26/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Uma sinuca de bico

Publicado em 07/10/2021 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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O que se viu na Paulista no último dia 2 foi um protesto seguramente maior que o do MBL, mas definitivamente menor que os protestos dos fascistas em 7 de setembro. Mesmo com amplo apoio ao impeachment, os 25-35% de apoiadores de Bolsonaro ainda conseguem colocar mais pessoas nas ruas que a fragmentada oposição.

E a razão (ou razões) é simples: Por mais que seja uma missão civilizacional derrotar Bolsonaro, o PT não é muito melhor, não é real alternativa. É o que tem pra hoje, mas não anima ninguém – ao menos não o suficiente para sair às ruas e correr o perigo de ser agredido ou de dar força ao partido que sempre tenta tomar a frente e fingir que é realmente oposição.

Vide o caso do Ciro no protesto – vaiado e quase agredido por petistas -, vide o caso dos apoiadores do PSDB agredidos pelos drones e bate-estacas do PT, os membros do patético PCO, em mobilização anterior. Diante das agressões, lideranças como a igualmente patética Gleisi Hoffmann dizem com todas as letras que os outros provocaram e tiveram o que mereceram.

Como alguém espera unidade com autoritários e violentos?

E não é como se os que convocaram os protestos (20 partidos, diversos movimentos sociais, estudantis, etc) não tivessem tido tempo de dar publicidade suficiente aos atos, tiveram quase um mês desde a manifestação fascista!

O problema é mais do que só fragmentação, claro – o MBL preferiu convocar seu protesto e mostrou (e aqui digo felizmente) que perdeu boa parte de sua relevância -, mas passa pela falta de mobilização de alguns setores mais ao centro e à direita que acreditam que Bolsonaro realmente "acordou" e irá reduzir o tom das ameaças, passa pelo receio desses mesmo setores de embarcar em protestos que darão visibilidade ao PT, e, acima de tudo, passa pela incapacidade do PT e de seus aspones de efetivamente mobilizar até mesmo seus próprios movimentos e base.

E isso não é de hoje, é um fenômeno que se arrasta desde antes de 2013 e se agudizou após o PT tomar a linha de frente na repressão aos protestos de Junho e posteriormente fazer todo tipo de pressão para neutralizar, esmagar e enfim controlar todo e quaisquer movimentos de rua que poderiam ameaçar sua hegemonia.

Uma vez fora do poder, os movimentos e as ruas se encontravam tão entorpecidos que não eram e nem são capazes de mobilizar multidões. Como eu já comentei, o PT contribuiu ativamente para esmagar 2013, depois impôs com força o discurso identitário como forma de ocupar a esquerda e os movimentos em lutas interna fratricidas e boçais (como expliquei aqui: https://is.gd/mLzp5L), e agora que precisa desses movimentos nas ruas (nem que seja para servir de fachada)…

Isso é, se formos um pouco inocentes de achar que o Lula, aquele que voa em jatinho da Prevent Senior e não deu as caras no protesto do dia 2, mas mandou seus aspones atacarem o Ciro, realmente quer que o PT se empenhe pelo impeachment de Bolsonaro.

Lula só aparecerá em protestos quando não for mais possível derrubar Bolsonaro. Quando o tempo tiver passado, mais corpos se empilharem, e ele tiver a certeza de que dar as caras lhe garantirá dividendos na eleição – sem correr o risco de derrubar seu maior cabo eleitoral.

Porque é tudo que interessa para Lula e o PT: Voltar ao poder. Não importa como. Com "segundo turno ideal" incluso no cardápio.

Ou seja, além da própria incapacidade da esquerda pós-2013 de se mobilizar, temos o PT ainda insistindo em manter tudo morno para o retorno do messias. Não tem como dar certo.

A primeira missão da esquerda deve ser derrotar Bolsonaro (e no processo se empenhar em derrotar o Bolsonarismo). A segunda? Derrotar o PT.

UMA ESQUERDA DE COSTAS PRO MUNDO

Que textaço do Riserio. Eu não consigo sequer selecionar apenas um trecho para destacar. Vale em sua integridade.

Um tema que eu tenho debatido há anos (vide https://is.gd/mLzp5L , https://is.gd/wa59qv e https://is.gd/gJL83o), colocado de forma impecável.

Aliás, recomendo muito o livro "Identity" do Fukuyama que explica muito bem o crescimento do fenômeno identitário à esquerda.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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