26/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O doido do Planalto exagerou nesta semana

Publicado em 16/12/2021 12:00 - Victor Barone

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A cena patética foi registrada na tarde de quarta-feira (15), na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que reúne a elite do empresariado nacional, e logo viralizou nas redes. Às gargalhadas, a distinta plateia acompanhou o inacreditável discurso do capitão Bolsonaro, um idiota que tem orgulho de ser idiota.

O pior veio no final, quando o presidente foi entusiasticamente aplaudido pelos empresários, ao revelar que cometeu uma grave infração administrativa para beneficiar a empresa de um amigo. Não é fake news. Leiam o que ele teve coragem de dizer:

"Tomei conhecimento que uma obra… Uma pessoa conhecida, Luciano Hang, estava fazendo mais uma loja e apareceu um pedaço de azulejo durante as escavações. Chegou o Iphan e interditou a obra. Liguei para o ministro da pasta, né? `Que trem é esse?"´porque eu não sou tão inteligente quanto meus ministros. `O que é Iphan?´, com `ph´. Explicaram para mim, tomei conhecimento e ripei todo mundo do Iphan".

A empresa é a Havan, o Iphan, para quem não sabe, é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, responsável por preservar nossa memória e o que restou nos escombros após o tratoraço federal, que ainda está em andamento, para não deixar pedra sobre pedra. .

Na forma e no conteúdo do discurso presidencial e na festiva reação dos ilustríssimos senhores da Fiesp, temos uma perfeita síntese da parceria público-privada formada em 2018 para destruir as instituições democráticas e os direitos trabalhistas, o meio ambiente e a soberania nacional, em nome de um governo conservador nos costumes e liberal na economia.

"Agora o Iphan não dá mais dor de cabeça pra gente", comemorou Bolsonaro, rindo. "Gente", no caso, é o empresariado unido ao presidente, em campanha pela reeleição.

Na quinta-feira (16), Bolsonaro voltou ao seu tema predileto para agradar os devotos: a sua cruzada contra a vacinação. Primeiro, ficou furioso com a Anvisa por liberar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, como todo o mundo civilizado já está fazendo.

Não contente, publicou em suas redes sociais o vídeo enviado por um mané qualquer que chama as vacinas de "uma porcaria", endossando as críticas que tem feito para justificar por que ainda não se imunizou.

Até hoje, o governo ainda não baixou a portaria para regulamentar o passaporte da vacina, recusando-se a cumprir determinação do Supremo Tribunal Federal, outro alvo da sua ira permanente. Os agentes de saúde estão fazendo às escuras, por amostragem, o controle da entrada de turistas no país, provocando aglomerações nos aeroportos.

É como se o governo federal simplesmente não existisse, a exemplo do que vimos desde o início da pandemia, com a omissão do Ministério da Saúde em assumir a coordenação nacional do combate à covid-19 e suas variantes.

Encarregado de controlar os arroubos do capitão, o general Augusto Heleno, o Heleninho, só ajuda a botar mais lenha na fogueira. "Eu tenho que tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes do STF", queixou-se numa reunião reservada com agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que foi vazada pelo site Metrópoles. De ameaça em ameaça, pergunta-se: quem vai agora controlar o general Heleno, que anda muito nervoso. Será outro general?

Por Ricardo Kotcho

Contra veneno de Bolsonaro, TSE usa 'soro antiofídico' do serpentário militar.

REVIRANDO A LIXEIRA

O apresentador Carlos Massa, conhecido como Ratinho, 65, sugeriu que a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) fosse eliminada com o uso de uma metralhadora. Pelo Twitter, a parlamentar rebateu: "Incitar homicídio é crime! Ele coloca a minha vida e minha integridade física em risco." "Natália, você não tem o que fazer, não? Tinha que eliminar esses loucos. Não dá para pegar uma metralhadora, não?", disse o apresentador.

ENQUANTO ISSO NO MUNDO REAL

Pesquisas do Ipec e do Datafoilha coloca o ex-presidente Lula (PT) com vantagem em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos demais nomes cotados para concorrer nas eleições presidenciais de 2022. Os levantamentos também revelam aumento na reprovação ao governo Bolsonaro, com 55% dos entrevistados avaliando a gestão do presidente como ruim ou péssima.

EVANGÉLICOS

O pastor e teólogo Henrique Vieira disse, em entrevista ao UOL New, que André Mendonça, novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), não representa todos os evangélicos. Para ele, o também pastor fala por um grupo fanático e preconceituoso. "André Mendonça não representa a totalidade da experiência evangélica no Brasil. Ele representa um projeto de fanatismo religioso, que carrega violência e preconceito. A indicação de André Mendonça é um salto para esse projeto", avaliou. Vieira diz que o ex-AGU (Advocacia-Geral da União) integra um projeto de poder. "Um bloco que tem um projeto bem definido de poder, que visa se apropriar das instituições para impor ao conjunto da sociedade uma determinada forma de ver o mundo", disse

Em discurso para empresários na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Jair Bolsonaro (PL) se vangloriou do aparelhamento que tem feito em instituições públicas, especialmente no Judiciário, citando a indicação do “terrivelmente evangélico”. Após dizer “não vou pedir nada a ele”, Bolsonaro falou que, no Supremo, o ex-ministro da Justiça e ex-Advogado-Geral da União (AGU) vai seguir a linha orientada por ele quando Mendonça esteve no governo. “Tudo que vi ao longo de três anos no André Mendonça ele vai cumprir no Supremo. Pautas conservadoras, econômicas, entre outras. Não vamos ter sobressaltos com ele lá”, disse Bolsonaro, se vangloriando. “Indicação de quem? Pressionado por quem? É o que eu digo: curriculo vale? Vale. Mas pra ser indicado para lá tem que tomar tubaína comigo. Tem que olhar ele em campo e ver o que sabe fazer. Senão, não dá certo”, afirmou.

QUE DELÍCIA

O empresário bolsonarista Luciano Hang, conhecido como Véio da Havan, levou uma “cervejada” na cara na noite de quarta-feira (15). O proprietário das lojas Havan estava assistindo uma partida na Arena da Baixada, em Curitiba, entre Galo e Athlético Paranaense, quando alguém jogou um copo com "um líquido" em cima dele.

REI DO FAKE

No UOL News, o colunista Josias de Souza falou sobre o relatório da Polícia Federal que apontou o presidente Jair Bolsonaro (PL) como responsável pela disseminação de desinformação a respeito do sistema eleitoral brasileiro. Para o colunista, é preciso saber o que o ministro Alexandre de Moraes, que vai presidir o Tribunal Superior Eleitoral em 2022, pretende fazer se Bolsonaro não aceitar o resultado das urnas, como fez o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump em 2020.

FRASES DA SEMANA

“A minha candidatura não me pertence. Eu antes queria muito ser presidente do Brasil, mas vendo que o nosso país está passando, eu agora preciso salvar o Brasil. Preciso juntar todo mundo que tenha boa vontade para salvar esse país desse desastre que está aí”. (Ciro Gomes, PDT)

“Não é um ano, estamos em plena temporada eleitoral, para alguém ficar jogando responsabilidades nos governos seguintes (…) ou tentar dar aumento de salário para ganhar eleição. Isso é complicado”. (Paulo Guedes, ministro da Economia, em advertência contra a farra de gastos.)

“Cantarei com um belo vestido vermelho, ao lado dele, quando Lula tomar posse como presidente. Ele não sabe, mas fez parte da minha vida. Cresci com o Bolsa Família, e cresci no MST com a ajuda de vários projetos que Lula proporcionou ao Brasil inteiro”. (Pabllo Vittar, cantora)

“Essa campanha vai ter um componente sobre o passado. Algumas pessoas são críticas em relação às decisões que tomei, mas tenho tranquilidade, tanto no caso da Lava Jato como no Governo. Às vezes foram decisões difíceis, mas estou pronto para defendê-las.” (Sérgio Moro, ex-juiz)

“Gritos não me amedrontam. O episódio demonstra que o machismo atrasado ainda resiste às mulheres que assumem posições relevantes na política brasileira”. (Flávia Arruda, ministra da Secretaria de Governo, atacada com berros e palavrões por Eduardo Braga, líder do MDB no Senado)

“Os populistas autoritários destroem a democracia por etapas. O primeiro mandato é dedicado a minar as instituições. Vão aparelhando progressivamente para que no segundo mandato consigam fechar o regime”. (Marcos Nobre, professor da Unicamp e presidente do Cebrap)

“Se vocês acham que a gente vive um período de Guerra Fria entre governo e Congresso, aguardem. Se o Moro vencer a eleição vai ser uma guerra nuclear. Ou eles botam o Moro pra fora ou o Moro fecha o Congresso”. (Paulo Guedes, ministro da Economia, ex-Posto Ipiranga de Bolsonaro)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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