texto, publicado no jornal Gazeta do Povo, Araújo reforça seu posicionamento contra “a ideologia de gênero, o materialismo e o cerceamento da liberdade de pensar e falar” e também contra “o terceiro-mundismo automático, a destruição da identidade dos povos por meio da imigração ilimitada, a transferência brutal de poder econômico em favor de países não democráticos e marxistas e a suavização no tratamento dado à ditadura venezuelana”. Para Araújo, todas essas posições fariam parte do marxismo, que ele defende ser “a ideologia do PT.” Sua nomeação ocorreu após uma indicação pessoal do escritor e astrólogo Olavo de Carvalho, pensador conservador que é um dos gurus do bolsonarismo

Lula livre

Aliados do ex-presidente Lula receberam com pessimismo a notícia de que o Supremo vai julgar mais um pedido de liberdade do petista na próxima semana. Nesse caso, os advogados usaram a indicação de Sergio Moro para o Ministério da Justiça de Bolsonaro para pedir a anulação da condenação proferida pelo ex-juiz no caso do tríplex. A avaliação do PT é a de que a maioria dos ministros da Segunda Turma deve negar o pedido porque o julgamento se dará em torno de uma suposta parcialidade de Moro na condução processo. Os petistas acham que o STF não vai “mexer em uma peça fundamental do governo eleito”. Partidários de Lula acreditam que o Supremo decidiu avaliar o caso ainda este ano para não ter que debater o assunto quando Moro já estiver sentado na cadeira de ministro, a partir de janeiro.

Lula morto

Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Pimenta (RS) foi à tribuna do plenário para denunciar em discurso (veja no vídeo abaixo) a execução de um complô de setores do Ministério Público e do Judiciário com o objetivo de matar o ex-presidente Lula no cárcere onde ele cumpre pena desde 7 de abril, em Curitiba (PR).

Em discurso na tribuna do Senado, Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, também insinuou que a vida do prisioneiro corre risco. “O que querem é acabar com o Lula, o que querem é que Lula não sobreviva”, declarou Gleisi.

Saia justa no culto

Depois de tudo o que fez por Jair Bolsonaro, Magno Malta merecia mais. Ao menos na opinião do pastor Silas Malafaia, um dos maiores aliados do senador, que não foi reeleito e, por ora, está sem cargo político a partir de 2019. A indicação de Osmar Terra para o Ministério da Cidadania enterra a hipótese de Malta ter um lugar na Esplanada.  Malafaia frisa que "apoia intransigentemente" o presidente eleito e que não lhe cabe indicar ou vetar nomes para o próximo governo. "Agora, presta atenção, apoiar uma pessoa não significa concordar com tudo o que ela faz." Malta, que chegou a anunciar que seria ministro, passou a ser criticado por Bolsonaro. A amigos, o presidente eleito tem reclamado do comportamento do outrora aliado de primeiríssima linha.

Não matem papai

Filho de Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL) afirmou que a morte do presidente eleito interessa a pessoas "que estão muito perto". Sem explicar o contexto ou a quem se refere, o vereador fez a declaração no Twitter.


De volta ao trabalho

De volta ao Rio, Carlos Bolsonaro retomou o seu mandato na Câmara de Vereadores. Para não perder o hábito, criticou a mídia numa entrevista à emissora da Casa. Fez isso no instante em que recordou a facada desferida contra seu pai durante a campanha eleitoral. “…A imprensa faz questão de não divulgar”, disse. Vai abaixo o vídeo.

Sem Clima

O Brasil retirou sua candidatura da lista de países que desejavam sediar a próxima Conferência do Clima, a COP-25, que acontece no ano que vem. A decisão provocou mal-estar diplomático, segundo o Estadão. Isso porque estava tudo planejado para que a ONU chancelasse a escolha do país. A justificativa do governo foi o orçamento. Mas ninguém acredita que este seja o motivo real da decisão. Qual seria, então? Não é preciso nem contar até três: Jair Bolsonaro. Ele confirmou. “Houve participação minha nessa decisão”, disse ontem, e acrescentou que existe a possibilidade de o país sair do acordo do clima. O argumento é de que o compromisso fere a soberania nacional, e que o agronegócio está ‘sufocado’ por questões ambientais. (O futuro ministro de relações exteriores, nunca é demais lembrar, acredita que o aquecimento global é parte de uma conspiração “liberal” e “marxista”.)

Do lado de quem faz ciência, as conclusões são outras. O periódico Lancet acabou de lançar um estudo que relaciona a saúde com as mudanças climáticas. O Brasil é considerado um caso especial, por ser o país com a maior área da Amazônia. “A saúde da população brasileira está ligada à floresta Amazônica”, alertam os pesquisadores. A mensagem é clara: desmatamento reduz a expectativa de vida. De várias formas: pela razão óbvia de que o próprio desmatamento contribui para o aquecimento global, mas também porque há relação comprovada entre fogueiras feitas para desmatar, doenças respiratórias e internações hospitalares. Ou ainda porque “para cada quilômetro quarado de mata que derrubamos, há descobertas que deixamos de fazer”, como resume uma das cientistas. E também porque se a temperatura aumentar, um problema bem brasileiro – as doenças transmitidas por vetores como Aedes aegypti – podem piorar, como já está sendo verificado: entre 1950 e 2010, o mosquito aumentou sua capacidade de transmissão de doenças em 6%.

Desigualdade

Na maior cidade do Brasil, dependendo do bairro onde você more, sua expectativa de vida pode ser 23 anos maior ou menor. Esse é um dos achados do Mapa da Desigualdade, divulgado ontem. O abismo social é mostrado a partir da vida de duas adolescentes nessa reportagem do El País. Kimberly, moradora da favela Paraisópolis, e Mariana, moradora de Perdizes. A primeira nunca botou os pés na Avenida Paulista e sonha em sair da comunidade, pois não conhece nenhuma jovem que lá tenha ficado e não tido seus planos interrompidos, geralmente pela gravidez precoce. Para a segunda esse tipo de preocupação não está no radar, a saúde é assegurada pelo plano do Hospital Albert Einstein e as férias foram em Paris…

Mortalidade infantil

Matéria, no Estadão, foca na mortalidade infantil. O levantamento revelou que crianças menores de cinco anos morrem mais nas zonas leste e norte da cidade. A diferença vai de zero mortes no Butantã a 21,34 a cada mil nascidos vivos em Artur Alvim. A média do município é 11,1 e a do Brasil é 14. “Quando há uma incidência de mortalidade infantil é porque existe algum tipo de problema em toda a estrutura para que o bebê nasça com saúde, desde o pré-natal feito de forma correta, até o acompanhamento. A questão familiar e a infraestrutura urbana de onde este bebê nasce também é importante, se tem saneamento básico, se as condições de habitabilidade são razoáveis também”, explicou ao jornal José Américo Sampaio, coordenador da Rede Nossa São Paulo, responsável pelo Mapa.

Pergunta pro Temer

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que o aumento nos salários do Poder Judiciário será pago por "toda a população". Bolsonaro fez a afirmação após jornalistas pedirem que ele comentasse a decisão do presidente Michel Temer (MDB) de sancionar o reajuste de 16,38% para os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), salários mais altos do poder público. "Pergunta pro Temer. O Temer que decidiu sancionar", disse Bolsonaro, ouvindo de jornalistas que a conta seria paga pela futura gestão. "Quem vai pagar é toda a população brasileira, quem vai pagar é todo mundo. A minha responsabilidade nessa área começa a partir de 1º de janeiro do ano que vem", respondeu o presidente eleito.

Babaquinhas nazis

Alunos da Escola Estadual Liceu Cuiabano, em Cuiabá, Mato Grosso, publicaram, no último dia 25, uma foto, em suas redes socias, em que posam com o braço direito levantado, remetendo à saudação nazista. Abaixo, a legenda dizia “o terror das feministas”.

De acordo com o diretor da escola, Alceu Trentin, a foto foi postada pelos alunos e causou repercussão negativa durante todo o final de semana. “Pegou mal para eles e para a escola, ainda mais porque eles estavam uniformizados”, disse.

O diretor explicou que outros alunos estavam revoltados com a atitude dos colegas, de acordo com informações do G1. “Rapidamente, chamamos os pais para uma reunião, comunicamos a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), assinamos um termo circunstanciado e decidimos advertir os alunos”, explicou o diretor. Ainda na segunda-feira (26), após a reunião, a escola publicou vídeo, no qual os alunos pedem desculpas e dizem que o braço levantado simbolizava “quando o aluno se forma e faz o juramento”, explicou um dos alunos.

Ô berimbau!

Momentos depois de ser anunciado como titular da nova pasta da Cidadania, que abrigará os atuais Desenvolvimento Social, Esporte e Cultura, Osmar Terra (MDB) disse não conhecer nada sobre os dois últimos temas. "Só toco berimbau", afirmou, dando gargalhadas em seguida. Apesar do desconhecimento sobre grande parte das novas funções, defendeu auditoria na Lei Rouanet, hoje o principal instrumento federal de incentivo às artes.

A Lei de Moro

O futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu a ajuda de parlamentares para aprovar ainda este ano um projeto que obriga o Brasil a dar cumprimento imediato a resoluções da ONU contra o terrorismo. O texto determina que instituições financeiras, operadoras de câmbio e corretoras de valores bloqueiem, sem aviso prévio, bens de pessoas investigadas ou acusadas de terrorismo e atos correlacionados.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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