28/03/2024 - Edição 540

Camaleoa

Paddy Jones, a vovó de 80 anos que arrasa na salsa

Publicado em 29/08/2014 12:00 - Cristina Livramento

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Sarah Pa​tricia "Paddy" Jones é uma americana de 80 anos, viúva, e uma das nove classificadas no Britain's Got Talent 2014. Ela e o espanhol Nico Espinosa, 40, arrancaram lágrimas e aplausos quando se apresentaram pela primeira vez, durante o concurso, em abril deste ano. Não é só a performance de Paddy no palco que chama a atenção, mas a sua determinação em encontrar uma razão de viver e ser feliz.

Avó de sete netos, com idades entre 8 e 32 anos, e um bisneto de 3, a dança na vida de Paddy não aconteceu de repente, só na velhice. Ela foi bailarina dos 2 aos 17 anos quando conheceu seu marido, David. Abandonou a carreira artística porque queria se dedicar ao casamento e assim o fez sem nenhum arrependimento. Quando o casal se aposentou, o marido sugeriu que eles fossem morar em um lugar diferente e escolheram Valencia, na Espanha. Um pouco antes de fazerem a mudança, David descobriu que estava com leucemia. Fez o tratamento ainda nos Estados Unidos, antes de se mudarem. Foram três anos em terra estrangeira e David morreu em 2003.

Ver Paddy dançar faz a gente pensar que nada é impossível e que a dor e a solidão são possíveis sim de serem transformadas em algo maior.

Apesar da insistência dos quatro filhos para que ela voltasse à terra natal, Paddy resolveu ficar onde estava e se envolveu com jardinagem dia e noite para ver o tempo passar e conseguir cansar o corpo e dormir com alguma facilidade. Quando o inverno chegou, ela resolveu ocupar as noites com alguma outra coisa e foi até a academia de dança de Nico, em Gandia, próximo a Valencia, para aprender flamenco, mas acabou tendo aulas de salsa.

Daí em diante, Paddy Jones e Nico Espinosa ganharam o concurso espanhol de talentos, Tú sí que vales, em 2009, e a grande repercussão, este ano, com o Britain's Got Talent. Paddy não se lamenta de ter abandonado a dança para casar. Ficou viúva, em um momento planejado por tantos casais,logo após a aposentadoria. Poderia ter se lamentado, pela segunda vez, mas optou por se ocupar e reconstruir uma nova vida. Encontrou na jardinagem um significado para o cotidiano, onde pudesse talvez chorar, rezar e apaziguar a dor da perda do marido. É preciso muita lucidez para não sucumbir em momentos como esse. E quando o inverno chegou, ela fez mais uma opção que mudaria completamente sua vida.

Ver Paddy dançar faz a gente pensar que nada é impossível e que a dor e a solidão são possíveis sim de serem transformadas em algo maior. Algo maior que não tem nada a ver com fama, dinheiro, festas entre famosos, pele esticada ou corpo malhado, tem a ver com o compromisso que ela se propôs com ela mesma, em ser feliz. As piruetas e passos ousados de Paddy no palco não são nada extraordinários se pensarmos que tudo isso é resultado de dedicação extrema em uma rotina dura de ensaios. E antes ainda dela manter essa rotina, a mulher de 80 anos precisou encontrar dentro de si força para seguir adiante. O grande feito de Paddy está aí. O que vemos é o resultado de anos de dedicação e a disposição de um ser humano em ser feliz, independente do que a vida lhe proporcione. Como Nico diz, ao final da apresentação, "se ela pode, qualquer um também pode. Se você quiser, você pode". 

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A primeira apresentação, em inglês, legendas em espanhol.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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