24/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Nosso ‘Kim Be Cil’ acerta os pontos com o que há de pior no mundo

Publicado em 24/02/2022 12:00 - Victor Barone

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Bolsonaro opera as engrenagens da diplomacia em ritmo de trem fantasma. Submete os brasileiros a sustos em série. Depois de selar na Rússia um "casamento perfeito" com Vladimir Putin e de visitar na Hungria o "irmão" autocrata Viktor Orbán, o presidente se prepara para recepcionar em Brasília o ditador sanguinário da Arábia Saudita Mohammed bin Salman, com quem possui "certa afinidade".

O capitão se diz um defensor da democracia. Bin Salman é um ditador inescrupuloso. Bolsonaro alega ser contrário a qualquer tipo de controle da mídia. Seu convidado mandou esquartejar um jornalista. O inquilino do Alvorada faz pose de defensor da família. O príncipe mantém a mãe em cativeiro. Bolsonaro declara-se cristão. O visitante proíbe o funcionamento de igrejas e abomina o cristianismo.

O Brasil pode manter relações comerciais com a Arábia Saudita. Mas estender o tapete vermelho para o príncipe das trevas, cercá-lo de honrarias, bajulá-lo, exaltar afinidades… Isso é exclusividade de Bolsonaro. O risco que o presidente corre é quem observar as cenas da visita não conseguir distinguir quem é quem.

Por Josias de Souza

COMEDIANTE

O encontro de Bolsonaro com a turma do mercado financeiro não teve relevância política. Mas serviu para demonstrar que o capitão não terá dificuldades para se reposicionar no mercado de trabalho se for demitido pelo eleitor do emprego de presidente da República. Bolsonaro pode tentar a sorte como humorista.

Em evento promovido pelo banco BTG Pactual, Bolsonaro soou como se desejasse repreender os operadores do mercado pela passividade com que encaram o favoritismo de Lula nas pesquisas. Mencionou o risco de revisão de reformas como a trabalhista e a previdenciária.

O presidente tratou a liberação do aborto e das drogas como algo inevitável caso os "bandidos" vermelhos reconquistem o Planalto. "Isso não significa nada para a classe pensante do Brasil?", perguntou Bolsonaro a certa altura, em timbre exaltado. "Acham que podemos flertar com o comunismo?".

Nos oito anos de mandato de Lula, os bancos racharam de ganhar dinheiro. Nessa época, o mercado descobriu que o problema do PT no poder não foi o comunismo, mas o dinheirismo. A legenda tornou-se uma máquina coletora de verbas.

Quando a ruína econômica chegou, Sob Dilma, empresários e investidores saltaram do barco. Hoje, os "bandidos" do centrão, sócios da pilhagem petista, estão fechados com Bolsonaro. O liberalismo que o capitão imagina representar naufragou junto com a biografia de Paulo Guedes.

Dias atrás, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou que os preços do mercado indicam que a turma do papelório não enxerga risco no eventual terceiro mandato de Lula.

Bolsonaro revela sua vocação humorística ao tentar espantar o mercado com um fantasma mequetrefe, que esconde embaixo do lençol um Lula comunista abraçado a Geraldo Alckmin, um ex-tucano adepto da Opus Dei.

Não há o menor fisco de Bolsonaro ficar sem emprego. Se for enviado ao olho da rua pelo eleitor, pode tentar a sorte em shows de stand up comedy.

Por Josias de Souza

ACABOU A MAMATA

Sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, o governo federal bateu um recorde na falta de transparência com o dinheiro gasto em viagens. Nos últimos dois anos, a cada R$ 4 pagos pelo Executivo em diárias e passagens, R$ 1 foi secreto. Um levantamento feito pelo Brasil de Fato com dados do Portal da Transparência mostra que a administração bolsonarista decretou sigilo em 23% do valor pago em passagens aéreas e diárias com dinheiro público em 2020 e repetiu a proporção em 2021. É o mais alto patamar da história.

Enquanto impõe sigilo aos detalhes de gastos milionários com cartões corporativos, Jair Bolsonaro (PL) segue torrando dinheiro público para se divertir e fazer campanha antecipada. No último dia 23, o meio político recebeu indignado a notícia de que o presidente gastou R$ 900 mil em apenas 7 dias de férias entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano. Trata-se, no entanto, apenas uma gota em um oceano que pode chegar a R$ 8,3 milhões gastos pelo chefe do Executivo com lazer. 

Segundo dados enviados pelo próprio governo, a pedido do jornal O Globo por meio da Lei de Acesso à Informação, dão conta que esses R$900 mil foram gastos na viagem de Bolsonaro a Santa Catarina entre os dias 27 de dezembro e 3 de janeiro. Neste período, o presidente fez passeios de jet ski e passeou no parque Beto Carrero World – isso tudo enquanto a população da Bahia contava mortos e desabrigados em consequência das chuvas que atingiram a região. Os detalhes desses gastos não foram detalhados pelo governo.

A quantidade de recursos públicos torrados em apenas 7 dias de férias saltam aos olhos, mas representam somente uma pequena parcela do que Bolsonaro gasta com seus passeios. Entre o final de 2020 e início de 2021, quando foi passar 17 dias de férias de verão no Guarujá (SP) e em São Francisco do Sul, o chefe do Executivo gastou R$ 2,4 milhões, segundo informações do próprio governo. Deste total, quase R$ 1,2 milhões foram gastos com o cartão corporativo, R$ 1,05 milhão foram usados com combustível e manutenção de aeronaves e outros R$ 202 serviram para pagar diárias da equipe de segurança. 

Para além das férias, Bolsonaro gasta dinheiro público passeando ao longo do ano. Em 2021, segundo levantamento da Folha de S. Paulo, as "motociatas" feitas pelo presidente, com claro objetivo eleitoral, custaram R$ 5 milhões. A cifra, obtida também via Lei de Acesso à Informação, corresponde aos custos empenhados para 13 motociatas do presidente, em diferentes estados, durante o ano. Os valores incluem gastos com cartão corporativo e recursos empenhados pelos estados para garantir a segurança dos eventos. Ou seja, levando em consideração apenas os custos duas férias de Bolsonaro (2020/2021 e 2021/2022) e motociatas, foram gastos cerca de R$ 8,3 milhões em recursos públicos. 

MAMATA SUAVE

A influenciadora e neta do lendário Carlos Gracie, Jenifer Gracie, que faz parte do idolatrado clã de lutadores de jiu-jitsu, aparece no Portal da Transparência como beneficiária do auxílio emergencial. A jovem, que mora nos Estados Unidos, aparece como beneficiária de R$ 3.900, valor dividido em cinco parcelas de R$ 600 e outras três, de R$ 300. Jenifer, porém acusa o próprio pai, o lutador aposentado Carlion Gracie, de ter usado os documentos dela para se inscrever no programa e receber de forma fraudulenta o benefício social criado para auxiliar as pessoas em vulnerabilidade durante a pandemia do novo coronavírus. Como mostrou o Congresso em Foco na semana passada, nove integrantes da família que introduziu o jiu jitsu no Brasil receberam auxílio emergencial, mesmo divergindo do perfil dos beneficiários do programa temporário. Quase todos os integrantes do clã apoiam publicamente o presidente Jair Bolsonaro.

FRASES DA SEMANA

“Deixaram-nos sozinhos para defender nosso Estado. Quem está disposto a lutar conosco? Não vejo ninguém. Todos estão com medo”. (Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia)

“O Brasil merece mais. A Justiça eleitoral brada por respeito. E alerta: não se renderá. Cumprir a Constituição se impõe: o Brasil é uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social”. (Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral)

“O Brasil merece mais. A Justiça eleitoral brada por respeito. E alerta: não se renderá. Cumprir a Constituição se impõe: o Brasil é uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social”. (Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral)

“A Ucrânia virou uma colônia de marionetes. Os ucranianos desperdiçaram não só tudo o que nós demos a eles durante o tempo da União Soviética, mas tudo o que eles herdaram do Império Russo.” (Vladimir Putin, presidente da Rússia)

“A democracia tem lugar para liberais, para progressistas e para conservadores — ela só não tem lugar para os que querem destruí-la”. (Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal)

“Um dia desses me definiram como uma ‘empresária socialista’. Olha, se socialista é quem é a favor da igualdade social, sou socialista desde os 10 anos”. (Luiza Trajano, empresária, fundadora do Magazine Luiza)

“Alguns têm a imagem de que índios, como regra, têm cultura menor. Muitos indígenas já se adaptaram e se integraram. Basta levar conhecimento que eles pegam rapidamente”. (Bolsonaro, que defende também a construção de hidrelétricas em reservas indígenas, pois os índios “querem”)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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