20/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Derreteu

Publicado em 16/09/2021 12:00 - Victor Barone

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Bolsonaro está derretendo. A nova pesquisa do Datafolha mostra que seu índice de reprovação subiu 21 pontos percentuais em nove meses, chegando a estratosféricos 53%. Ele nunca esteve tão mal na foto. Para piorar, não há nenhum, sinal de fumaça que indique a possibilidade de reverter esta quadro. Ao contrário, a deterioração da economia deve tornar ainda maios complicada a relação entre o presidente e a sociedade. A crise na bomba de combustível, na conta de luz, na mercearia, na fila do desemprego não é passível de amenizações via indústria das fakenews e grupinhos de alucinados no whatsapp. Além da crise, Bolsonaro não se ajuda ao protagonizar crises de histeria como os de 7 de Setembro ou a carta-rendição em que terceirizou a Michel Temer um simulacro de moderação.

O presidente é avaliado como bom ou ótimo por 22% do eleitorado. Esse índice era de 37% em dezembro. Um tombo de 15 pontos percentuais. O núcleo mais fiel de apoiadores do capitão é estimado em 11% dos brasileiros. Esse é o tamanho da bolha que saiu de casa para aplaudir Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios e na Avenida Paulista no 7 de Setembro.

A desconstrução do bolsonarismo junto ao resto dos brasileiros (89%) tende a aumentar na proporção direta do crescimento da ração de radicalismo que o presidente se vê obrigado a fornecer aos seus devotos. Na estratégia eleitoral do capitão, qualquer tentativa de moderação tem os dias contados.

NO MÍNIMO SETE

Crime de responsabilidade, de epidemia, prevaricação, crime contra a humanidade, infração de medida sanitária, charlatanismo e incitação ao crime. Segundo parecer elaborado por um grupo de juristas coordenado por Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça, Bolsonaro pode ter cometido ao menos esses sete crimes na gestão da pandemia no Brasil. O documento, entregue ontem à cúpula da CPI, será utilizado por Renan Calheiros (MDB-AL) para elaboração do relatório final. Hoje, ao final da sessão da comissão, os senadores têm encontro marcado com o grupo de juristas. Segundo apurou O Globo, essa será a primeira de uma série de reuniões com pareceristas técnicos para avançar nas discussões jurídicas do relatório.

Ao longo de mais de 200 páginas e cinco capítulos, o documento lista não apenas os crimes cometidos por Bolsonaro. O general da ativa e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o ex-diretor de logística da Pasta, Roberto Ferreira Dias, o ex-secretário executivo da Saúde, Elcio Franco, e a ex-secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, também são citados. No caso de alguns dos servidores, o texto sustenta que as provas obtidas pela CPI revelam a prática do crime de corrupção passiva. Falsificação de documentos e estelionato também entram na lista. No caso dos crimes contra a humanidade, Pazuello e Mayra Pinheiro aparecem ao lado de Bolsonaro entre os enquadrados.

Um dos trechos do relatório afirma que nos meses de março e abril de 2020 Bolsonaro conspirou, através de “atos normativos, atos de governo e conduta pessoal”, contra as medidas sanitárias instruídas pela ciência e adotadas pelo Ministério da Saúde. A negativa em assumir a coordenação nacional do combate à pandemia também figura entre os crimes imputados a Bolsonaro. Os juristas ressaltam que, diferentemente do que vem sendo repetido pelo presidente e seus apoiadores, o Supremo Tribunal Federal determinou competências à União, estados e municípios para a gestão da crise sanitária. Além disso, no entendimento dos pareceristas a abstenção de Bolsonaro quanto à coordenação das ações de saúde contraria as determinações da Constituição Federal.

NÃO É SÓCIO, MAS LUCRA?

Finalmente Marcos Tolentino, o empresário e advogado suspeito no caso Covaxin, depôs à CPI. O amigo de Ricardo Barros (PP-PR) negou ser o sócio oculto do FIB Bank, a empresa que, apesar do nome, não é um banco e ofereceu garantia para a Precisa Medicamentos nas negociações do imunizante indiano com o Ministério da Saúde. Mas um fato curioso, trazido à tona por Renan Calheiros (MDB-AL), chamou a atenção: a família de Tolentino, que reconheceu possuir diversos negócios em comum com o grupo, é dona da empresa Brasil Space Air Log, empresa que recebeu do FIB Bank nada menos que 96% do valor pago pela Precisa para a emissão da tal garantia. Então tá…

APROVEITANDO…

A alta cúpula da ONU parece já estar pegando o embalo da (até agora confirmada) presença de Bolsonaro na Assembleia Geral, na próxima semana, para endereçar críticas e colocar o Brasil sob os holofotes. Ontem, Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, dedicou um tempo de sua fala na última sessão deste ano do Conselho de Direitos Humanos da ONU para reafirmar que o país integra a lista dos cerca de 40 países onde o estado dos direitos humanos é mais “preocupante”. Bachelet destacou, especificamente, a situação dos povos indígenas e o projeto de Bolsonaro para tornar a legislação “antiterrorismo” brasileira ainda mais perigosa aos movimentos sociais e ativistas defensores dos direitos humanos.

Os membros do Comitê da ONU para Desaparecimentos Forçados cobraram do governo Bolsonaro esclarecimentos sobre a relação entre a milícia e agentes do Estado, a violência policial e mesmo sobre a forma pela qual o governo lida com as vítimas da ditadura empresarial-militar brasileira. No entanto, como contou a coluna de Jamil Chade, os membros da delegação brasileira ao Conselho da ONU minimizaram as denúncias sobre a atuação de milícias paramilitares no Brasil e afirmaram que o número de desaparecimentos vinculados à atuação desses grupos por aqui não justificaria a impressão de esforços específicos para coleta de dados e investigações.

Por Outra Saúde

LIÇÃO

O fracasso do MBL nas ruas é uma lição que as esquerdas já deveriam ter aprendido. A direita militante que existe hoje é a bolsonarista, mesmo que dissimulada ou arrependida. Essa direita aparentemente encabulada do MBL não é o centro democrático, que ainda existe e já está com Lula. A adesão aos apelos do MBL era uma armadilha. Que os ingênuos que foram às ruas com a direita ex-bolsonarista reconheçam que erraram.

Por Moisés Mendes

UMA EM CINCO

Enquanto o governo Bolsonaro e sua agenda ultraconservadora atacam as políticas públicas de prevenção à violência sexual e tentam bloquear a discussão e a orientação sobre esse tipo de abuso em escolas, uma em cada cinco estudantes brasileiras entre 13 e 17 anos relata já ter sofrido violações dessa ordem. O percentual de meninas que já sofreram agressão sexual (20,1%) é mais que o dobro do registrado entre meninos da mesma faixa etária (9%), segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Divulgado na última sexta, o estudo traz dados de 2019. Foram entrevistados 11,8 milhões de estudantes do 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.

Os dados gerais, sem levar em conta o gênero dos entrevistados, apontaram que 14,6% (um em cada sete) já foi vítima de violência sexual. Nada menos que 6,3% relataram já ter sido estuprados, e novamente o índice entre as meninas foi significativamente maior (8,8% entre elas e 3,6% entre eles). Entre as vítimas de abuso, 29% relataram que o agressor foi o namorado ou namorada; 16,4% apontaram um familiar como autor; e em 6,3% dos casos, o pai, mãe ou responsável.

A PeNSE mostrou ainda que, em 2019, 38,5% dos estudantes não tinham acesso a lavatórios em boas condições e sabão para lavagem das mãos em suas escolas. Os problemas de infraestrutura foram relatados entre 44,6% dos escolares de instituições públicas, contra 2,5% das escolas privadas. Quando separados os itens essenciais para a higiene básica das mãos, fica evidente que o maior problema é o acesso ao sabão. Enquanto 96,3% dos estudantes têm acesso a pias ou lavatórios nas escolas, apenas 62,2% disserem contar com oferta de sabão.

A radiografia, que investiga os fatores de risco e o estado da proteção à saúde dos adolescentes, levanta também preocupações quanto à saúde mental dessa parcela da população. O resumo obtido a partir dos cinco indicadores básicos (sentimento de preocupação com as coisas comuns do dia a dia; sentimento de tristeza; sentimento de que ninguém se preocupa com ele(a); sentimento de irritação, nervosismo ou mau humor; sentimento de que a vida não vale a pena ser vivida) mostrou que quase um quinto deles (17,7%) apresenta quadros negativos em saúde mental.

Vale atentar para o fato de que, embora esses números de 2019 já sejam muito ruins, há uma boa chance de eles terem piorado a partir do ano passado – especialmente os relacionados a violência e saúde mental. As escolas são importantes locais de identificação de abuso sexual, e frequentemente é desses espaços que partem as denúncias.

Por Outra Saúde

UMA FAKEADA NO CORAÇÃO DO BRASIL?

GENTE DE BEM

"Não estou arrependido, não. Eu faço isso, fiz e faço quantas vezes for preciso." A afirmação em áudio é do comerciante apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Alberan de Freitas Epifânio, acusado de amarrar e espancar o quilombola em situação de rua, Luciano Simplício, no último dia 11, em plena rua, na cidade de Portalegre , no oeste do Rio Grande do Norte.

RINDO DO TROUXA

Após ser convocado pelo presidente para atuar como bombeiro na crise instalada no Planalto após discurso golpista do 7 de Setembro, Michel Temer (MDB) deu gargalhadas da imitação em que o humorista André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho – que é pré-candidato do PSDB ao governo do Rio -, zomba de Jair Bolsonaro (Sem partido) por ter chamado o emedebista para “salvar o governo”.

GENTE DE CLASSE

O deputado Boca Aberta (PROS-PR) protagonizou um episódio de intimidação e ameaças ao deputado Alexandre Leite (DEM-SP) na manhã Do último dia 15 na Câmara dos Deputados. Leite é o relator do processo de cassação do deputado Boca Aberta no Conselho de Ética da Casa que seria votado nesta manhã, mas o relator pediu a retirada do processo da pauta porque o parlamentar já foi cassado no Superior Tribunal Eleitoral (TSE). Em um vídeo gravado pela assessoria de Alexandre Leite, o deputado Boca Aberta aparece perseguindo o relator nos corredores da Câmara chamando-o de "vagabundo" e "cafajeste". Nas imagens, a polícia da Casa tenta segurar várias vezes o deputado Boca Aberta. "Eu sou deputado, você vai fazer o que?", diz Boca Aberta.

OLHA O MICROFONE

O deputado federal Igor Timo (Podemos-MG) xingou o presidente da Câmara Arthur Lira sem perceber que o microfone estava aberto. Timo comentou, arrancado risos do plenário: “Não vai me deixar falar de novo. Quer ver que filho da puta?”

UM DRIBLE

Finalmente, o Exército divulgou o extrato do processo disciplinar que apurou a participação do general da ativa e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em ato político. Como se sabe, em maio deste ano ele subiu ao palanque de uma manifestação em apoio a Bolsonaro no Rio, sem autorização de superiores. A divulgação do extrato cumpre determinação da Controladoria Geral da União, mas frustra expectativas de acesso à informações concretas sobre a decisão do Ministério Público Militar (MPM) que, em tempo recorde, absolveu o general da acusação de crime militar.

O documento tem apenas duas páginas e, segundo O Globo, traz um resumo superficial do caso, confirmando que a íntegra do processo pode permanecer em sigilo. O jornal havia feito um pedido ao Exército, baseado na Lei de Acesso à Informação, que foi negado. O argumento foi de que os documentos seriam de caráter pessoal e, por isso, ficariam sob sigilo por 100 anos. A CGU acatou a argumentação do Exército e, considerando que a exposição do caso poderia abalar a imagem de Pazuello, a hierarquia e a disciplina das Forças Armadas, manteve o segredo quanto à íntegra do processo.

Ficou decidido que bastaria a divulgação do extrato, mas mesmo isso desagradou o Exército. A força armada tentou protelar o quanto pôde e mesmo reverter a decisão por meio de recurso, mas não conseguiu. Aos 45 minutos do segundo tempo, divulgou o extrato, que em tom reiterativo informa rapidamente a decisão de “acolher as justificativas/razões de defesa apresentadas e, considerando os normativos de regência” e arquivar o processo, sem mencionar os argumentos apresentados pela defesa de Pazuello ou qualquer outra informação relevante sobre as investigações.

Por Outra Saúde

DEDO NO OFF

A tradicional live que Jair Bolsonaro faz semanalmente foi interrompida na quinta-feira (16) sem que o presidente sequer pudesse se despedir dos internautas que acompanhavam.

A transmissão “caiu”, tanto no YouTube quanto no Facebook, logo após o chefe do Executivo voltar a defender a ivermectina, medicamento comprovadamente sem eficácia contra a Covid-19. A declaração foi feita ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

“A gente não vai falar aqui de tratamento inicial, virou um crime falar em tratamento inicial. Ano passado me senti mal e tomei um negócio aí para malária e me curei no dia seguinte. Eu talvez tenha sido infectado nos últimos dias, de vez em quando tomo ivermectina, não vou negar isso aí…”, dizia Bolsonaro quando a transmissão, repentinamente, saiu do ar.

A live não foi retomada, porém permanece disponível nas plataformas. YouTube e Facebook negam que tenham interrompido a transmissão.

Pouco antes, o presidente havia repetido que a Coronavac não tem eficácia comprovada pela ciência – o que é uma mentira.

Em julho deste ano, o YouTube removeu 15 vídeos publicados por Bolsonaro no canal oficial do mandatário por disseminação de informações falsas sobre a pandemia de Covid-19. Entre as publicações retiradas estão 14 lives semanais do presidente.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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