24/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

A diferença entre um estadista e um idiota

Publicado em 19/11/2021 12:00 - Victor Barone

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou seu giro pela Europa na manhã desta sexta-feira (19), no Palácio de Moncloa, em Madri, onde foi recebido pelo presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez. A viagem de Lula à Europa se tornou um dos principais assuntos políticos da semana. O ex-presidente mostrou que ainda possui forte prestígio internacional e, inevitavelmente, suas agendas com importantes lideranças políticas foram comparadas com o isolamento do presidente Jair Bolsonaro no mundo, especialmente na União Europeia.

Lula teve mais encontros com lideranças políticas do que Bolsonaro teve, por exemplo, durante toda a sua passagem por Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que, para muitos, o presidente passou vergonha. O ex-mandatário, durante as agendas, não economizou críticas ao governo, denunciando o negacionismo do titular do Planalto no âmbito da pandemia, a volta da fome no Brasil e a antipolítica ambiental do chefe do Executivo.

Nos primeiros dias de viagemse reuniu e arrancou elogios do provável futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursou e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, tendo se reunido ainda com a vice-presidente da casa legislativa, teve uma recepção calorosa na França, onde foi agraciado com o prêmio Coragem Política, da revista Politique Internationale, e almoçou com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

O ápice da viagem, no entanto, se deu ao encontrar, para além das lideranças regionais, um chefe de Estado: Emmanuel Macron, presidente da França, que por sinal é desafeto de Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro foi recebido com pompa pelo mandatário francês, com direito a honrarias e marcha da Garde Républicaine, protocolo típico utilizado para receber chefes de Estado. Lula ainda tem reunião marcada com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro passeava com uma grande comitiva nos Emirados Árabes, onde, sem reuniões importantes, chegou a fazer uma “motociata”. Isso pouco depois de ir à Itália e ficar “perdido” no âmbito da reunião do G20.

REALIDADE PARALELA

Bolsonaro e Paulo Guedes apresentaram um Brasil alternativo para investidores que foram ouvi-los em Dubai. Não é que o presidente e o ministro da Economia sejam mentirosos. A questão é que o país que eles descreveram não tem conexão com a realidade.  Na definição do poeta gaúcho Mario Quintana, a mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer. Bolsonaro e Guedes soaram nos Emirados Árabes como portadores de verdades que só existem nas suas memórias. Bolsonaro repetiu a falácia segundo a qual a floresta amazônica, por ser úmida, não pega fogo. Chegou a dizer que mais de 90% da mata está preservada, "exatamente igual quando foi descoberto no ano de 1500."

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JUNTO E MISTURADO

O deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), o ex-senador Magno Malta e o vereador mirim Nikolas Ferreira (PRTB-MG) foram algumas das pessoas que integraram a comitiva do governo brasileiro na terceira viagem a Dubai em pouco mais de dois meses. Passou quase despercebida, no entanto, a presença do desembargador Marcelo Buhatem, presidente da Associação Nacional de Desembargadores (Andes). Em abril de 2021, sob a gestão de Buhatem, a Andes condecorou Bolsonaro.  Além disso, viralizou uma publicação de novembro de 2020, em que o jornalista Samuel Pancher, do Metrópoles, afirmava que ele havia se reunido para um encontro com Jair. Segundo Pancher, Buhatem seria o desembargador responsável pelo caso das rachadinhas envolvendo Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

RACISTAS

A atriz Zezé Motta respondeu aos ataques feitos pelo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Como de costume, ele foi às redes sociais criticar ativistas e, desta vez, as vítimas foram Zezé e o cantor Djavan, chamados de “pretos vergonhosos”. “Fui chamada junto do Djavan, de ‘Pretos Vergonhosos’ pelo atual Presidente da ‘nossa’ Fundação Palmares. O paraíso meu povo, realmente não é aqui não”, começou a atriz.

NA JOVEM KLAN

A comentarista bolsonarista Bruna Torley afirmou na quarta-feira (17), durante o programa 3 em 1, da Jovem Pan News, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de se encontrar, em sua passagem por Paris, com, entre outros, o ex-presidente francês Jacques Chirac. A incauta comentarista, no entanto, esqueceu de avisar aos ouvintes que, para tal, seria necessária uma sessão de mesa branca, pois Chirac morreu em 26 de setembro de 2019.

AINDA NA JOVEM KLAN

José Carlos Bernardi, autointitulado “comentarista cristão”, que fez declarações com tom antissemita no último dia 16, em debate transmitido ao vivo na Jovem Pan News, não só perdeu o cargo que tinha na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) como também será investigado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). A procuradoria investigará suposto crime de ódio cometido por Bernardi por ter sugerido “matar judeus”.

O HIPÓCRITA FUJÃO

Assim como chegou sem que ninguém soubesse há quatro meses, salvo os altos escalões do governo federal, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru e credor da família Bolsonaro que lhe reconhece os serviços prestados, foi embora há poucos dias. Ele sofre de doenças respiratórias porque fuma um cigarro atrás do outro (mais sorte tem Bolsonaro que diz uma mentira atrás da outra, mas não fuma.) Estava em tratamento em um hospital da Virgínia, nos Estados Unidos, onde vive desde 2005. Mas a medicina americana é particular e cara, não tem SUS, e quem poderia poupá-lo de despesas não mora na Casa Branca, mas no Palácio do Planalto. Além dos pulmões comprometidos, Olavo é vítima da “doença do carrapato”, uma irritação na pele. Como a vida não está fácil para ninguém, ele pediu socorro aos seus discípulos e foi internado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Mudou de endereço médico pelo menos três vezes.

Em agosto, a Polícia Federal o intimou a depor no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal que apura a existência de uma milícia digital ocupada em desacreditar a democracia. Seus advogados responderam que ele não poderia depor. Há 10 dias, foi intimado outra vez, e a resposta dos seus advogados foi a mesma. Então, Olavo voltou aos Estados Unidos “de forma repentina”, como disse em um vídeo caseiro. “Foi uma saída à francesa”. Saída à francesa é a que se faz sem avisar ninguém. “Eu estava no hospital e me ofereceram um voo repentino para dali a 15 minutos. Eu não ia perder essa oportunidade”, desculpou-se. “A coisa foi tão rápida” que ele sequer teve tempo para se despedir de médicos e enfermeiros do hospital. Olavo afirma ter ouvido: – Ou embarca agora ou não vai ter outro voo.

Por Ricardo Noblat

FRASES DA SEMANA

“Os países ricos investiram 2 trilhões de dólares para salvar os bancos em 2008. Os Estados Unidos gastaram 8 trilhões de dólares nas suas guerras no Oriente Médio. Não há a mesma generosidade quando se trata de salvar o planeta do aquecimento global e eliminar a miséria”. (Lula)

“Nós saberemos cuidar da Amazônia e saberemos dizer ao mundo: ‘a Amazônia é nossa’, e os benefícios que ela puder produzir para o planeta serão compartilhados por todos aqueles que amam o planeta”. (Lula, em viagem à Europa)

“O presidente da República deve compreender que ele não é o presidente do Senado nem o presidente da Câmara. O Supremo também tem de entender que, como expressão máxima do Judiciário, não pode interferir no Legislativo e no Executivo.” (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado).

“Se eles faziam política antes exercendo cargo de procurador e de juiz, agora o farão no campo certo, no campo da política, filiando-se a um partido político. Certamente terão que prestar contas do que fizeram no passado”. (Gilmar Mendes, ministro do STF, sobre a turma da Lava Jato)

“Aqui vai um resumo rápido: blá, blá, blá”. (Greta Thunberg, ativista climática sueca, sobre a resolução final da COP26, Conferência Mundial do Clima realizada pela ONU em Glasglow, na Escócia)

“O governo Bolsonaro acabou. Lula é um homem pragmático. Fez um bom governo porque as situações externas eram boas. Lula não tem nada de esquerda e vai fazer um governo tão pragmático quanto o primeiro”. (Delfim Netto, o xerife da Economia à época da ditadura militar de 64)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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