25/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Pinóquio apronta de novo

Publicado em 21/04/2021 12:00 - Victor Barone

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O presidente Jair Bolsonaro acordou e foi dormir ontem mentindo, que é o que ele sempre sabe fazer de melhor.

De manhã, mentiu ao mundo na abertura da Cúpula do Clima ao dizer que “o Brasil está na vanguarda no enfrentamento ao aquecimento global”. Não está, já esteve.

Mentiu à noite nas redes sociais ao recomendar a cloroquina como remédio eficaz contra a pandemia do coronavírus.

A MM (mentira matinal) parece ter sido bem aceita por diplomatas que servem ao presidente Joe Biden, o organizador e anfitrião da cúpula. Eles gostaram do tom do discurso de Bolsonaro.

A MN (mentira noturna) pode ter agradado os devotos que a escutam como prova de coerência, mas somente a eles.

“Eu tomei um negócio ano passado, não vou citar o nome para não cair a live, mas se eu tiver um problema, vou tomar de novo”, prometeu Bolsonaro.

O desmatamento só cresce. Ao contrário do que disse, ele não está dobrando o orçamento das atividades de fiscalização ambiental.

À falta de vacinas porque o governo não as providenciou a tempo, o vírus segue matando. A culpa, segundo Bolsonaro, é de governadores e prefeitos que adotam medidas de isolamento.

Como o discurso da manhã foi lido, Bolsonaro não se enrolou. Como nas redes sociais ele improvisa, foi uma confusão só.

“Impressionante como só se fala em vacina”, reclamou Bolsonaro, que em seguida comparou a doença do vírus com os cânceres de mama e de próstata que ele considera tão mortais quanto.

Bolsonaro tomou emprestado aos governos que antecederam ao seu as ações em prol da preservação da natureza no Brasil.

Escondeu que o país é o campeão em perdas de florestas no mundo. Só de 2019 para 2020, foram eliminados 1,7 milhão de hectares de floresta primária no Brasil.

Isso é mais do que três vezes o que perdeu o segundo colocado, a República Democrática do Congo.

Comprometeu-se a eliminar “o desmatamento ilegal até 2030, com a plena e pronta aplicação do nosso Código Florestal” em vigor há 9 anos. Malandragem pura e direto na veia.

Na prática, pediu 19 anos de carência para cumprir a lei. E joga tudo nas costas dos próximos quatro governos.

Chega ou quer mais?

Por Ricardo Noblat

CLIMÃO

O clima pesou entre os ministros do STF no debate sobre confirmação da incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em lados opostos, Luís Roberto Barroso bateu boca com Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, e a sessão acabou interrompida pelo presidente Luiz Fux em meio a gritos.

PERSEGUIÇÃO

Guilherme Boulos (PSOL) recebeu uma intimação da Polícia Federal. O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto terá de prestar depoimento no próximo dia 29, às 16h. Por ordem do então ministro da Justiça André Mendonça, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional por "ameaçar" Bolsonaro. A iniciativa é folclórica, perdulária, desfocada e ridícula.

A intimação é folclórica porque a suposta ameaça resulta de uma fantasia construída a partir de um post de Boulos. Em reação a uma bazófia de Bolsonaro —"Eu sou a Constituição"— Boulos comparou o soberano brasileiro a Luís 14, rei da França, a quem se atribui uma presunção análoga: "O Estado sou eu."

É perdulária porque torra dinheiro público para satisfazer os pendores persecutórios de um presidente da República que não suporta o democrático princípio do contraditório. Além dos gastos da PF, há o salário que o contribuinte paga a André Mendonça. É triste constatar que o doutor, agora devolvido à Advocacia-Geral da União e cotado para assumir no Supremo a cadeira que Bolsonaro reservou para uma toga "terrivelmente evangélica", não tem o que fazer.

A providência é desfocada porque a ameaça atribuída a Boulos, se existisse, não seria direcionada a Bolsonaro, mas às gerações futuras da família real da Barra da Tijuca. Boulos escreveu: "Um lembrete para Bolsonaro: a dinastia de Luís XIV terminou na guilhotina…".

Luís 14 morreu em 1715, de causas naturais. O pescoço da dinastia dos Bourbon que foi passado na lâmina foi o de Luís 16, o marido de Maria Antonieta. Subiu ao trono em maio de 1774. Foi preso e julgado em 1792, nas pegadas da Revolução Francesa. Guilhotinaram-no em 21 de janeiro de 1793.

Quer dizer: o destinatário da suposta ameaça de Boulos não é o presidente da República, mas um futuro zero à esquerda qualquer da dinastia da Rachadinha.

Finalmente, a energia desperdiçada para que a Polícia Federal realize a inquirição absurda de um agressor fictício para instruir um processo inútil leva o brasileiro que se aflige com a morte de quase 400 mil patrícios por covid a perguntar: Já imaginaram que país magnífico seria o Brasil se, de repente, por milagre, baixasse no governo Bolsonaro uma epidemia de ridículo?

Por Josias de Souza

O EVANGELHO, SEGUNDO O CAPITÃO

A Bíblia não é o forte de Jair Bolsonaro. De resto, quase nada é o forte de quem nunca leu um livro. Talvez por isso, Bolsonaro enrolou-se ao citar a Bíblia em uma das pregações diárias que faz aos seus devotos nos jardins do Palácio da Alvorada.

Dessa vez, entre os devotos, havia um pastor evangélico e um padre da Igreja Católica que na ocasião rezou por ele e o abençoou. Os dois foram depois embora sem entender o que o presidente quis dizer quando a certa altura de sua pregação afirmou:

“Tem uma passagem bíblica quando Jesus dividiu o pão. Depois ele deu uma desaparecidinha, né?. Daí o povo foi atrás. Foi atrás para quê? Para mais benefícios pessoais. Fizeram a ligação com o PT dando bolsa isso, bolsa aquilo? É o ser humano que tá aí”, disse.

Se consultasse pelo menos a Wikipédia antes de falar, Bolsonaro ficaria sabendo que “A divisão dos pães e peixes” é o termo utilizado nos Evangelhos para referir-se a dois milagres de Jesus. No primeiro, ele teria alimentado 5 mil pessoas, no segundo 4 mil.

Não há relato de uma “desaparecidinha” depois dos milagres. Quanto a irem atrás de Jesus, as pessoas buscavam conforto espiritual e ensinamentos de um profeta que se dizia filho de Deus, não “benefícios pessoais” como pão e peixe de graça.

Daí porque ficou difícil para os que escutaram Bolsonaro fazer qualquer ligação com programas do tipo Bolsa Família, do PT. Quanto ao que ele disse sobre “é o ser humano que tá aí”, desmereceu os mais pobres que carecem de ajuda para sobreviver.

Dos pobres, Bolsonaro quer votos, apertos de mão, fotos e distância segura.

Por Ricardo Noblat

CHEIO DE CONEXÕES

Um movimento esquisito tomou forma no Ceará no início do mês: o “Ainda Há Bem” começou com uma campanha de marketing nas redes sociais e com vários outdoors espalhados na capital. Seus temas de interesse são desconexos, aparentemente unidos apenas pelo bolsonarismo-raiz: “contra o aborto e a violência; a favor da ciência e da autonomia dos médicos no tratamento da covid-19; e em apoio ao tratamento precoce contra o coronavírus”, diz a página no Facebook, afirmando que se trata de uma iniciativa de um “grupo de médicos e representantes da sociedade civil”.

Agência Pública descobriu que o grupo, supostamente apartidário, tem ligações com gestores do Ministério da Saúde e ainda com o grupo político do senador Eduardo Girão (Podemos). O site do movimento (que, no momento em que escrevemos a news, está fora do ar), tem no registro o nome de Vinícius Nunes Azevedo, diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde da pasta. Ele também é substituto eventual da secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, Mayra Pinheiro – a capitã cloroquina. Pinheiro, aliás, divulgou em seu Facebook o lançamento do “Ainda Há Bem”. 

FICOU PRA SEMANA QUE VEM

Sem maioria para influir nas escolhas de nomes da CPI, o Planalto resolveu fazer barulho, convocando parlamentares aliados para uma investida judicial contra Renan Calheiros (MDB-Al). A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) anunciou ontem que irá acionar o Judiciário para impedir a escolha do emedebista como relator da comissão. “A presença de alguém com 43 processos e seis inquéritos no STF evidentemente fere o princípio da moralidade administrativa”, escreveu ela, que é investigada no inquérito das fake news do Supremo. 

A propósito: a instalação da CPI será na terça que vem. A decisão foi tomada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que alegou “razões de segurança” não explicadas

VACINAGATE

Enquanto Jair Bolsonaro se recusa a receber uma dose de vacina, embora sua vez na fila tenha chegado há mais de duas semanas, no Peru o ex-presidente Martín Vizcarra foi inabilitado de exercer qualquer cargo público por dez anos como punição por ter se vacinado de forma irregular e em segredo contra a covid-19. O Congresso peruano aprovou na sexta-feira, por 86 votos a zero a inabilitação do político – que foi o mais votado nas eleições legislativas do dia 11 de março, com mais de 165 mil votos. 

Para o Congresso, o ex-presidente é culpado de tráfico de influência, conluio e por mentir em suas declarações sobre o escândalo envolvendo as vacinas que ele, seus familiares e membros do alto escalão de seu governo receberam antes do prazo determinado pelas campanhas de imunização do país.

O “vacinagate” veio à tona em fevereiro por meio de reportagens publicadas pela imprensa peruana. Na época, Vizcarra admitiu ter recebido doses do imunizante produzido pela Sinopharm em outubro de 2020, mas alegou que ele, sua esposa e seu irmão foram vacinados porque eram voluntários no ensaio clínico organizado pela universidade responsável pelos testes da vacina no país. A instituição negou o envolvimento de Vizcarra e seus familiares no programa de ensaios. 

De acordo com a imprensa peruana, o número de funcionários do governo imunizados às escondidas pode ser muito maior, já que, além das doses experimentais utilizadas nos estudos, a Sinopharm forneceu outras duas mil “vacinas de cortesia” a responsáveis pelos ensaios e membros do governo. Nesse sentido, as ex-ministras da Saúde e das Relações Exteriores, também flagradas no vacinagate, foram inabilitadas pelo Congresso na sexta. 

GANHOS MUITO CONCRETOS

Os médicos que defendem o mentiroso tratamento precoce têm obtido ganhos financeiros e políticos. O Estadão mostra que ao menos quatro profissionais usaram a fama que essa defesa lhes garantiu nas redes sociais para tentar a sorte nas últimas eleições – e um conseguiu. Pedro Melo (PSL) foi eleito vereador da cidade de Porto Ferreira, no interior de São Paulo. Em uma live transmitida em março no canal da Associação Médicos pela Vida, criada para defender a cloroquina, ele admitiu que suas contas criadas nas redes sociais para “orientar a população sobre o tratamento precoce” o ajudaram a se eleger.

Outro exemplo de vantagem é dado pela médica Raíssa Soares, que foi convidada por Jair Bolsonaro para discursar sobre o tratamento precoce em um evento no Palácio do Planalto em agosto passado. Ela usou sua fama para fazer campanha para o candidato Jânio Natal (PL), que concorria à prefeitura de Porto Seguro. O político foi eleito e a nomeou secretária da Saúde. Agora, ela planeja disputar o governo da Bahia em 2022 – “se tiver o apoio do presidente Jair Bolsonaro”. 

Os influencers do “tratamento precoce” também têm outro tipo de ganho, o financeiro. O recém-formado médico alagoano Marcos Falcão mantém desde 2014 um canal de direita no YouTube, hoje com mais de 200 mil seguidores. Em março, ele divulgou seu número de WhatsApp oferecendo “tratamento precoce” por telemedicina. Cobra R$ 150 por atendimento, e afirma que já foi procurado por mais de dois mil pessoas. Se tiver ‘atendido’ todas, ganhou R$ 300 mil. Segundo ele, não está dando conta de responder a todos os pedidos de consulta. Ele também tem planos políticos: pretende se candidatar a deputado federal nas próximas eleições.

O Conselho Federal de Medicina continua dando guarida a esse tipo de balcão de negócios com medicamentos não só eficazes, mas perigosos, e mantém parecer de abril de 2020 que autoriza médicos a indicarem hidroxicloroquina e azitromicina.

Por Outra Saúde

LOBO NO GALINHEIRO

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ridicularizou, em uma postagem na rede social Instagram, indígenas que utilizam telefones celulares. No "story" da conta do ministro, que é seguida por 344 mil perfis, foram divulgadas três fotos de indígenas utilizando ou carregando telefones celulares. A primeira imagem tem como texto: "Recebemos a visita da tribo do iPhone". As fotos têm círculos vermelhos para destacar os telefones nas mãos dos indígenas.

Seria bom se Salles respondesse as seguintes perguntas:

-O ministro acredita que indígenas não podem utilizar telefone celular?;

-Qual o objetivo político-ideológico do ministro ao ridicularizar indígenas por ocasião do Dia do Índio, comemorado no dia anterior a postagem?;

-O uso de telefone celular por indígenas é, para o ministro, um fato desabonador?;

-O ministro acha que o uso de um telefone celular torna um indígena "menos indígena", é esse o seu raciocínio?;

-Se é esse o raciocínio, o ministro se tornaria "menos branco" quando usasse um cocar na cabeça ou empunhasse uma borduna?

Por Rubens Valente

LEDA PERDIDINHA

O Supremo Tribunal Federal (STF) precisou fazer algo pouco comum. Em seu site oficial, a Corte divulgou uma nota em que esclarece que a notícia espalhada pela apresentadora e militante bolsonarista Leda Nagle de que ministros do Supremo e o ex-presidente Lula estariam planejando matar Jair Bolsonaro.

No último dia 19, Leda Nagle compartilhou um vídeo fake news onde reproduz uma postagem de um suposto delegado que teria descoberto um plano do presidente Lula para matar o presidente Bolsonaro. O delegado ao qual Leda Nagle se refere é o novo diretor da Polícia Federal, Paulo Maiurino, que teve o seu nome relacionado a vários perfis fakes no Twitter, entre eles, o que serve de base para a “denúncia” de Nagle.

Após a péssima repercussão da fake news, a apresentadora foi às redes sociais para pedir desculpas. Ela afirmou que a “notícia” havia sido divulgada por ela no “Clube da Notícia”, um grupo de conteúdo fechado em que tece comentários todas as noites sobre “as principais notícias”.

MERECE SOFRER

O comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro – que quem votar no ex-presidente “merece sofrer” gerou repercussão negativa na imprensa internacional. Diversas agências de notícias, dentre as quais ANSA, EFE, Télam, Reuters e Sputnik News, reportaram a declaração infeliz, que foi parar em veículos de diferentes países, principalmente da América Latina. Na Argentina, o comentário saiu nos principais jornais e portais: Clarín, La Nación, Minuto Uno, InfoBae. Os veículos destacaram que Lula aparece na liderança de pesquisas de opinião sobre as eleições de 2022 e que o presidente será alvo da CPI do Genocídio por conta de suas omissões durante a pandemia de Covid-19. A declaração também chegou ao México, através da Forbes, ao Equador, no El Comércio, e ao Uruguai, no tradicional El Pais. O jornal peruano Libero também reportou a informação, apontando que era difícil de acreditar na notícia.

SUBSERVIENTE

O líder indígena Ailton Krenak deu uma invertida na apresentadora do Roda Viva, Vera Magalhães. Após responder a Denilson Baniwa, articulador indígena, que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “joga no campeonato do fim do mundo”, Krenak foi confrontando por Vera, que ressaltou que “ele é uma pessoa muito articulada politicamente, diferentemente de outros ministros, igualmente nocivos, que caíram pela exoticidade”. Tomou…

CANASTRÃO

Condenado a sete anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) é um dos protagonistas de vídeo publicado pelo presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais para dizer que "não rouba e não deixa roubar". Bolsonaro utiliza a declaração de Jefferson como exemplo de idoneidade de seu governo, no qual, segundo o presidente, não há corrupção. Jefferson foi um dos pivôs do mensalão. Embora tenha denunciado o esquema, também recebeu recursos dele, conforme conclusão do Supremo. Ele cumpriu pouco mais de um ano da pena atrás das grades e mais um ano em prisão domiciliar, até receber o indulto natalino no fim de 2016.

"Ele [Bolsonaro] é representante do povo. Ele é o chefe do Estado, ele é o chefe do governo e ele tem honrado o que ele disse na campanha: eu não vou roubar e não vou deixar roubar", afirma Jefferson, em gravação na qual aparece apenas a sua voz. No mesmo vídeo, Bolsonaro resgata imagens de quando era deputado federal. Destaca uma entrevista concedida em 1999 dizendo que, no Brasil, tudo era "sacanagem" e que não havia exemplo para ser honesto.

O presidente, que defende publicamente a ditadura, destaca a palavra liberdade na gravação. Acusado por adversários de ser responsável por parte das mortes por covid-19 no Brasil, por conta do seu discurso negacionista, o presidente também exalta a palavra vida. A gravação mostra imagem do atentado sofrido por Bolsonaro em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, encontros dele com o ex-presidente Donald Trump e até foto dele com o seu ex-ministro e hoje desafeto Sergio Moro, além de recepções calorosas recebidas por ele de apoiadores em várias cidades. No texto que aparece na descrição da publicação, Bolsonaro diz que o "caos bate na porte dos brasileiros" e que a liberdade não existiria mais no país se ele tivesse perdido a eleição em 2018. Ele também pede apoio à população, no momento em que sua popularidade está em queda. "Cada vez mais a população está ficando sem emprego, renda e meios de sobrevivência … o caos bate na porta dos brasileiros. Pergunte o que cada um de nós pode fazer pelo Brasil e sua liberdade e … prepare-se", escreveu Bolsonaro.

GENTE DE BEM

O professor de Direito Penal e delegado aposentado Fábio Alonso afirmou durante uma aula online, na Universidade de Direito do Centro Universitário de Ourinhos (UniFio), que a vítima colabora para a prática de estupro. “Vamos pensar: o que é mais fácil estuprar? Uma freira de hábito ou aquela menininha com a cinta larga? Fala para mim. Que vítima colabora mais com a prática do crime de estupro? Eu estou falando em tom de brincadeira, mas eu quero que vocês imaginem isso”, disse. Alonso, que também é coordenador do curso, fez outro comentário sobre violência dom “Quem apanha mais? Não estou dizendo que isso tem feito, estou falando para vocês, vamos ser realistas. Quem apanha mais? A mulher passiva, que fica quietinha, que vê quando o marido chegou de cara cheia, ou aquela que começa ‘ai, bebeu de novo, trabalhar que é bom você não quer, né seu vagabundo?’ Quem apanha mais? A quietinha ou a bocuda?” A UniFio afirmou em nota que preza pela liberdade de expressão de seus docentes. Veja o vídeo abaixo:

GENTE DE BEM 2

O servidor público Lucas Maia Zilioli, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, foi exonerado após ser flagrado pelo programa Profissão Repórter, da TV Globo, na praia durante a fase emergencial da pandemia do coronavírus. Em 28 de março, o funcionário estava na praia de Juqueí e foi abordado pela fiscalização da Guarda Civil Metropolitana de São Sebastião, no litoral norte do estado. Na ocasião, a fase emergencial da quarentena estadual estava em vigor, proibindo o uso das praias. Maia atuava na secretaria responsável por coordenar a criação e a execução do Plano São Paulo, que regula as restrições econômicas no estado durante a quarentena.

No dia do ocorrido, o programa da Globo acompanhava os guardas que explicavam aos turistas que apenas atividades esportivas individuais, como corrida e natação, estavam permitidas. Sentado em uma cadeira de praia, Lucas Maia chegou a dizer a um dos agentes que se sentia mais seguro no litoral do que na capital. “Eu entendo as medidas, mas eu acho que depende muito do lugar. Aqui acho um lugar seguro. Acho que aqui não tem aglomeração. Eu me sinto mais seguro aqui do que em São Paulo no dia a dia pegando metrô, que eu me sinto muito mais exposto do que aqui“, disse.

Em outra abordagem dos fiscais, registrada pela TV Globo, um banhista tentou dar uma “carteirada” na repórter da emissora em tentativa de impedir a filmagem. Ele estava em um grupo com ao menos outras duas pessoas. Nas imagens veiculadas pela emissora, é possível ver o agente explicando ao grupo que o acesso à praia só é permitido para a prática de exercícios físicos individuais. Os banhistas acatam com a orientação e afirmam que sairiam para correr na areia.

O homem então percebe a equipe de reportagem e pergunta se estava sendo filmado. A repórter Augusta Lunardi confirma a gravação: “A gente está acompanhando a operação da guarda municipal”. Uma das banhistas então rebate: “Eu não to autorizando. Eu não quero que tire foto minha”.

O guarda explica para os banhistas que as repórteres são da “imprensa”. Foi neste momento em que o banhista tenta dar uma carteirada nas jornalistas. “A gente trabalha no Judiciário”, disse ele. O homem não teve a sua identidade revelada.

GENTE DE BEM 3

Uma encenação em que um homem vestido como carrasco da Ku Klux Klan – movimento que unia grupos reacionários nos EUA sob a bandeira da supremacia branca – enforcava “comunistas” e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em apoio a Jair Bolsonaro (Sem partido) tomou o cruzamento da avenida Goethe com a rua Mostardeiro, em Porto Alegre, no último dia 21. Acompanhados à distância pela Brigada Militar – a PM do Rio Grande do Sul – os manifestantes se mostraram indignados com a decisão do STF em devolver os direitos políticos de Lula e entoavam gritos a Bolsonaro – “eu autorizo” -, que disse recentemente que esperava autorização do povo para tomar “providências”. Vestido como “carrasco” da Ku Kux Klan, um homem gritava: “O que viemos fazer aqui hoje gente? Viemos acabar com o comunismo”, incitando os bolsonaristas.

FRASES DA SEMANA

“É uma questão de doença, de psicopatia. Nós, nesse momento, temos um presidente da República que é um psicopata. Só não sei avaliar em qual nível, em qual grau. Gostaria muito do parecer da junta médica para dizer qual é o nível de psicopatia e loucura que ele tem.” (João Doria)

“O povo está passando fome e ele [Bolsonaro] diminui o imposto de skate e de instrumento musical de corda. (…) Legal o skate, mas eu vou criticar porque isso é um imbecil. O cara faz uma mega notícia de que diminuiu o imposto de skate. E aumenta imposto de livro?” (Felipe Neto)

“Terceira via existe na literatura. Sobretudo agora, com a possibilidade de elegibilidade do ex-presidente Lula, a polarização já está posta: o PT, com Lula, e o candidato à reeleição, Bolsonaro. Terceira via vai ser moída”. (Fernando Collor, senador e ex-presidente da República)

“A democracia precisa se proteger de ataques contra as instituições, não de críticas. Se for calúnia, tem o código penal, não precisa de uma lei de segurança nacional. Essa é uma lei de outra época, com resquícios ditatoriais.” (Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal)

“O que o tribunal está mandando é para o juiz competente processar e julgar as denúncias. É isso. Não foi uma absolvição [de Lula]. Claro que cancela as condenações, mas manda que o juiz competente prossiga no julgamento.” (Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal)

“As pessoas esqueceram o significado de democracia. Elas pensam que como a certo número de anos têm eleições, então esse governo pode fazer o que quiser e que isso é democracia, mas não é. Isso é somente a ditadura da maioria”. (Yuval Noah Harari, historiador israelense) 

“Não há a menor possibilidade de que uma CPI de 11 membros investigue 27 governadores e mais de 5.000 prefeitos. O mundo nos está tratando como ameaça global. E [a CPI] começará evidentemente pelo governo federal”. (Tasso Jereissati, senador, PSDB-CE, membro da CPI da Covid)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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