28/03/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Amigo Secreto: um documentário que registra o ovo da serpente

Publicado em 16/06/2022 12:00 - Rafael Paredes

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Você sabe quanto foi pago em propinas em contratos da Petrobras durante os governos do PT? Cerca de R$ 6 bilhões. É muito dinheiro? É muito dinheiro. Possível de se identificar em auditorias internas? Não. Pior que não mesmo. Em uma receita medida em trilhões de reais no período esses lavores de pagamentos ilícitos significaram 0,6% da arrecadação da companhia. Se uma auditoria interna não identificou, um presidente da República iria identificar?

Para os procuradores da Operação Lava Jato, esse e outros dados não importavam. Eles e o ex-juiz Sérgio Moro tinham uma verdadeira obsessão: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula significava para os procuradores e para o magistrado a própria política a ser combatida. Para essa missão messiânica, acusação e juízo se uniram em um conluio ilegal para denunciar e condenar Lula.

O conluio foi demonstrado pelo escândalo da Vaza Jato, o vazamento das conversas dos promotores e do juiz Moro em aplicativos de mensagens. O trabalho jornalístico para trazer a luz o esquema montado pelo juiz Moro e pelos procuradores liderados por Deltan Dallagnol ganha registro e complexidade no documentário “Amigo Secreto” de Maria Augusta Ramos.

O documentário “Amigo Secreto”, que estreou no último dia 16 em 50 salas de cinema em todo o país, tem mais de uma hora e meia e mostra como os procuradores tinham como objetivo culpar Lula de algo e ignorar denúncias contra os adversários do petista. Hoje, delatores falam abertamente da pressão para envolver o ex-presidente em ilegalidades e a indiferença de possíveis desvios de outras figuras políticas. Denúncias contra o tucano Aécio Neves eram solenemente ignoradas.

O filme traz como os procuradores caiam facilmente em fakenews, se entristeciam por não conseguirem imputar crimes contra Lula e como eram subalternos as vontades de Moro. O ex-juiz condenou Lula por fatos indeterminados, o tirou da eleição de 2018 e assumiu um ministério do presidente eleito daquele ano, confiando na promessa de indicação para ministro do Supremo logo depois.

Outro ponto abordado pelo documentário foi o papel da imprensa. A mídia terceirizou seu papel investigativo para o Ministério Público (MP), não investigou, não olhou materiais, não leu documentos, não questionou e engoliu tudo o que o MP vazava ou informava como verdade absoluta. A Lava Jato entregava a matéria pronta e os jornais apenas reproduziam. Tudo isso fazia parte da estratégia lavajatista: junto com a imprensa, implodir a classe política para colocar algo no lugar. Quase conseguiram, mas o que colocaram no lugar foi o bolsonarismo de deu no que deu.

As facetas da extrema-direita do MP, da extrema-direita da sociedade e o departamento de justiça norte-americano se encontraram em suas motivações ideológicas e comerciais. Anos antes da Lava Jato, o governo Americano teve que pedir desculpas ao governo brasileiro por espionagem na área de petróleo e gás. Tempos depois, os mesmos americanos se associavam a procuradores e ao Juiz para transformar uma histórica e localizada situação de corrupção na petroleira brasileira no “maior esquema de corrupção da história do país”.

Os delatores afirmaram que as propinas sempre existiram, que não houve sobrepreço em nada, que vários partidos recebiam caixa 2. Não importava. A narrativa que venceu na mídia foi que a Petrobras foi “saqueada”, quase faliu e tudo o que aconteceu foi exclusivamente no governo do PT e por mando de Lula. O que Lula, o presidente mais popular do Brasil ganhou com isso? Um apartamento que nunca foi dele.

O documentário mostra por meio das mensagens trocadas que a Lava Jato nunca foi uma operação anti-corrupção, mas sim tentativa de questionar um estilo de governança. Porém, esse não é o papel do Ministério Público. Esse papel cabe unicamente a democracia. Vale a pena assistir.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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