19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Recado dado

Publicado em 06/05/2022 12:00 - Victor Barone

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O porta-voz do Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, Ned Price, disse que o Brasil tem um “forte histórico de eleições livres e justas”, e pediu aos brasileiros que “confiem no seu sistema eleitoral” para “mostrar ao mundo a solidez e a durabilidade da sua democracia”

A declaração de Price foi durante entrevista na Casa Branca ao ser perguntado sobre reportagem da agência de notícias Reuters. Segundo a Reuters, William J. Burns, diretor da CIA, ao visitar o Brasil há quase 1 ano, disse a membros do governo que Bolsonaro deveria parar com seus ataques ao sistema eleitoral.

Em 1964, sob a presidência do Democrata Lyndon Johnson, os Estados Unidos ofereceram ajuda militar aos que conspiravam para derrubar o presidente brasileiro João Goulart. A Marinha americana enviou uma esquadra formada por 1 porta-aviões, 6 contratorpedeiros, 1 porta-helicópteros e 5 petroleiros.

Não foi necessário. Antes que ela chegasse, o golpe estava consumado. Joe Biden, o Democrata que hoje preside os Estados Unidos, limitou-se a enviar o principal nome da espionagem americana para dizer que desta vez, se houver golpe, não haverá ajuda. Haverá, sim, oposição. E estamos conversados.

Por Ricardo Noblat

PASSANDO RECIBO

A entrevista de capa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à revista Time despertou a ira de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que apelaram para a produção de capas fakes com a foto do mandatário e legendas mentirosas descrevendo-o como um “líder competente e visionário”. O filho do presidente Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi um dos primeiros a atacar o periódico ao postar, em sua conta, que a publicação “perdeu a credibilidade”. 

O ataque foi seguido pelo ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que questionava em seu Twitter: “quem liga para essa porcaria de revista TIME !?!”. Imediatamente, internautas reagiram aos comentários apontando a expressão “dor de cotovelo” por parte dos apoiadores do presidente. Eles ainda lembraram da montagem de uma fake news publicada pelo próprio Salles, em fevereiro, simulando uma capa da revista Time com a foto de Bolsonaro e a chamada: Prêmio Nobel da Paz 2022. A imagem mentirosa foi compartilhada como “Parabéns, Presidente” pelo ex-ministro, que deixou o cargo em junho de 2021 em meio a investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra ele.  “‘Quem liga?’. O Salles liga, e MUITO, para mandar um recibo desses”, ironizou um internauta. 

CALA BOCA

Uma cena inusitada ocorreu durante uma entrevista da TV Globo Brasília com o novo presidente do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) Guilherme Gastaldello Pinheiro Serrano. A assessora do entrevistado interrompeu a entrevista que ocorria de forma remota na hora em que a jornalista fez uma pergunta sobre a redução do quadro de funcionários. No momento da interrupção, Mônica indagava sobre a diminuição do número de servidores ao tempo em que houve um aumento do volume de trabalho, especialmente no número de pedidos para concessão de benefícios. Guilherme Serrano é servidor público e assumiu cargo em 7 de abril, substituindo José Carlos Oliveira, hoje Ministro do Trabalho e Previdência. O ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) deixou o cargo para disputar o governo do Rio Grande do Sul. Serrano já atuou no INSS como diretor e presidente substituto.

Há muitas explicações para a fila do INSS, da ineficiência do serviço público ao estado crônico de greve que costuma vigorar nesse setor. Mas o que pouca gente diz é que essa fila existe porque há dois países num mesmo Brasil: o país real e o país alternativo, dos discursos oficiais. Por ironia, esses dois países se cruzam no noticiário deste mês de maio. A fila dos miseráveis retorna às manchetes no mês em que os contribuintes brasileiros são chamados a acertar as contas com a Receita Federal.

No Brasil do Imposto de Renda —ágil, bem planejado, e 100% informatizado—, o brasileiro que é batizado a contragosto de contribuinte precisa pagar os impostos devidos. No país do INSS —lento, sem planejamento e com uma informatização paleolítica— o brasileiro mais pobre descobre rotineiramente que o dinheiro dos tributos não se reverte na contraprestação de serviços públicos decentes.

Quem não quiser morrer de raiva deve fazer uma visita ao site do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Ali, morre de rir quem clica no link que conduz ao currículo do ministro. Descobre-se que o chefe da pasta se chama José Carlos Oliveira. Fez carreira no INSS. Presidia o instituto antes de virar ministro, na última reforma ministerial de Bolsonaro. Sua biografia anota que, no comando do INSS, José Carlos assentava sua gestão sobre quatro pilares: tinha quatro: pessoas, redução de filas, atendimento e automação. Ou seja: Bolsonaro nomeou uma piada para comandar o ministério que cuida da filha do INSS.

Por Josias de Souza

PARA INGLÊS VER

Numa concessão tardia ao óbvio, o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, reconheceu que o Brasil convive com "anomalias graves". Foi como Pacheco se referiu às manifestações "ilegítimas e antidemocráticas" que injetaram nos celebração do 1º de Maio a faixas e discursos em defesa do fechamento do Supremo Tribunal Federal e da volta dos militares ao Poder. Além de óbvia, a constatação de Pacheco é obscura, tardia e incompleta.

O comentário de Pacheco é obscuro porque suas frases giram a redor de um sujeito oculto. O mandachuva do Congresso sabe que o responsável pelo golpismo das manifestações é Bolsonaro. Mas se recusa a pronunciar o nome. A manifestação é tardia porque o Congresso permitiu que Bolsonaro levasse longe demais o seu plano de responder a uma eventual derrota eleitoral com uma confusão moda de Trump. A fala de Pacheco é incompleta porque esconde a motivação financeira da cumplicidade do Legislativo.

Em parceria com Arthur Lira, presidente da Câmara, Pacheco retarda há mais de cinco meses o cumprimento de uma ordem do Supremo para que o Congresso exponha à luz do Sol os nomes dos parlamentares que se lambuzaram com as verbas do Orçamento secreto. Esse esconde-esconde transformou o Parlamento numa deformidade que compõe o conjunto de "anomalias graves" a que se refere Rodrigo Pacheco. A ficha do presidente do Congresso caiu tarde. E pela metade.

Por Josias de Souza

JOVEM DE FIBRA

Um jovem —identificado pelo nome de Victor Carazzatto— fez questionamentos à deputada federal Carla Zambelli (PL) e irritou bolsonaristas, durante ato realizado na Avenida Paulista, em São Paulo. bolsonaristas demonstraram irritação com a fala do jovem e o clima esquentou, interrompendo a entrevista por alguns instantes. Nas redes sociais, Carazzatto se diz integrante do MDD (Movimento Direita Digital) e já apareceu em vídeos fazendo críticas ao MBL (Movimento Brasil Livre).

LIBERDADE E LIBERTINAGEM

Quando em 1995 o bispo Von Helde, da Universal do Reino de Deus, chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida em culto transmitido pela TV Record, o mundo desabou em sua cabeça. Desautorizado pelo dono da Universal, condenado a 2 anos e 2 meses de prisão por discriminação religiosa e vilipêndio a imagem religiosa, ele acabou deixando o Brasil. na condição de bispo avulso, voltou ao país em outubro do ano passado e, em vídeo postado nas redes sociais, atacou o Dia de Nossa Senhora Aparecida. Não produziu o barulho que esperava.  Talvez porque entre o primeiro e o segundo episódio, em janeiro de 2017, uma pastora de Botucatu, interior de São Paulo, tenha destruído impunemente uma imagem da Senhora Aparecida.

LIBERTICIDAS

No último domingo, Dia do Trabalhador, um bolsonarista gaúcho foi filmado no meio da rua rasgando um exemplar da Constituição. Não foi preso nem denunciado. Nenhuma autoridade o censurou. Bolsonaro, que diz jogar dentro das quatro linhas da Constituição, poderia ter dado o bom exemplo de orientar seu seguidor a nunca mais agir assim. Não o fez. Deve andar muito ocupado. O vice-presidente Hamilton Mourão disse que pedidos de volta da ditadura militar e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) são coisas normais: “Isso é liberdade de expressão. Tem gente que quer isso, mas a imensa maioria do povo não quer. Normal”.

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, discorda: “Há um limite em que a liberdade de expressão se transforma em um risco para a integridade das pessoas e das instituições. Nessa hora, ela precisa ser ponderada com outros valores”. A democracia como regime político é uma cláusula pétrea da Constituição. Significa que ela não pode ser trocada por nenhuma outra forma de governança. Atacá-la, portanto, é crime.

Por Ricardo Noblat

SANDICES

O jornalista Ricardo Noblat ironizou uma postagem de Alexandre Garcia que criticou o fato de o Senado convocar o McDonalds e o Burger King para explicarem a propaganda enganosa sobre alguns lanches, mas não convocar "ministros do Supremo para explicar atitudes que não têm cheiro de Constituição".  Para Noblat a crítica de Alexandre Garcia é "idiota". "Que coisa mais idiota. Já pedi à minha família: quando eu começar a escrever sandices, me interditem", disse. O deboche de Noblat enfureceu a horda bolsonarista que o atacou com uma série de acusações que envolvem seus familiares em escândalos de corrupção. Por conta disso, o nome de Alexandre Garcia foi para nos trends topics das redes sociais. 

GENTE DE BEM

Muitos usuários do Facebook foram surpreendidos com uma publicação inacreditável feita por um pastor que é líder da Igreja Batista Redenção, de São Paulo. Marcos Granconato, que mantém um perfil recheado de fotos com armas, mensagens ultrarreacionárias e posts com críticas insistentes à esquerda, disse que “a maioria dos mendigos têm o dever bíblico de passar fome, pois Paulo diz aos Tessalonicenses: se alguém não trabalha, que também não coma”. É possível perceber que o clérigo tenta embasar o absurdo numa citação da Bíblia, mas isso não impediu que muitos internautas o respondessem de maneira indignada.

GENTE DE BEM 2

Áudio gravado durante sessão na Câmara Municipal de São Paulo (SP) mostra uma voz identificada como sendo do vereador Camilo Cristófaro (PSB) dizendo a frase "é coisa de preto, né?". A vereadora Luana Alves (PSOL) afirma que a frase foi utilizada enquanto Cristófaro falava algo sobre sujeiras nas calçadas. O vereador teria esquecido o microfone aberto. O áudio foi gravado e publicado nas redes sociais.

FRASES DA SEMANA

“É importante que os brasileiros, enquanto aguardam as eleições, confiem em seus sistemas eleitorais. E que o Brasil, mais uma vez, esteja em condições de mostrar ao mundo a solidez e a durabilidade da sua democracia”. (Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado americano)

“A harmonia entre os Poderes depende […] de uma posição firme, de não transigir com as ameaças à democracia, não aquiescer com informações falsas ou levianas e não permitir que se corroa a autoridade do Poder Judiciário”. (Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal)

“Nós queremos cumprir a Constituição. Se cada um de nós carregasse um exemplar da Constituição seria um revolucionário. Era só cumprir o que já está determinado”. (Lula)

Se Lula continuar com essa incontinência verbal — e se não investir em comunidades sociais de maneira inteligente e profissional –, vai permitir que o atual inquilino do Planalto tenha sérias chances de reeleição”. (Paulo Coelho, escritor)

“Eu queria dizer que Bolsonaro só gosta de milícia, não gosta de gente. E falei que ele só gosta de polícia. Peço desculpa aos policiais que muitas vezes cometem erros, mas muitas vezes salvam muita gente do povo trabalhador. Nós temos que tratá-los como trabalhadores”. (Lula)

“Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular ações autoritárias não são, em definitivo, projeto de interesse do povo brasileiro”. (Trecho de carta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, órgão da Igreja Católica)

“Não é possível defender volta do Ato Institucional nº 5, que garantia tortura e morte de pessoas; o fechamento do Congresso, do Poder Judiciário. Ora, nós não estamos em uma selva. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão”. (Alexandre de Moraes, ministro do STF)

“O que Bolsonaro fala gera notícia. Consegue dominar a pauta, o que o torna um grande comunicador. Mas isso me atrapalha um pouco porque quero vender o governo e muitas vezes a palavra dele é tão forte que fica acima de qualquer entrega”. (Fábio Faria, ministro das Comunicações)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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