26/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Não, nazismo e comunismo não são equivalentes

Publicado em 09/02/2022 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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Nazismo e comunismo não são equivalentes, mas como lembrou o Wilson Gomes, a turma pós-teen ANCAP é equivalente aos identitários woke de esquerda.

Ambos, aliás, traçam suas origens (ou mais precisamente seu crescimento na arena pública) das mobilizações de 2013.

Em ambos os casos são resultado da repressão e esmagamento das ruas promovidas pelo PT e aliados (ou inimigos de ocasião).

Com a esquerda suprimida pela força e o PT usando o identitarismo pra dividir e conquistar, os ANCAP se aproveitaram pra ocupar espaço – Bolsonaro idem.

E falando em ANCAP, o Monark, do podcast Flow, é exatamente isso. E, como tal, é sem noção e na tentativa de justificar sua ideologia distorcida (mas legítima) e atacar o "comunismo", acabou virando alvo.

O Monark é um imbecil. Burro em estado puro – mas não fez apologia do nazismo. Ele fez uma defesa retardada de um liberalismo extremado.

Pra mim partido nazista não tem que ser legal nunca. Lugar de nazi é na cadeia e/ou sendo desradicalizado. Meu ponto é: Monark é um imbecil, mas não defendeu nazismo, ele defendeu uma versão radical de liberalismo.

Em outras palavras, ele defendeu o direito de alguém defender ideias ruins. Não foi inteligente da parte dele, até porque nazismo é um daqueles tabus intransponíveis (felizmente), mas isso não é o mesmo que defender a ideia ruim.

O problema é que pra além do tema-tabu e da completa incapacidade de muitos de interpretarme um texto ou um discurso, sobra também espaço pra aquela lacração militante básica, pra aquele ataque contra desafetos. A coisa chegou num nível em que até a Tabata Amaral – que a turma petista odeia – foi acusada de nazismo pelo fato de ter participado do podcast.

"Todo mundo que eu não gosto é nazista"

Aí depois não entendem porque ninguém deu bola com os gritos de "fascista" contra Bolsonaro. Usam tanto, contra tudo e todos, que na hora que cabe, não faz efeito.

Em tempo, sobre o print do tuíte do Heni Ozi Cukier, eu concordo que nenhum desses deveria poder ser/ter partido (por mais que o PCC até tenha suas garras por aí, mas é outro papo), mas a ideia de que não podem porque "crime" é complicada.

A Marcha da Maconha deveria ser proibida? O buraco é mais embaixo.

E vale ver a curta thread do Thiago Süssekind sobre nazismo e apologia.

PLURALISMO

O fato passou praticamente desapercebido, mas a Folha faz um debate interno sobre limites do pluralismo por causa do texto do Antonio Riserio . E, claro, o que menos se viu foi defesa de pluralismo.

Na verdade virou defesa descrenças ao arrepio da vã sociologia.

O divertido é que diante do fato óbvio de que o Risério em momento algum negou racismo, passaram a tentar bater na tecla do "racismo estrutural" enquanto CRENÇA.

E como fanáticos religiosos, tentam impedir que qualquer um coloque em cheque suas crenças. Inquisição moderna identitária.

Porque é isso mesmo. Um debate acadêmico válido e interessante, mas que acaba reduzido a uma crença por quem é incapaz de argumentar e parte pro cancelamento, desqualificação ou pura censura.

Risério nunca negou racismo, ele nega a validade do conceito de racismo ESTRUTURAL – aliás, sequer fez isso no texto da polêmica. No texto ele até usou o conceito como forma de provocar. Oras, se existe racismo estrutural então existem outras formas de racismo que não são estruturais.

E vejam que eu concordo com o DIREITO do Risério debater esse tema, mas também vejo validade na tese do racismo estrutural (ainda que não de forma tão elástica quanto militantes pregam). E acho válido o debate sobre se minorias podem ser racistas (podem) que, aliás, é o foco do texto polêmico.

Tenho pra mim que o conceito de racismo estrutural sofre do mesmo mal de outros conceitos como lugar de fala ou apropriação cultural. Ambos conceitos que tem sua validade, mas foram distorcidos ao ponto de terem virado piada por militantes interessados apenas em justificar seus cancelamentos e como forma de buscar ganhar dinheiro, cargos e posições – e JAMAIS com o objetivo de resolver qualquer questão real.

Leia outros artigos da coluna: Ponte Aérea

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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