20/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

A quadrilha

Publicado em 02/09/2021 12:00 - Victor Barone

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A dinastia Bolsonaro vive desde logo a síndrome do que está por vir. Pai e filhos tornaram-se clientes de caderneta do Judiciário. Num dia em que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal adiou o julgamento sobre o foro privilegiado do Zero Um Flávio no caso da rachadinha estadual, veio à luz a notícia de que a Justiça quebrou os sigilos bancário e fiscal do Zero Dois Carlos no inquérito que apura a rachadinha municipal.

A dupla segue um vício introduzido no seio familiar pelo próprio Bolsonaro. Numa evidência de que quem sai aos seus não endireita, os filhos imitam o pai na prática de embolsar parte do salário dos assessores.

Os Bolsonaro consolidam-se como uma organização familiar cujo futuro está sub judice, pendente de apreciação judicial.

Tomado pelas pendências que acumula no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro tem a aparência de um delinquente em série. Acumula pelo menos sete processos.

Quatro no Supremo, onde correm as investigações sobre aparelhamento da PF, prevaricação no caso da vacina Covaxin, ataques às urnas eletrônicas e vazamento de inquérito sigiloso. Outros três no TSE, onde tramitam o inquérito das mentiras sobre urnas eletrônicas e um par de pedidos de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.

A rachadinha no gabinete de Flávio resultou numa denúncia em que o primogênito é acusado de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Carlos arrasta pela conjuntura um inquérito que prenuncia a repetição da trajetória do irmão.

Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, é alvo de uma investigação preliminar sobre a utilização de R$ 150 mil em dinheiro vivo na compra de dois apartamentos no Rio.

Jair Renan, o Zero Quatro, é investigado pelo Ministério Público Federal em Brasília sob a suspeita de cometer o crime de tráfico de influência ao abrir a maçaneta de ministros para empresários. Os Bolsonaro revelam-se uma família dura de roer.

Dias atrás, o presidente Bolsonaro previu três alternativas para o seu futuro: "Estar preso, ser morto ou a vitória." Apressou-se em esclarecer que "a primeira alternativa, preso, não existe."

Se o Judiciário fosse um Poder confiável no Brasil, Bolsonaro e seus filhos talvez não abusassem tanto da sorte, confiando menos na Providência Divina.

Por Josias de Souza

HOSPÍCIO

Quem observa o Brasil de longe fica com a impressão de que o país virou um hospício dirigido pelos loucos. É como se a democracia brasileira concedesse licença aos malucos para administrar o manicômio. Na penúltima troca de indiretas, os presidentes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário despejaram sobre a paciência dos brasileiros um amontoado de obviedades.

Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, disse na abertura da sessão da Corte que a democracia pressupõem manifestações pacíficas respeito e que "liberdade de expressão não abrange violência e ameaça".

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado e do Congresso Nacional declarou após encontro com governadores que "não se negocia a democracia" e que qualquer "intervenção ou autoritarismo tem que ser rechaçado".

Bolsonaro, suposto presidente da República, declarou em solenidade e na live, em timbre irônico, que "o país está em paz" e "ninguém precisa temer o 7 de Setembro".

Afirmar que não há democracia sem respeito à constituição ou que o autoritarismo merece repúdio é algo tão banal quanto afirmar que o ser humano respira o ar porque morreria se obstruísse as vias respiratórias.

As autoridades brasileiras enveredaram para essa conversa de malucos porque, ao contrário do que diz Bolsonaro, o país não está em paz e todos passaram a temer o 7 de Setembro como quem receia o Juízo Final.

O brasileiro que acorda cedo, sacode no ônibus a caminho do trabalho ou da fila do desemprego observa todo esse falatório sobre democracia e se pergunta: e se democracia for isso mesmo? O que diabos tudo isso tem a ver com o meu arroz com feijão?

Diante de um cenário tão alucinado, o melhor que as pessoas poderiam desejar para o feriado do Dia da Independência é mesmo a chegada do Apocalipse. A alternativa ao fim do mundo é acordar no dia 8 de Setembro com o bolso vazio, a inflação a pino, a geladeira oca e um presidente que se revela capaz de tudo, exceto de presidir os problemas que ele mesmo cria.

É como se o Brasil fosse comandado por um psicótico, que transforma a Presidência num castelo no ar, condenando os brasileiros a morar na sua alucinação, e transformando os chefes dos outros Poderes em psiquiatras impotentes que demoram a apresentar a conta para o maluco.

Por Josias de Souza

GRANDE ERRO

Erram grandemente os que se posicionam contra o impeachment, para que Bolsonaro possa ser derrotado nas urnas em 2022. O bolsonarismo não caminhará passivamente para este cenário benigno. Não estamos lidando com um partido político tradicional, mas com um grupo revolucionário de extrema direita, cujo objetivo é implodir o país e construir uma "nova ordem" a partir dos escombros. Exatamente como os nazistas fizeram.

Eles não têm limites. Sequestraram a festa nacional brasileira, transformando o 7 de Setembro numa data de ódio, segregação, ameaça e conflito. Estão convocando seus seguidores a comparecerem armados nas manifestações. Ameaçam invadir, depredar, atirar e matar. É um crime hediondo contra o Brasil.

Tanto do ponto de vista político como criminal, Bolsonaro e seus cúmplices, civis e militares, são pessoalmente responsáveis pelo que vai ocorrer.

Por Cesar Benjamin

AS TRÊS ALTERNATIVAS

O presidente Jair Bolsonaro quer botar o povo na rua no Sete de Setembro com a fake news de que é “impedido de governar” pelo Supremo e o Congresso, materializando seu sonho infantil e doentio de estar em guerra: “Tenho três alternativas: estar preso, ser morto ou a vitória”. Ninguém ameaça matar Bolsonaro, ele é que tem obsessão em fuzis e sua tropa é que ataca os outros. Logo, o presidente precisa, urgentemente, de um médico

O pretexto para falar de fuzis, prisão e morte é a guerra ao comunismo. Que comunismo? É só a mistificação contra quem defende Amazônia, educação pública, nossa música, nosso cinema, nosso teatro, os povos originários, a boa diplomacia, a saúde e a vida. Como o País é livre, cada um escolhe seu rumo: a favor da vida, da ciência, dos direitos, dos valores e das riquezas nacionais ou contra as instituições, as eleições, a democracia e a Amazônia. A maioria defende feijão. A minoria histérica, fuzil.

Por Eliane Cantanhêde

O BOLSONARISMO É PERIGOSO EM SI MESMO

Quem nega altos riscos na ação de bolsonaristas no 7 de Setembro —um coro que cresce a cada dia— está a serviço de Bolsonaro ou comete uma leviandade. Não há sinais, de descontrole ou de contenção, merecedores de confiança. Em contrapartida, sabe-se que o bolsonarismo é perigoso em si mesmo, sempre potencialmente criminoso nos meios e nos fins. E Bolsonaro, ele sim, emite sinais claros de sentimentos opressivos, de cerco e medo: o ataque frontal ao Supremo, a incessante corrida a aglomerações excitáveis de Norte a Sul, o agravamento de suas falas —e a convocação às manifestações do 7 de Setembro.

Por Janio Freitas

ATLAS DA VIOLÊNCIA

Saiu o Atlas da Violência 2021, que pela primeira vez traz dados sobre indígenas e pessoas com deficiência. A publicação aponta que mais de dois mil indígenas foram assassinados entre 2009 e 2019 no Brasil, e que nesse período a taxa de mortes violentas de indígenas aumentou 21,6%. Só em 2019, foram 113 assassinatos e 20 homicídios culposos. O número total de casos de violência contra indígenas naquele ano foi de 277 – o dobro do registrado em 2018.

O Atlas contabilizou 7.613 casos de violência contra pessoas com deficiência em 2019, e as mulheres com deficiência intelectual são as mais atingidas. Muitas vezes, o agressor é o próprio responsável.

No geral, os homicídios caíram 21% entre 2018 e 2019. Mas há uma pegadinha: aumentou em 35% o número de mortes violentas por causa indeterminada, que chegou a 17 mil. Há, portanto, 17 mil pessoas que “podem ter sido vítimas de agressões, assassinatos, acidentes ou suicídios, mas entram nas estatísticas como indefinidos e provavelmente puxam os registros de homicídios do país para baixo”, explica a Folha. A qualidade das informações vinha melhorando há mais de 15 anos, mas começou a piorar de novo em 2018. Com isso, a proporção dos óbitos indefinidos sobre o total de mortes por causas externas dobrou, passando de 6% em 2018 para 12% em 2019, Detalhe: em países desenvolvido, ela fica abaixo de 1%.

Por Outra Saúde

CORONEL SIQUEIRA

Após gafe ao responder com irritação uma publicação do perfil Coronel Siqueira, que satiriza o discurso de apoiadores de Jair Bolsonaro (Sem partido), o jornalista Reinaldo Azevedo disse: “Um amigo me mandou a ironia. Achei que fosse a sério e respondi. Não era. Mas eu me orgulho da resposta que dei. Que valha para coronéis de verdade”, tuitou. Aos críticos, que ironizaram a gafe, Azevedo disse que reitera “o conteúdo da resposta sobre o desastre da política armamentista no país”.

GAY

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (sem partido), disse acreditar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é homossexual, mas não tem "coragem de assumir". Em entrevista ao podcast "Derrete Cast", o parlamentar apontou que o chefe do Executivo Federal "não admira" as mulheres, apenas homens, e justificou a dificuldade do mandatário em "se assumir" devido a sua formação militar, e que essa ainda é uma área "muito atrasada neste aspecto da orientação sexual".

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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