16/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

A ‘cretinização’ da ideia de que a ‘vítima’ tem sempre razão

Publicado em 09/06/2022 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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Os limites do absurdo e nonsense no Brasil são na verdade uma meta a ser alcançada e ultrapassada – e dobrada. Sim, multa e cana pra quem… OLHAR pra outra pessoa.

Ok, eu concordo que às vezes tem gente sem noção que olha de forma estranha, creepy, etc, mas sejamos honestos, como você vai processar, provar e condenar alguém por… OLHAR?

Esse é mais um absurdo dentro da lógica cretina de "a vítima tem sempre razão" em que o ônus da prova é jogado no lixo e o acusado tem que provar que é inocente e é considerado culpado como padrão. Até porque como você prova que não… olhou pra uma pessoa? Quem/como define "conotação" de um olhar?

"Sim, olha minha testemunha aqui, minha amiga notou que ele me olhou por 12 segundos, tem que prender!"

E reparem que ao invés de campanhas, educação, enfim, medidas sérias contra assédio, o Brasil sempre busca adotar a criminalização, mandar pra cadeia, intimidar com a lei, etc. Funciona? Como estamos vendo, não.

Isso é o que um amigo chamou de "lavajatismo dos costumes" impulsionado por identitários que não passam de conservadores punitivistas travestidos de esquerda – que aplaudem todos esses absurdos legals (sic).

Desejo boa sorte pros que derem o azar de ter que provar que não olharam de forma lasciva pra alguém – tendo a vida destruída no processo, sendo acusados de abusadores, estupradores e o que mais for possível.

"No Brasil, e em diversos outros países, também têm sido realizadas diversas campanhas para tentar coibir o assédio no transporte público. Nesse contexto, entendemos que o 'olhar invasivo', com conotação sexual, representa uma conduta que deve não ser somente proibida, mas principalmente criminalizada."

"Se a conduta do caput deste artigo for praticada por meio de olhares fixos e reiterados, com conotação sexual e de forma invasiva, a pena é de detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.”

ONDE ELES ESTÃO?

Desde domingo o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês (e um querido) Dom Phillips estão desaparecidos no Amazonas em uma das áreas mais remotas do país (e do mundo).

O governo federal não poderia se importar menos. Mas cada segundo importa. Ambos receberam ameaças de invasores da terra indígena do Javari e é preciso pressionar para que as forças armadas se movam e efetivamente busquem pelos dois.

#OndeEstaoDomEBruno

MORO

Moro é provavelmente o maior e mais fragoroso flop da história recente da política brasileira. De todo poderoso juiz e ministro, capaz de mandar até o Lula pra cadeia, possível candidato presidencial a… nada. Zero. Não foi capaz de apresentar nem um comprovante de residência.

É um Al Capone da política.

PSOL E VERGONHA ALHEIA

Carta de vários militantes do PSOL (dentre eles o Plínio de Arruda Sampaio Jr) se desfiliando do partido por terem notado o que o partido virou tem muitos anos: Uma tendência externa do PT.

Aquele jargão socialista e o cansativo excesso de identitarismo à parte, concordo bastante com o conteúdo. Um exagero na pureza "revolucionária" que já estamos acostumados também, perdoável.

Qual é o propósito do PSOL se não passam de linha auxiliar e se submetem integralmente ao PT/Lula? O PT já tem o PCO pra ser bate estaca.

Não se trata nem de não aceitar que o PSOL faça alianças e etc, mas sim lembrar que o PT se submete ao PT sem exigir nada. Se ajoelha (literalmente, lembrem do Jean se ajoelhando diante da Dilma) para o PT de graça, com gosto e esperando migalhas – que sequer são dadas.

Como diz a carta, o PSOL virou um partido majoritariamente eleitoral, que não busca construir bases – e eu diria que também abraçou com gosto o identitarismo boçal que o PT impõs pós-2013 para silenciar e controlar a esquerda – e com isso virou um refém do PT. Mas um refém satisfeitíssimo com a situação.

O PSOL virou um partido vergonha alheia. E é triste chegar a essa conclusão.

O ELEITOR MÉDIO

O eleitor médio do Lula e do Bolsonaro (ou da tal "terceira via") é mais parecido do que muitos imaginam – ou querem imaginar. Mergem de erro de lado, todos pensam de forma muito semelhante.

Isso sem contar que o papo de que o eleitor se identifica como esquerda ou direita (pesquisa da Folha) não cola. Talvez uma porcentagem efetivamente tenda à esquerda (ou à direita), mas "se identifica" é muito forte. Não se trata de identidade fixa, mas de um reflexo de eventos correntes – e que mudam a todo tempo.

É fluido – muito mais do que com o militante político de fato.

E o fato de, segundo o Datafolha, Lula ter 23% dos seus eleitores de direita, e Bolsonaro, 29% de esquerda, mostra que as pessoas meramente tem algumas posições mais pra cá ou pra acolá que passam longe de ser uma identidade política/ideológica efetiva.

Na verdade é uma verdadeira salada ideológica.

No fim a "identidade" aqui é irrelevante. Não se reflete na hora do voto e é extremamente fluida. Esse papo de posição/identidade com base em ideologia, quando a gente tá falando do público em geral, é balela. O voto não necessariamente se traduz pela ideologia, são múltiplos interesses (difusos e confusos).

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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