19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O Genocida e o puxa saco

Publicado em 24/12/2021 12:00 - Victor Barone

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Marcelo Queiroga é um pequeno genocida, um sabujo do bolsonarismo. Brandindo dados segundo os quais a Covid já matou no Brasil 301 crianças de 5 a 11 anos, o ministro impacientou-se com os repórteres que o apertaram na quinta-feira (23): "Os óbitos de crianças estão dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais."

Três centenas de crianças lotariam um jato. Mortas de supetão, num acidente fatal, chocariam o país. Exterminadas em conta-gotas viraram estatística para ornamentar o negacionismo do ministro da Saúde. Com o aval de uma toga suprema.

Segundo Queiroga, ainda que as vacinas infantis começassem a ser aplicadas amanhã não haveria como resolver "o problema de forma retrospectiva". De fato, não há como ressuscitar meninos mortos. O que se deseja é salvar os vivos.

Numa pandemia, tempo é vida. Ao matar o tempo, Queiroga como que reescreve o atestado de óbito das futuras vítimas mirins do vírus.

Até aqui as crianças infectadas morriam de Covid. Enquanto a vacina não chegar aos postos de Saúde, a causa mortis será "ministro da Saúde". A esse ponto chegamos. Morre-se de Queiroga no Brasil.

Bolsonaro pode parecer um tolo e falar como um tolo. Mas não se engane. Ele não parece, é realmente um tolo. Em sua penúltima tolice, decidiu implicar com a vacinação das crianças contra Covid. Marcelo Queiroga deu asas à asneira do chefe. Meteu-se numa operação de grande valor científico. Se tudo correr como planejado, vão à vitrine duas conclusões: 1) A tolice de Bolsonaro é mais contagiosa do que a Ômicron; 2) A diferença entre a sensatez e a estupidez é que a sensatez tem limites.

A Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, já concedeu registro definitivo para a vacina infantil da Pfizer. Atestou a qualidade, a segurança e a eficiência do produto. A Cetai, câmara técnica criada pelo próprio Queiroga para assessorá-lo nas questões relacionadas à imunização contra Covid, aprovou a vacinação por unanimidade.

Estudo da Fiocruz, fundação vinculada ao Ministério da Saúde, concluiu que a aplicação de vacina nas crianças é necessária e precisa começar o quanto antes. Seis das mais relevantes entidades médicas e científicas do país também se declararam a favor da vacinação. A mesma vacina está sendo aplicada em crianças de mais de uma dezena de países. Apenas nos Estados Unidos, foram mais de 7 milhões de doses.

Com todo esse respaldo científico e factual, a estratégia de postergação da vacina que Queiroga realiza por pressão de Bolsonaro tem a aparência de mais uma embromação letal. Mal comparando, é como se o sujeito estivesse no centro de um incêndio e, em vez de chamar os bombeiros, abrisse uma consulta popular para debater normas de prevenção do fogo.

No caso da vacinação das crianças, Queiroga quer contrapor a opinião da tia do Zap aos estudos técnicos e científicos. Os pais, donos da palavra final nessa matéria, talvez prefiram ser orientados, não consultados. A maioria quer saber quando a vacina será comprada e o dia em que poderá levar os filhos ao posto de saúde. Se os resíduos psíquicos de Bolsonaro fossem concretos, não haveria esgoto que bastasse. A característica fundamental da dificuldade de julgamento do presidente é ter que ouvi-lo durante três anos para chegar à conclusão de que ele não tem nada a dizer sobre coisa nenhuma.

Para desassossego dos 94% de brasileiros que manifestaram ao Datafolha seu apreço pelas vacinas, o cardiologista Queiroga colocou sua formação médica à disposição da insanidade. Deve estar torcendo para que a turma do Zap prevaleça sobre a Anvisa, a câmara técnica do ministério, as entidades médicas e científicas do país, a comunidade internacional e o bom senso.

Por Josias de Souza

RESISTÊNCIA

Em resposta às ameaças do presidente Jair Bolsonaro, servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgaram um vídeo de solidariedade aos colegas responsáveis diretamente pela autorização do uso da vacina da Pfizer em crianças de cinco a 11 anos. Funcionários de diversas áreas do órgão divulgaram fotos, segurando cartazes, dizendo que aprovaram a imunização infantil. O vídeo, produzido pela Associação dos Servidores da Anvisa (Univisa), reforça a ideia transmitida na semana passada pelo comando do órgão regulador, que disse que a responsabilidade pela aprovação da vacina não era individual, mas do corpo de servidores técnicos da agência. Ao final da gravação, é dado um recado ao presidente: “Não irão nos intimidar. A ciência, o trabalho, a saúde e a democracia prevalecerão. #SomosAnvisa”. Assista ao vídeo:

OLHANDO O PRÓPRIO RABO

A pretexto de ironizar o jantar em que Lula e Geraldo Alckmin desfilaram juntos na noite de domingo, Bolsonaro deixou-se filmar dançando funk a bordo de uma lancha, no Guarujá. A canção tem a suavidade de um porco-espinho. Num trecho, compara mulheres de esquerda a cadelas. Os filhos do presidente e seus devotos bolsonaristas cuidaram de espalhar as imagens pelas redes sociais.

A aparência de despreocupação se desfez em outras postagens dos filhos do presidente. Carlos e Flávio reproduziram um vídeo da campanha de 2018. Nele, Alckmin declara que, "depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder", para "voltar à cena do crime." Em outro post, Eduardo perguntou por que Alckmin "se aproxima de um condenado."

Os membros da família da rachadinha confundem amnésia com consciência limpa. Esquecem de lembrar —ou lembram de esquecer— que, na mesma campanha de 2018, Bolsonaro agradeceu a Alckmin por ter "unido" em sua coligação "a escória da política". Referia-se ao centrão.

Estavam com Alckmin o PL de Valdemar Costa Neto, estrela do escândalo do mensalão; e o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, destaques do petrolão. Hoje, o PL é o partido de Bolsonaro. E o PP tomou de assalto o Gabinete Civil e o balcão das emendas. Em troca segura os pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

O ano de 2022 ainda nem começou e já exala um insuportável odor de lama. O Brasil testemunhará uma campanha eleitoral violenta e suja. As ideias dos candidatos ainda não estão claras. Por ora, a única certeza disponível é a seguinte: seja quem for o próximo presidente, o centrão estará fechado com ele.

Por Josias de Souza

CACHORRO LOUCO

Cada vez que Bolsonaro dá uma de cachorro louco constrange as instituições do Brasil. Quando o presidente trata a Anvisa como um centro de bruxarias e declara aberta a temporada de caça às bruxas, a Procuradoria-Geral da República, o Supremo Tribunal Federal, e o Congresso Nacional precisam explicar por que proporcionam tanta impunidade a um gestor que produz provas contra si mesmo em escala industrial.

A ausência de punição produziu no Brasil um fenômeno político novo: a lamentação depois do fato. Todos os brasileiros de bom senso lamentam que Bolsonaro tenha tratado a Anvisa como um antro de bruxarias numa transmissão ao vivo pela internet. Quem ainda dispõe de dois neurônios lastima também que seguidores do presidente se tornem perseguidores, forçando a direção da Anvisa a pedir proteção policial e renovar a requisição de investigação contra os caçadores de bruxas.

https://www.youtube.com/embed/hSLPamd6Gfs

Por Josias de Souza

LULA 2022

O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi surpreendido no último dia 19 com um grito de “Lula 2022” durante entrevista dada diretamente de uma praia na região litorânea de São Paulo. Pesquisas apontam que o ex-presidente Lula é o favorito nas eleições de 2022.

FUTURO PÁRIA

Mario Frias, secretário Especial de Cultura, se revoltou em seu perfil nas redes sociais para contar que a mulher e a filha tiveram que deixar o hotel em que estavam hospedadas no Rio de Janeiro por não apresentarem passaporte de vacinação, protocolo em vigor na cidade para conter a contaminação. A prefeitura do Rio, em decreto publicado no início de dezembro, ampliou a cobrança do passaporte vacinal. A lista de estabelecimentos em que é exigida a comprovação da imunização contra a Covid-19 aumentou e, a partir de agora, é preciso apresentar o certificado para acessar shoppings, ir a áreas internas ou com cobertura de restaurantes e bares, se hospedar em hotéis e utilizar serviços de transporte individual — como táxi e aplicativos.

FRASES DO DIA

“Vocês sabem que nos meus governos e nos da Dilma quantas pessoas colocamos no sistema financeiro, gente pobre? 70 milhões. Significa que colocamos uma Argentina e uma Colômbia dentro do sistema financeiro. Essa gente deveria vir de joelhos conversar com a gente”. (Lula)

“[A união entre Lula e Alckmin] é igual ao cruzamento de um porco espinho com uma capivara. Porque o eleitorado para presidente não é um eleitorado que soma dois e dois. São trajetórias distintas, eleitores distintos”. (Ciro Nogueira, PP-PI, chefe da Casa Civil de Bolsonaro)

“Não tenho medo [de Bolsonaro não admitir a derrota]. Tenho preocupação, ele é muito ignorante. Um cara que não soltou uma lágrima com 620.000 mortes, que não gosta de pobre, de índio, de negro, de LGBT… Esse cara efetivamente pode criar confusão, mas para isso tem lei.” (Lula)

“Os tempos que virão não serão fáceis. As demandas por justiça e dignidade seguem presentes. Iremos avançar com passos curtos, mas firmes. Nunca poderemos ter de novo um presidente que declare guerra ao seu próprio povo.” (Gabriel Boric, novo presidente do Chile eleito ontem)

“Diante do bolsonarismo sem freios […], o país se acostuma a viver numa corda bamba entre o cinismo e a resignação. Assim como a esperança sem pensar crítico é mera ingenuidade, o pensar crítico sem esperança acaba desembocando no cinismo”. (Dorrit Harazim, jornalista)

“O Brasil não tem o direito de ter um único filho seu indo dormir sem ter o que comer, sem tomar um copo de leite, um café e um pão com manteiga. É a nossa primeira tarefa, porque qualquer outra coisa pode esperar uma semana, mas a fome não”. (Lula, em reunião com jovens do PT)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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