25/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Caso Caixa e o esgoto bolsonarista

Publicado em 07/07/2022 12:00 - Rafael Paredes

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Há algumas semanas, a imprensa vem cobrindo as denúncias de assédio sexual e moral de mulheres contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães. Em uma gestão de crise, um consultor orientaria um tripé para enfrentar uma situação aguda: estratégias jurídicas, comunicacionais e políticas. Guimarães sabe disse, as funcionárias vítimas não.

Pedro Guimarães contratou um dos mais caros advogados do Brasil, José Oliveira Lima, que até pouco tempo, defendia Marcelo Odebrecht. Com isso, sua defesa está sendo estruturada por um escritório de peso, com contatos, articulações, etc. No dia da distribuição da denúncia no Ministério Público Federal, o procurador sorteado para o caso tirou férias de quarenta dias. Todo trabalhador merece férias. Mas que coincidência, não é? Se tivesse tirado férias um dia antes, as investigações transcorreriam com outro procurador, ainda no calor das denúncias. Agora, as investigações seguem o generoso calendário de férias do Judiciário.

No que se refere a estratégia comunicacional, no último dia 04, a Folha de São Paulo deu amplo espaço para Pedro Guimarães se defender em um artigo. Não me lembro dessa conduta do jornal em abrir espaço para acusados de assédio moral e sexual. Será que a generosidade da Folha foi para assegurar o direito de defesa de alguém? defender a democracia? Ou foi só um agrado a um banqueiro rico? Não sei. É você quem vai dizer.

No artigo assinado por Guimarães, ele desafia a apresentarem provas documentais como e-mails, mensagens de celular ou imagens dele cometendo assédio. Ninguém chega a ter o sucesso de Pedro Guimarães no mercado sendo burro. Pedro Guimarães nunca usou e-mails para nada, era muito desconfiado. Trocava de celulares uma vez por mês. E, apesar da farta captura de imagens de suas viagens, seus cinegrafistas e fotógrafos abaixavam as câmeras quando percebiam que o Pedrão atacaria novamente.

Outra obra de ficção do artigo intitulado “Eu quero sofrer a mais profunda devassa”, de autoria de Pedro Guimarães, na generosa Folha de São Paulo, foi o desafio que lançou: se alguém viu os assédios, desafio a responder por que não denunciaram? Ora, ora, a única mulher que denunciou nos canais internos da Caixa foi exposta e sofreu severa perseguição. Está afastada por motivos de saúde. E se alguém denunciar agora pode ser acusado de diversos crimes por não ter denunciado na época.

A estratégia política do Pedrão se alicerça na matéria prima do bolsonarismo: o esgoto que há em cada indivíduo. Em uns mais, em outros menos, no bolsominion até a tampa. Sordidez, machismo, intolerância, sexismo, fakenews, falta de empatia, teorias da conspiração, etc. Nos últimos dias, explodindo igual a pipocas, vários perfis bolsonaristas começaram a espalhar vídeos com a mesma narrativa de que as mulheres que denunciaram Pedro Guimarães são ligada à esquerda e que a esquerda já tramava contra Pedro Guimarães.

Em todos os vídeos, esses militantes bolsonaristas, subvertem uma gravação onde Guimarães reclama de ter que devolver o dinheiro ilícito que recebeu por participar de dezenas de conselhos em uma revolta de Pedro por não ter sido avisado que não poderia ser onipresente em conselhos. Tão ingênuo. Coitadinhos. Caiu em um golpe de R$ 230 mil reais, mas ao invés de tirarem o valor da conta dele, colocavam… que golpe estranho. Teve que devolver porque descobriram. Que maldade.

O bolsonarismo é idiotizante. Ele se presta a qualquer papel para proteger seu mito de culto religioso, seus valores mofados e se alimenta da face mais degredada da alma humana. Essa face não se comove nem com mulheres com a mão do presidente da Caixa em suas nádegas.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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