18/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Já deu

Publicado em 19/05/2022 12:00 - Victor Barone

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O perfil no Instagram do delegado da Polícia Federal (PF) José Erasmo de Oliveira Júnior, chefe da Divisão de Segurança de Dignatários, curtiu posts com críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O setor é o responsável por analisar os planos de proteção aos candidatos à Presidencia da República nas eleições deste ano, entre eles, o petista.

Erasmo é considerado apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Além das críticas ao ex-presidente Lula, o delegado também curtiu posts relacionados ao 7 de setembro do último ano, ocasião em que diversos atos de apoio a Bolsonaro foram convocados. No perfil do Facebook da esposa dele, Marília Alencar, também delegada da PF, há fotos do casal em uma manifestação contra a então presidente Dilma Roussef, em 2016.

Erasmo foi nomeado chefe da Divisão em 16 de setembro do ano passado, no mesmo dia em que a PF definiu as diretrizes para proteção dos candidatos. As publicações são anteriores à nomeação.

Procurado pela reportagem do Uol, Erasmo afirmou não ter “nada a declarar”. A PF informou que “o servidor em questão possui amplo currículo e experiência profissional que o credenciam para as funções atualmente exercidas no âmbito da Polícia Federal. Eventuais infrações de natureza administrativa poderão ser apuradas nos termos da legislação vigente”.

ATO FALHO

O presidente Jair Bolsonaro afirmou concordar que, no governo do ex-presidente Lula, os brasileiros viviam melhor. A declaração foi dada a seus apoiadores na porta do Palácio do Alvorada. Ele culpa as medidas de distanciamento social adotadas durante a pandemia de covid-19 para salvar vidas e a guerra na Ucrânia pela situação da economia sob seu governo ser pior que durante a gestão do petista.

BARREIRA CONTRA O FASCISMO

O vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, disse que a Justiça Eleitoral tem “coragem republicana” para enfrentar os que não acreditam no Estado democrático de direito. Ao participar de sessão em homenagem aos 90 anos da Justiça Eleitoral no Brasil, ele voltou a defender a segurança das urnas eletrônicas e destacou que o Brasil é a “única democracia” que apura os resultados das eleições no mesmo dia.

O discurso ocorre um dia após o presidente Jair Bolsonaro protocolar uma notícia-crime por abuso de autoridade contra Moraes. O ministro Dias Toffoli disse que os fatos narrados na ação “não constituem crime” e barrou o seu prosseguimento. Bolsonaro, então, acionou a Procuradoria-Geral da República contra o ministro. Mas o procurador-geral da República, Augusto Aras, deve seguir o entendimento do STF e não deve abrir investigação contra o ministro.

Muda nada o cumprimento cordial trocado por Bolsonaro com o ministro Alexandre de Moraes na posse dos novos ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília. A iniciativa foi de Bolsonaro. A certa altura da cerimônia, quando o locutor registrou a presença de Moraes, o auditório do TST, lotado por juízes, advogados e servidores, irrompeu em aplauso. Foi um longo aplauso. Bolsonaro recusou-se a aplaudir, com as mãos pousadas nas pernas. Na hora de ele ir cumprimentar os juízes empossados, um por um, Bolsonaro viu que Moraes, sentado, estava imediatamente depois deles. Não cumprimentá-lo seria uma afronta, e ele sairia dali com a merecida pecha de homem mal educado. Então, avisou-o com um gesto de mão que deveria levantar-se para receber o cumprimento, gesto que seria dispensável porque Moraes também é um homem educado. A cena durou menos de 5 segundos, se tanto. E foi aplaudida também.

No mesmo dia, Bolsonaro havia atacado outra vez Moraes, embora sem citar seu nome. E Moraes havia aplicado mais uma multa, a terceira, ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) pelo não uso de tornozeleira eletrônica como ele havia determinado. Silveira foi condenado pelo Supremo por 10 votos contra 1 a 8 anos e 9 meses de prisão e perda de mandato por ameaças e incitação à violência contra ministros da Corte. A pena foi indultada por Bolsonaro. Moraes entende que a perda do mandato se mantém.

A birra de Bolsonaro com Moraes nada tem a ver com Silveira. Bolsonaro quis pôr um delegado da confiança dos seus filhos na direção da Polícia Federal – Moraes impediu. É Moraes que preside os inquéritos que ele e os filhos respondem no Supremo. Não bastasse, Moraes, a partir de agosto, será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Quer dizer: será ele quem presidirá as próximas eleições. É o pior cenário possível para Bolsonaro que vê no ministro seu maior inimigo, só menor que Lula.

Para quem está empenhado em desacreditar o sistema eleitoral e prepara-se para desconhecer os resultados das eleições caso as perca, Moraes é o alvo ideal. E Bolsonaro, com a concordância dos militares que o cercam, não esconde isso de ninguém. O Brasil jamais ouviu da boca de um aspirante a golpista que ele pretendesse dar um golpe se tivesse força para isso – agora, ouve.

Por Ricardo Noblat

RETROCESSO

A discussão sobre a regulamentação do homeschooling, projeto aprovado na quinta (19), na Câmara dos Deputados, não está sendo guiada para ajudar famílias que, por algum motivo, precisam que seus filhos tenham um ensino domiciliar. Mas pela tentativa de setores da sociedade de garantirem que seus filhos sejam construídos à imagem e semelhança de sua ideologia. Erra quem pensa que o processo educacional se resume a enfileirar conhecimento técnico na cabeça de crianças e adolescentes. Resumir a escola ao ensino do 2 + 2 e do beabá, como defende uma parte do bolsonarismo, é condenar o futuro do país.

NA LIXEIRA DA HISTÓRIA

Apesar de ter renunciado ao mandato de deputado estadual, Arthur do Val (União Brasil), conhecido como Mamãe Falei, foi cassado na sessão extraordinária de terça-feira (17), da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Com isso, ele teve seus direitos políticos suspensos por oito anos. O resultado foi unânime e registrou 73 votos favoráveis e nenhum contra. Para a cassação do mandato e dos direitos políticos eram necessários 48 votos. Do Val era alvo de um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar por conta de áudios sexistas sobre mulheres ucranianas. Com a renúncia, o ex-deputado tentou adotar uma manobra para não ter seus direitos políticos cassados, visando uma nova candidatura em outubro. No entanto, não deu certo.

NOVO JINGLE

O lançamento oficial da pré-candidatura do ex-presidente Lula, realizado no último dia 7 em São Paulo, foi marcado também pela apresentação de um novo jingle, que faz a releitura do jingle “Sem medo de ser feliz”, marcado pelo refrão “Lula lá”, da campanha de 1989. O vídeo foi apresentado pela noiva de Lula, a socióloga Rosângela Silva, a Janja. Ela introduziu a peça destacando que o ex-presidente comentou, durante viagem recente ao Rio Grande do Norte, que imaginava que não conseguiria recriar a emoção da campanha de 1989.

VIÚVAS DO TUCANATO

O colunista do Globo Merval Pereira foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter no último dia 9 ao defender, em artigo publicado no dia 8, um segundo turno com os três candidatos mais votados. Merval ataca em seu texto o voto útil no candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL): “Não há nenhuma razão para quem não é lulista votar no ex-presidente no primeiro turno, nem mesmo dizer nas pesquisas que votará nele. Mesmo que se queira impedir a reeleição de Bolsonaro, e essa é uma tarefa dos democratas, não é preciso apressar o passo, pois a eleição tem dois turnos exatamente para evitar que um presidente seja eleito pela minoria dos eleitores”.

PÁRIA

Jair Bolsonaro pode terminar o mandato sem conseguir um encontro sequer com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Segundo o jornalista Jamil Chade, do UOL, Bolsonaro está fazendo o que pode ser a última tentativa de encontrar Biden, mas até agora não há qualquer resposta ao pedido do governo brasileiro. Biden jamais aceitou um contato com Bolsonaro desde que venceu as eleições em 2020. Ligou para líderes em diversas partes do mundo. Mas deixou o brasileiro de fora de sua agenda de contatos. Segundo Chade, “uma consulta por parte do Brasil foi feita de maneira informal há cerca de um mês”. O governo dos EUA não deu uma resposta. Já o Itamaraty tem negado o pedido, mas duas fontes diplomáticas confirmaram ao jornalista brasileiro que o governo já expressou aos americanos a intenção de Bolsonaro de ser recebido por Biden. Um pedido formal e por escrito, porém, não foi feito, justamente para evitar um constrangimento. A Casa Branca quer manter distância de um governo que ensaia um golpe de Estado e evita qualquer contato. 

PROVADOR OFICIAL

Em João Pessoa, na Paraíba, o cozinheiro do restaurante de alto padrão ‘Formaggio 43’ foi obrigado a provar o prato que seria oferecido ao presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de ele comer. As informações são do jornalista paraibano Maurílio Júnior, que conversou com o cozinheiro do estabelecimento. Seguranças do presidente da República disseram ao cozinheiro que esse tipo de solicitação seria uma praxe, de maneira a evitar que Bolsonaro seja envenenado. Entretanto, não se tem notícia de que isso já tenha ocorrido em outras regiões do país.

COSPLAY DE MILICO

O jornalista bolsonarista Alexandre Garcia foi flagrado em um shopping de Brasília usando uma farda das Forças Armadas. A foto foi registrada pela jornalista Vanessa Lippelt, do ‘Congresso em Foco’. Alexandre Garcia justificou que participaria de um evento comemorativo do “Dia da Vitória sobre a Alemanha nazista”. Oficialmente, o dia 8 de maio é o dia em que se comemora a vitória na Segunda Guerra. Apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Alexandre Garcia hoje trabalha na Jovem Pan News. Ano passado ele passou por uma série de episódios polêmicos que culminaram em sua demissão da CNN Brasil em setembro. O jornalista é acusado de divulgar notícias falsas em seu canal, sobretudo a respeito da pandemia da covid.

FASCISTAS EM AÇÃO

Um dia depois de publicar no UOL, no último dia 6, um artigo sobre a difusão do ódio como instrumento de poder, o jornalista Jamil Chade passou a receber ameaças de morte. Chade reproduziu em sua conta do Twitter algumas das ameaças e passou a receber solidariedade de políticos, artistas e colegas de diversos matizes políticos que repudiaram as ameaças. O jornalista também cobrou providências do governo brasileiro em nome da defesa dos direitos humanos, da democracia e de tratados assinados junto à ONU (Organização das Nações Unidas). "O governo brasileiro promove e assina declarações na ONU pela proteção dos jornalistas. Mas se não agir dessa maneira diante de ameaças que tantos de nós sofremos, o que a diplomacia faz é mentir para a comunidade internacional sobre quais são suas políticas de direitos humanos e de defesa da democracia", afirmou.

FASCISTAS EM AÇÃO 2

Militantes do movimento Sem Terra e apoiadores do ex-presidente Lula (PT) foram intimidados por um policial na frente do aeroporto de Juiz de Fora (MG) No último dia 11. O agente chegou a gritar e apontar uma arma para os manifestantes simpáticos ao PT. "Policial nos ameaçou, apontando arma, sem nenhuma necessidade, na entrada do aeroporto de Juiz de Fora, a pedido de bolsonaristas. Absurdo!", disse um dos militantes em relato enviado à Fórum. Nas imagens, é possível ver que o policial grita e aponta a arma para os manifestantes pró-Lula, enquanto manifestantes pró-Bolsonaro, vestindo verde e amarelo, apenas observam. 

A VENEZUELA É AQUI

Bolsonaro colocou nas redes sociais um vídeo que exibe imagens de Lula com Hugo Chávez para assustar o eleitorado com a possibilidade de o Brasil virar uma Venezuela nas mãos do PT. Na verdade, o processo de venezuelização já se encontra em avançado estágio de implantação. Ocorre com Bolsonaro no poder, só que com o sinal trocado. Os supersalários dos generais bolsonaristas compõem o quadro de degradação institucional que aproxima o Brasil do seu vizinho.

Na Venezuela, o chavismo corrompeu as Forças Armadas com vantagens salariais e negócios escusos. No Brasil, o bolsonarismo acariciou as forças militares com investimentos orçamentários e mimos previdenciários. Há um ano, editou-se portaria para colocar os contracheques dos generais de estimação do capitão numa laje acima do teto salarial do serviço público. Ali, os comandantes de escrivaninha passaram a receber até R$ 78,6 mil mensais, o dobro do salário dos ministros do Supremo. Na época, até o vice Hamilton Mourão disse que a medida não era ética.

O próprio Mourão e seus companheiros de armas Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno e Walter Braga Netto apalparam ganhos extras superiores a R$ 300 mil em um ano. O escárnio ajuda a explicar a submissão dos generais ao capitão indisciplinado. Assim como Bolsonaro, Chávez, um coronel golpista, chegou ao poder pelo voto. No início, simulou respeito às instituições. Aos pouquinhos, corroeu a democracia por dentro. Comprou os militares, anulou o Legislativo, calou a imprensa e cooptou o Judiciário. Milícias bolivarianas armadas pelo governo vigiam e amedrontam a população.

Qualquer semelhança com o projeto político de Bolsonaro não é mera coincidência. A milícia bolsonarista, por ora, opera apenas em ambiente virtual. Simultaneamente, o governo civil mais militar da história arma a população. Bem pagos, os generais bolsonaristas compartilham com o capitão a mesma aversão à imprensa, ao Judiciário e ao sistema eleitoral. Bolsonaro deve recitar o CPF e o RG diariamente diante do espelho para ter a certeza de que é ele mesmo quem preside o Brasil, não um impostor venezuelano.

Por Josias de Souza

ANTIFASCISTAS

O STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta sexta-feira (13) para declarar inconstitucionais a produção e o compartilhamento de dossiês com informações sobre a vida pessoal e escolhas políticas de servidores identificados com o "movimento antifascista". A existência dos documentos foi revelada pelo UOL em 2020. O julgamento é realizado no plenário virtual da Corte e, até o momento, oito ministros já votaram contra os documentos — só Nunes Marques divergiu dos colegas até agora. Ainda falta o voto de Gilmar Mendes. Em agosto de 2020, o Supremo suspendeu por 9 votos a 1 a elaboração dos dossiês por considerar que houve desvio de finalidade. Agora os ministros discutem a sua legalidade.

FRASES DA SEMANA

“Jair Bolsonaro foi um mau militar, foi um mau deputado federal e é um mau presidente da República. Se as pesquisas de intenção de voto se confirmarem, em breve será também um mau perdedor”.  (O Estado de S. Paulo, em editorial)

“A sociedade precisa estar unida em defesa do Supremo Tribunal Federal e as instituições que garantem os direitos individuais. Não será possível ao Supremo e nenhuma outra instituição enfrentar o problema da desinformação sem o apoio da sociedade”. (Luiz Fux, presidente do STF)

“Todos os governos governaram com o Centrão, incluindo os progressistas. O Bolsonaro deu um salto: não é que ele ganhou o apoio do Centrão, ele terceirizou o governo para o Centrão. O orçamento está retalhado para essa base política”, (Guilherme Boulos, PSOL)

“O presidente tem feito críticas, mas não é só o presidente que faz críticas, muita gente faz críticas às urnas há muito tempo. O presidente da República é o meu chefe, é o meu comandante, ele tem o direito de dizer o que quiser”. (Almir Garnier Santos, comandante da Marinha)

“A internet deu voz aos imbecis. Hoje, todo mundo é especialista. A pessoa coloca terno, gravata, um painel falso de livros atrás e começa a falar desde guerra na Ucrânia, gasolina, passando pelo Judiciário, e acaba atacando o Supremo”. (Alexandre de Moraes, ministro do STF)

“[Lula] é o melhor candidato à Presidência da República. Meu voto é dele, com ou sem aliança na eleição em Minas Gerais”. (Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte, candidato do PSD a governador do seu Estado)

“Se Michelle Bolsonaro já pode fazer campanha [pelo marido], começo a minha: #elenão.” (Mariliz Pereira Jorge, jornalista e roteirista de TV)

“Se tem um assunto do qual os militares não entendem no Brasil é eleição. Quando chegaram ao poder, os militares acabaram com a eleição presidencial”. (Flávio Dino, ex-governador do Maranhão e candidato do PSB a senador)

Vagabundo, vai trabalhar vagabundo!”. (Gritos de torcedores no Estádio Mané Garrincha dirigidos a Bolsonaro que foi vaiado e aplaudido durante o jogo Botafogo 1 x Flamengo 0)

“Chega de ameaças, chega de suspeições absurdas, de chantagens verbais, tensões artificiais. O país precisa de calma e tranquilidade para trabalhar e vencer as dificuldades atuais. E decidirá livremente, no momento que a lei determina quem deve governá-lo.” (Lula)

“Como argumentar com pessoas que acreditam que ‘esquerdistas permitem que os bebês sejam mortos 28 dias após o nascimento’ ou que ‘vacinas implantam parasitas que podem ser controlados por impulsos eletromagnéticos?’” (Vanessa Bárbara, jornalista, em artigo no The New York Times)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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