19/04/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Conversei com uma apoiadora do Bolsonaro

Publicado em 04/11/2021 12:00 - Rafael Paredes

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Professora aposentada, 70 anos, evangélica há mais de 15 anos e apoiadora fervorosa do presidente Jair Messias Bolsonaro. Relutou em tomar a vacina contra o coronavírus, mas foi vencida pelo medo da doença. Se refere ao senador oposicionista Randolfe Rodrigues (REDE-AP) como “gazela saltitante”.

A apoiadora contou que já foi considerada de esquerda na década de 1980 por ter carro vermelho e por encabeçar projetos de vanguarda na área de educação. Depois de aposentada, se dedicou a práticas esotéricas das quais não gosta muito de falar. “Vendi meus livros no sebo. Muita gente tem curiosidade sobre mim por causa dessa época”.

Convertida a uma denominação neopentecostal, se interessou por política partidária em 2018, quando observou discussões na internet. “Vi um perfil psicológico crítico ao Bolsonaro e queria ver dos outros candidatos. Comecei a pesquisar um por um. Dessa forma que decidi meu voto”.

Saudosista de um tipo de homem do passado, defende que “não existem mais homens fortes de verdade. Hoje em dia os homens estão cada vez mais moles”. Deu alguns exemplos de homens conhecidos pelos relacionamentos extraconjugais e pela violência doméstica. Mas, o mais surpreendente foi o motivo que a fez votar e continuar a apoiar o presidente Bolsonaro.

A aposentada é assídua frequentadora das manifestações em apoio ao presidente e contrárias aos ministros do STF. Se manifestou também favorável ao voto impresso e pela liberdade de blogueiros bolsonaristas. “Você pensa que eu não sei que o Bolsonaro representa tudo o que há de pior nas pessoas. Ele é autêntico. Ele não finge ser o que não é”.

Minha análise particular: na conversa, quando ela fez essa descrição do presidente, tive a impressão que ela buscava uma reação minha. “Ele não gosta de gay mesmo, eu também não. Por que negros tem que ter cotas? Os italianos chegaram sem nada ao Brasil e não tem nenhum privilégio”.

Tive a impressão que ela acreditava que essa tal “autenticidade” poderia me tocar por, internamente, também pensar dessa forma. Mas eu não penso, acredito que a luta da comunidade LGBTQIA+ é por dignidade humana e faz parte do nosso processo civilizatório e que nada é comparável aos 300 anos de escravidão negra no Brasil. A escravidão mais longa da história moderna e a mais degradante por, pela primeira vez, ser mercantil.

Para ela, Bolsonaro simboliza um sentimento humano que reside em todos. Esse é o mal de mensurar os outros por meio de suas questões internas. Para muitos, a anti homofobia e o anti racismo são os sentimentos humanos mais abundantes.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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