20/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Se a situação está difícil para você, imagine para o Sergio Moro

Publicado em 23/03/2021 12:00 - Idelber Avelar

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Meros três anos atrás, ele era — nem petistas negam isso — o brasileiro mais popular em toda a extensão das terras de Santa Cruz. Era visto, por uma ampla maioria da população, como a esperança da política. Era abraçado e aclamado em aeroportos.

Isso não era só na direita, no centro, ou no campo antipetista. Era na esquerda também. Luciana Genro, do PSOL, que frequentava este mural, brigou comigo porque eu nunca caí em lorota de justiceiro. Os arquivos estão aí, abertos.

[É verdade que fui grosseiro com ela na interação, inclusive com letras maiúsculas. Mas é fato que hoje ela vê que no mérito eu estava correto; certo Luciana?]

O que teve de gente apagando post de 2015-16 não está no gibi. Ah, como é bom poder dizer!: "16 anos sem apagar um post na internet".

Sergio Moro poderia ter sido o que quisesse. Poderia ter sido Ministro do STF, se esperasse. Poderia ter sido o fiel da balança nas eleições de 2022, se esperasse. Poderia ter permanecido como o juiz mais popular do Brasil [não que eu ache que "juiz popular" seja algo bom, claro].

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Mas a combinação entre ambição, ego inflado e inteligência atrofiada fulminaram Moro. Aceitou ser Ministro de um fascista e largou a posição sólida que tinha. Foi pisoteado pelo fascista. Passou pelo vexame de não emplacar sequer uma nomeação — a de Ilona Szabó — a um conselho desimportante. Ocupou o Ministério da Justiça durante 16 meses e não fez NADA.

Depois, aceitou entusiasmado o convite de um dos principais programas de estudos latino-americanos dos EUA para uma mesa, com aquela fascinação que ele tem com os Estados Unidos. Deu seu aval à divulgação do evento. Mas, quando descobriu que o companheiro de mesa não seria alguém que lhe inflaria o ego, mas um mero professor de literatura atleticano crítico da Lava Jato, correu como um rato. Cavou boquinhas aqui e acolá e conseguiu, claro, alguma grana no setor privado.

Agora, no julgamento de sua suspeição no STF, passou pela humilhação de ver Gilmar Mendes referir-se a ele como alguém que fala algo "que se avizinha do português". E o tribunal o definiu como juiz ladrão.

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Sim, no popular, o juiz "suspeito" é o juiz ladrão. Estava correto Glauber Braga ao se referir a ele assim. Esse é o nome, no popular. Se é parcial, se é suspeito, e se é juiz, é juiz ladrão. Qualquer boleiro sabe disso.

Que a sociedade brasileira alcance, um dia, a maturidade de não idolatrar políticos ou quaisquer outras figuras que ocupem esse espaço com discursos salvacionistas.

E agora, Sergio Moro, vai ter coragem de responder ao Gilmar? Não né? Pois é. Apressado come cru.

INACREDITÁVEL

Em São Leopoldo, ontem, bolsonaristas ouvem o hino nacional batendo continência para uma caixa gigante de cloroquina.

Sim, é isso mesmo. Sim, eu chequei a fonte.

Isso é inacreditável até para padrões brasileiros.

BATE PAPO

O Meio embutiu no Facebook o vídeo da entrevista que o Pedro Doria fez comigo, então circulo-a de novo porque o FB limita muito a visualização de links do YouTube. Aí vai, para quem não havia visto, o papo de uma hora com o Pedro sobre o "Eles em nós". Note-se a atenção com que ele leu o livro antes de fazer a entrevista. É muito legal isso, independente de concordâncias ou discordâncias.

NUNCA MÁS

24 de março de 2021, 45 anos do golpe militar na Argentina.

Não há qualquer possibilidade de que o Brasil saia deste buraco em que se encontra sem que entendamos tudo o que ainda temos que aprender com a grandiosidade da experiência do luto levada a cabo pela República Argentina.

Hoje, o Presidente Alberto Fernández foi abraçar Taty Almeida, das Mães da Praça de Maio. Taty teve seu filho sequestrado e desaparecido quando ele tinha 20 anos de idade.

Um Presidente, ladies and gentlemen, um Presidente.

Esta cena me enche de emoções contraditórias: profundo orgulho de ser professor de literatura argentina, e profunda vergonha de ser brasileiro, porque nem isso nós nunca fizemos.

Alejandro Almeida, filho de Taty, presente!

NUNCA MÁS.

NÍVEL SHAKESPEARE

A antecipação de feriados em várias cidades brasileiras trouxe à baila de novo este áudio do começo da pandemia, que considero, sem exagero, a maior obra-prima já enviada por WhatsApp um dia. Coisa nível Shakespeare.

É uma conversa de áudio logo depois que o prefeito resolveu antecipar uns feriados em 2020.

Deliciem-se.

 

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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