26/04/2024 - Edição 540

Ogroteca

O Hype e o Flop

Publicado em 03/08/2022 12:00 - Fernando Fenero

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A primeira vez que ouvi falar sobre o UcconX foi voltando de São Paulo depois do “Diversão Offline 2022”, e apesar de não ter visto nenhuma propaganda até junho desse ano, me foi apresentado a ideia desse evento megalomaníaco onde já tinha sido investido mais de 36 milhões de reais, e que usaria toda a área do Anhembi em ocupação.

O complexo do Anhembi tem 300 mil metros quadrados, grandes eventos no local não usam toda a área, nem a CCXP usou tudo e é o maior e melhor evento do segmento a anos, mas como a UcconX prometia espaço para esportes radicais, e mais um milhão de atividades, até dava pra entender o motivo dessa ocupação.

As artes do evento eram maravilhosas, tudo bem urbano, uso de leds em telões, neon, áreas diferentes em que atenderiam vários setores diferentes da cultura popgeek, e um monte de convidado legal, e tudo isso fica amargo depois que a gente vê que isso tudo é trabalho de quem não recebeu para isso.

Quando as portas do evento foram abertas (dia 27 de julho) os problemas não poderiam mais ser ignorados, e a lista de problemas é grande, e só aumenta.

Começo pelas sérias denúncias de vários colaboradores em várias fases do projeto que denunciaram os organizadores por diversas irregularidades e até crimes. Salários não foram pagos, demissões foram feitas sem os devidos direitos garantidos, equipes foram esgotadas e trocadas integralmente, e se tudo for verdade aconteceu até mesmo um episódio de violência física contra uma mulher. Os organizadores segundo alguns denunciantes, se gabavam de cometer crimes e de ter participação em organizações criminosas.

Como o evento nasce dessa forma, boa parte dos parceiros e expositores ficou com um pé atrás, faltava divulgação, faltava clareza nas informações, e não havia certeza de que o público ia realmente aparecer.

Com o passaporte pelo evento custando mais de mil reais, a experiência para o público tem que valer muito a pena, tanto considerando o entretenimento do local, quanto também brindes e oportunidades de compras já que as lojas costumam a ter preços especiais em eventos. Para o expositor é caro alugar e montar o espaço, o preço dele tem que ser atraente e para essa conta fechar o público tem que ir.

Sacou qual o problema? A tempestade perfeita se formou com ingressos caros, falta de divulgação, ausência de segurança para o expositor e nenhuma tradição do evento.

O resultado que estamos vendo é que o evento está vazio e nas redes sociais boa parte dos que compraram ingressos ameaçam os organizadores de processo. O corajoso que decidiu encarar o evento porque havia comprado enfrenta outras bizarrices como a proibição da entrada de câmeras fotográficas, cadeiras (é importante para o cosplayer) e drones (importante para quem cria conteúdo). Até mesmo é dito sobre eletrônicos sem ficar claro qual o limite desse entendimento, o que poderia resultar na apreensão de um Nintendo Switch sem a obrigatoriedade de devolução.

E para fechar com chave de ouro, o evento é sem grana física. Ao entrar você recebe uma pulseira e faz uma recarga para consumir esse crédito dentro do evento, assim o pessoal já desconta das vendas dos expositores e fica com essa grana toda que sobrar.

Essa ideia é imbecil… quase todo o consumo de cultura pop é por impulso, você compra porque tem o dinheiro e oportunidade de comprar, não é pão que mata fome, é estátua de plástico de milionário depressivo que bate em criminoso a noite. Se eu entro no evento, coloco 200 reais de crédito para dar esse rolê e vejo uma estátua do Batman por mil reais, eu dificilmente voltaria até o local para colocar mais credito e se fosse ainda teria metros e mais metros para pensar melhor sobre isso e me arrepender.

E esse dinheiro todo na mão da organização vai ser pago aos lojistas e expositores com um prazo de 45 a 60 dias do fim do evento onde não pagaram nem quem trabalhava nele. Dá pra confiar nisso?

Por fim, minha vontade era entrar em um Buser ontem à noite e ir até a UcconX. Ver amigos expondo naquele deserto partiu meu coração de verdade, e não vejo como transformar esses limões todos em uma saikirinha bem gelada.

Que fique de lição para todos nós, e que a CCXP arrebente esse ano.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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