25/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Ressentimento, mediocridade e raiva

Publicado em 07/10/2021 12:00 - Idelber Avelar

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Ideólogo crente em seus dogmas, raivoso, medíocre em sua área, milionário e, sobretudo, ressentido. Profundamente ressentido. É uma combinação rara.

O diagnóstico é complicado porque a palavra “ressentimento” foi uma das que andaram perdendo o sentido no Brasil dos últimos anos (há um texto meu no Medium sobre isso). A estratégia é simples: você coloca suas milícias digitais para massacrar alguém e, depois de concluído o massacre, você desqualifica qualquer coisa dita pela pessoa com o rótulo de “essa aí é ressentida”.

Essa foi a estratégia de destruição de reputação usada contra uma das pessoas menos ressentidas que conheço, Marina Silva, que continua tranquilamente fazendo o seu trabalho, mesmo depois de todo o massacre que sofreu.

No extremo oposto de Marina, está Paulo Guedes, esse sim, um ressentido legítimo. No ressentido, a motivação de tudo fica clara: Paulo Guedes é obcecado com André Lara Rezende, Pérsio Arida, e todos os outros economistas do Plano Real, que fizeram o que ele gostaria de ter feito, estabilizar a economia brasileira e tirá-la da hiperinflação.

Na definição nietzscheana, o ressentido é aquele que cozinha dentro de si a sua impotência em vingar-se daqueles que lhe impuseram prejuízos, sejam reais ou imaginários. No caso de Guedes, é um prejuízo imaginário. Ninguém lhe causou dano nenhum. O único dano que ele sofreu foi ver outros economistas fazer o que ele gostaria de ter feito. Ele cozinha há trinta anos essa dor. É visível em tudo o que ele diz e faz.

Talvez até mais que Sergio Moro, Paulo Guedes é o indivíduo sem o qual dificilmente o bolsonarismo teria tomado a forma que tomou. Bolsonaro tinha consigo o Partido do Boi, o Partido Teocrata, o Partido da Polimilícia, e o Partido dos Trolls. Mas precisava de um avalista no mercado, afinal ele sempre votou contra as políticas pró-mercado (pra quem não sabe: Bolsonaro foi contra o Plano Real, contra as privatizações, contra as reformas da previdência etc).

Guedes foi o único que ele conseguiu.

Conseguiu porque Guedes abraçaria até Trotski se Trotski pudesse ajudá-lo a se vingar dos economistas que estabilizaram a economia brasileira sem pedir permissão a ele, e sem incluí-lo, naqueles anos 90 tucanos que Guedes via como continuação dos anos 80 pinochetistas e thatcheristas dos quais ele participou, roubando dos trabalhadores chilenos algumas módicas garantias que eles haviam conquistado no governo do Doutor Salvador Allende.

Paulo Guedes começou o governo repetidamente ameaçando ir embora se não fosse obedecido. Afinal de contas, todo mundo sabe que ele é milionário e, estritamente falando, não precisa daquilo.

Vai terminar o governo desmoralizado, pisoteado, humilhado pelo centrão, e sem poder sair, porque afinal de contas, como todo ressentido, ele está preso.

INACREDITÁVEL

A inacreditável Alerj, com sanção do governador, apronta mais uma. Enquanto vocês almoçavam, o pentecostalismo virou patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro.

QUEM IMAGINARIA?

Puxa vida, quem poderia imaginar que um único indivíduo controlando a comunicação virtual de bilhões de pessoas, sem regulação, sem responsabilização, sem se sujeitar a nenhum controle democrático, não era uma ideia muito boa, né mesmo?

A parte inacreditável da história foram os funcionários do Facebook sem conseguir entrar no prédio porque os crachás que dão acesso funcionam com … o login de sua conta de Facebook! Se fosse um filme, já seria suficiente para parecer de quinta categoria.

É uma luta do nosso tempo: manter as possibilidades de inovação tecnológica enquanto criamos mecanismos de regulação democrática sobre duas ou três empresas que têm sobre nós um controle que nenhuma empresa jamais teve.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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