28/03/2024 - Edição 540

Eles em Nós

O crime de informar

Publicado em 17/12/2021 12:00 - Idelber Avelar

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Os Estados Unidos conseguiram a mais inacreditável das extradições: Julian Assange, fundador do Wikileaks e ícone do verdadeiro jornalismo, poderá mesmo ser extraditado pelo Reino Unido aos EUA, país no qual ele não nasceu e não cometeu crime nenhum! Ainda cabe recurso.

Encerrado durante sete anos em uma minúscula embaixada do Equador em Londres, onde ele temia até mesmo ir à pequena sacada em que era possível respirar ar livre, depois enviado durante um ano inteiro a uma prisão de segurança máxima na periferia da cidade (por não ter obedecido a uma intimação enviada quando ele buscava asilo legal), Julian já está, segundo pessoas próximas a ele, com a saúde física e mental quebradas.

O “crime” de Assange foi publicar documentos de evidente interesse público, em cuja obtenção ele não cometeu nenhuma ilegalidade. Esses documentos revelavam as mentiras que fundamentaram a Guerra do Iraque e os procedimentos de tortura utilizados pelo exército americano, tanto no Oriente Médio como na Ásia Central. Ele não fez nada diferente do que depois fariam–possibilitados por ele–jornais como New York Times, Guardian, El País e a própria Folha de São Paulo.

A extradição é tão vergonhosa que o juiz que a concedeu não teve a hombridade de dar as caras para anunciar o veredito. Escondeu-se.

Curiosamente, ela foi anunciada no aniversário de 11 anos do primeiro texto que publiquei em defesa de Assange, ainda n’O Biscoito Fino e a Massa. Eu o reproduzo abaixo em capturas de tela e mantenho na íntegra o que disse na época. É impressionante imaginar que 11 anos depois eu volto a protestar contra a mesma extradição ilegal e imoral, agora concedida, tendo Assange passado todo esse tempo sem a mínima liberdade de ir e vir, vivendo em cubículos e sem ter sido condenado por crime nenhum.

Em tempo: a perseguição a Assange foi muito pior nos governos Democratas, tanto no de Obama como agora, no de Biden. Os falcões da máquina de guerra clintoniana estão comemorando, e o meu candidato a presidente dos EUA nas duas últimas eleições, Bernie Sanders, está caladinho.

A única política Democrata de destaque que teve a coragem de protestar contra a perseguição a Assange foi Tulsi Gabbard, aquela que Hillary Clinton chamou de “ativo russo.” Admiro Tulsi cada vez mais. Não é fácil ser um político nos EUA e protestar contra a perseguição a Assange.

Desejo a Assange toda a força. Ele é jovem ainda. Tem 50 anos de idade e muita vida pela frente, se não o matarem, que é o que querem fazer.

E O GALO? O GALO GANHÔ!

Aí vai a festa com a taça. Bicampeões da Copa do Brasil também!

Já viram um clube detonar uma zoeira de forma tão categórica como o Galo fez este ano com a piada do "não tem bi"? Bicampeão duas vezes no mesmo mês!

O que achei mais bonito desta campanha da Copa do Brasil: passamos por Pará, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará e Paraná. Tour geral do país.

Menção honrosa para a torcida do Furacão ontem, cantando mesmo depois de um 6 x 1 no agregado.

Menção ultra honrosa para o Guilherme Arana, trocando a camisa com um garoto paranaense de uns 10 anos de idade, que agora na certa já tem um segundo time.

Não estamos só levantando os canecos, estamos dando show também.

LUTO

Todo o mundo da literatura está de luto hoje (12/12), mas para nós, de New Orleans, é uma dor tremenda, muito particular.

No Metairie Cemetary aqui da cidade, a família vai sepultar hoje uma das maiores artistas do nosso tempo, Anne Rice, a autora de "Entrevista com o Vampiro" e de toda a série das "Crônicas Vampirescas", responsável direta pelo renascimento da literatura gótica nas últimas décadas. Ela nos deixou ontem à noite, aos 80 anos, depois de um derrame.

É difícil descrever o amor que temos por Anne Rice em New Orleans. Nenhuma tour da cidade está completa sem uma visita à casa de Anne, na Avenida Napoleon, e sem um passeio pelos quarteirões 700 a 900 da Rua Royal, no French Quarter, que são presença de destaque na adaptação de "Entrevista com o Vampiro" para o cinema, com Tom Cruise e Brad Pitt.

Anne Rice perdeu sua filha Michele, vítima de leucemia aos cinco anos de idade. Michele seria a inspiração para a vampirinha Claudia, que aparece em "Entrevista". Anne era especialmente querida pela comunidade LGBT, pelo apoio que lhes dedicou durante toda a vida.

Para quem não conhece os romances de Anne Rice, agora é a hora. "Entrevista com o Vampiro", "A Rainha dos Condenados", "A Fazenda Blackwood", "A História do Ladrão de Corpos", "Comunhão do Sangue" etc: está tudo disponível em português. Ninguém mais que ela demonstrou a possibilidade de se fazer literatura de grande sofisticação com formas narrativas populares.

Aqui entre nós, em New Orleans, ela era conhecida simplesmente como "A Rainha".

RIP.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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