16/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

A República Miliciana Brasileira

Publicado em 23/06/2021 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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“Deputado Luis Miranda, Deus está vendo. Mas, o senhor não vai só se entender com Deus, vai se entender com a gente também." Onyx Lorenzetti, ops, Lorenzoni (https://is.gd/EJI34I)

A gente tem ministro fazendo ameaças nem um pouco veladas a um deputado. Ao vivo na TV. "Vou te pegar lá fora" versão palaciana.

É esse o nível da república miliciana brasileira.

Resumo da obra: Presidente miliciano usando ministro pra ameaçar deputado que denunciou corrupção na Saúde (o que pra mim deveria acarretar pena capital – que eu sou em tese contra, mas juro que abro uma exceção pra quem rouba grana de combate à pandemia).

O deputado é Luis Miranda (DEM-DF), que era Youtuber e que foi eleito já envolvido em escândalos de corrupção e compra de votos (não seria Bolsonarista se não viesse já danificado de fábrica). Aliás, YouTuber daqueles "ganhe dinheiro fácil", ou seja…

Long story short, o deputado Luis Miranda, Youtuber do DF, diz ter recebido denúncia do irmão dele, funcionário do Ministério da Saude (já exonerado, porque obviamente denunciar corrupção é motivo para punição), de que haveria corrupção na compra de doses da Covaxin, vacina indiana que até hoje ninguém entendeu porque despertou interesse brasileiro (https://is.gd/ctGQsr).

Enquanto a Pfizer praticamente implorava pro Brasil comprar sua vacina, Bolsonaro ia atrás de uma vacina indiana em estágio intermediário de testes. Aparentemente agora sabemos o porque do interesse, era mais fácil tirar uns trocados e fazer um bem bolado com os indianos do que com a Pfizer.

E, segundo o deputado, não se trata só de mera corrupção (na casa das centenas de milhões de reais, o que pagaria uma quantidade absurda de ajudas emergenciais pra quem tem fome), mas também a compra de vacinas vencidas ou perto de vencer que iriam para o lixo. Bolsonaro iria comprar vacina vencida para deixar ainda mais brasileiros morrerem. Aliás, "deixar" está longe de ser o termo correto.

""Tem coisa mais grave, bem mais grave [do que a pressão]. Inclusive erros no contrato. Formas irregulares na apresentação do contrato. Datas de vencimento das vacinas incompatíveis com a importação, sem tempo de ser vacinada a população”, disse o deputado. (https://is.gd/NwkjbY)

O que não dá pra entender (também) é o que levou o deputado a levar a denúncia de corrupção ao Bolsonaro e não à PF. Custo a acreditar, mas não duvidaria, que o cara realmente achou que o presidente era honesto e iria ele próprio acionar a PF para investigar o caso. Como sabemos, ele não o fez e ainda botou seu ministro pra ameaçar o deputado.

Enquanto isso no Rio de Janeiro, ex-governador fascista denunciando que caiu porque deixou que investigassem morte de Marielle – morta por milicianos ligados aos Bolsonaro. Do the math.

Enquanto isso (parte 2) mais de 500 mil mortos, desrespeito à ciência, desemprego, fome. Com aparelhamento pesado do Estado por milicianos à serviço da presidência, gabinete do ódio, gabinetes paralelos.

O Brasil precisa de um tribunal internacional pra julgar os crimes de Bolsonaro e de seus comparsas. E estamos falando de crimes contra a humanidade. Não pode escapar um.

E esses criminosos tem que ser imediatamente derrubados – mas sabemos que isso não se encaixa nos planos de poder de um certo partido de "esquerda" que prefere que cheguemos ao 1 milhão de mortos se for "necessário" para que voltem ao poder nos braços do povo.

CAIU

Caiu o Salles, que a PF seja rápida em pegar o passaporte dele antes que ele fuja pros States Como outras figuras não menos asquerosas do Bolsonarismo. Que seja investigado e responsabilizado por tudo que fez e destruiu.

E meus mais sinceros votos para que o diabo o carregue direto pra Papuda.

ESPANHA E DIREITOS HUMANOS

E a Espanha não cansa de ser humilhada. Um dia depois do puxão de orelha do Conselho da Europa exigindo a libertação dos presos políticos catalães e o fim à perseguição política e judicial aos exilados, o Tribunal europeu dos Direitos Humanos condenou DE NOVO a Espanha por violar a liberdade de expressão de Tasio Erkizia, importante líder da esquerda basca – com quem já tive o prazer de conversar algumas vezes e de marchar ao lado em protestos por anistia e independência em Bilbao.

Tasio há muitos anos, assim como a ampla maioria da esquerda basca, defendia uma solução negociada para o fim da violência – ao contrário da Espanha, que até hoje defende a violência, a repressão e a censura como forma de lidar com bascos e catalães.

"De acordo com o documento de 30 página, publicado em francês, a condenação contra Tasio Erkizia representou uma “interferência” das autoridades espanholas na liberdade de expressão do político basco. Tasio Erkizia foi condenado à prisão e inabilitação por suas declarações feitas em 2008 durante um evento de homenagem José Miguel Beñaran Ordeñana, membro da organização ETA assassinado pelo grupo da extrema-direita espanhola Batallón Vasco Español. Para o Tribunal Constitucional espanhol, as palavras de Tasio Erkizia eram uma “apologia ao terrorismo, incitação ao ódio e ao nacionalismo agressivo” no País Basco."

José Miguel Beñaran Ordeñana é nada menos que Argala, um dos líderes mais importantes e simbólicos da ETA – e um dos participantes da Operação Ogro, que matou o número dois de Franco, o almirante Carrero Blanco, seu provável sucessor.

Aupa Tasio!

Agur eta ohore Argala!

REPRESSÃO ESPANHOLA

Como escreveu o Sergio Arenillas, "Demolidora aprovação no Conselho Europeu! Relatório aprovado com ampla maioria equipara a repressão espanhola com a turca. Documento exige a liberação dos presos políticos e revogação de ordens europeias de prisão. Violações de direitos fundamentais evidenciada no continente!"

Sánchez está apenas perdoando os 9 presos políticos catalães porque sabe que a condenação deles será derrubada por cortes europeias e ele não pode aceitar isso. A Espanha NÃO é uma democracia, mas Sanchez quer manter a fachada.

Como disse antes, a Espanha é uma ameaça à democracia da UE e "a menos que a UE seja capaz de enfrentar as violações dos direitos humanos pelas autoridades espanholas, a política externa da União permanecerá deficiente" (https://is.gd/aZWylu).

E há uma distinção importante a ser feita: Perdão significa que os líderes catalães cometeram crimes. O que os catalães exigem é anistia, que carrega um caráter político que a Espanha não está disposta a reconhecer (https://is.gd/boAITO).

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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