20/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O mundo dando voltas e palmadas

Publicado em 24/03/2022 12:00 - Victor Barone

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A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu na terça-feira (22), por 4 votos a 1, que o ex-procurador Deltan Dallagnol terá de indenizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por dano moral. A indenização foi fixada em R$ 75 mil, adicionados de juros e correção monetária. Segundo o ministro relator, Luís Felipe Salomão, o valor total da indenização deve superar os R$ 100 mil. Dallagnol pode recorrer da decisão no próprio tribunal.

O caso envolve uma entrevista coletiva concedida pela Lava Jato em 2016 para apresentar a primeira denúncia contra o ex-presidente Lula. O Ministério Público acusou o petista dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP). Durante a entrevista, Deltan usou uma apresentação de PowerPoint em que o nome de Lula aparecia no centro da tela, cercado por expressões como “petrolão + propinocracia”, “governabilidade corrompida”, “perpetuação criminosa no poder”, “mensalão”, “enriquecimento ilícito”, "José Dirceu", entre outros.

Deltan Dallagnol disse que, dois dias após ser condenado a indenizar o ex-presidente Lula, arrecadou R$ 500 mil em doação de apoiadores. Segundo ele, foram "milhares de doações de pequenos valores, de todos os cantos do Brasil". Ainda de acordo com ele, as contribuições variaram de R$ 1 a R$ mil. Ele reforçou que irá recorrer da decisão, mas até que o resultado final saia, o dinheiro “será aplicado” e ele prestará contas de tudo o que for recebido.

CARAS DE PAU

Pouco antes de Bolsonaro declarar em sua live de quinta-feira (24) que bota a cara no fogo pelo ministro Milton Ribeiro, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, deu prazo de 15 dias para que o procurador-geral da República Augusto Aras faça uma reflexão. Para a ministra, é imprescindível investigar todos os envolvidos no escândalo dos pastores que cobram propinas para intermediar a liberação de verbas no Ministério da Educação. Ela mandou abrir o inquérito. Mas estranhou que Aras não tenha incluído Bolsonaro no rol dos investigados.

Impossibilitado de negar os indícios de corrupção que uma dezena de prefeitos abordados pelos pastores já confirmaram, Bolsonaro tenta retribuir a blindagem que o ministro lhe ofereceu. Afirma que Milton Ribeiro é vítima de covardia, pois teria agido de forma exemplar. Nessa versão, o chefe do MEC teria comunicado à Controladoria Geral da União denúncias relacionadas aos pastores lobistas em agosto do ano passado. O diabo é que nada aconteceu. Pior: o ministro, que também é pastor, continuou recebendo os suspeitos. As verbas públicas intermediadas pelos irmãos continuaram escoando.

Estalando de pureza moral, Bolsonaro declarou que o caso foi enviado à Polícia Federal. Quando? Anteontem, disse o presidente. Ou seja: a PF foi acionada quando o MEC já estava pendurado nas manchetes de ponta-cabeça. Não se sabe que tipo de loção pós-barba Bolsonaro usa. Mas o presidente deveria tomar cuidado ao colocar a cara no fogo por seu ministro. Óleo de peroba é um produto inflamável. De resto, convém aguardar pelo resultado da reflexão que Cármen Lúcia encomendou a Augusto Aras.

Considerando-se que Milton Ribeiro disse em gravação captada à sua revelia que abriu as portas do Ministério da Educação para os pastores a pedido de Bolsonaro, a queimadura pode não se limitar à face. Ainda que o procurador não queira procurar, o escárnio está na cara.

Por Josias de Souza

NAZIS DE VOLTA

Cerca de 40 dias após ser afastado da Jovem Pan News por ter feito saudação nazista durante programa em que defendeu o apresentador Monark, o comentarista Adrilles Jorges, ex-BBB bolsonarista, retornará à programação do canal conservador. Adrilles deve voltar à emissora na segunda-feira, dia 28 de março, no programa Morning Show. O programa é comandado por Paulo Mathias, Paula Carvalho e Guga Noblat.

O comentarista Diogo Schelp, que também estava presente no programa, afirmou nas redes sociais que sentiu “repulsa” ao ver que o gesto foi associado ao nazismo. "O que posso dizer é que me provoca repulsa, por tudo o que já pesquisei e escrevi sobre o assunto, ver minha imagem na tela ao lado de um gesto que foi interpretado, corretamente ou não, como uma saudação nazista", escreveu no Twitter.

Adrilles chegou a dizer nas redes sociais que foi demitido. "Fui demitido da Jovem Pan. Por dar um tchau deturpado por canceladores. Infelizmente a pressão de uma turba canceladora e sua sanha de sangue surtiram efeito. Agradeço a Jovem Pan pela oportunidade e a todos os amigos q lá conquistei e que em mim confiam e apoiam", escreveu.

Isso nunca aconteceu. O bolsonarista continuou recebendo seu salário e aparecendo eventualmente na sede do canal. O afastamento teria ocorrido apenas para evitar uma repercussão negativa para a TV.

O podcaster, Bruno Aiub, conhecido como Monark, também reapareceu nas redes sociais, na terça-feira (22), para anunciar o fim de suas "férias". Na verdade, ele estava afastado das redes desde fevereiro após ter sido punido por fazer apologia ao nazismo no Flow Podcast, programa o qual era um dos sócios e acabou afastado devido à fala ao vivo. Sua postagem foi interpretada por usuários das redes sociais como uma sinalização de que não se arrependeu por sua fala defendendo a existência de um partido nazista e que não aprendeu nada com as punições. 

Além de demitido do Flow Podcast, Monark passou a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Ministério Público Federal (MPF) por apologia ao nazismo, e foi banido do YouTube, que ainda o proibiu de criar um novo canal para monetizar vídeos. 

Apesar de ter pedido desculpas por defender a legalização de um partido nazista, Monark se vitimizou e sinalizou, em seu retorno às redes sociais, que não considera ter errado. Ao contrário, ele acredita ter sido alvo de "censura". Tanto é que, após dizer que "as férias acabaram", fez outra postagem, compartilhando uma publicação da plataforma Rumble com um anúncio de que atuará no Brasil. Canadense, a Rumble é um site de vídeos similar ao YouTube muito popular entre a extrema direita dos Estados Unidos por encampar menos punições e ser considerada por este público como mais "livre". Trata-se da plataforma escolhida por Donald Trump para "driblar" sua exclusão do YouTube. 

CADÊ O INDIÃO?

O filho 02 do presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador carioca Carlos Bolsonaro, também conhecido como Carluxo, continuará solteiro. O noivado do político com a gaúcha Geórgia Paiva Azambuja, filha de produtores rurais de Bagé, no Rio Grande do Sul, foi desfeito a dois dias do casamento. O enlace matrimonial estava previsto para acontecer neste sábado, 26 de março, diz o jornal Zero Hora. Segundo a colunista Rosane de Oliveira, a decisão de pôr fim ao romance partiu de Georgia, que rompeu o noivado por avaliar que não estava preparada para se casar com um político. Carlos Bolsonaro é conhecido, sobretudo, pelas polêmicas causadas nas redes sociais e pela atuação nos bastidores do Palácio do Planalto. O casal anunciou o noivado em setembro do ano passado. De acordo com a Zero Hora, a família Bolsonaro desembarcaria no sábado, no Rio Grande do Sul, para a cerimônia. Aos seus familiares, Geórgia já teria comunicado o que terminaria o relacionamento ainda em dezembro. Os dois estavam juntos desde 2018.

FRASES DA SEMANA

“Não precisa interrogar a Wal, e nem a mim. Eu estou confessando: ela nunca esteve em Brasília.  É verdade. Ela tomou posse por procuração”. (Bolsonaro, sobre ‘Wal do Açaí’, funcionária fantasma do seu gabinete na época em que ele era deputado federal, e ela vendia açaí no Rio)

“Violência, intolerância, é impressionante o retrocesso civilizatório que vivemos. E de outro lado uma economia parada, com uma inflação absurda. Então é hora de desprendimento, convergência, união para o Brasil retomar sua atividade”. (Geraldo Alckmin, ex-PSDB, agora PSB)

“Eu nunca fui a Brasília”. (Walderice Santos da Conceição, conhecida também como ‘Wal do Açaí’, que desde 2003 e até 2018 figurou como funcionária do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, em Brasília, recebendo um salário bruto de R$ 1.351,46.)

“Tem uma passagem bíblica que fala que alguém pediu sabedoria. Eu sei que não sou tão inteligente assim, e eu pedi mais do que isso a Deus, eu pedi coragem para poder decidir”. (Bolsonaro, em um raro momento de humildade

“O mais simbólico desse governo [Bolsonaro] foi o fim da cultura das artes. Não tem governo radical que não pare a cultura das artes. Mas estamos nas catacumbas, vivos. Não fomos extintos”. (Fernanda Montenegro, atriz, e membro da Academia Brasileira de Letras)

“Um governo sério, qualquer que seja, tem que desmontar o Orçamento Secreto imediatamente. É roubalheira, é a institucionalização de desvio do dinheiro público. Há interesses majoritários no país que defendem e querem manter essa anomalia”. (Flávio Dino, PSB, governador do Maranhão)

“No nosso governo, o Brasil não era um país pária, como é hoje, governado por um psicopata, que não sabe governar. Um homem que não sabe falar a palavra ‘paz’, só sabe falar em ódio. Um homem que não sabe falar em amor, cultura, só sabe falar em armas” (Lula)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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