18/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Nó na língua

Publicado em 09/12/2021 12:00 - Idelber Avelar

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São incríveis certas coisas que acontecem na cultura da sinalização de virtude.

Não participo, em geral, dos debates sobre “linguagem inclusiva”, porque sei que a própria língua vai decantar e filtrar as eventuais mudanças, que só acontecerão se um número suficiente de falantes se sentirem representados por elas e passarem a usá-las de forma orgânica, normal, diária, “natural”. O resto é ruído.

A coisa muda de figura quando a mudança linguística vem de cima pra baixo e designa a mim mesmo, algo que sou. É o caso desse horror que é a palavra “Latinx”.

Saiu pesquisa da Pew mostrando que apenas 2% dos latinos e latinas usam o termo “latinx”. 40% dos latinos e latinas dos EUA se sentem ofendidos quando o termo “latinx” é usado para designá-los (QUARENTA POR CENTO!). O link da pesquisa vai AQUI.

A ofensa é óbvia: o espanhol e o português são línguas que flexionam o gênero. Como o inglês não flexiona, o anglo progressista inventa o “latinx”, que é um termo que eu nunca vi nenhum latino usar.

Como o anglo progressista precisa sinalizar virtude, ele não usa o masculino presumido universal, coisa comum nas línguas que flexionam gênero — como eu acabo de fazer aqui, ao dizer “o anglo progressista” ou “nenhum latino”, formulações em que, salvo sinalização em contrário, qualquer falante percebe que também estão incluídas as mulheres. Se você quer enfatizar que estão incluídos os dois gêneros, é só fazê-lo, como eu fiz no parágrafo anterior, ao dizer “latinos e latinas”.

Não é difícil.

Mas o anglo progressista precisa sinalizar virtude, então ele coloniza a língua do outro e só diz “latinx”, que é basicamente um termo racista: se há um termo que designa uma comunidade étnica e nunca é usado por aquela comunidade para falar de si própria, mas apenas aparece no discurso da etnia dominante — só anglófonos progressistas universitários usam “latinx” para falar de nós —, então estamos diante de um epíteto racial, um termo racista.

O resultado? Mais e mais latinos e latinas de direita se elegem tomando essa palhaçada como cavalo de batalha, como é o caso da autora do tuíte que ilustra este post, recém eleita para o Congresso pelo Partido Republicano da Flórida.

De minha parte: que meu departamento e minha universidade façam o que quiserem, mas eu passarei a tratar o termo “latinx” como o que ele é: um epíteto racista. Usou comigo, vai ter constrangimento e confusão.

POBRE JUDICIÁRIO

Este é um gráfico que deveria escandalizar e estarrecer qualquer um. Ele gera pelo menos uma pergunta que é legítima de se fazer a qualquer candidato à Presidência, mas muito especialmente ao Sergio Moro.

"Candidato, em porcentagem do PIB, ou seja, em termos proporcionais à riqueza do país, o Brasil gasta mais com o seu Judiciário do que Alemanha, Portugal, Itália e Reino Unido SOMADOS gastam com os seus. Quais suas propostas para que o Judiciário não drene tantos recursos do país?"

Vamos lá, amigos da imprensa, vocês conseguem fazer essa pergunta, né?

O IMORTAL CAIU DE NOVO

O Grêmio vai jogar a segunda divisão em 2022, junto com Vasco, Bahia, Guarani, Sport, CSA de Minas e outros grandes clubes.

Nessas horas, nunca apelo para a saudável zoeira e prefiro falar sério, então se os gremistas não quiserem acreditar que o que digo é de coração, paciência. Mas é.

Já estive no velho Olímpico algumas vezes, mas nunca fui à Arena do Grêmio. Só este ano descobri que o clube tem UMA ESTÁTUA DO RENATO GAÚCHO no estádio.

Ao mesmo tempo, a torcida do Grêmio praticamente inteira insiste em um ressentimento besta contra ele, contra o Bruxo, contra o Sorriso, contra o maior artista do ludopédio brasileiro do século XXI, Ronaldinho Gaúcho. A raiz da raiva é uma bobagem de transferência normal na vida de um profissional que escolheu uma oferta melhor de trabalho.

Tenho pra mim que toda a zica do Grêmio vem daí, e as minhas sugestões para dias melhores na vida do Imortal são:

1˚ Demolir a estátua do picareta e jogar sal grosso no lugar.

2˚ Conseguir um psicanalista, um pai-de-santo, qualquer coisa que seja, e reconciliar-se com o Bruxo, voltar ao amor do artista maior que o Grêmio revelou. Nenhum clube pode ser feliz odiando o maior artista que já saiu de suas fileiras.

3˚ Voltar para a Série A e restaurar os dias de glória.

Para quem não acha que falo sério, basta olhar para estas duas fotos. O que vai acontecer com uma pessoa ou instituição que cultua o sujeito da esquerda e vive com ódios, raivas e ressentimentos do sujeito da direita? Vai se dar mal na vida, é claro.

Gremistas, eis aí o caminho.

Ass: Campeão Brasileiro.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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