19/04/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Um troço doentio

Publicado em 21/04/2021 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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Identitarismo é um troço doentio acima de tudo porque é inconsistente. Porque encontra sempre formas de aparecer e fazer um discurso tosco não importa a situação.

Estereótipos são ruins? Sim. Positivos? Também. Não tem como você acertar.

Adoro o Azaria, mas essa cagada dele se desculpando me dá um ódio tremendo. Sou é um dos personagens mais adorados dos Simpsons exatamente por ser uma zoação com estereótipos. TODOS os personagens do desenho são estereótipos.

O divertido é que essa besteira vem no mesmo dia em que uma figura perdida de ~diversidade~ da BBC reclamou que o Idris Elba não interpreta bem o papel de um negro (?) em Luther porque… ele não encarna estereótipos da raça. Tipo, não tem como agradar.

Odeie estereótipos, afinal são racistas, mas… Sem estereótipos você não é quem diz ser.

Fico com o John Cleese, só levando na galhofa. Porque no fim essa turma da diversidade, da lacração, tem como único objetivo manter seus cargos irrelevantes e JAMAIS resolver realmente qualquer problema real causado pela falta de diversidade – se resolver, eles perdem a razão de existir.

Então quando o estereótipo está presente eles gritam, quando falta… gritam também. Você tem que ir até os tais "especialistas" pra perguntar cada passo na criação de personagens e shows, pra pedir permissão, a benção… Assim eles se mantém relevantes – destruindo obras, destruindo vida da galera quando tem a chance, etc…

NOSSA MEMÓRIA

Meu último para o Business Insider sobre por que devemos preservar nosso histórico online e por que a decisão da Verizon de encerrar e excluir todo o conteúdo do Yahoo Respostas é uma má ideia.

“O fim de serviços como Geocities e Yahoo Answers é, de fato, o equivalente a queimar milhares ou milhões de livros. Hoje pode não parecer que um blog com o diário de um adolescente – ou perguntas idiotas feitas a estranhos – é algo de valor, mas em 50, 100, ou mesmo 500 anos, esse conteúdo pode servir de base para importantes estudos historiográficos. Esses artefatos podem ajudar as gerações futuras a entender a sociedade atual e como as pessoas desse momento pensam. É por meio de pequenas informações, sejam diários pessoais ou narrativas históricas , que a memória de uma época é construída ou reconstruída. "

ELE OU ELE?

Bolsonaro é um fascista perigoso, borderline genocida que precisa ser parado a qualquer custo?

Sim.

Mas, amiguinho, se seu argumento vai ser desde agora "ou vota no meu candidato (Lula, claro) ou você é fascista também", parabéns, você garantiu mais 4 anos de Bolsonaro.

MÉRITO OU ATALHO?

Não importa o ângulo pelo qual você olhe isso – sempre será patético.

A ideia toda é desprezar quem estuda, nivelar por baixo e pior, colocar profissionais sem qualificação no mercado que NÃO vão ser capazes de cumprir sua função caso tenham que ter contato com profissionais de língua inglesa.

O discurso de defender educação e qualificação foi substituído pelo do “dane-se”, qualquer coisa serve. Não se busca educar, mas sim aceitar que tudo é ruim então vamos ficar nessa. Sabe quem curte? Competidores fora do Brasil que não precisam se preocupar, já estamos atrás.

Não se trata de defender meritocracia radical, longe disso. Acreditar em 100% de meritocracia em um país tremendamente desigual é alucinação. Mas sim que esse raciocínio é contrário ao estudo, ao esforço, ao conhecimento. Pra que se aperfeiçoar se no fim você tem “direitos” sem fazer nada?

Mérito é fundamental. Resiliência é fundamental. Nada disso significa que cotas (na graduação) não sejam necessárias, que arranjos não sejam necessários, enfim, que existam desigualdades a serem tratadas.

Claro, exite uma infinidade de vagas que exigem mundos e fundos (e inglês) e que não faz sentido, cujo chefe mesmo não fala e não tem 10% das habilidades. Esse é outro problema.

O ponto aqui, o real problema, é quando você embarca nessa e chega num ponto em que PRECISA falar inglês, precisa ter algum conhecimento que hoje alguém metido a lacrador acha que é meritocracia, logo, malvado. Faz o que? Senta e chora. Ou é demitido.

O maior inimigo desses discursinhos empoderadores-lacradores “qualquer mérito é ruim” é que esbarra na mais pura e simples realidade. A realidade não se importa com seus sentimentos e com o que você “acha”.

Aí você vê “educador” que faz brincadeira entre crianças em que todas sempre ganham. Inibe competição e evita que melhorem. Numa hora chegam no mercado de trabalho sem saber o que é tomar um não na vida ou sem aprender o que precisam e surge o “claro que não precisa falar inglês”. Não precisa fazer nada, amiguinho.

Como disse um amigo, “Livra o 'trauma' falso na infância pra depois soltar medíocres no mercado que vão ficar no TikTok reclamando que o mercado de trabalho exige inglês”.

A gente cria gerações que acham que tem direitos e esforço é do mal. Isso vai custar muito caro. A saída não é 8 ou 80, não é "não, você não precisa se esforçar, ser resiliente e ter mérito", tampouco não é "seu esforço individual pe 100% e nada mais importa".

Falar inglês num mundo globalizado é fundamental. O problema é a qualidade da educação, não a exigência do mercado.

Claro que o mundo ideal seria um em que resiliência demais não fosse necessária, em que o esforço fosse dividido entre pessoas diferentes, em que tudo fosse mais fácil e simples. Mas as coisas não funcionam assim. Não adianta pregar um mundo de fantasias e esperar que a realidade simplesmente se adapte.

Não vai.

Exigir inglês fluente para muitas vagas é necessidade. Exigir qualificação idem. Não tem racismo algum aí (lembrando que na periferia não existem só negros, pese serem a maioria), existe exigência de mercado. Se o mercado exige demais (e exige) é outro papo, e um necessário, mas não é o que se discute aqui e não é o que parcelas do movimento social querem discutir.

Não à toa você sempre vê autointituladas lideranças – que muitas vezes não sabem nem onde colocar uma vírgula – causando nas redes pra cavar vaga e coluna em revista e posições em empresas apenas na base da acusação e da gritaria. Mérito? Não, atalho.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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