25/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Morte e vida tucana

Publicado em 26/05/2022 12:00 - Rafael Paredes

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O anúncio da desistência da corrida presidencial pelo ex-governador João Dória, na segunda-feira (23), foi uma verdadeira missa de corpo presente, como bem definiu a jornalista Vera Magalhães no podcast “O Assunto” do G1. Caras fechadas, discurso solene e contrito e o defunto ao centro: o PSDB.

O partido morre ao não respeitar as prévias milionárias que forjou para ter um candidato à presidência da República. A agremiação perde respeito interno, se esfacela e deixa de ser um digno partido que já presidiu o Brasil por duas vezes, foi competitivo e governa o mais pujante Estado há décadas, São Paulo.

Na verdade, o ex-governador João Dória precisava vencer as prévias para acertar a conjuntura de São Paulo – deixar o caminha livre para o então vice e hoje governador Rodrigo Garcia – e precisava desistir de ser candidato a presidente para também acertar a conjuntura da capital – deixar de ser um peso para o candidato à reeleição Rodrigo Garcia. Essa análise não é minha, mas sim do coveiro deste enterro, o deputado Aécio Neves.

Aécio nunca desiste, mesmo quando perde as eleições, contesta o resultado. Aécio se julga imortal na política, e parece ser mesmo. Seu melhor momento foi quando quase venceu Dilma Rousseff nas eleições de 2014. Perdeu, não reconheceu a derrota, trabalhou ativamente pelo impeachment e voltou em uma campanha silenciosa como deputado federal.

O mineiro, por incrível que pareça, hoje lidera as intenções de voto para a vaga de senador que será disputado neste ano em MG. Aécio passou três anos dialogando com muita desenvoltura com o bolsonarismo, foi premiado com à presidência da importante Comissão de Relações Exteriores da Câmara e não deixou prosperar nada de novo ou independente no PSDB. Aécio não precisou liderar a grande ala bolsonarista dentro de seu partido, mas a articulou, manejou, azeitou para atender seus interesses.

A desistência do ex-governador João Dória foi uma vitória da ala bolsonarista do partido. Esses bolsotucanos não querem empecilhos para apoiar Bolsonaro nos seus rincões conservadores. Neste momento, os bolsotucanos que diziam preferir a senadora Simone Tebet (MDB-MS), agora corroem por dentro o apoio do PSDB à sul-mato-grossense.

Aécio não desiste. Ele trabalha para liderar a sobrevida do partido a partir do ano que vem como senador e, quem sabe, não ser ele o salvador da pátria nas próximas eleições nacionais. Para isso há ainda um degrau a ser escalado, minar a candidatura da filha do saudoso senador Ramez. Aécio e os bolsotucanos trabalham em duas frentes: ou implodir a candidatura sem voto dessa terceira via inexistente; ou trai-la solenemente cada um em seus Estados.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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