25/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Bolsominions não são os pais do fake News

Publicado em 25/08/2021 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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Os Bolsominions não são os pais das fake news no Brasil. Eles aperfeiçoaram os métodos tradicionais do petismo.

Aliás, eu tenho dito isso há anos. Tivemos episódios emblemáticos como o Lulaminion Eduardo Guimarçaes colocando suástica em bandeira anarquista (usando o Paint) durante os protestos de 2013, tivemos campanhas sujas e mentirosas contra a Marina Silva e o PT mantinha toda uma azeitada estrutura de militantes especializados em espalhar fake news, como os MAV e depois os BlogProg (do quel eu sou, aliás, fundador, mas corri logo que vi qual era a ideia).

Photoshop, manipulação de fotos e uso de fotos sem relação com os eventos que supostamente retratavam era mato entre o petismo. O bolsonarismo abraçou com gosto os mesmos métodos.

O Gabinete do Ódio é uma evolução (natural?) dos métodos petistas aplicados pelos Bolsominions – com uma passagem relevante pelo MBL e outros grupelhos menos abonados no pós-2013 que são a ponte entre as fake news lulistas e as fake news bolsonaristas.

CONTO DE FADAS

A oposição do PT ao Bolsonaro é um conto de fadas, ou melhor, uma fábula de livro de terror vagabundo.

Não passa de discurso, de tentativa de se vender como produto diferenciado. Sim, não resta dúvida que por pior que tenha sido o governo Dilma e por todas as críticas que tenho ao Lula, o Bolsonaro é infinitamente pior, no entanto Bolsonaro segue firme e forte em grande parte pelos esforços do PT. Como se vê abaixo.

O caso da Bahia é só um "plus a mais" para ilustrar como a estrutura está toda carcomida.

Ah, mas a sunga e as pernas do Lula… Essas sim são motivo de debate acalorado.

SEM SENTIDO

Mandato coletivo é uma das coisas mais estúpidas que já inventaram.

Se a esquerda DENTRO de um partido já tem dificuldade de se acertar, imagina um mandato com gente de partidos diferentes.

Todo mandato é (ou deveria ser) coletivo em algum grau. Afinal o político representa uma base e tem o dever de escutá-la, representa-la. E, claro, ele tem que saber também quando discordar, quando bater o pé tendo uma visão mais ampla e privilegiada.

O político já necessariamente tem que lidar com uma série de interesses difusos, diversos e seu papel é quase de curadoria de pautas. Mas quando voce mete um "mandato coletivo" você traz uma infinidade de bases e pautas completamente diferentes. Quem decide os rumos?

Em um mandato tradicional, o político, bem assessorado, selecionará pautas, caminhos, meios. Num mandato coletivo você tem uma série de pautas, mas ninguém que efetivamente decida, dite os rumos. Não funciona. Democracia se torna democratismo.

Não há nada de inovador em mandatos coletivos, pelo contrário, eles apenas complexificam e dificultam o funcionamento de um mandato e a relação entre o político e sua base. Cria falsas expectativas, torna muito mais difícil avançar pautas que podem até mesmo conflitar entre si.

E tudo isso com uma fachada de democracia que, na verdade, é apenas isso, fachada. Você junta uma série de pessoas que parecem mais ou menos concordar, mas que vão gastar mais tempo tentando se acertar do que efetivamente trabalhando pela base – ou bases.

É uma experiência falida desde o começo, desde sua formulação. É uma subversão do mandato político que não agrega, mas tão somente dificulta acordos.

O político em um mandato tradicional tem que lidar com sua base, com pautas conflitantes, com seu partido e mesmo com as alianças do seu partido. Agora imagine isso tudo multiplicado por 5, 7, 10?

Simplesmente não faz sentido.

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GENTE SEM NOÇÃO

Porque a gente insiste que militantes perderam completamente a noção de realidade e de ridículo? Tem quem sinceramente ache que o Brasil – por pior que seja – se compara ao Afeganistão. Sim, aquele país em que, com o Talibã, mulheres não são gente.

Nenhuma delas. Nenhuma tem direitos ou a quem apelar. São tratadas pior que animais. Todas.

Não tem como levar a sério – e esse é o tipo de coisa ridiculariza as pautas junto. Identitarismo é trevas.

É uma seita de fanáticos incapazes de qualquer matização, de qualquer tipo de honestidade intelectual. Não à toa a prática do cancelamento é comum contra quem erra uma vírgula, contra quem não reza 100% a cartilha, pois não toleram qualquer coisa que não seja o pensamento monolítico e burro da turba policialesca.

Daí vemos excrescências como achar minimamente aceitável comparar o Brasil com o Afeganistão. E olha que eu já escrevi diversas matérias sobre violência de gênero para diversos sites internacionais, mas não se aproxima sequer remotamente do Afeganistão.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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