19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Nojo de rentista

Publicado em 07/10/2021 12:00 - Victor Barone

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O Pandora Papers, projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), com sede em Washington, Estados Unidos, obteve documentos vazados e, em um esforço envolvendo mais de 600 profissionais e 150 organizações jornalísticas em 117 países, investigou proprietários de offshores em paraísos fiscais. Os resultados começaram a ser divulgados por vários veículos nacionais e internacionais.

A primeira notícia, que atinge em cheio o bolsonarismo, envolve as duas principais figuras – e mais poderosas, como destaca o El País – do setor econômico brasileiro. Os documentos mostram que Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, criaram empresas em paraísos fiscais e nunca divulgaram isso, apesar do evidente conflito de interesses envolvido na operação. A alta do dólar no Brasil, por exemplo, fez com que o investimento inicial de Guedes em 2014, de pelo menos oito milhões de dólares, resultasse em um lucro de cerca de R$ 28 milhões. O ministro é acionista de uma empresa chamada Dreadnoughts International Group, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas.Ela opera como uma shelf company, ou seja: um empreendimento criado em paraíso fiscal sem função definida, que pode ficar anos sem atuar em lugar algum, até que alguém os compre para alguma função específica. 

E, para variar… tem dedo da Prevent Senior aí também. A empresa investigada pela CPI da Covid, que está sob os holofotes desde as graves denúncias organizadas em dossiê de ex-funcionários, está na lista: os donos da operadora têm US$ 9 milhões em paraísos fiscais. Além da Prevent, aparecem MRV Engenharia, Grendene e Riachuelo, entre outras, totalizando 20 companhias. Segundo a apuração, os objetivos vão desde comprar imóveis e iates até pagar menos impostos, além de proteger suas fortunas contra crises políticas e econômicas do Brasil.

Por Outra Saúde

GROUXO

Mestre na arte de transformar dramas humanos em piadas, Grouxo Marx disse que uma cama de hospital é um táxi estacionado com o taxímetro rodando. Nos hospitais da Private Senior, a anedota evoluiu para a tragédia. Quando a Covid tornava o tratamento mais custoso do que a tarifa do plano de saúde, o paciente era acomodado no trem fantasma dos cuidados paliativos, para ter onde cair morto.

Em depoimento à CPI da Covid, o médico Walter Correa de Souza Neto confirmou que, a pretexto de atenuar o sofrimento, doentes tratáveis foram enviados para a ala dos desenganados como parte de uma política de contenção do custo empresarial. Outro depoente, o advogado Tadeu Frederico Andrade, sobreviveu à Covid e à cloroquina. Livrou-se do trem fantasma porque sua família peitou a Prevent Senior.

O relato do médico Walter Souza provocou um frio na espinha que dá nas pessoas quando imaginam os efeitos da crueldade. As palavras de Tadeu Andrade, o paciente jurado de morte que foi à CPI cheio de vida, deram concretude à imaginação.

Voz embargada, ele disse: "Eu teria meus equipamentos desligados, aplicariam uma bomba de morfina e eu viria a óbito. Minha família se insurgiu, ameaçou buscar uma liminar na Justiça, ameaçou chamar a mídia. E hoje estou vivo. Sou testemunha viva da política criminosa dessa corporação."

O doutor Walter admitiu que médicos da Prevent Senior foram compelidos a receitar o Kit Covid. "Você se voltar contra qualquer orientação do seu superior significaria represálias importantes, talvez perder o seu trabalho. A gente vivia num ambiente assim em que todas as pessoas ficavam muito receosas de contrariar qualquer orientação."

Garoto-propaganda do tratamento cloroquínico, Bolsonaro trombeteou até na ONU a autonomia dos médicos para prescrever um inútil tratamento precoce contra a Covid. Os médicos sublevados da Prevent Senior revelam que o verdadeiro problema não é a autonomia, mas a subserviência médica.

Por Josias de Souza

PORCOS

O senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) caiu na boca dos colegas. Em vídeo levado às redes sociais, ele chamou o Senado de "chiqueiro", disse ser "difícil" suportar a "catinga" e lamentou ter que chamar "vagabundo" de "excelência". Ficou boiando na atmosfera uma dúvida: por que Styvenson ainda não renunciou ao mandato, dando adeus ao "chiqueiro"?

FAKEIROS

O senador Marcos do Val, do Podemos do Espírito Santo e membro da CPI da Covid, trabalhou com o gabinete paralelo que orientou o uso de medicamentos e políticas públicas inúteis contra a covid-19. Em uma longa reunião privada, classificada pelo empresário Carlos Wizard como um “encontro nacional” com médicos de “27 estados”, o senador foi apresentado como o “padrinho político” da iniciativa.

Uma gravação do encontro foi entregue agora ao Intercept por uma fonte que pediu para se manter anônima por medo de represálias. O material, com confissões até então inéditas, não faz parte dos documentos recolhidos pela CPI. Para preservar a identidade da fonte, o Intercept optou por não publicar a íntegra do vídeo, mas apenas trechos dele.

Numa fala de quase dez minutos, do Val afirmou que trabalhava para convencer autoridades para que adotassem o chamado kit covid, assim como para organizar a distribuição de fármacos comprovadamente ineficazes contra o novo coronavírus. O senador mencionou tratativas dele com as Forças Armadas, governadores, prefeitos, o Ministério Público e a Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A reunião ocorreu em 28 de junho de 2020.

FRASES DA SEMANA

“Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas igualmente e menos fuzis vendidos imprudentemente”. (Papa Francisco)

“O que preocupa é a capacidade do poder de compra de um salário mínimo: nesse sentido, estamos de volta ao ano de 2003, onde 1 salário mínimo compra apenas 1 cesta básica. Essa relação chegou a ser 2.5 x 1.0 em 2012”. (Luis Stuhlberger, o maior gestor de fundos do país)

“O senhor ministro da Economia diz ‘invistam no Brasil que é bom’, mas ele próprio tem contas no exterior. A autoridade econômica do país é uma pessoa que orienta a sociedade e precisa dar o exemplo”. (Everardo Maciel, ex-Secretário da Receita Federal)

“Ah, ‘porque tem que pegar as offshore’ e não sei quê. Começou a complicar? Ou tira ou simplifica. Tira. Estamos seguindo essa regra”. (Paulo Guedes, ministro da Economia, dono de offshore em paraíso fiscal, durante debate, em julho último, sobre a reforma tributária)

“Uma coisa era disputar contra o Fernando Henrique, contra o Serra, contra o Alckmin. Outra coisa é disputar com o troglodita do Bolsonaro”. (Lula, Em Brasília)

“Meia dúzia de bandidos travestidos de esquerda acham-se donos da verdade. O povo brasileiro é maior do que o fascismo de vermelho ou de verde e amarelo.” (Ciro Gomes, PDT, sobre as vaias que ouviu nas manifestações contra Bolsonaro no Rio e em São Paulo)

“…………………………………………………………………………..” (Jair Bolsonaro, sobre os empréstimos da Caixa Econômica intermediados por Michelle, sua mulher)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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